quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Qual será o saldo do Carnaval?

Conforme a experiência, sabemos que o Carnaval não deixa um saldo positivo. Infelizmente - e sempre esperamos que isso não se repita - ocorrem assassinatos, brigas, confusões. Muitas pessoas acabam contraindo doenças sexualmente transmissíveis ou AIDS, dada a promiscuidade. Isso sem falar na violência nas estradas, algo constante do Brasil, mas que se intensifica nos feriados longos, como os dias de festa carnavalesca.
Agora, o que esperar de uma festa cujo nome lembra a palavra "carne", e que tem como deus o "rei Momo"? É claro que não é Deus Quem reina nos corações dos foliões.
O Carnaval é uma festa pagã, em que as pessoas extravasam seu desejo de prazer em proporções gigantescas. É o período do ano em que homens comuns saem vestidos de mulher, mulheres saem nuas em avenidas, e os padrões morais são como que suspensos. É um verdadeiro "estado de sítio" dos valores morais socialmente aceitos.
Tudo isso conta com o apoio da Igreja Romana, que abençoa os foliões antes de saírem para as festas, e os recebe de volta na quarta-feira de cinzas, para a suposta purificação de pecados, pelo que foi feito nos dias de folia.
A mesma Igreja Romana estabelece a época da Semana Santa de acordo com o feriado de carnaval, e com isso não há que se duvidar da ligação entre o "sagrado" e o profano. Até mesmo o calendário nacional é atingido por essas coisas, pois o Brasil, embora constitucionalmente laico (sem religião), tem feriados de fundo católico. Mas esse é outro assunto...

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Alguns princípios

Neste blog, meus textos acabarão apontando para alguns princípios básicos que, ao longo do tempo, foram se firmando em meu coração quanto à maneira de pensar a Fé Cristã. Talvez possa enunciá-los assim:
  • O estudo teológico por parte do cristão não é ruim em si mesmo. Ele só atrapalha quando misturado à vaidade ou desacompanhado da verdadeira fé;
  • A Igreja de Cristo é um organismo. As igrejas são organizações que refletem ou não aquele organismo;
  • A igreja não deve, em hipótese alguma, se envolver com política parditária;
  • A igreja não deve, em hipótese alguma, aceitar, pedir ou exigir vantagens do Poder Público ou de seus representantes;
  • Antes de ser separado ao ofício eclesiástico pelo ministério da igreja, o indivíduo já foi chamado por Deus. Do contrário, a separação foi equivocada;
  • A espiritualidade cristã não demanda necessariamente a manifestação de dons carismáticos. Estes servem à edificação dos santos, e não exclusivamente à confirmação da fé pessoal. Tanto isso é verdade que as línguas devem ser interpretadas, quando faladas em público;
  • Quem fala em línguas ou profetiza não é melhor, mais santo nem mais espiritual do que o que não faz essas coisas;
  • Se a liderança da igreja pede dinheiro exaustivamente aos membros e/ou freqüentadores, sob o argumento de que a contribuição é um passo de fé, deve entender que demonstração de fé muito mais contundente é não exigir contribuições, mas administrar com fidelidade as ofertas e dízimos normais, crendo que Deus suprirá as reais necessidades de Sua obra;
  • Em circunstâncias comuns, a liderança que vive pedindo ofertas extraordinárias à igreja: a) não está administrando corretamente as ofertas ordinárias e os dízimos; b) busca implementar um projeto que não lhe foi dado por Deus; c) ou busca implementar um projeto que não foi transmitido ou entendido pela congregação.

O sonho de ser campeão

Acabo de ler no site do Yahoo (precisamente em http://br.esportes.yahoo.com/29012008/5/esportes-barrichello-ainda-sonha-titulo-da-formula-1.html) que Rubens Barrichello ainda sonha em ser campeão de Fórmula 1, depois de 15 temporadas e cerca de 250 corridas. Barrichello disse que só agora se deu conta do quanto é bom, e que não tinha a auto-confiança de pilotos como Schumacher e Hamilton. Ele disse ter decidido se tornar campeão.
É natural que Barrichello queira ser um campeão. Para um esportista e competidor, o estranho seria que ele não o quisesse. Sempre achei estranho o Barrichello parecer muito contente com um segundo lugar depois do Schumacher. Parecia que o segundo lugar para ele era como se fosse primeiro. Parecia que ele não se achava bom o suficiente para ser o primeiro. Parecia que ele, no fundo, não achava que deveria querer a vitória. É muito esquisito ver isso num competidor, mas é o que eu creio que muita gente enxerga nele.
Ao contrário, víamos Schumacher triste com um segundo lugar, como se houvera chegado em último. Para ele, o que valia era só a vitória. Também vi isso em Oscar, do basquete, e em Filipe Scolari, do futebol - eles se chateavam em perder (o Filipão ainda se chateia).
Por outro lado, essa lógica não deve ser aplicada indistintamente na vida. Ou seja, eu não devo querer ser campeão pura e simplesmente, se não estiver num concurso, numa concorrência, numa competição. Ser o primeiro, o vencedor, o maior, o melhor, não são coisas para se colocar como objetivo de vida nas relações cotidianas. A Bíblia nos ensina que os primeiros serão os últimos, e que os últimos serão os primeiros; que vale mais ser humilhado, para depois ser exaltado; que o que perde na verdade ganha; que devemos considerar os outros superiores a nós mesmos; que devemos considerar o que é dos outros, e não tão-somente o que é nosso.
Ser campeões não é exatamente o que Jesus nos prometeu. E, se tivermos que vencer alguma coisa, aí sim, que seja o pecado, o mundo. Jesus venceu o mundo. E nós somos mais que vencedores por Aquele que nos amou. Amém.

Qual a essência da sua pregação?

Há pessoas que destacam mais as bênçãos materiais do que as bênçãos espirituais. Toda a expressão de prosperidade em suas vidas gira em torno de uma carreira profissional bem-sucedida e da aquisição de bens, como casa e carro. Cada vez que dão um testemunho na congregação é para dizer que Deus lhes têm abençoado com dinheiro e coisas materiais. Ora, é muito bom que sejamos prósperos, mas a ênfase de nossas vidas não pode ser a prosperidade. Se nós falamos mais das coisas do que de Jesus Cristo como Salvador, é claro que algo está errado. Crentes materialistas têm dado uma péssima contribuição ao Reino de Deus, pois o mundo já é materialista e consumista, e, portanto, não precisa ser ensinado quanto àquilo em que já é professor.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Jesus é bom

Quando criança, tínhamos o costume de, no encerramento da Escola Dominical, dizer o que aprendemos. Isso servia para todas as classes, desde os pequenininhos até os adultos. Era uma medida importante, que tinha, a meu ver, duas funções básicas: a) fixar o aprendizado, porque se aprende melhor aquilo que se verbaliza; b) permitir que o dirigente da congregação avaliasse se realmente havíamos aprendido corretamente. Até onde sei, até hoje praticam esse costume lá na igreja de onde eu vim.
Mas o que quero ressaltar é que algumas crianças, independentemente da lição do dia, diziam simplesmente "Jesus é bom". Talvez tivessem uma timidez muito grande para dizer algo diferente, ou qualquer outro motivo, mas o fato é que a frase "Jesus é bom" tem uma importância fundamental para a nossa Fé.
Não dizemos que Jesus é bom como uma coisa banal, simples demais, corriqueira. Jesus é bom mesmo, temos experimentado Sua bondade. Ele é o Bom Pastor, que dá a vida pelas ovelhas. Ele não lança fora aquele que vai à Sua presença. Ele concede gratuitamente o perdão de pecados, envia o Seu Espírito para residir em nossos corações, dá sabedoria, virtudes celestiais, bênçãos espirituais. Jesus nos garante a vida eterna.
Vários Salmos dizem que o SENHOR é bom, que a Sua benignidade dura para sempre. Como o Novo Testamento diz que Jesus é o SENHOR, logo podemos dizer que os Salmos se referiam também a Jesus Cristo, assim como ao Pai e ao Espírito Santo.
Jesus é bom. Que possamos dizer como as criancinhas, e viver de fato a realidade de que em Cristo temos muito mais do que pedimos ou imaginamos. Ele nos garante a verdadeira vida, a novidade de vida, a vida com abundância. Aleluia!

Modismos passam. A Palavra de Deus permanece.

A Igreja brasileira gosta de uns modismos.
Estamos na época da "determinação", das "declarações", do "decretar", do "rejeitar", do "tomar posse".
Estamos na época da "vitória".
Estamos na época em que profetizar passou a ter outro significado, como proferir palavras de bênção ao bel-prazer, para que o desejo se torne realidade.
Estamos na época dos apóstolos, profetas, missionários e bispos auto-promovidos.
Estamos na época dos chamados "atos proféticos", em que indivíduos de imaginação fértil retiram coisas do Antigo Testamento e aplicam aos dias atuais sem nenhuma fundamentação teológica.
Estamos na época do apego a símbolos de Israel.
Estamos, enfim, na época da Confissão Positiva, do Triunfalismo, da Teologia da Prosperidade.
Houve a época dos dentes de ouro aparecendo nas bocas dos crentes. Houve a época em que o negócio era simplesmente cair no chão.
Houve muitos outros modismos. A Igreja brasileira gosta deles.
A moda sempre traz algo diferente para seduzir as pessoas. Mas ela é tão efêmera quando sedutora. Do mesmo jeito que aparece, vai embora, para ceder espaço a outra novidade.
Quando lembro da expressão "ventos de doutrina" (Ef 4.14), usada por Paulo, vem à minha mente esse fenômeno da moda evangélica. O vento da moda sopra, abala fundamentos frágeis, e depois segue seu curso errante. Só que ela atinge os meninos, os infantis na Fé. Paulo deixou claro nesse mesmo texto que não devemos ser meninos, pois eles é que são "agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro" (idem).
Curiosamente, a experiência tem ensinado que as pessoas aprendem mais o errado do que o certo, e têm muita dificuldade em se desapegar das coisas erradas, fraudulentas, toscas. Quanto às coisas certas, idôneas, sólidas, as pessoas custam aprender.
Inspiradas pela moda doutrinária, as pessoas passam a ficar confusas, sem saber discernir entre o que é proveitoso e o que é para jogar fora.
Quanto à Palavra de Deus, ela permanece para sempre (Mc 13.31). A Palavra de Deus fornece o verdadeiro alicerce às nossas vidas, a fim de que fiquemos firmes em meio às intempéries, que certamente virão. Se nossa casa estiver bem fundamentada, como sobre a rocha, os ventos de doutrina jamais nos abalarão (ver Mt 7.24-27).
Que o SENHOR nos ajude a edificar as nossas casas sobre a rocha, e não sobre a areia.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Um radical de esquerda e um funcionário do Império no mesmo grupo

Jesus nomeou doze apóstolos, um grupo reduzido, se consideradas as multidões que testemunharam Seus milagres, pregações e ensino. Para se ter uma idéia, cerca de 500 irmãos viram o Cristo ressurreto. E, curiosamente, aquele pequeno grupo de apóstolos incluiu dois homens que, em tese, não deveriam se dar bem: Simão, o zelote, e Mateus, cobrador de impostos.
Os zelotes queriam a libertação do jugo romano por meio das armas. Eram como guerrilheiros de esquerda, um grupo paramilitar. Achavam horrível a dominação romana, e certamente Simão viu em Jesus a possibilidade de libertação de Israel. Aliás, corria entre os judeus que o Messias viria justamente como libertador político.
Por outro lado, os publicanos, como Mateus, cobravam impostos de seus compatrícios e remetiam o dinheiro para Roma, ficando com uma comissão. Geralmente compravam o direito de arrecadar impostos. Eram homens ricos, tidos como corruptos e traidores da pátria.
Homens assim, como Simão, o zelote, e Mateus, não poderiam se ajustar se não houvesse um ideal maior que sua ideologia ou estilos de vida. Suas diferenças políticas foram mitigadas pela palavra de Cristo, que os recebeu em Sua companhia, e os fez membros do Reino de Deus.
Dessa forma, em lugar das diferenças Cristo trouxe a igualdade. Em lugar de convicções políticas que dividem, Cristo os uniu pela Sua mensagem de amor, de sacrifício, de renúncia, enquanto lhes anunciava coisas espirituais, um novo Reino, valores morais de ordem mais elevada.
Enfim, Cristo mostrou que em nossas igrejas podem conviver pessoas que pensam muito diferente, até mesmo pessoas de direita e de esquerda. Nada disso é maior que nossa união com Cristo e em Cristo.

O caráter personalíssimo da vocação

"Cada um permaneça na vocação em que foi chamado" (I Co 7.20), disse o apóstolo Paulo. E repetiu: "Irmãos, cada um permaneça diante de Deus naquilo em que foi chamado" (I co 7.24). E mais: "Anda cada um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado" (I Co 7.17).
O contexto são as admoestações de Paulo quanto ao casamento, sobre como devia proceder cada cristão em relação ao seu casamento ou condição de solteiro, dada a situação nova, de convertido a Cristo. Mas creio que o princípio pode ser aplicado à vocação divina de um modo geral: cada um de nós deve permanecer na vocação em que foi chamado.
Se seu chamamento despertou em você a vontade de ensinar a Palavra de Deus, por que não fazê-lo? Por que se comparar com os pregadores de multidões? Por que assumir cargos de governo da igreja, se você não se sentiu chamado a se envolver com isso? Por que dirigir uma congregação se o seu chamado é diverso? Que motivação percorre a sua mente?
Quais são as suas características? Quais são os seus talentos? Quais eram as suas preocupações quando do seu chamado? Por que se arriscar numa tarefa tão distante dos seus ideais? Vale a pena arcar com o custo de um trabalho mal feito e de uma frustração tão grande?

Um pouco de técnica não faz mal

Não é tecnicamente certo orar ao Espírito Santo. O certo é orar a Deus Pai, em nome de Jesus Cristo, contando com a intercessão do Espírito Santo. A Trindade está conosco na oração - o Pai ouve, o Filho nos conduz ao Pai, o Espírito nos ajuda em nossa dificuldade de orar (Mt 6.9-13; Rm 8.26). Pode parecer algo sem importância, mas isto tem que ver com a doutrina de Deus, com o nosso entendimento acerca das Pessoas Divinas.

Quem é Jesus para você?

O mundo será julgado conforme a maneira com que tratou a Jesus Cristo. No seu caso, Quem você pensa que é Jesus?
Você acha que Jesus foi apenas um líder espiritual?
Você acha que Jesus foi simplesmente o fundador do Cristianismo?
Você acha que Jesus foi um filósofo?
Você acha que Jesus foi um mestre diferente?
Você acha que Jesus foi uma pessoa iluminada que ensinava a fazer o bem?
Você acha que Jesus foi um revolucionário do tipo comunista?
Você acha que Jesus foi um profeta como os demais?
Você acha que Jesus foi um fantasma, um espírito sem corpo, uma emanação divina, uma reencarnação de um deus hindu?
Todas essas respostas seriam absurdamente erradas.
Certa vez, Jesus fez duas perguntas aos Seus discípulos: a) o que as pessoas diziam d'Ele; b) o que Seus discípulos diziam d'Ele.
As pessoas diziam que Jesus era João Batista, Elias ou um dos profetas. Note-se que João estava morto, e que Elias vivera séculos antes. De tão cegos, achavam que Jesus fosse o retorno de João Batista ou de Elias. Numa terceira corrente, achava-se que Jesus fosse um profeta comum.
Mas, ao perguntar a opinião dos Seus seguidores, Jesus ouviu a célebre frase de Pedro: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Ali estava o fundamento da Igreja - refiro-me a Jesus Cristo, e não ao pecador Pedro (ver Mt 16.13-18).
De uma só vez, Pedro afirmou a divindade e a missão de Jesus, ao utilizar a palavra "Cristo", que significa Messias (Ungido), e ao dizer que Jesus é o Filho de Deus, o que remete à natureza divina do Mestre. O apóstolo foi muito feliz em sua confissão, a qual, segundo Jesus, lhe fora dada por revelação do Pai.
Mas é necessário que essa confissão seja feita por você, pois com a boca se faz confissão para a salvação, e com o coração se crê para a justiça (Rm 10.9,10). Ninguém terá comunhão com Deus se não aceitar a Cristo como SENHOR e Salvador. Ninguém chegará ao Pai se não passar pelo Filho (Jo 14.6).

Um paradoxo que não existe

Assim como não existe conflito verdadeiro entre Fé e Razão, não há contradição em uma pessoa ser intelectual e ao mesmo tempo cultivar a espiritualidade cristã. Esse conflito só existe na cabeça de quem acha que a Fé e a Razão não combinam.
Na verdade, trata-se de campos distintos e paralelos, que jamais se entrecruzam. É por isso que o que a Fé explica não pode ser explicado pela Razão. E o que a Razão explica não demanda a ingerência da Fé.
Experiências carismáticas genuínas às vezes podem confundir o cristão intelectual, ante a idéia de que não têm base bíblica. O que se deve fazer, então, é analisar mais detidamente o texto bíblico, porque algumas coisas só passam a ser mais claras depois da experiência pessoal ou de outrem. Por exemplo, pessoas que não criam na atualidade do falar em línguas passaram a valorizar os textos bíblicos que se referem a isso após uma experiência própria.
Quanto aos cristãos que desprezam o estudo e o intelectualismo, eles argumentam que as coisas de Deus não podem ser compreendidas pela lógica humana - até aí tudo bem. Entretanto, acabam menosprezando critérios elementares de interpretação textual para defender doutrinas fundamentadas em meras experiências emocionais ou parcialmente espirituais.
O que se deve fazer é ter humildade diante da Escritura Sagrada, pois, embora tudo o que é necessário esteja ali registrado, nós somos limitados em nossa compreensão. O conhecimento faz mal quando não há humildade. Devemos entender que a mesma Bíblia que diz que o conhecimento incha e que o amor edifica, também diz que o conhecimento é virtude a ser buscada. Aí talvez resida o verdadeiro paradoxo: buscar conhecimento, sim, e sempre que possível, mas para sujeitá-lo ao conhecimento de Cristo!

Cinco perguntas para quem se entende vocacionado ao ministério pastoral

  1. O que você pensa em fazer como pastor só pode ser feito por um pastor?
  2. Você aceitaria ser pastor sem visibilidade?
  3. O que você já faz, sem ser pastor, que confirma de algum modo o seu chamado?
  4. Você sabe ser pastoreado?
  5. Você freqüenta a Escola Bíblica Dominical ou instituição congênere de sua igreja?

A cultura anti-ética do brasileiro

Desculpe-me a franqueza, mas está arraigada na cultura brasileira uma atitude de desprezo pela ética. Estou tratando em termos gerais, como traço cultural do povo. Longe de mim dizer que todo mundo é assim. O que existe entre nós é uma série de gestos cotidianos, já introjetados, que demonstram um desrespeito para com normas de conduta.
Quando me dizem que o brasileiro é honesto, fico pensando como é que pessoas tão honestas elegem políticos tão corruptos. Parece que a população é honesta e os representantes é que são corruptos, como se houvesse um vírus da corrupção a atacar os bons cidadãos que aceitam entrar no mundo político.
É muito comum brasileiros avançarem o sinal vermelho, sonegarem impostos, votarem em políticos sabidamente corruptos, concordarem com o suposto direito de o político furtar dinheiro público, subornarem um funcionário público. As pessoas acham isso normal e até necessário para vencer a burocracia, ganhar tempo, superar as dificuldades. Chamam isso de jogo-de-cintura, e eu chamo de falta de bom caráter.
O cristão deve proceder de maneira diferente. Deve ser honesto em todas as coisas, obedecendo às leis de trânsito, pagando os impostos, avaliando com prudência em quem deve votar, denunciando os funcionários públicos que pedem propina. Não podemos aceitar a noção estapafúrdia de que "faz parte do jogo". Nós não estamos nesse jogo!

domingo, 27 de janeiro de 2008

Sensibilidade do Espírito

O Espírito Santo é Quem fornece ao crente a necessária sensibilidade para discernir o que é pecado e o que não é pecado. Por isso, não devemos ficar sujeitos exclusivamente à moral da sociedade, ao que ela aprova ou reprova, mas sujeitos à voz do Espírito, conforme as Escrituras.
Há coisas que a sociedade aprova, mas que são pecaminosas; por outro lado, há coisas que a sociedade rejeita, mas que são valiosas. Há também coisas que a igreja aprova hoje porque a sociedade aprovou um dia; e coisas que a igreja reprova hoje porque a sociedade reprovou um dia.
Então, em vez de doutrina cristã e comunicação do Espírito, passa-se à mera tradição, ao costume, ao legalismo.
Há, ainda, o problema da seleção: elege-se a categoria de pecados que devem ser rechaçados com muita força, e outros que passam mais despercebidos. Por exemplo, somos duros - e devemos ser mesmo - contra a homossexualidade e contra o adultério. São de fato pecados que atentam contra a família e contra o plano de Deus para os relacionamentos. No entanto, deveríamos ser muito duros também contra a corrupção e todas as formas de pôr a mão no dinheiro público.
Ora, não é ao Espírito Santo que estamos ouvindo?

Só para pensar

Tão arrogante quanto uma pessoa que se vangloria de seu conhecimento é a pessoa que se vangloria de não ter conhecimento.

Devocional - Se Deus te chamou...

Se Deus te chamou para a Sua obra e depois disso só tem havido uma sucessão de tribulações, lembre-se de que José, filho de Jacó, foi alvo da inveja de seus irmãos, vendido por eles, dado como morto, exilado para o Egito, acusado injustamente, preso durante anos e esquecido por alguém que poderia testemunhar em seu benefício - mas que, passadas essas provas, tornou-se governador do Egito, a segunda pessoa do Faraó, para preservação da linhagem abraâmica que herdara as promessas (cf. Gn 45.7).
Se Deus te chamou para a Sua obra e, achando que seria a hora de agir, acabou se precipitando e ouvindo a pergunta "quem te constituiu sobre nós?", lembre-se de que semelhante pergunta fizeram a Moisés, quando buscava apartar uma briga entre irmãos hebreus (Ex 2.13,14). Eles não compreenderam que Deus havia levantado a Moisés como libertador...Mas no coração do moço a vocação já se fazia sentir (At 7.24,25).
Se Deus te chamou para a Sua obra e o tempo vai passando sem que nada aconteça nesse sentido, lembre-se de que, depois da unção como rei, Davi ainda foi duramente perseguido por Saul, e a chegada ao trono de Israel não veio de imediato (I Sm 16 e o restante do Livro). Todavia, Davi se tornou o rei mais importante da História de Israel, de tal modo que o Messias é chamado "filho de Davi".
Se Deus te chamou para a Sua obra e na primeira oportunidade que teve você recuou, lembre-se de que aconteceu o mesmo com João Marcos, o qual, participando da equipe missionária de Paulo e Barnabé, voltou para a casa de sua mãe em Jerusalém e muito decepcionou ao apóstolo Paulo (At 13.13; 15.36-39). No entanto, Deus lhe deu uma segunda chance por meio de Barnabé, de tal maneira que o rapaz foi mais tarde considerado "útil para o ministério" de Paulo, e se tornou um dos quatro evangelistas.
Se Deus te chamou para a Sua obra, persevere nesse propósito. Pode haver tribulações, decurso de longo tempo, incompreensão de seu chamado, vacilação de sua parte. No entanto, nada disso tem o poder de desacreditar a vocação de Deus, pois "os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis" (Rm 11.29).
Que Deus nos abençoe. Amém.

Deixe seu comentário!

Não temos aqui um livro de assinaturas, mas eu gostaria de verificar a sua participação neste blog. Uma das formas de fazer isso, além de responder à enquete, é deixar um comentário. Basta clicar na palavra "comentários" e escrever. Há neste espaço artigos teológicos, desabafos, breves reflexões e devocionais, enfim, um pouco do que vai na minha mente. Se você deixar um comentário, isto será um valioso feedback para mim.

Eu também tenho sonhos!

Por causa da pregação antropocêntrica do movimento neo-pentecostal, direcionada exclusivamente à realização de sonhos e à satisfação de interesses materiais, eu tenho falado, sempre que possível, da necessidade de nos precavermos contra esses ensinos, que não se coadunam com o que Jesus Cristo nos propõe.
No entanto, vale frisar que é necessário ter sonhos, porque são eles que nos impulsionam a viver. Os sonhos têm que ver com a esperança.
Mas é importante sonhar com coisas dignas, e de vez em quando refletir sobre a nossa motivação ao sonhar.
Por exemplo, o pastor batista americano MARTYN LUTHER KING era um sonhador. Em seu célebre discurso, intitulado justamente "I have a dream" ("Eu tenho um sonho"), ele falou do sonho de igualdade entre negros e brancos nos Estados Unidos. Por isso, ele foi considerado um grande defensor dos direitos civis americanos, tão caros àquela Nação.
José, filho de Jacó, tinha sonhos. No seu caso, eram sonhos dados por Deus, que lhe mostravam seu futuro destaque entre seus irmãos e pais, tanto que Jacó logo entendeu o significado (Gn 37.10 - "Acaso viremos, eu e tua mãe e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra"?). Imagino que, fiel como era, José tomava esses sonhos como motivo de esperança em meio aos mais duros golpes da vida (ser vendido pelos próprios irmãos, ser acusado injustamente de atentado ao pudor, ser preso por vários anos sem causa justa, ser esquecido por alguém que poderia testemunhar em seu favor). José sonhou de acordo com o que Deus lhe dera, e soube se conduzir conforme os seus sonhos.
Moisés tinha esperança de que seu povo seria libertado, e por suas mãos. Em sua brilhante defesa, Estêvão disse que Moisés "cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus os queria salvar por intermédio dele; eles, porém, não compreenderam" (At 7.25). O autor aos Hebreus escreveu que "Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado, porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão" (Hb 11.24-26). Moisés esperava a libertação do povo hebreu e sonhava com o galardão.
Paulo sonhava com "o alvo", com o "prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Fp 3.14). Enfim, ele sonhava com a ressurreição dos mortos e com a perfeição (Fp 3.11). Esses sonhos de Paulo explicam quão incansável foi o seu trabalho, quão dedicada foi a sua busca pelas coisas concernentes ao Reino de Deus, quão santificada foi a sua vida em todos os sentidos.
De minha parte, também tenho sonhos, e alguns são de cunho pessoal. Minha esposa os conhece bem, algumas pessoas me ouviram falar algo sobre isso, mas é Deus quem conhece o meu coração e sabe o que Ele planejou para mim.
De fato, é necessário sonhar. Nossos jovens precisam sonhar. A geração que sonha é mais feliz. Diz o Salmo 126 que "quando o SENHOR restaurou a Sião, ficamos como quem sonha". Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações se dizia: Grandes cousas o SENHOR tem feito por eles. Com efeito, grandes cousas fez o SENHOR por nós; por isso, estamos alegres" (vv. 1-3).
Infelizmente, não vejo uma geração sonhadora. Há muita gente pensando que sonha, mas, na verdade, simplesmente almejando coisas materiais, ascensão social e profissional. Talvez chamem isso de sonhar. Creio, porém, que não se deve gastar o sonho com coisas tão pequenas. Para as necessidades terrenas, há que se planejar. Para as bênçãos espirituais, ainda importa sonhar.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Alguns sinais de uma pregação de auto-ajuda evangélica:

  1. O pregador fala mais do homem do que de Deus;
  2. O pregador usa palavras-chave como "vitória", "prosperidade", e frases de efeito como "você é um vencedor", "você vai vencer", "este é o dia da sua bênção";
  3. O pregador apela para a existência de problemas emocionais, como baixa auto-estima, depressão, síndrome do pânico, ansiedade, e doenças psicossomáticas, fazendo uso de palavras da Bíblia como suposto antídoto imediato contra esses fenômenos psicológicos;
  4. O pregador faz uso de episódios e personagens bíblicos para estimular o empreendedorismo, a iniciativa, o exercício de talentos, a busca de algo mais na vida;
  5. O pregador mostra-se como um "sabe-tudo" bem-sucedido, bem ao estilo daqueles palestrantes que ganham rios de dinheiro falando de como ficar rico, vencer barreiras, realizar os sonhos, motivar-se;
  6. O pregador propõe fazer uma oração que vai resolver os problemas do indivíduo;
  7. O pregador ensina a tomar atitudes que "mudarão a sua vida", e "farão com que você nunca mais seja a mesma pessoa";
  8. O pregador credita todo o sucesso de sua pregação àquilo que ele diz, e atribui toda possibilidade de insucesso à falta de fé do indivíduo;
  9. O pregador usa a palavra "fé" com um sentido diferente do proposto pelo Evangelho, como se fosse uma capacidade de tomar a atitude mental adequada para conseguir, vencer, não ser derrotado, ser abençoado;
  10. O pregador enfatiza a conquista de bênçãos pessoais, em vez de incentivar o amor ao próximo, a alteridade, a solidariedade, o considerar os outros superiores a si mesmo, o cuidar dos interesses dos outros e não somente dos seus próprios interesses, contrariando o que Paulo recomenda em Fp 2.3,4.

Depois dessas observações, qualquer semelhança por aí não será mera coincidência.

Unção ou improviso?

Sei que Deus pode mudar o rumo do sermão em cima da hora. Ele pode redirecionar a pregação, levar o pregador a outro texto bíblico, o que é edificante e até já aconteceu comigo, creio que diversas vezes. No entanto, a regra é o estudo, o planejamento, a preparação.
Deus aprecia a organização e o método, pois Ele mesmo é organizado. Vejamos em Gn 1 e 2 como Deus criou o mundo para ser ordenado, e não um caos. Deus gosta de pessoas esforçadas, diligentes, e não compactua com o preguiçoso. Vejamos as admoestações de Salomão e de Paulo contra a preguiça.
Uma coisa é Deus usar a pessoa no momento da pregação a partir do que ela preparou ou alterando os planos. Outra coisa, muito diferente, é a pessoa achar que Deus só fala no improviso do pregador, ou que fica melhor quando é no improviso. Para certas pessoas, improviso é confundido com o Espírito Santo.
É necessário ainda dizer que lá na preparação era Deus quem estava atuando na mente do pregador, e que no momento da pregação esse mesmo Deus continua operando.
Nossa infantilidade é às vezes enormemente prejuducial à seriedade exigida pelas coisas do Reino de Deus.

"Compreendes o que vens lendo"?

A pergunta feita por Filipe ao eunuco etíope deve ser feita muitas vezes aos crentes brasileiros: você entende o que lê (At 8.30)?
Filipe não achava que o eunuco fosse analfabeto. Apenas perguntou se ele entendia o que vinha lendo. O eunuco demonstrou que não entendia, pois lhe faltava um professor ou companheiro que o ajudasse a interpretar o texto. Por isso, não sabia se o profeta Isaías falava de si mesmo ou de outra pessoa no texto que conhecemos como Is 53.7,8(ver At 8.32-34).
Por outro lado, muita gente não entende o que lê na Bíblia. Estou me referindo especialmente a evangélicos. Não creio que isso se deva somente à dificuldade das traduções, nem aos termos técnicos da Escritura, nem ao desconhecimento dos critérios de interpretação. Creio que o problema do analfabetismo funcional atrapalha a fé de muita gente, pois analfabeto funcional é justamente aquele que lê e não entende.
Certo dia assisti no Fantástico, da Rede Globo, a curiosa e triste reportagem sobre um homem na cidade de Serra-ES que se autodenominou pastor e que tomou a mulher de um de seus pobres seguidores, com base supostamente em Os 3.1 ("Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo e adúltera...").
O repórter, apenas pelo simples método de interpretação textual que aprendeu na escola, utilizando o critério de interpretação literal dos mais elementares, observou que a palavra ali era "adúltera", enquanto o homem lia "adultera". Pronto, estava desfeito o fundamento da "igreja" daquele pastor autopromovido, e tudo por causa de um acento gráfico, cujo desprezo havia transformado um adjetivo num verbo, e bagunçado a vida de um casal - também é certo que nesse caso há mais do que assassínio da gramática.
Admito que esse exemplo não é dos mais adequados em termos de ilustração do que se passa nos arraiais evangélicos, porque o sujeito era auto-intitulado pastor de uma meia-dúzia de adeptos. Mas há exemplos entre nós, como o do irmão que não misturou cal na argamassa para construção do templozinho da igreja porque em Ez 22.28 está escrito que os profetas faziam reboco de cal não adubada e Deus os rejeitou! Creio que esse exemplo é bastante bizarro.
Fico pensando em como isso é grave. Muitas e muitas pessoas levam uma vida cristã à base de textos mal lidos. Será que não nos preocupamos com isso? Será que essas pessoas conseguem valorizar os bons expositores bíblicos, os homens sérios, quando deparam com eles?

Tietagem entre os crentes?

Tudo tem limites: nós cristãos evangélicos não podemos sair correndo atrás desse ou daquele cantor, desse ou daquele pregador, desse ou daquele proeminente líder. Admiração e respeito, sim; fanatismo, não. Certa vez eu disse para meus alunos e direi aqui: não fique correndo para estar perto de alguém; seja uma pessoa com quem as pessoas queiram estar.

Sujeição às autoridades constituídas

Em Rm 13.1-7, Paulo nos recomenda a sumbissão ou sujeição às autoridades constituídas. Diz que elas foram ordenadas por Deus, que não há autoridade que não venha de Deus, que elas existem para promover o bem. Há, porém, algumas reflexões necessárias:
  • Isso não significa que devemos necessariamente concordar com as pessoas investidas de autoridade. Podemos, sim, discordar e estar submissos a elas;
  • Paulo está tratando de autoridades constituídas, mais do que das pessoas investidas dessa autoridade. Ele não está escrevendo sobre pessoas "importantes", mas sobre a necessidade de vivermos de acordo com a ordem jurídica vigente;
  • A recomendação paulina não tem nada a ver com votar só nos partidos da situação;
  • É preciso entender que autoridades constituídas, num Estado Democrático de Direito como o nosso, envolve a Constituição, as leis e todos os atos normativos; envolve os Três Poderes (Executivo, Judiciário e Legislativo); envolve todas as esferas da Administração Pública Direta, Autárquica e Fundacional; envolve os fiscais de trânsito, os fiscais de renda, os fiscais sanitários, os policiais civis e militares, os membros das Forças Armadas em todos os graus hierárquicos, quando exercendo atribuições oficiais;
  • É preciso entender que não só o eleito para cargo político detém autoridade, mas também os juízes, desembargadores, ministros de tribunais;
  • Vale, ainda, compreender que a ordem jurídica e política não pode ser tomada como ameaça constante à liberdade de religião, como se percebe em discursos de alguns líderes evangélicos, que diante da mais tênue iniciativa de lei ambiental, civil ou seja o que for, já acham que se está frente a frente com um apocalipse na Igreja brasileira;
  • Por fim, é necessário contextualizar a recomendação de sumbissão aos governos civis com o regime político atual, fazendo as devidas aplicações, sem perder de vista que sempre que a ordem jurídica e política for contra os valores da justiça, da igualdade e da liberdade, devemos preferir estes valores, porque são eles o fundamento e a finalidade de qualquer ordem social

Um esclarecimento

Neste blog, você verá preponderantemente textos teológicos e exposições bíblicas, mas também pode ser que depare com desabafos sobre política, artigos jurídicos, coisas de outra natureza. Ou pode ser que veja tudo isso misturado. Tudo bem?

O discurso ideológico contra as "elites"

O Governo, seu partido e a esquerda em geral gostam de atacar as "elites". O Luciano Huck não pode nem reclamar da falta de segurança pública porque é rico - é como se o roubo de seu relógio caro fosse uma forma de redistribuição de bens. Empresários não podem dizer que cansaram do Governo incompetente porque são ricos. Ensina-se em escolas que a violência é fruto da injustiça social - em que país nós estamos?
O discurso contra as elites é um problema sério. O Governo que enriquece os banqueiros e investidores financeiros não gosta deles. Na verdade, tudo não passa de discurso ideológico e simbólico para manter a população pobre a favor do Presidente, que nasceu e viveu pobre, que se tornou migrante nordestino, metalúrgico, sindicalista, e que já contou a história de sua mãe que "nasceu analfabeta".
Na derradeira eleição presidencial, o Presidente-candidato em seus discursos de comício pregou contra as elites, mas na televisão era a mansidão em pessoa.
Ora, o Presidente é eleito para conciliar ou para dividir? Ele é Presidente da Nação brasileira ou de um grupo em especial? Ele é o líder eleito para cumprir o ideal pluralista da Constituição, de diversas matizes políticas, ou um líder simbólico do povo, dos proletários, dos órfãos e viúvas contra as elites que, segundo ele, dominam o Brasil há quinhentos anos?

Contra o sistema de cotas para negros

Sou terminantemente contrário ao sistema de cotas para negros. Trata-se de uma "ação afirmativa", como chamam, mas que só afirma uma divisão, um apartheid que não tem nada a ver com a sociedade brasileira nem com a justiça.
Sei que existe um racismo disseminado na sociedade, o que se observa em piadas e injúrias vez por outra, estas veiculadas na TV, como uma que vi ontem mesmo, de uma senhora que foi detida em flagrante por dizer que a funcionária de uma lanchonete de shopping era incompetente por ser "preta". No entanto, o preconceito dessa senhora parte de sua ignorância, por dividir as pessoas conforme a cor da pele.
Na verdade, a cor da pele resulta dos pigmentos, e não de uma raça, pois comprovadamente não existem raças (branca, negra e amarela), e, sim, etnias. A humanidade é geneticamente igual, não existem relacionamentos que não redundem em raça humana. Todos somos iguais. A genética é a mesma.
Por isso, é absurdo alguém entrar para uma universidade com notas baixíssimas por causa da cor da pele ou porque disse que é negra. Ora, caímos em dois problemas: a) se a definição da negritude ou afro-descendência depende de critérios científicos, estamos separando as pessoas como os nazistas fizeram; b) se a definição da negritude ou afro-descendência depende do que a pessoa diz, ficamos à mercê da palavra dela e, mais do que isso, negamos que ela tenha sido objetivamente discriminada por ser negra, pois precisamos ouvir da pessoa que ela o é.
Em nossa ordem jurídica existem outras ações afirmativas, como a que reserva às mulheres uma porcentagem nas candidaturas dos partidos políticos, a que lhes dá o direito de se aposentar com menos idade e menos tempo de contribuição que os homens; a que reserva porcentagem de vagas em concursos públicos para deficientes físicos. Agora, enquanto mulher e deficiente físico são condições objetivas, porque ninguém precisa dizer que é mulher ou deficiente físico, com a etnia é diferente. Demais disto, entendo que há discriminação e desigualdade pelo simples fato de ser mulher e deficiente físico.
No caso dos afro-descendentes, muitos deles não têm chance por serem pobres, assim como muitos brancos ficam de fora do sistema de cotas, embora igualmente pobres.
Alguém dirá que existem as cotas para egressos de escolas públicas. E eu direi que a) um rico pode estudar em escola pública; b) um pobre pode estudar em escola particular ou filantrópica. Eu mesmo, filho de pai sem emprego e de mãe professora do Estado da Bahia, nunca estudei em escola pública - até a 8ª série, sempre em escola particular, e depois, quando minhas irmãs foram para a escola pública, considerada ruim, eu fui para uma escola mantida por uma fundação filantrópica, e o fiz por meio de concurso. Mesmo pobre, eu jamais entraria no sistema de cotas. Aliás, tendo a pele clara, não me dariam essa oportundiade mesmo, porque eu não iria mentir dizendo que sou negro. Hoje, graças a Deus, sou formado em Direito por uma universidade federal, sem ter gozado de cotas, que sequer existiam.
O que vejo é desigualdade social, mais do que racial. Se continuar assim, estaremos formando péssimos profissionais, porque não impulsionados pelo mérito. E as universidades terão que criar disciplinas, monitorias, aulas extras, para dar instrução colegial a quem entrou na universidade com notas baixas.
Infelizmente, essa bandeira das cotas só tem dividido os brasileiros.

Aprender com as crianças...

Jesus disse que aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança jamais entrará nele (Mc 10.15; Lc 18.17). É preciso se tornar como uma criança, porque dos pequeninos é o Reino dos Céus (ver Mt 19.13-15; Mc 10.13-16; Lc 18.15-17). Refletindo sobre essas afirmações categóricas de Jesus, lembro que uma das coisas que caracterizam as crianças é a capacidade de considerar as coisas como são, livres de convenções sociais, formalidades e justificativas. Mais do que pureza, creio que isso é integridade. As crianças não são hipócritas, não têm ou ainda não aprenderam a usar máscaras, a criar personagens para conviver em sociedade, a dizer uma coisa pensando outra, a usar desculpas as mais diversas para manter um status quo. Quando observo políticos falando na televisão, dando variados argumentos para justificar o injustificável, como sua incompetência ou má-fé, mais valorizo as crianças. Só que esse comportamento espúrio dos políticos não é monopólio deles...

Creio e penso

Não aprecio aquele tipo de argumento em que o interlocutor, em determinando momento da discussão, diz que eu não recebo tal bênção porque não creio. Ora, para eu crer é necessário que esteja escrito na Bíblia. Se eu fosse uma pessoa de dura cerviz, um incrédulo, um ímpio - palavras pesadas demais, que não costumo atribuir a muita gente -, até poderia ouvir isso e ficar tranquilo. A questão é que sou um crente, uma pessoa que estuda a Bíblia e busca viver de acordo com ela. Se algumas doutrinas humanas são incompletas quando analisadas à luz da Bíblia, que culpa tenho eu? Se procuro conciliar fé e razão, qual o problema? Será que a fé não combina com a razão? Será que fé consiste em acreditar em quaisquer coisas, aleatoriamente, sem a conciliação com princípios e regras de interpretação fornecidades pela própria Escritura?

Cristo é o fundamento e não há outro

Por mais interessantes que sejam as manifestações carismáticas, pentecostais, o fundamento da Igreja é Cristo. Digo isso porque alguns há que dividem o mundo cristão entre os que acreditam em batismo com o Espírito Santo, dons espirituais, manifestações, e os que não acreditam ou têm um conceito considerado "tradicional". Essa divisão, além de infeliz, é ignorante. Todos os que aceitam a Cristo como SENHOR e Salvador são dignos de grande estima, porque são meus irmãos. O critério pelo qual as pessoas serão julgadas por Deus será o que fizeram com Cristo. Haverá até aqueles que, diante de Cristo, dirão que em Seu nome expulsaram demônios, profetizaram e fizeram maravilhas, mas serão apartados por praticarem a iniquidade. Logo, Cristo é o fundamento e o critério de julgamento, e não as obras "carismáticas".

Fé e credulidade

Fé é confiança e fidelidade ao mesmo tempo. Credulidade é inclinação a acreditar em qualquer coisa. A pessoa que tem fé acredita em algo que lhe foi dito, e se torna fiel ao que lhe foi proposto, tal como foi proposto. A pessoa crédula acredita facilmente em coisas toscas, acredita no que quer, no que ouve, no que lê, sem critério e sem razão. A Fé Bíblica implica em confiar e ser fiel às palavras do SENHOR. A credulidade confunde as palavras do SENHOR com os sentimentos e opiniões pessoais. Hoje em dia, há muitas pessoas crédulas, e a Fé Bíblica tem passado longe de certos grupos que, não obstante, tanto dizem que têm fé e que "exercitam a fé".

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Participe da nossa enquete

À sua direita, há uma singela pesquisa de opinião sobre o batismo no Espírito Santo e sua eventual relação com as chamadas línguas estranhas. Gostaria de que você depositasse o seu voto. É claro que não há caráter científico nessa consulta, mas tão-somente o propósito de pensarmos no tema.

O desvirtuamento do conceito de Igreja

Quero deixar registrada a minha indignação quanto ao desvirtuamento do conceito de Igreja, algo muito presente em nossos dias.
Conquanto a Igreja seja um ente coletivo por natureza, têm surgido líderes personalistas e dominadores, que concentram os holofotes e as decisões em si mesmos.
Algumas das principais metáforas da Igreja dão uma noção de coletividade, pluralidade: rebanho, corpo, edifício, lavoura. Essas metáforas não são casuais. Elas denotam a visão que o próprio SENHOR Jesus tem da Igreja. Não há Igreja de uma ovelha só, de um membro só, de uma pedra só, de uma planta só.
Além disso, vejo igrejas por aí que não são verdadeiras comunidades, mas agremiações administradas por um homem ou um grupo de homens, a partir de uma ideologia firmada unilateralmente. As coisas vêm de cima para baixo. Por isso, nem acho errado as pessoas dizerem que vão à Igreja. Na prática, é como se elas nem fizessem parte daquilo.
Vejo ministérios desempenhados sobre a "visão" de um ou poucos homens, enquanto o corpo da Igreja fica cheio de dons sem nenhuma utilidade. Há os talentos e há dons espirituais. Quando há dons espirituais, já está bom, mas eles precisam ser empregados para um fim proveitoso. Do contrário - e essa palavra é também para os membros - o que se vê são pastores sobrecarregados de tarefas, quando a missão de pregar o Evangelho é da Igreja como um todo.
Em dias como os nossos, tem sido cansativo freqüentar certos cultos e permanecer como simples espectadores, que não assistem o culto, como participantes, assistentes, mas que assistem ao culto, como auditório.
Isso precisa mudar.

Devocional - A necessidade de bom senso em tudo

Salomão, em Eclesiastes 7.16, escreveu: "Não sejas demasiadamente justo, nem exageradamente sábio; por que morrerias fora do tempo"?
Ser justo e sábio é uma recomendação bíblica de fundamental importância. No entanto, o texto traz dois advérbios, que modificam o sentido dos adjetivos"justo" e "sábio": demasiadamente e exageradamente. Essas duas palavras foram colocadas no texto para dizer que alguém pode ser justo demais e sábio demais. Ora, você já ouviu dizer que tudo o que é demais passa a ser ruim. De fato, a pessoa justa demais costuma ser legalista, apresenta-se como a "palmatória do mundo", e tem dificuldade em lidar com os próprios pecados, defeitos e erros. Já o sábio demais é sistemático, inclinado à crítica desmedida, e tem problemas de relacionamento, pois não consegue conciliar o mundo imperfeito com a sua visão "perfeita" e ajustada de como as coisas deveriam ser. Tanto um como outro recebem uma questão crucial da pena de Salomão: "Por que morrerias fora do tempo"? Isso mostra que o exagero legalista e sistemático pode conduzir à morte, e não tenho receio em verificar nisso a possibilidade de doenças psicossomáticas. Por isso, antes de tentar colocar as coisas "nos devidos lugares" e "a ferro e fogo", devemos observar o ambiente, orar, conversar com pessoas que pensam parecido, refletir sobre o assunto, e ir fazendo pequenas modificações naquilo que puder ser mudado. A Palavra de Deus está nos dizendo que justiça demais e sabedoria demais também conduzem à destruição. Portanto, cuidado com os seus passos e viva bem!

Artigo sobre Lm 3.29

Uma possibilidade de esperança!


“Ponha a boca no pó; talvez assim haja esperança” (Lm 3.29).


Gosto da maneira como o profeta Jeremias escreveu esse versículo: o Espírito Santo fornece uma possibilidade de esperança, e se pronuncia num linguajar bem humano: “talvez assim haja esperança”. É como um conselheiro, um companheiro que ajuda na hora da fraqueza, e oferece uma tábua de salvação a quem está no meio das águas.
Deus nem sempre garante que a pessoa vá conseguir aquilo que deseja; muitas vezes ela não vai mesmo obter a resposta pretendida. Mas o Espírito de Deus jamais rejeita um coração que se humilha. O importante, então, não é simplesmente alcançar o que se quer nesta vida, e, sim, a comunhão que nós vamos construir com Jesus no terreno da humilhação.
Por a boca no pó é um gesto de muita humilhação. A pessoa já não apela para recursos humanos; já não se apóia em suas próprias razões; já não confia nos seus méritos individuais - ela só tem o chão diante de si.
Várias vezes a Palavra diz que Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (Tg 4.6; I Pe 5.5; Sl 138.6; Pv 3.34; Jó 22.29).
É um princípio espiritual: o que se humilhar será exaltado, e o que se exaltar será humilhado (Mt 23.12; Pv 15.33; Lc 14.11).
Bem-aventurados são os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus (Mt 5.3). Ser pobre de espírito é ser humilde; é o oposto de ser cheio de si mesmo. As pessoas interpretam de modo errado essa expressão, como se significasse alguma pobreza espiritual. Dizem: “Fulano é pobre de espírito” como a dizer que ele não tem virtudes. Mas pobreza de espírito é, sim, uma disposição humilde do coração. Também não tem nada a ver com espírito de pobreza!
Escreveu o profeta Isaías que Deus habita com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos” (57.15).
Escreveu o salmista Davi que os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; e que Deus não desprezará a um coração quebrantado e contrito (51.17).
A situação pode parecer insustentável e insuportável. O profeta, porém, sugere o caminho da humilhação pessoal. Ninguém deve humilhar ao próximo, mas todos devem humilhar a si mesmos.
O pastor Tiago exorta: “Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará” (4.10).
Com o apóstolo Pedro não é diferente: “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte” (I Pe 5.6).

Conclusão: o caminho da humilhação é imitar a Cristo.

Abreviaturas eventualmente utilizadas

ARA - Almeida Revista e Atualizada
ARC - Almeida Revista e Corrigida
BEP - Bíblia de Estudo Pentecostal
BLH - Bíblia na Linguagem de Hoje
EP - Edição Pastoral
NCB - Novo Comentário da Bíblia
NVI - Nova Versão Internacional

Artigo sobre a unção com óleo

Reflexão sobre a “unção com óleo”


“Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg 5.14,15).


A primeira lembrança que tenho da unção com óleo é a de um pastor que foi à minha casa há mais de vinte anos[1], com o propósito de orar pela minha mãe, que estava adoentada. Ele trazia um frasquinho de óleo na mão. Foi de terno, como usam fazer os pastores assembleianos. Era um dos pastores “antigos”, e já passou para a eternidade.
Mas não estou escrevendo reminiscências. Quero pensar com você a respeito da unção com óleo, porque tenho verificado uma distorção de seu uso por parte de algumas igrejas. Na verdade, há um modismo em torno desse ato.
De acordo com Tiago, os irmãos que estivessem doentes deveriam chamar os presbíteros da própria igreja, os quais iriam fazer uma oração sobre o enfermo e ungi-lo com óleo, “em nome do Senhor”. Assim, a iniciativa seria do doente, e não dos presbíteros; e haveria, além da unção, uma oração e uma invocação do nome do Senhor (Jesus).
A Escritura deixa claro que a oração da fé salvaria o enfermo, e não a unção em si. Da mesma forma, a oração da fé produziria o efeito do perdão, e não a unção por si mesma. Certo é que tanto a cura divina quanto o perdão de pecados são resultados da fé em Jesus, e não de algum ritual perpetrado pelos crentes.
Fora estes versículos de Tiago, a única passagem que se refere à unção com óleo é a de Mc 6.13, onde se lê que os discípulos “curavam enfermos, ungindo-os com óleo”. Foi numa de suas primeiras jornadas missionárias, enquanto ainda aprendiam com Jesus em Seu Ministério na Terra.
Vale salientar que o Cristianismo verdadeiramente bíblico não é uma religião de rituais. As duas únicas ordenanças que temos são o Batismo em Águas e a Ceia do Senhor, ambas com forte simbologia relacionada ao Plano de Salvação. Observe-se, ainda, que não se trata de sacramentos, justamente porque não fornecem nenhuma graça pela simples prática, constituindo, isto sim, recordação e publicação de algo que já aconteceu na alma do pecador arrependido.
Quanto à unção com óleo, sequer é uma ordenança, e anda longe disso.
Também não se deve achar que a unção com óleo tenha alguma coisa a ver com a “extrema unção” ministrada pelos padres aos que estão para morrer, uma vez que essa prática se desvia totalmente do que a Bíblia preconiza: como eu disse, a unção prevista por Tiago não é sacramento, e enfatizo que não é somente para aqueles que estão no leito de morte, mas para todos os doentes que assim o queiram.
Sei que há controvérsias quanto à função do óleo, pois, enquanto uns acreditam que seria apenas uma substância com propriedades terapêuticas[2], outros entendem que seria mesmo o símbolo do Espírito Santo[3]. Mas, de toda maneira, nenhum cristão ortodoxo pode imaginar que Tiago estaria recomendando um rito especial de cura de enfermos e salvação de pecadores!
No entanto, independentemente da função terapêutica ou simbólica do óleo empregado, a questão principal aqui consiste em refutar um desvirtuamento sério, que precisa ser combatido: creio que, preocupados em atrair pessoas a suas reuniões, alguns líderes de tradição ortodoxa têm investido na idéia de “cultos de libertação” ou similares em que se oferta a unção com óleo, inclusive com divulgação específica.
Refiro-me a propagandas do tipo: “Venha receber a unção com óleo no culto das tantas horas do dia tal”. Ora, isso não tem nenhum fundamento bíblico!
Vejo que alguns líderes, um tanto acanhados em praticar “inovações”, mas tentados a ver em suas igrejas o mesmo crescimento experimentado por grupos sem acanhamento na área, acabam usando Tg 5.14,15 como pretexto, porque o expediente seria supostamente bíblico.
A explicação é que, se outros grupos, especialmente neo-pentecostais, agem já sem preocupação de dar base bíblica a seus métodos, usando, no máximo, textos fora de contexto e versículos como frases de efeito, esses líderes ortodoxos e pouco preparados buscam incrementar seus cultos com distorções aparentemente inofensivas, mas que um dia com certeza irão fulminar a seriedade de sua fé e prejudicar a fé das ovelhas.
Quando às “bênçãos” associadas à unção com óleo nessas reuniões a que me refiro, estão coisas que Tiago não previu, como a expulsão de demônios. O que o Texto afirma é que a oração da fé salvará o doente (no sentido físico) e que, se houver cometido pecados, estes lhe serão perdoados. A seqüência das expressões mostra que se trata de coisas distintas: salvação como livramento da enfermidade física acompanhada de perdão de pecados.
Talvez Tiago tivesse em mente, ao escrever, que todos os males advêm do pecado universal[4]; ou que eventualmente aquela doença particular poderia ter sido ensejada por um pecado pessoal do doente[5]. De toda sorte, o único efeito adicional previsto por Tiago para a oração da fé é o perdão de pecados...
É certo que “muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tg 5.16, in fine). E isto Tiago afirma logo abaixo da recomendação da unção com óleo. Em outra versão, mais comum entre nós, tem-se que “a oração do justo pode muito em seus efeitos”[6] (grifei).
Se a oração da fé é a mesma oração do justo – e realmente é – temos que a oração da fé pode produzir cura divina, batismo no Espírito Santo, libertação espiritual, resolução de problemas, salvação de pecadores. Mas o que não devemos fazer nem incentivar é a promessa de que a pessoa vai ser curada, ou libertada de demônios, ou batizada no Espírito Santo, ou que terá solucionados os seus problemas mediante uma oração nossa.
Qualquer proposta dessa natureza, baseando-se na unção com óleo, terá sido uma ofensa à Palavra de Deus e um desrespeito ao público que se faz presente a tais reuniões.
De minha parte, fico com a boa lembrança do pastor que foi à minha casa com um frasquinho de óleo da mão, cumprir seu ministério anônimo e simples de visitar enfermos e orar por eles, em nome do Senhor.
Que Deus nos abençoe.
[1] Escrevo este texto em 14 de maio de 2006.
[2] NCB, v. II.
[3] BEP, nota a Tg 5.14.
[4] NCB, v. II.
[5] BEP, nota a Tg 5.14.

[6] ARC.

Artigo sobre a prática de ofertar esperando recompensas

Refutando a equação dinheiro + fé = prosperidade material
Vem se repetindo em igrejas evangélicas a prática de pedir dinheiro às pessoas, e até mesmo bens, sob o argumento de que dízimos e ofertas constituem um investimento no mundo espiritual, com repercussão positiva em termos financeiros e profissionais. Dito de outro modo, é como se houvesse uma lei da semeadura militando em favor do enriquecimento ou enaltecimento social de quem contribui financeiramente com a igreja.
Trata-se de um dos engodos da Teologia da Prosperidade, relacionada intimamente à Confissão Positiva. Importado por líderes neopentecostais, e com amplo espaço na mídia, o ensino materialista norte-americano tem se infiltrado em igrejas, modelando pregações e ministérios, para tristeza dos crentes que ainda conhecem as bases da Fé Cristã.
A Confissão Positiva consiste em declarar ou, como eles dizem, profetizar bênçãos e vitórias, tomar posse, tudo no sentido de uma apropriação de bênçãos supostamente prometidas por Deus, a partir da verbalização ou confissão de fé. Ocorre que essa fé nada tem de fidelidade à Palavra de Deus, definindo-se, isto sim, como uma espécie de dispositivo que ativa poderes ou leis universais. Se para Abraão foi necessário crer nas promessas e palavras de Deus, para o triunfalista o que importa é dizer o que ele quer que aconteça, para que o bem se torne realidade.
Um dos textos mal empregados pelos divulgadores da suposta lei da semeadura financeira encontra-se em II Co 9.6, quando Paulo afirma que “aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará”. Isoladamente, e num culto que destaca as ambições materialistas, até pode parecer que esse versículo fundamenta o espírito de barganha com Deus.
No entanto, à luz do ensino do Novo Testamento, não há que se cogitar, absolutamente, de nenhuma equação de feições mágicas, à semelhança das receitas sugeridas pelos feiticeiros àqueles que procuram qualquer tipo de benesse.
Para entender o texto em comento, cumpre observar o contexto, situado nos capítulos 8 e 9 da mencionada Carta. Ali, Paulo está se referindo à coleta de donativos para os irmãos pobres da Judéia, algo que estava sob sua responsabilidade, com a colaboração de alguns homens da Igreja, e em face tanto dos coríntios como dos macedônios. Assim, o que prepondera na passagem é o interesse pelos pobres, a assistência social, a ajuda a quem precisa, longe de intentos mesquinhos de satisfação pessoal.
Os próprios macedônios haviam colaborado estando “no meio de muita prova de tribulação” e “profunda pobreza”. Em contraste à sua tribulação, “manifestaram abundância de alegria”; e a “profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade” (8.2). Assim, vê-se que circunstâncias objetivamente difíceis não são obstáculos para virtudes como a alegria e a generosidade, atitudes valorizadas pelo apóstolo.
Mais do que isso: os pobres macedônios mostraram-se voluntários “na medida de suas posses e mesmo acima delas” (8.3), a ponto de pedirem, “com muitos rogos”, que lhes fosse permitida “a graça de participarem da assistência aos santos”. Para aqueles crentes, ajudar aos outros era uma bênção, uma graça de Deus. Não estavam pensando em si, não queriam recompensas – a generosidade que se paga não é real.
Antes de doarem coisas, os macedônios doaram suas próprias vidas, primeiro a Cristo, depois aos apóstolos, “pela vontade de Deus” (8.5). Havia, sim, uma entrega sacrificial, muito mais do que uma entrega de dinheiro ou bens.
Os coríntios foram elogiados por Paulo como tendo “presteza” e “zelo” na arrecadação de contribuições para os pobres, já que desde o ano anterior haviam se prontificado a tomar parte no projeto assistencial.
Em sua eleição de virtudes, em detrimento de pecados, o apóstolo afirma que a contribuição deveria ser expressão de generosidade, e não de avareza. É muito oportuno que Paulo contraponha avareza e generosidade na administração de bens materiais, uma vez que uma coisa pode ser exteriormente boa para o próximo, mas motivada por sentimentos egoísticos.
Desse jeito eram as orações a que se refere Tiago em sua Carta, pois os irmãos a quem ele escreveu pediam coisas a Deus para gastarem em seus próprios deleites. Portanto, mesmo as orações podem ser demonstrações de egoísmo, se o conteúdo não corresponder aos desígnios de Deus.
Ao estabelecer a lei da semeadura, Paulo está ensinando que, em linhas gerais, o bem que se faz no Reino de Deus surtirá efeitos positivos para o próprio Reino. Assim é que aquele que contribui com alegria, segundo o que tiver proposto em seu coração (9.7), irá “abundar em toda graça” pela ação de Deus, e, uma vez possuindo “ampla suficiência” em todas as áreas, os crentes irão superabundar “em toda boa obra”.
Quer isto dizer que a bênção prometida nessa lei da semeadura implicará em abençoar os outros e não ter carências por causa disso. O Deus que supre as necessidades fará com que os abençoadores sejam abençoados e possam abençoar cada vez mais. As boas ações produzirão frutos de justiça (cf. 9.10), igualmente àquele justo do Sl 112.9, citado por Paulo: ele distribui, dá aos pobres, e a sua justiça, como virtude, permanece.
O que importa realmente é a capacidade de doar sem esperar nada em troca, sabendo que as reais necessidades de quem doa serão satisfeitas em sua exata medida.
Paulo utiliza, sim, a palavra “enriquecendo-vos”, mas quanto a “toda generosidade”, a fim de que sejam tributadas graças a Deus (9.11).
Creio, porém, que o objetivo da contribuição fica ainda mais claro nos versículos 12 a 14: o serviço da assistência social supre a necessidade dos santos e faz com que os beneficiários glorifiquem a Deus pela obediência dos doadores a Cristo, confirmando, assim, sua confissão de fé. Destarte, lançam-se fora todas as demandas individualistas, pois um dos objetivos é ajudar aos pobres, e o outro é glorificar a Deus.
Os canais de bênçãos, que são os crentes doadores, não estão preocupados em se tornar ricos, “prósperos”, “vitoriosos”, vocábulos mui freqüentes nos lábios dos crentes materialistas. Deus será louvado pela obediência e pela liberalidade. À falta dessas virtudes, não haverá motivo para valorizar quaisquer condutas pretensamente benfazejas.

Artigo sobre o ofício de presbítero

CONSTITUIÇÃO E FINALIDADE DO OFÍCIO DE PRESBÍTERO
A PARTIR DE ATOS 20.28


Introdução. Ao se despedir dos presbíteros da igreja de Éfeso, o apóstolo Paulo fez um discurso muito tocante, registrado em At 20.18-35. Gostaria de destacar apenas o conteúdo do versículo 28, a seguir transcrito:

“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue”.

Trata-se de uma das passagens fundamentais da Teologia Pastoral, também chamada de Poimênica, que por sua vez se relaciona intimamente com a Hiperetologia ou Teologia do Serviço. Neste ensaio, nossa proposta é analisar o teor do versículo, confrontando-o com textos pertinentes, dos quais se extraem lições atinentes ao conceito, nomeação e propósito do cargo de presbítero.
O presbítero e sua disciplina espiritual. De início, observa-se que aqueles presbíteros deveriam cuidar de si mesmos, antes de pensar em cuidar de outras pessoas. Cuidar de si mesmo implica no exercício de uma vida devocional (oração e leitura da Bíblia) e na fuga das tentações, por meio da vigilância. Com efeito, não se deve estudar a Palavra de Deus somente para pregar ou ensinar, tampouco se deve ler um texto bíblico sempre tendo em mente um sermão. É necessário que o presbítero pense em suas limitações na esfera intelectual, moral, emocional e espiritual, para que não caia (I Co 10.12).
Quem não guarda em depósito não tem para oferecer (II Tm 1.14): por mais que haja talento, conhecimento ou dons espirituais, em determinado momento isso não vai ser suficiente se a piedade for deixada de lado. Demais disto, há o perigo do pecado e dos escândalos. Dada a sua importância, essa mesma exortação à piedade foi dada por Paulo ao pastor Timóteo em I Tm 4.6,7 e 16, justamente àquele que, por um período, foi constituído como líder da igreja de Éfeso (I Tm 1.3).
O presbítero, um vocacionado. Voltando a At 20.28, vemos que não foi Paulo nem qualquer outro apóstolo quem chamou aqueles presbíteros, mas o Espírito Santo, que é Deus. Aliás, é possível perceber a atuação da Trindade nesse processo de chamamento do presbítero: o Espírito o constitui para a Igreja que pertence a Deus e que foi comprada com o sangue de Cristo – o que está implícito na cláusula “com o seu sangue”[1], além de revelar, em consonância com o restante das Escrituras, que Cristo é Deus. Dessa forma, o vocacionado é alguém que a Trindade chama para o ministério da Palavra, constituindo-o para a igreja, instituição espiritual e depois social.
O próprio Paulo, junto com Barnabé, foi separado pelo Espírito Santo à obra de evangelização de gentios, o que foi precedido de serviço ao SENHOR e jejum, e seguido de oração, jejum, imposição de mãos e envio (At 13.1-4). O Espírito tanto chamou como enviou, enquanto da igreja orava, jejuava, cultuava a Deus.
Logo na primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé promoveram a eleição de presbíteros (At 14.23). Note-se que eles não indicaram unilateralmente os que seriam presbíteros, mas estabeleceram o processo decisório. Estavam certos de que a vocação é divina e o reconhecimento é da igreja, por meio de outros presbíteros, como o mesmo Paulo deixaria registrado em I Tm 4.14.
Por oportuno, e tomando de empréstimo uma premissa aplicada aos sacerdotes, digamos com a Carta aos Hebreus que “ninguém (...) toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus” (Hb 5.4). No entanto, quem deseja ser presbítero – ou bispo, de acordo com I Tm 3.1 – está pretendendo “excelente obra”, e, a princípio, nada há de errado em desejar o episcopado.
Ao mesmo tempo em que são denominados “presbíteros”, os líderes também são “bispos”, dois vocábulos originados do grego, o primeiro significando “anciãos”, e o segundo, “supervisores”[2]. Não se cogita absolutamente de cargos diferentes, mas de aspectos do mesmo cargo, tanto que em Tt 1.5,7 os termos são utilizados indistintamente.
À semelhança dos anciãos de Israel, autoridades em assuntos morais e civis, os líderes da Igreja devem ser dotados de experiência e autoridade moral. Isso não significa que o presbítero deva ser necessariamente um idoso – o que não deve ser é neófito (I Tm 3.6). Outrossim, na condição de bispos, os líderes estão sobre o rebanho, no sentido de guiá-lo (cf. Hb 13.6,17, 24). Pode-se afirmar, portanto, que “presbítero” e “bispo” são nomes para um mesmo cargo ou ocupação.
O presbítero e sua função. Por outro lado, aqueles mesmos presbíteros ou bispos foram constituídos pelo Espírito Santo para pastorearem a igreja de Deus. Assim, enquanto “presbítero” e “bispo” são nomes de um cargo, “pastor” é designação de uma função. Dito de outro modo, não existe biblicamente uma hierarquia entre bispos, presbíteros e pastores, que grupos eclesiásticos inventaram, criando até um sistema de promoções em que um presbítero é alçado ao status de pastor, ou os bispos são superiores aos pastores. Tudo isso acaba sendo um regime de títulos e carreiras, e se caracteriza como uma distorção dos ofícios eclesiásticos, tomando-se nomes diferentes como se designassem coisas diferentes – caso de bispo e presbítero – e adotando arbitrariamente um significado para as palavras.
De fato, pastor é quem pastoreia. Se o indivíduo é intitulado pastor, mas não pastoreia, algo está errado. Na essência, não existe pastor sem rebanho, o que seria, na verdade, uma contradição em termos, como dizer que alguém é comandante, mas não tem a quem comandar. Essa distorção configura-se quando se consagram pastores visando à sua premiação por serviços prestados, como que “pelo conjunto da obra”; ou quando se conferem simples títulos de pastor a quem não foi chamado (por Deus) a pastorear.
O presbítero e suas atribuições. Embora chamado ao presbitério, pode alguém não ser constituído sozinho sobre uma igreja local, como seu líder. Isso não está errado, pois, em nosso texto-base, vemos que aqueles presbíteros serviam na mesma comunidade, na cidade de Éfeso, e todos eram pastores. O que não pode ocorrer é a consagração de pastores para não pastorear, como prêmio ou título, ou quem sabe para formar uma “base aliada” na congregação, um grupo de bajuladores e interesseiros, que afagam o “pastor-chefe” enquanto cultivam o sonho de, um dia, eventualmente assumir o seu lugar, e assim ganhar todas as honrarias que hoje lhe reconhecem.
Uma das atribuições de presbítero pode ser a presidência da igreja, porque há os que “presidem bem” (I Tm 5.17). Outro papel é o de pregar e ensinar (idem). Há a necessidade de administrar recursos financeiros (At 11.30). Todos os presbíteros devem zelar pela “palavra fiel que é segundo a doutrina”, seja pela exortação no âmbito do ensino, seja pelo convencimento de contradizentes (Tt 1.9). São auxiliados por diáconos, “cooperadores e obreiros” (I At 6.1-7; I Tm 3.8-13; I Co 16.16), e se lhes deve dirigir submissão e honra (I Ts 5.12; Hb 13.17, 24).
Não há que se esquecer, ainda, que há diversas maneiras de pastorear, e que os pastores possuem dons distintos, o que pode produzir uma grande variedade de estilos de ministérios. Isso é bíblico, importante e verificável na prática. Uns podem ser pastores que presidem (cf. Rm 12.8), outros, pastores que aconselham (I Ts 5.12), outros, ainda, pastores que também têm o dom de evangelista (Ef 4.11), outros, pastores que ensinam (I Tm 5.17) – e como estes pastores-mestres são necessários atualmente! As manifestações carismáticas não são estanques.
Por fim, cumpre consignar que, além da vocação, eleição e atribuições, há os requisitos do presbitério (I Tm 3.1-7, Tt 1.6-9) e uma série de posturas recomendadas (como em Tt 2.1,7,8; I Pe 5.1-4).
Conclusão. Muito mais do que uma questão de palavras, cuida-se aqui da doutrina pastoral, com o intuito de contribuir com uma reflexão a respeito da liderança evangélica brasileira dos dias atuais. Repito: não se cuida aqui de mera nomenclatura, pois, na verdade, revela-se que a falta de conhecimento dos ofícios eclesiásticos produz a confusão terminológica, e não o contrário. É por isso que há pessoas sendo ordenadas a “evangelistas” ou “pastores”, mas sem o dom de evangelizar ou sem a vocação para o ministério pastoral.
[1] A Bíblia Anotada traz, à p. 1393, a informação de que, literalmente, a expressão é “com o sangue do Seu Filho”.
[2] Bíblia Anotada, p. 1518.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Por que escrever Teologia num blog?

Depois de postar meu primeiro artigo no blog, pensei comigo: "Por que escrever Teologia num blog, já que há tantas vozes no mundo, e muitas tão desafinadas"? Emendei outro pensamento, ainda mais grave: "Será que minha voz não vai bagunçar o que já está ruim"?
Tenho mesmo receio de que alguma coisa que eu venha a escrever não seja de proveito para o (a) internauta. Por isso, preocupo-me em estudar e ponderar antes de lançar idéias e informações na Internet. A Rede Mundial de Computadores é um espaço amplo, que aceita tudo, não possui um crivo editorial - então, recordo-me de que Paulo nos exortou a examinar tudo e reter o que é bom (I Ts 5.21). A Internet é o mundo...Por causa disso, há que se ter prudência!
Peço, assim, que o (a) internauta proceda com cautela e discernimento ao ler o que escrevo. Não faço isso temendo por minha boa-fé, mas por minhas limitações humanas, a começar pelas intelectuais. Sugiro que o (a) leitor (a) consulte na Bíblia os versículos que eu menciono, e tire suas conclusões. Veja se os textos que menciono corroboram o que eu afirmo. Interprete a Palavra de Deus, faça dela um manual de exame livre, e sob critérios hermenêuticos adequados. Você verá que há muito mais, e que eu apenas estou desfrutando o prazer de refletir sobre o Reino de Deus, e que a sabedoria pertence ao SENHOR.
Soli Deo gloria.

Artigo sobre a infância de Jesus

O período da vida de Jesus sobre o qual não há registro nos Evangelhos
Introdução.
Em nossos dias, há um interesse geral pela especulação. Estamos numa época em que muita gente sabe de muitas coisas, mas de maneira genérica e superficial. E, munidas de informações variadas, as pessoas criam uma cultura de almanaque – nada de conteúdo sobre tudo o que existe, e todas as “dicas” sobre nada de importante. Por causa disso, conversam mediocremente sobre temas os mais diversos.
Um dos assuntos que mais chamam a atenção desses estudiosos de generalidades é a vida de Jesus, mas de forma deturpada, a partir de produções literárias e audiovisuais que não confiam na veracidade das Escrituras.
É assim que, em vez de se ocuparem com o objetivo da vinda de Cristo ao mundo, pessoas há que procuram livros não-canônicos sobre a infância, adolescência e juventude de Jesus; escrevem-se livros de ficção sobre o que Jesus teria dito ou feito enquanto menino; fala-se até de relacionamentos amorosos que jamais existiram, numa atitude deliberada de desacatar a imagem que os Evangelhos oferecem a respeito de Cristo.
Buscando na fonte: Mateus, Marcos, Lucas e João.
Em vez de depararmos com textos quaisquer, procuremos na Bíblia o que ela diz sobre Jesus.
Mateus escreve sobre o nascimento de Jesus (1.18-25), a visita dos sábios do Oriente (2.1-12), a fuga para o Egito (2.13-15), a matança de crianças ordenada por Herodes (2.16-18) e a volta do Egito (2.19-23). Em todos esses registros, o interesse de Mateus é demonstrar que em Jesus se cumpriam as antigas profecias sobre o Messias (cf. 1.22,23; 2.5,6, 15, 17,18, 23). Não havia, assim, nenhum objetivo que não estivesse relacionado ao propósito da vinda de Cristo ao mundo.
Lucas, que se nos afigura um pouco mais detalhista, escreve algo mais, embora jungido ao objetivo de anunciar os eventos principais do Evangelho. Ele mesmo nos diz em seu prefácio que lhe pareceu bem, “depois de acurada investigação de tudo desde sua origem” dar uma “exposição em ordem”, para que o leitor obtivesse “plena certeza das verdades” em que fora instruído (ver 1.3,4).
Com efeito, Lucas tratou não só do nascimento de Jesus (2.1-7), como também do seu anúncio a Maria por meio do anjo Gabriel (1.26-38), da visita de Maria a Isabel, esta já grávida de seis meses (1.39-45), do cântico de Maria (1.46-55), da visita dos pastores de Belém (2.8-20), da circuncisão e apresentação de Jesus no Templo (2.21-24), das personagens Simeão e Ana (2.25-38) e do episódio em que, já com 12 anos de idade, Jesus é deixado em Jerusalém pelos Seus pais (2.41-51). Mais uma vez, tudo o que foi registrado tem em mira o plano de Salvação.
Observe que, quando José e Maria esqueceram Jesus em Jerusalém, certamente por acharem que estivesse no meio da grande caravana que seguiu para a Páscoa, Ele ficou na Cidade Santa, e foi encontrado três dias depois debatendo com os doutores. Como a educação em Israel fazia-se naquele tempo por meio de perguntas e respostas, o texto diz que os doutores ficaram admirados com as respostas do Menino, ressaltando, com isso, sua inteligência. Jesus era estudioso, uma Pessoa que na idade adulta foi digna de ser chamada de Rabi (Mestre), ainda que não tenha freqüentado escolas formais (Jo 7.15).
Marcos e João nada escrevem sobre a infância de Jesus. Sequer apresentam uma genealogia. O primeiro começa apresentando o ministério de João Batista como cumprimento de uma profecia de Isaías sobre o precursor do Messias. O segundo ocupa-se inicialmente com o Verbo Divino, Eterno e Criador, para em seguida dizer que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (1.14).
O desenvolvimento humano de Jesus.
Pode-se afirmar que a vida de Jesus antes do início de Seu ministério resume-se nos versos 40, 51 e 52 do capítulo 2 de Lucas. E nessas ocasiões o versículo precedente informa o retorno a Nazaré, primeiro após a circuncisão e a apresentação (v. 39), e em seguida após o diálogo com os doutores (v. 51).
No v. 40, o evangelista deixou registrado que “crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele”.
Aqui, temos o desenvolvimento físico (crescimento, fortalecimento) e o desenvolvimento psíquico (crescimento em sabedoria). A graça de Deus, que estava sobre Jesus, como referida nesse versículo, é a mesma graça que repousa sobre todo servo de Deus, porque nesse texto o que se propõe é a humanidade de Cristo. Sim, Jesus Cristo é Deus, mas a graça de Deus que estava sobre Ele, nessa passagem, deve estar aliada ao desenvolvimento fisio-psíquico.
O verso 52 traz mais ou menos o mesmo conteúdo, acrescentando que o menino crescia “em graça...diante...dos homens”, o que indica o Seu desenvolvimento relacional.
Já o verso 51 mostra-nos que Jesus desceu com Seus pais para Nazaré e “era-lhes submisso”. O verbo ser, em português, quando no tempo pretérito imperfeito do modo indicativo, denota um passado contínuo. Assim, Jesus submeteu-se à autoridade de Seus pais durante anos, até que chegou o dia em que Se apresentou a Israel.
A submissão do Salvador a Seus pais é para os filhos um exemplo de obediência, tão recomendada na Escritura. No entanto, em vez de se ocuparem dessa frase, que resume boa parte da vida de Jesus, há pessoas que se interessam por coisas que não constam da Bíblia, por tudo quanto é periférico, fictício ou sem valor.
O que realmente importa.
Os Evangelhos não tratam da vida de Jesus entre Seus 12 e 30 anos de idade porque não consistem exatamente numa biografia, mas num registro do envio do Filho de Deus ao mundo para morrer pelos pecadores.
Basta contar o número de capítulos dedicados a cada fase da vida de Jesus, e veremos que o objetivo dos escritores era apresentá-lO como o Salvador, como o Messias prometido, como o Servo Sofredor. Ele veio para buscar e salvar o que se havia perdido (Lc 19.10). Veio para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). Veio para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos (Mt 20.28; Mc 10.45).
Os Evangelhos não são uma biografia porque biografia é um relato detalhado da vida de uma pessoa, desde o seu nascimento até sua morte, passando, o quanto possível, por todos os fatos considerados marcantes, sem um propósito específico, senão o de exaltar o biografado, criar polêmicas, formular uma resenha histórica.
No caso de Jesus, era necessário afirmar Sua divindade e humanidade, a razão de Seu envio pelo Pai, e demonstrar que o Reino de Deus havia chegado, o que Ele fez por meio de sinais e maravilhas.
O desenvolvimento psíquico e físico de Jesus, bem como Seu sofrimento e morte, demonstram que Ele não era aparentemente Homem (proposta do Docetismo) nem um fantasma ou emanação divina (proposta do Gnosticismo), mas um Homem de verdade. Jesus veio efetivamente “em carne”, sentiu fome, sede, cansaço, tristeza, dores e, enfim, morreu. Sua humanidade é para nós tão eloqüente quanto Sua divindade.
Jesus não era um super-herói, tampouco um homem-deus ou um homem divinizado. Também não era um mero deus humanizado. Essas expressões, a pretexto de explicar, acabam confundindo. Jesus veio como Homem e nunca deixou de ser Deus. É Deus e Homem, Homem e Deus. Não houve uma fusão entre as duas naturezas, nem a criação de um combinado, formando uma terceira natureza. Jesus tem as duas naturezas, divina e humana, em perfeita harmonia, e de um modo incompreensível para nós.
Ficam por conta dos especuladores e dos escritores de ficção os episódios em que o Menino Jesus teria operado milagres. Na verdade, Jesus só passou a operar milagres depois da unção do Espírito Santo, que recebeu na ocasião de seu batismo no Jordão (At 10.38). A unção do Espírito foi concedida para que o Mestre realizasse as obras que testificariam de Sua divindade e missão redentora.
Conclusão.
Há uma constante suspeita sobre a Bíblia, fomentada por estudiosos ateus, sem religião ou teólogos liberais. Acham que a Bíblia deve estar escondendo alguma coisa, que a Igreja Romana retirou algum trecho comprometetor, ou que nos livros não-canônicos se achará alguma informação reveladora.
Coube ao apóstolo João deixar consignado que Jesus fez "muitos outros sinais", mas que não foram relatados porque, se o fossem, não haveria espaço nos livros que se escreveriam. Entretanto, "estes... foram registados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo 20.30,31).

Uma palavra inaugural

Saudações, amigo (a) internauta,

Valendo-me de um dos recursos tecnológicos mais democráticos de nosso tempo, apresento-me a você como alguém que procura estudar a Palavra de Deus com entusiasmo e seriedade.
Ao pensar nisso, recordo-me de Esdras, intelectual judeu que dispôs o seu coração para buscar a Lei do SENHOR, cumpri-la e ensiná-la em Israel (Ed 7.10). Penso também nos irmãos da cidade de Beréia, que, sendo mais "nobres" ou de mente mais aberta que os de Tessalônica, iam consultando as Escrituras para ver se as coisas que Paulo dizia eram de fato assim (At 17.11). Aliás, o próprio Paulo, homem culto, valorizava o exame acurado do que concerne ao Reino de Deus, algo que fica patente em suas Epístolas.
Considerando que a Bíblia é fonte inesgotável de conhecimento, principalmente do Caminho que conduz à Vida Eterna, proponho-me estudá-la e fazer, quando possível, exposições orais e escritas. Sei, por outro lado, quão grande é a carência de expositores bíblicos em nosso Brasil, onde heresias e "ventos de doutrina" (Ef 4.14) tanto nos atrapalham a Fé.
Espero que este blog seja canal de bênçãos para o (a) internauta. Estarei inserindo textos de nossa autoria, e tudo aquilo que houver de interesse no exame de porções bíblicas para os nossos dias.
Que Deus nos abençoe.


Fale comigo!

Gostaria de estabelecer contato com você. Talvez pensemos a respeito dos mesmos assuntos, e o diálogo é sempre bem-vindo e mais que necessário. Meu e-mail é alexesteves.rocha@gmail.com. Você poderá fazer sugestões de artigos, dar idéias para o formato do blog, tecer alguma crítica ou questionamento. Fique à vontade. Embora o blog seja uma coisa pessoal por natureza, gostaria de usar este espaço para conhecer um pouco de quem está do outro lado. Um abraço.

Para pensar:

Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

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Bases de Fé

Creio:
Em um só Deus e na Trindade.
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão.
Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
No batismo bíblico em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo.
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus, através do poder do Espírito Santo.
No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo.
Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade.
Na Segunda Vinda de Cristo.
Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo.
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis.
E na vida eterna para os fiéis e morte eterna para os infiéis.