terça-feira, 31 de março de 2009

Um registro sobre direita e esquerda

Estou pensando sobre a dificuldade de o brasileiro se apresentar como “de direita” e não ser considerado um reacionário. Com efeito, parece-me que no Brasil a direita é entendida como ideologia entreguista, sustentáculo do Regime Militar de 1964, manutenção do status quo, e todas as coisas ruins que possam existir, como a injustiça social, a opressão, o fundamentalismo.
No entanto, algumas coisas precisam ser esclarecidas. Como diz o blogueiro da Veja Reinaldo Azevedo, os militares da Ditadura de 64 não eram de direita, pois eram estatizantes, e estatismo é coisa da esquerda.
Estou dizendo isso porque minha intenção é discernir o que é ideologia política de direita num caminho diferente do seguido pelos esquerdistas, que gostam de associar à direita toda a maldade humana.
Ora, a direita defende, em linhas gerais, a liberdade individual, a livre iniciativa, o livre mercado, a igualdade de oportunidades, o Estado-mínimo, um direito penal mais repressivo, a meritocracia nas universidades, assim como tem problemas com o aborto e com a união civil de homossexuais. Já a esquerda prega a forte intervenção no mercado, as ações afirmativas (sistema de cotas), a estatização de empresas, o direito penal mínimo, as reservas contínuas de grupos indígenas, e tem simpatia pelo casamento gay, pelo aborto, pela eutanásia e por uma educação pública que intervém em questões familiares, como a criação dos filhos.
Essa generalização é perigosa como toda generalização. Mas é o que vejo, grosso modo, do que a direita e a esquerda ensinam. Sei que há inúmeras correntes de direita e de esquerda espalhadas pelo mundo, uma até mesmo extremistas, algumas ligadas à religião, mas minha intenção aqui, repito, é chamar a atenção para o fato de que a direita não pode ser contemplada como sinônimo do que não presta. A direita, a meu ver, tem sido injustiçada ou mal-compreendida.
Como nordestino, sei que o Coronelismo fez um mal tremendo à minha Região, notadamente na Bahia, há décadas assaltada por um grupo medonho. Mas quem disse que isso é coisa natural à direita? Por outro lado, não foram os esquerdistas que compraram votos de parlamentares com o chamado “Mensalão”?
Durante toda a minha infância e juventude, estive mais perto de conceitos de esquerda. Creio que isso se deve à memória recente da Ditadura. Todo mundo que se posicionava contra o Regime Militar, e que se lembrava daqueles tempos sombrios, acabava sendo tomado por esquerdista, e se tornava esquerdista mesmo. Como nasci em 1977, pude acompanhar a lamentação por Tancredo Neves (1985), o choque dos planos de Sarney (1985-90), a ascensão e impeachment de Collor (1990-92), além de toda a sequência. No dia 26 de agosto de 1992, participei, em Pojuca-BA, de manifestação pública liderada por petistas gritando “Fora Collor” ao som de Alegria, Alegria, que não parava de tocar. E também na Universidade (1996-2001) eu fui mais balançado para a esquerda.
No entanto, com o passar do tempo, fui tendendo mais para a direita, embora não tenha atividade política. Percebo essa tendência por causa de minhas opiniões conservadoras: sou contra o aborto e contra o casamento homossexual. Sou contra as reservas indígenas contínuas. Sou contra as cotas para negros. Sou contra o patrulhamento ideológico dos currículos escolares. Sou a favor de um direito penal mais repressivo do que as penas alternativas propõem.
Descobri que sou conservador. Mas eu quero ser conservador de coisas boas, não de estruturas de opressão.

3 comentários:

  1. Oi Alex,

    alguém já disse que quem é de direita antes dos trinta não tem coração e quem é de esquerda depois dos trinta não tem cérebro!rs

    Abrçs,

    Roger

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  2. O comentário do Roger vai ao ponto! Eu tive uma trajetória um pouco diferente - "direitista" desde menino, mas minha "direitisse" é parecida com a sua de agora - conservadorismo de coisas que considero boas. Na verdade, tanto a "esquerda" (ou melhor dizendo, "aS esquerdas" (plural) e a direita são sistemas deste mundo. Pragmaticamente, eu diria que a direita, pelo seu liberalismo, por defender a livre iniciativa, funciona melhor. É como se ela se aproveitasse do egoísmo natural do ser humano não regenerado e conseguisse, até certo ponto, usá-lo em benefício de todos. Já a esquerda parte do pressuposto que o ser humano é bom, e aí a porca torce o rabo. É só ver - o que funciona melhor, uma escola pública (onde ninguém é dono de nada) ou uma privada? Fatos são fatos. Não deveria ser assim, mas é assim. Numa escola privada, se o ensino for ruim, os clientes desaparecem, o lucro cessa, o negócio vai à falência.

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  3. Ola Alex!

    Navegando daqui para ali, achei seu blog. Vou segui-lo. Estou divulgando o meu blog, o Genizah. Quando tiver um tempinho, faça uma visita!

    A Paz do Senhor!

    Danilo

    http://genizah-virtual.blogspot.com/

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