HISTÓRIA
DA IGREJA
Alex
Esteves da Rocha Sousa
I.
INTRODUÇÃO.
Esta
é uma apostila destinada a curso breve de História da Igreja para
assentar algumas informações que o aluno de nível básico deve
saber.
OBJETO
DE ESTUDO.
Nesse
mister, forneceremos a divisão da História Geral, relacionando-a
com a História Bíblica e Eclesiástica, para depois esboçarmos a
História da Igreja, com alguns dados acerca da Igreja evangélica
brasileira e especialmente da Assembleia de Deus, nossa denominação.
MATERIAL
PESQUISADO.
Empregamos
como fontes principais desta apostila os livros Manual
Bíblico de Halley
e
História
do Cristianismo - Dos apóstolos do Senhor Jesus ao século XX,
de A. KNIGHT e W. ANGLIN,
com recurso também a outras fontes, todas devidamente citadas no
espaço próprio.
Há
uma preciosa coleção, com dez volumes, de JUSTO L. GONZÁLEZ, que
tem por título E
Até os Confins da Terra - Uma História Ilustrada do
Cristianismo. A
coleção é rica em detalhes históricos e ilustrações. Extraímos
algumas informações dessa coleção.
UMA
PALAVRA SOBRE A CONCEPÇÃO DISPENSACIONALISTA DA HISTÓRIA.
Não
me sinto muito confortável com a teoria dispensacionalista de
divisão da História, defendida no livro de KNIGHT e ANGLIN, a qual
associa as Sete Igrejas da Ásia Menor (Apocalipse) a diferentes
etapas da História da Igreja.
Hermeneuticamente
- com todo respeito a quem pensa diferente - não vejo fundamento
para essa concepção. As igrejas a que João escreveu foram igrejas
reais, situadas no tempo e no espaço, e quaisquer ilações sobre
seu caráter simbólico constituem fruto de imaginação e
especulação. De toda maneira, o livro é instrutivo, possui
linguagem acessível, e a teoria, ainda que mencionada, não
prejudica, de jeito nenhum, o entendimento da matéria.
II.
ESBOÇO DA HISTÓRIA GERAL.
Segue
a divisão clássica da História Geral, tal como estudada na escola:
PRÉ-HISTÓRIA
- até a invenção da escrita (c. 4.000 a.C.).
IDADE
ANTIGA - de 4.000 a.C. a 476 d.C. (Queda de Roma).
IDADE
MÉDIA - de 476 a 1453 d.C. (Queda de Constantinopla).
IDADE
MODERNA - de 1453 a 1789 d.C. (Revolução Francesa).
IDADE
CONTEMPORÂNEA - aos nossos dias.
Algumas
observações.
Os
primeiros 11 capítulos do Gênesis desenvolvem-se na Pré-História.
Toda
a História Bíblica desenrolou-se na Idade Antiga (Antiguidade).
O
papado surgiu entre a Idade Antiga e a Idade Média, e o poderio da
Igreja Católica cresceu exponencialmente na Idade Média.
O
Islamismo surgiu na Idade Média (610 d.C.).
A
Reforma Protestante (1517) ocorreu na Idade Moderna, mesmo período
do Renascimento, do Iluminismo, da Invenção da Imprensa, das
Missões Modernas e da Descoberta do Brasil (esta no contexto das
Grandes Navegações).
A
Idade Média foi chamada de “Idade das Trevas” pelo humanista
italiano Francisco Petrarca (1304-1374).
O
Movimento Pentecostal (1906) surgiu na Idade Contemporânea.
III.
ESBOÇO DA HISTÓRIA DA IGREJA.
Qualquer
divisão, classificação ou organização depende dos critérios
adotados, e por isso pode haver algumas variações a depender do
material consultado.
A
seguir, tem-se um esboço que considero pertinente e útil para se
ter uma visão panorâmica da História Eclesiástica:
Era
Apostólica (33-100 d.C.).
Era
Patrística (100-750).
1.
Pais Apostólicos (100-150).
2.
Apologistas e Polemistas (Sécs. II e III).
3.
Pais Capadócios (Séc. IV).
4.
Pais Pós-Nicenos (depois de 325).
Perseguições,
controvérsias e heresias (250-313 d.C.).
Do
Edito de Milão aos Carolíngios (313-800 d.C.).
Constantino.
Concílios. Degeneração da Igreja Católica. Paganização. Papado.
Monasticismo.
Carolíngios,
Cisma, Cruzadas e Escolasticismo (800-1291).
Pré-Reformadores
(principalmente dos Sécs. XII ao XV).
Reforma
Protestante (1517-1648).
Marco
histórico. Antecedentes históricos. Martinho Lutero. Surgimento da
designação “protestantes”. Zwínglio. Calvino. Reforma
“Magisterial” e Reforma Radical. A Reforma na Inglaterra (Os
puritanos). A Reforma na França (Os huguenotes).
Pós-reforma.
A
Contra-Reforma. Configuração da Europa. Efeitos de natureza
diversa.
Desenvolvimento
da Fé Reformada. Pietismo. Metodismo. Avivamentos.
América
e Brasil.
Estados
Unidos. Movimento Holiness.
Movimento Pentecostal. Assembleia de Deus no Brasil. Conceito de
“evangélico”. Classificação das igrejas evangélicas
brasileiras. Neopentecostalismo.
Era
Apostólica (33-100 d.C.).
A
Era Apostólica encontra-se referida no Livro de Atos dos Apóstolos,
único livro histórico do Novo Testamento, mas há informações nos
demais Livros neotestamentários que lançam luz sobre esse período.
O
Livro de Atos é o desenvolvimento da ordem de Jesus em At 1.8, no
sentido de que a Igreja começasse em Jerusalém e se espalhasse
primeiro pela Judeia, depois por Samaria e até aos confins da Terra.
Note a ênfase no crescimento e desenvolvimento da Igreja em 2.41-47,
4.32-34, 9.31.
Pode
ser que Paulo perseguisse em seu ministéiro o objetivo de alcançar
os confins da Terra, entendendo tratar-se de uma cidade da Espanha
(cf. Rm 15.24) conhecida por Tartessos, possivelmente a Társis
para a qual Jonas quisera fugir da presença de Deus, imaginando que,
assim, faria coisa melhor do que pregar aos terríveis ninitivas (cf.
Sl 22.27; 67; Is 23.1-18).
Lembremos
que Atos se encerra aparentemente sem conclusão. Com efeito, Atos
dos Apóstolos termina com a simples afirmação de que Paulo, em
prisão domiciliar, pregava “sem impedimento algum” (At 28.31).
Isso parece indicar que a História da Igreja não terminou, e é
verdade. Estamos escrevendo a História da Igreja!
A
chamada “Igreja Primitiva” conheceu o derramamento do Espírito,
rápida expansão numérica, plantação de igrejas, viagens
missionárias, formação dos primeiros líderes não apostólicos
(presbíteros, diáconos, evangelistas, missionários).
O
modelo básico da igreja eram as sinagogas, locais de reunião
pública que os judeus criaram durante o Exílio Babilônico, e que
perduraram depois do retorno a Judá.
Havia
inicialmente uma comunidade de bens entre os irmãos (At 4.32), mas
logo houve a necessidade de instituir-se o diaconato para cuidar da
distribuição equânime dos donativos, porque surgiram conflitos, na
Igreja em Jerusalém, entre os judeus nativos (“hebreus”) e os
judeus de fala grega (At 6.3).
Reuniam-se
os crentes nas casas, nas sinagogas ou em edifícios públicos. As
reuniões davam-se no primeiro dia da semana, provavelmente em dois
cultos. Os primeiros crentes cantavam hinos, faziam orações, liam
as Escrituras, eram ensinados pelos presbíteros, celebravam a Ceia
aos domingos.
Os
cristãos do Primeiro Século possuíam declarações sucintas da Fé
Cristã, semelhantes ao que se encontra em Rm 10.9,10, I Co 15.4 e I
Tm 3.16. Um outro texto que resume um repertório da Fé Cristã é o
de At 4.24-30. Depois apareceram os credos. O credo mais antigo é o
Credo dos Apóstolos, surgido em Roma por volta de 340 d.C.
Foi
na Era Apostólica que se realizou o Concílio de Jerusalém (49),
com a presença de Paulo, Pedro, Tiago (irmão do SENHOR), Barnabé,
entre outros, incluindo presbíteros (At 15).
Havia
muitos aspectos positivos, mas também se deram alguns problemas,
tais como episódios de imoralidade sexual, facções e disputas
intestinas, falsos apóstolos, uso indevido dos dons espirituais,
influência da cultura pagã (Corinto); movimento judaizante
(Jerusalém, Galácia); gnosticismo embrionário (Ásia Menor);
nicolaísmo (Pérgamo e Éfeso, na Ásia Menor).
Os
líderes principais eram os apóstolos (At 2.42), mas havia
presbíteros e diáconos nas igrejas.
Havia
condições favoráveis à expansão missionária (tolerância
religiosa por parte do Estado; dois idiomas internacionais, o grego e
o latim; estabilidade política; suficiência de alimentos e abrigos
para todos; estradas pavimentadas; sistema bancário; câmbio de
moedas estrangeiras). Era a chamada “plenitude do tempos” (Gl
4.4). A Igreja avançou para as cidades gregas na Ásia e na Europa,
dentro do Império Romano. Paulo e sua equipe missionária foram
decisivos na evangelização dos gentios. Pedro e outros buscaram
evangelizar os cerca de 4 milhões de judeus que habitavam o Império.
Judeus
habitantes das cidades evangelizadas perseguiam os cristãos.
As
heresias da época ficaram a cargo dos ebionitas, gnósticos (ainda
em sede embrionária) e nicolaítas.
Nesse
período ocorreram eventos históricos importantes, como o Incêndio
de Roma, causado por Nero (64 d.C.), que culpou os cristãos; a
Destruição de Jerusalém (70 d.C.); e a elaboração e conclusão
do Novo Testamento.
Era
Patrística (100-750).
Apesar
de voltarmos, mais tarde, a períodos insertos
na
mesma Era Patrística, é de bom alvitre distinguir nominalmente essa
fase, quando atuaram os chamados Pais da Igreja, porque é relevante,
na teologia e na História da Igreja, a expressão “Era Patrística”
ou “Era dos Pais da Igreja”.
(1) Pais
Apostólicos (100-150).
Os
chamados “Pais Apostólicos” foram discípulos diretos ou
indiretos dos apóstolos e escreveram obras teológicas importantes.
Destacaram-se
Clemente de Roma (30-100), Inácio de Antioquia (30-117), Papias
(70-155) e Policarpo (69-159).
Merecem
citação as seguintes obras literárias da época: Epístola aos
Coríntios escrita por Clemente de Roma (bispo de Roma entre 91 e 100
d.C.); Sete Epístolas de Inácio de Antioquia, discípulo de João
(c. 110 d.C.); Epístola de Barnabé
(entre
90 e 120 d.C); Didaquê - Ensino dos Doze Apóstolos (c. 100 d.C.),
que continha instruções práticas, como a forma de lidar com
pregadores itinerantes; Pastor de Hermas (c. 150 d.C.), uma alegoria
rica em simbolismo e visões, seguindo o modelo do Apocalipse.
Segundo HALLEY,
esse livro pode ser chamado de “O
Peregrino
da
igreja primitiva”, em alusão ao célebre livro de John Bunyan.
Essas
obras diferem radicalmente dos escritos apócrifos (ocultos,
secretos) e pseudepígrafos, que começaram a surgir no Séc. II d.C.
(Evangelho de Nicodemos, Evangelho de Pedro, Atos de João, Atos de
André, Carta de Paulo a Sêneca, Carta de Pedro a Tiago etc.).
(2)
Apologistas e Polemistas (Sécs. II e III).
Os
Apologistas defendiam intelectualmente o Cristianismo (apologia é
defesa). Surgiram principalmente no Séc. II.
Foram
Apologistas os seguintes Pais da Igreja: Justino, o Mártir
(100-170), Tertuliano de Cartago (150-230), Teófilo (181) e
Aristides (início do Séc. II).
Os
Polemistas combateram heresias. Surgiram principalmente no Séc. III.
Foram
Polemistas os que seguem: Ireneu de Lyon (130-200), que combateu o
gnosticismo, Cipriano (200-258), Tertuliano de Cartago (150-230) e
Orígenes (185-254).
Houve
perseguição
infligida por Domiciano por causa do não pagamento de impostos pelos
judeus (95 d.C.) - como os cristãos eram confundidos com os judeus,
também foram perseguidos. Nessa época João foi preso na ilha de
Patmos.
Por
meio de uma carta, o governador Plínio perguntou ao imperador
Trajano sobre o procedimento correto a ser adotado quanto a cristãos
delatados por sua fé (112 d.C.).
(3)
Pais Capadócios (Séc. IV).
Os
Pais Capadócios foram teólogos compreendidos entre os Concílios de
Niceia (325) e Constantinopla (381). Foram eles Basílio de Cesareia
(330-379), Gregório de Nissa (330-395) e Gregório de Nazianzo
(330-389).
(4)
Pais Pós-Nicenos.
No
Ocidente, os Pais Pós-Nicenos foram João Crisóstomo de Antioquia
(347-407) - ensinou que a Cruz e a ética são inseparáveis;
Teodoro, bispo de Mopsuéstia (350-428) - valorizou o contexto
histórico-gramatical do texto; e Eusébio (265-339) - escreveu a
história eclesiástica a pedido de Constantino.
No
Oriente, os Pais Pós-Nicenos foram Jerônimo de Veneza (347-420),
que se estabeleceu em Belém para estudar e traduziu a Bíblia para o
latim (a Vulgata); Ambrósio (340-397), administrador e pregador que
confrontou a intromissão do Imperador na Igreja; e Agostinho de
Hipona (354-430).
Agostinho
é considerado o mais importante dentre todos os da Era Patrística.
Filho de Mônica, uma crente piedosa, vivia ele uma vida de pecado,
até que um dia, tendo ouvido uma voz para ler a Bíblia, deparou com
o texto de Rm 13.13,14 e se converteu a Cristo. Sua obra reúne mais
de 100 livros, 200 cartas, 500 sermões. Para os católicos são
importantes sua doutrina do Purgatório, sua ênfase na Igreja como
instituição visível e o destaque aos sacramentos do batismo e da
comunhão. Para os protestantes é valiosa sua defesa da doutrina da
salvação pela graça, por Cristo Jesus. A autobiografia Confissões
é
um importante livro de Agostinho.
PERSEGUIÇÕES,
CONTROVÉRSIAS E HERESIAS (250-313 d.C.):
A
perseguição estatal sistemática e ostensiva contra os cristãos
começou em 250, e por razões políticas, religiosas, econômicas,
sociais e religiosas. Os cristãos eram tidos por desleais ao
Imperador, por não lhe prestarem culto. Também não tomavam parte
nos cultos e sacríficios pagãos e vieram a ser considerados ateus
por não cultivarem uma religiosisade carregada de aparatos externos.
Além disso, foram antipatizados por seu entendimento de que todos os
homens são iguais, sem distinção entre livres e servos, por
exemplo.
O
marco dessa perseguição foi o edito do imperador Décio (250), que
tornou ilegal a religião cristã.
Edito
do imperador Diocleciano (303) incrementou a perseguição,
determinando a prisão dos crentes, que já somavam 15% da população
do Império Romano (de 50 a 75 milhões de pessoas). Como os cárceres
ficaram superlotados, sem espaço para os verdadeiros malfeitores, a
prisão foi substituída pelas penas de exílio, perda de bens,
execução (à espada ou por animais selvagens), trabalhos forçados,
prisão (os cárceres ficaram superlotados, e por isso os cristãos
passaram a receber as outras penas mencionadas).
Naquele
período fortaleceu-se a heresia do Gnosticismo (ascético ou
licencioso).
Houve
concílios eclesiásticos para dirimir dúvidas e revolver problemas.
Surgiram
controvérsias teológicas (livre-arbítrio ou não? O homem nasce em
pecado ou se torna pecador? Como somos salvos?) e disciplinares (o
que fazer com os cristãos que, sob pressão, ofereceram sacrifícios
ou queimaram as Escrituras?).
A
queima das Escrituras levou à necessidade de identificação dos
Livros Canônicos.
É
interessante que a atuação de hereges contribuiu, curiosamente,
para a sedimentação da doutrina cristã, dado o esforço dos Pais
da Igreja em rebater as impropriedades ensinadas e escritas por
aqueles homens.
DO
EDITO DE MILÃO AOS CAROLÍNGIOS (313-800 d.C.).
Constantino.
O
imperador Constantino (274-327) estava numa batalha quando avistou no
céu a frase “Com este sinal vencerás” (in
hoc signus vinces,
em latim). O sinal era a Cruz. Ele entendeu que deveria se aliar ao
Cristianismo, religião já bastante numerosa. Não afirmarei que
Constantino se converteu. Ele continuou como sumo-sacerdote da
religião estatal e foi batizado pouco antes de morrer. Mas não se
pode negar a influência dele na História da Igreja, em termos
positivos e negativos.
Por
meio do Edito de Milão (313), Constantino decretou a tolerância
para com os cristãos, ensejando liberdade de culto; isenção dos
clérigos quanto ao serviço público; subsídio estatal às igrejas;
devolução dos bens confiscados; domingo como dia de descanso e de
culto.
Já
o imperador Teodósio I foi quem tornou o Cristianismo a religião
oficial do Império Romano (380).
Concílios.
Nesse
período a Igreja cedeu a muitas heresias pagãs, porém combateu
outras, tais como o arianismo, o apolinarismo e o nestorianismo. As
grandes questões teológicas eram discutidas nos Concílios
Eclesiásticos ou Ecumênicos. Entre 325 a 787 houve Sete Concílios.
As
doutrinas dos quatro primeiros Concílios são seguidas até hoje.
São eles, com um resumo de suas declarações:
Concílio
de Niceia I (325): Jesus é Deus.
Concílio
de Constantinopla (381): o Espírito Santo é Deus.
Concílio
de Éfeso (431): depois do debate entre Agostinho e Pelágio (teólogo
britânico - c. 354-415), se entendeu que a salvação se dá pela
graça, pois o homem nasce contaminado pelo pecado de Adão e não
pode escolher livremente entre o bem e o mal.
Concílio
de Calcedônia (451): Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.
Degeneração
da Igreja Católica.
A
degeneração da Igreja Católica deu-se de modo lento, progressivo e
motivado por fatores diversos.
Paganização.
O
lado mais ocidental do Império Romano vinha sofrendo as invasões de
tribos bárbaras desde o fim do Séc. I até a desintegração do
Império em 476 d.C., data da transição da Idade Antiga para a Era
Medieval.
Por
influência desses povos, a Comemoração do Natal de Jesus passou a
ser realizada na época da festa do solstício do inverno. Essa
transição ocorreu em 350.
O
paganismo veio trazendo uma influência insistente e duradoura.
Passou a haver forte distinção entre clero e laicato, veneração
de santos por meio de relíquias, quadros e estátuas. Além de
batismo e Ceia, acrescentaram-se como sacramentos o casamento, a
penitência, a ordenação, a confirmação e a unção dos enfermos.
Papado.
Nos
Séculos V a VIII, de acordo com o historiador
JUSTO L. GONZÁLEZ,
as duas forças mais destacadas do Cristianismo Ocidental foram o
papado e o monasticismo, que contribuíram para a conversão dos
bárbaros e a preservação da cultura
antiga.
Vejamos
como teve início o papado.
Em
313 o bispo de Roma considerou-se Primus
inter pares (“o
primeiro entre iguais”).
Quando
da invasão e saque de Roma pelos visigodos (410), a reação
decisiva do bispo de Roma evidenciou seu poder.
Leão
I, bispo de Roma, considerou-se superior aos demais bispos (440).
Gregório
I (Magno) declarou que Leão fora o primeiro papa (590). Gregório I
era escritor, pregador, teólogo e músico. Desenvolveu o “canto
gregoriano”. Disputou com o bispo (patriarca) de Constantinopla,
porque este se pretendia “bispo universal”. Não aceitou o título
de “papa”, mas agiu como tal. Estendeu o domínio católico a
igrejas da Inglaterra e Espanha.
Vale
observar que, segundo alguns estudiosos, Diótrefes, citado em III
Jo, é tido como “o primeiro bispo monárquico”, por ter
pretendido “exercer a primazia” entre os irmãos, sendo
possivelmente ele um bispo (presbítero). Ele pode ter sido, desse
modo, um precursor do papado.
Monasticismo.
Como
resposta à degradação espiritual e moral da Igreja Católica,
surgiu no Séc. IV o Monasticismo, pautando-se pelos ideais da
contemplação e do ascetismo. Esse movimento cresceu muito no Séc.
VI, popularizou-se nos Sécs. X e XI e depois no Séc. XVI. Ainda
hoje se pratica, mas em menor escala.
Tornou-se
famosa, antes do ano 800, a Regra de São Bento (ou São Benedito):
um conjunto de regras alimentares, votos de castidade, pobreza e
obediência, divisões do dia para leitura, adoração e trabalho.
Houve
importante obra intelectual, missionária, cultural e social nos
mosteiros (500 a 1000), mas a vida ascética limitava seu alcance.
CAROLÍNGIOS,
CISMA, CRUZADAS E ESCOLASTICISMO (800-1291):
Carolíngios.
A
família dos Carolíngios governou boa parte da França e dos Países
Baixos, além de países onde hoje se fala alemão e, ainda, a
Itália.
Um
carolíngio foi Carlos Martel (ou Carlos Martelo), que impediu o
avanço dos muçulmanos na Europa (em Tours). Pepino foi outro
carolíngio.
Carlos
Magno, filho de Pepino, veio a ser coroado em 800, e pediu para
receber a coroa das mãos do papa. Ali nascia o Sacro Império
Romano, pela harmonização entre os interesses temporais e
católicos.
Cisma.
As
Igrejas do Ocidente e do Oriente já viviam como entidades separadas,
mas em 1054 houve o Cisma, e por uma questão doutrinária muito
simples, a saber: se o pão da Ceia devia ser levedado ou não. A
Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa Oriental
afastaram-se definitivamente, com a excomunhão recíproca dos seus
líderes principais (o papa e o patriarca). Hoje as principais
Igrejas da corrente oriental são a Igreja Ortodoxa Grega e a Igreja
Ortodoxa Russa.
Cruzadas.
As
Cruzadas (1095-1291) foram operações militares solicitadas pela
Igreja Oriental, promovidas pelos papas (da Igreja Ocidental,
portanto) e comandadas pelos nobres contra a tomada da Terra Santa
por muçulmanos. Estavam envolvidos interesses políticos e
econômicos, não apenas religiosos.
Um
dos frutos das Cruzadas foi o efêmero Reino de Jerusalém
(1100-1187).
A
Cruzada das Crianças (1212) contou em suas hostes com meninos de 12
anos de idade.
A
expulsão dos cruzados pelos muçulmanos, da cidade de Acre, na Terra
Santa, marcou o fim das Cruzadas (1291).
Deu-se
o fortalecimento do papado durante as guerras, mas enfraquecimento
paulatino em razão do nacionalismo dos cruzados. As cidades foram
fortalecidas à medida que os nobres vendiam suas propriedades aos
cidadãos, para financiar as batalhas, ou não retornavam do Oriente.
Foi
nessa época que surgiram as catedrais góticas. Também apareceram
novas ordens monásticas.
Escolasticismo.
O
Escolasticismo foi um movimento intelectual de conciliação entre a
ciência e literatura gregas e a teologia cristã, uma aproximação
entre razão e fé.
Destacaram-se
no período Anselmo de Cantuária (c. 1033-1109) e Tomás de Aquino
(1225-1274).
OS
PRÉ-REFORMADORES (PRINCIPALMENTE DOS SÉCS. XII AO XV).
Os
chamados “pré-reformadores” ou “precursores da Reforma”
levantaram-se contra atitudes erradas da Igreja Romana.
Citemos
alguns deles:
Cláudio
(?-839), bispo da cidade de Turim, mais tarde seria considerado
“o protestante do século IX” porque reprovou a adoração a
imagens e relíquias, as orações aos santos, as peregrinações a
Roma e a designação do papa como “senhor apostólico”. Seus
seguidores foram expulsos para as montanhas (Piemonte). Note que ele
atuou bem antes do período da Pré-Reforma propriamente dita.
Pedro
de Bruys (?-c. 1130), presbítero no Sul da França, pregou contra
práticas e vícios de Roma (construção de igrejas ricas,
crucifixos, doutrina da transubstanciação, celebração da missa,
eficácia das esmolas e orações pelos mortos). Por isso, foi
perseguido e queimado vivo.
O
monge Henrique de Lausanne ou Henrique de Cluny (?-1147) pregou em
favor da simplicidade e viveu de maneira humilde. Morreu na prisão
em Toulouse. Era um seguidor da doutrina de Pedro de Bruys.
Vários
cristãos tidos por “hereges”, provavelmente discípulos de Bruys
e Henrique - por isso, chamados de “petrobrussianos” e
“henricianos” - vieram a ser martirizados na cidade de Colônia.
Pedro
Valdo (? – 1179), um comerciante de Lyon, distribuiu seus bens aos
pobres, financiou suas próprias viagens para pregar o Evangelho na
língua do povo e contribuiu para a tradução e distribuição da
Bíblia. Seus seguidores foram chamados de “valdenses” e “Homens
pobres de Lyon”. Esse movimento estabeleceu-se, nos Alpes, entre os
vales dos Vaudois, com outros cristãos. No Séc. XVI, os valdenses
incorporaram-se à Reforma Protestante.
Pedro
Abelardo (1079-1142), bretão, foi um pregador leigo muito popular e
inteligente.
O
monge Arnaldo de Brescia (1090-1155), discípulo do pregador Pedro
Abelardo, criticou a opulência do clero romano. Por causa disso foi
exilado e enforcado. Seu corpo foi queimado, sendo as cinzas lançadas
no rio Tibre.
Francisco
de Assis (1182-1226), certamente mais conhecido que todos os acima
citados, fundou a ordem religiosa dos “Irmãos Menores”,
pautada pela simplicidade. Ele tinha uma concepção de salvação
individual e coordenou a construção de igrejas amplas e modestas,
dando espaço ao povo. Inspirou-se em Pedro de Bruys, o comerciante
que se tornou eremita, como visto acima.
O
monge dominicado Jerônimo Savonarola (1452-1498) defendeu a
simplicidade da vida monástica e foi um grande pregador. Foi
martirizado pelo fogo.
Um
dos principais precursores da Reforma foi João Wycliff (c.
1324-1384), professor da Universidade de Oxford. Ele traduziu a
Bíblia para o inglês. Inspirado em Robert Grostete (1168-1253),
entendeu que o papa era o Anticristo.
Os
lollardos foram um movimento religioso que se identificou muito com o
ensino de Wycliff, conquanto já existisse antes dele. Houve entre
eles vários mártires, a exemplo de Guilherme de Sawtrey (?-1401) e
João Badby (?-1410), que foram queimados vivos.
João
Huss (1369-1415), que era da Boêmia (parte da atual República
Checa), foi pregador da capela de Belém e deão da faculdade de
filosofia. Ele era admirador da doutrina de Wycliff, e, assim como
ele, se tornou um dos principais precursores da Reforma. Foi queimado
vivo.
Um
amigo de Huss, Jerônimo de Praga (1379-1416), também foi queimado
vivo.
Houve
algumas guerras que envolveram os hussitas (seguidores de Huss), por
causa de sua fé.
Na
Morávia, também parte da atual República Checa, teve origem o
movimento dos Irmãos Reunidos (Unitas
Fratrum)
ou Irmãos Morávios. Esses cristãos foram fixados compulsoriamente
nos territórios da Morávia e da Silésia, e, embora duramente
perseguidos, mantiveram sua fé, refugiando-se em cavernas e bosques.
Concluíram a tradução da Bíblia para a língua boêmia,
imprimindo várias cópias. Mais tarde, no Séc. XVIII, foram
acolhidos e financiados pelo piedoso Conde Zinzendorf (1700-1760), da
Alemanha, o que ensejou o nascimento de um relevante trabalho
missionário.
João
de Wessalia (?-1479), doutor em teologia em Erfurt, pregou a
mensagem de salvação sem as obras. Por isso foi preso e torturado,
vindo a morrer na prisão.
O
holandês João Wesselus (c. 1419-1489), amigo de João de Wessália,
foi um teólogo cujas ideais viriam a ser mais tarde defendidas por
Lutero, que reconheceu esse fato.
Em
resumo, na Pré-Reforma houve pregações contra as seguintes
doutrinas e práticas da Igreja Romana:
Ademais,
a Pré-Reforma foi caracterizada por:
-
Proclamação
da mensagem de salvação pela graça de Cristo, e não pelas obras;
-
Valorização
da pregação no idioma do povo;
-
Tradução
e distribuição da Bíblia;
-
Perseguição
por parte de Roma e martírio de muitos irmãos.
A
era dos pré-reformadores também conheceu aspectos negativos
(intrigas, erros na interpretação da Bíblia), o que é próprio do
Ser Humano. No entanto, ali estava a ação divina preparando o
terreno para a Reforma Protestante, em séculos de dominação
católica.
REFORMA
PROTESTANTE (1517-1648).
Marco
histórico.
O
marco histórico da Reforma Protestante é o dia 31 de outubro de
1517, quando o monge alemão Martinho Lutero afixou suas 95 Teses na
porta da capela da Universidade de Wittemberg, apontando erros da
Igreja Católica, entre as quais a venda de indulgências.
Antecedentes
históricos.
Um
antecedente histórico muito importante para a Reforma foi a
Renascença ou Renascimento, movimento intelectual, cultural,
ideológico e artístico caracterizado por individualismo, humanismo,
questionamento da autoridade da Igreja, florescimento literário e
intelectual, bem como restauração das artes e da filosofia da
Antiguidade Clássica.
Outros
antecedentes foram os protestos
de trabalhadores depois da Peste Negra (advinda em 1347); o Cisma da
Igreja Ocidental, que chegou a ter dois papas a partir de 1378 – um
em Roma e outro em Avignon, na França – contando com três papas
por breve período no século seguinte; a invenção da imprensa, em
1439, por João Gutemberg (1398-1468); a existência de dificuldades
políticas entre o poder papal e os Estados nacionais que se
formavam, gerando conflitos em torno de questões como a imensa
propriedade de terras sobre as quais a Igreja não pagava impostos;
as divergências entre a Igreja e os comerciantes, que não
concordavam com os regulamentos das guildas (espécie de sindicatos
de comerciantes) nem com a proibição da “usura” (empréstimo a
juros).
Cremos
que Deus tem total controle sobre a História. De um modo misterioso
para nós, acontecimentos históricos foram manejados por Deus para a
Sua própria glória e consecução de Seus desígnios.
Martinho
Lutero.
Martinho
Lutero (1483-1546) foi o personagem usado por Deus para romper
institucionalmente com a Igreja Romana, e sua atuação teve início
depois de deparar com a opulência e corrupção do clero em Roma.
Foi auxiliado
teologicamente por Filipe Melanchthon (1497-1560), responsável pela
elaboração da Confissão de Augsburgo.
Trabalhando
como professor de teologia na Universidade de Wittemberg, onde obteve
o título de doutor, Lutero estudou a Bíblia nas línguas originais,
e concluiu que a verdade só pode ser achada na Palavra de Deus, além
de que o homem somente pode ser justificado pela fé em Cristo, de
acordo com a passagem encontrada em Rm 1.17 (isto se deu em 1516).
O
Papa Leão X construía a Basílica de São Pedro, e, para isso,
precisava de recursos. Na Alemanha, o arcebispo Alberto, que já
dirigia irregularmente duas províncias eclesiásticas, intentava
dominar uma terceira, e prometeu entregar ao papa uma quantia
expressiva, que desejava extrair por meio da venda de indulgências.
As
famosas indulgências eram formalizadas em documentos entregues a
quem fizesse orações, penitências, peregrinações, boas ações
e, principalmente, pagamentos à Igreja.
A
fim de alcançar seu objetivo, o arcebispo Alberto solicitou o apoio
do monge João Tetzel, mas Lutero opôs resistência à propaganda
por ele realizada.
Indignado
com a pregação de indulgências por parte de João Tetzel, a pedido
de Alberto, o reformador alemão afixou as célebres 95 Teses, no dia
31 de dezembro de 1517, na porta da capela da Universidade de
Wittemberg.
Em
1518, por ocasião da Dieta (assembleia deliberativa) de Augsburgo,
Lutero e outros irmãos firmaram o entendimento de que a autoridade
pertence à Bíblia, e não ao papa.
Em
1520 Lutero publicou panfletos defendendo as teses de que os
príncipes (governantes) devem reformar a Igreja quando necessário,
e de que os sacerdotes não devem ministrar os sacramentos, pois
todos os crentes são sacerdotes (sacerdócio universal).
Em
razão disso, Lutero foi excomungado, por meio da bula Exsurge
Domine,
e seus livros vieram a ser queimados na cidade de Colônia. Em
resposta, o reformador queimou a bula papal.
Em
1521, Martinho Lutero foi convocado para se explicar à Dieta de
Worms, mas recebeu proteção dos príncipes alemães e não se
retratou. A fim de escapar à perseguição, foi raptado e escondido
por seus amigos no castelo de Wartburg, onde estudou, escreveu, atuou
para erguer o sistema escolar na Alemanha e traduziu a Bíblia para o
alemão. Casou-se, em 1525, com Catarina von Bora.
Surgimento
da designação “protestantes”.
Fernando,
irmão do imperador Carlos V, decretou submissão de Lutero à Dieta
de Worms, baixada pelo Papa Leão X. Diante da decisão do Conselho
de Spires no sentido de que Lutero se submetesse à Dieta de Worms,
ele e os nobres que o acompanhavam emitiram um protesto.
Isto
se deu em 1529. Assim surgiu a alcunha de “protestantes” para os
que divergiam da Igreja Romana.
Ulrico
Zwínglio.
Na
mesma época, Ulrico Zwínglio (1484-1531), clérigo e seguidor das
ideias de Erasmo de Roterdã (1466-1536), foi o mais importante
reformador na Suíça Alemã e um dos mais proeminentes dentre todos
os reformadores protestantes, figurando ao lado de Lutero e Calvino.
Converteu-se em 1519 ao ler escritos do reformador alemão.
Zwínglio
contou com o apoio teológico de João Oecolampade (1482-1531).
Em
1529, no Colóquio de Marburgo, Zwínglio e Lutero concordaram em 14
temas, vindo a discordar veementemente quanto à presença física de
Cristo na Ceia do SENHOR. Zwínglio refutou completamente a doutrina
católica da transubstanciação, ao passo que Lutero a modificou e
renomeou como “doutrina da consubstanciação”.
João
Calvino.
João
Calvino (1509-1564), reformador, jurista, filósofo e teólogo
francês, autor de vasta obra, que inclui as Institutas
da Religião Cristã (1536),
influenciou diretamente a Reforma na França e na Suíça Francesa,
e, já em meados do Séc. XVI, teve seguidores também nos Países
Baixos e na Escócia. Sua contribuição verificou-se tanto em termos
teológicos como políticos e sociais, tendo sido decisiva a sua
liderança em Genebra.
A
relevância de Calvino é tão grande que de seu trabalho se
originaram doutrinas e igrejas “calvinistas”, por terem seu credo
fundado na interpretação de Calvino sobre as Escrituras.
Diferentemente de Lutero, Calvino, de inclinação profundamente
intelectual, deixou uma influência mais acentuada no campo da
teologia sistemática.
Mais
tarde, nos Países Baixos, o teólogo holandês Jacó Armínio
(1560-1609) levantou objeções às doutrinas calvinistas da graça
irresistível e da perseverança dos santos, mas, no Sínodo de Dort
(1618-1619), as ideias de Calvino prevaleceram. No Séc. XVIII, o
pensamento de Armínio influenciou o movimento metodista.
Reforma
Magisterial e Reforma Radical.
Neste
passo, cabe distinguir Reforma Magisterial e Reforma Radical
(Terceira Reforma).
Os
reformadores magisteriais anuíam com a participação dos príncipes
na expansão da Reforma (Lutero, Calvino e Zwínglio são os
principais dessa categoria).
Os
reformadores radicais, por sua vez, eram contrários a qualquer
associação entre Igreja e Estado, e tinham uma postura subversiva.
A maioria deles identificava-se com Zwínglio, embora com ressalvas.
Entre
os reformadores radicais estavam os anabatistas, que eram pacifistas,
não batizavam crianças e, mais tarde, passaram a batizar por
imersão. Por suas ideias, foram duramente perseguidos e
martirizados. Divergiram de Zwínglio quanto ao batismo infantil,
pois este entendeu que, aceita a posição anabatista, muitos seriam
alijados da fé reformada.
Os
anabatistas foram expulsos de Zurique pelo conselho da cidade, pois
eram contrários ao controle estatal das igrejas.
Em
seguida vieram os anabatistas revolucionários (inspirados em Melchor
Hoffman, João Matthys e João Leiden) e os menonitas, estes
discípulos do holandês Menno Simons (1496-1561), que era pacifista,
batizava por aspersão e praticava a lavagem de pés.
Muitos
dos anabatistas foram para a América do Norte (os amish)
e
para os Países Baixos (os menonitas). Os anabatistas influenciaram
os batistas, os quacres (quackers)
e os puritanos separatistas, vindo estes a exercer importante
influência nos Estados Unidos, que estavam em formação.
Os
puritanos.
Na
Inglaterra a Reforma recebeu forte influência política, porque o
rei Henrique VIII não conseguiu autorização do papa quanto ao seu
divórcio. Sua filha, Maria Tudor, católica fervorosa, perseguiu os
protestantes, que receberam maior consideração de sua irmã e
sucessora, Elisabete.
Em
1558, quando a Inglaterra derrotou a “Invencível Armada”, de
Felipe II, da Espanha, o protestantismo se estabeleceu
definitivamente como religião naquele país, de modo que a Igreja
Anglicana se firmou como sucessora da Igreja Católica, sob a tutela
real. Na Grã-Bretanha, somente a Irlanda permaneceu católica.
Apesar
das injunções políticas, a Reforma inglesa contou com homens que
se lhe dedicaram com sinceridade, dentre os quais vale mencionar
William Tyndale (1495-1536), Miles Coverdale (1488-1568) e Hugo
Latimer (c. 1485-1555).
Os
puritanos surgiram na Inglaterra, no Séc. XVII (pós-Reforma),
apregoando simplicidade nos cultos da Igreja Anglicana, modéstia nas
vestes e no comportamento, prosseguimento dos ideias da Reforma,
separação do domingo como dia dedicado ao SENHOR, convicção de
pecado. Alguns deles queriam a separação entre Igreja e Estado.
No
breve governo de Oliver Cromwell, os puritanos tiveram parte na
administração da Inglaterra. Foram puritanos que, fixando-se na
América do Norte, estabeleceram as comunidades de Plymouth e Boston,
e deixaram marcas na Constituição dos Estados Unidos.
Os
huguenotes.
Os
protestantes franceses, chamados de “huguenotes”, orientavam-se
pelas ideias de Lutero e Calvino.
A
França, apesar do trabalho de Calvino, permaneceu resistente à
Reforma, sendo travadas oito guerras entre católicos e protestantes
até o ano de 1572.
Foi
nesse contexto que, em 7 de março de 1557, aportou na Baía da
Guanabara um grupo de huguenotes, os quais foram derrotados pelos
portugueses em 1560. Para proteção do lugar, os portugueses
fundaram a cidade do Rio de Janeiro.
Considerando
a importância desse fato histórico, importa transcrever valioso
artigo publicado na CPAD
News
para
registro dos 460 anos do primeiro culto protestante em terras
brasileiras. Confira-se:
“Neste
10 de março de 2017, completam-se 460 anos do primeiro culto
protestante no Brasil, ocorrido na atual Ilha de Villegaignon, no Rio
de Janeiro (RJ).
No
século 16, o vice-almirante Nicolas Durand de Villegaignon ouvira
falar das maravilhosas terras do Brasil, recém-descobertas. Ouvira
também alusões à beleza dos trópicos, à fertilidade do solo e às
riquezas naturais. Empolgado pelo que ouvira, e pela ambição de
conquistar uma parte da nova e encantadora região meridional,
Villegaignon conseguiu conquistar a amizade e o apoio do almirante
Gaspar de Coligny, que era amigo de Henrique II, rei da França, com
o qual conseguiu dois navios equipados com víveres e munidos de
artilharia, e ainda dez mil francos.
Nessa
expedição, Villegaignon não teve o cuidado de selecionar os homens
que o acompanharam. Alguns meses após a chegada, alguns
expedicionários conspiraram contra o vice-almirante, sendo por este
presos e mortos 16 dos conspiradores. O almirante Coligny, conseguiu,
então, arregimentar a segunda expedição de 300 homens e mais 3
navios. Entre os tripulantes dos três navios havia 14 huguenotes,
protestantes franceses de renome, cujo chefe era Felipe de
Corguilarai. Havia também dois pastores cujos nomes são Pierre
Richier e Guilhaume Chartier. Outros nomes que integravam essa
comitiva são Pierre Bourdon, Mathieu Verneuil, Jean du Bordel, André
LaFon, Nicolas Denis, Jean de Gardien, Martin David, Nicolas
Reviquet, Nicolas Carmau, Jacques Roseau e Jean de Lari, sendo que
este último era o historiador da expedição.
A
expedição da qual faziam parte os huguenotes chegou ao porto da
Guanabara no dia 7 de março de 1557, após quatro meses de viagem da
França ao Brasil.Villegaignon recebeu festivamente os huguenotes,
pois estes mereciam sua confiança e neles estava a esperança de
êxito na conquista desta parte da América.
O
desembarque dos huguenotes foi realizado no dia 10 de março de 1557,
uma quarta-feira, e no mesmo dia realizou-se o primeiro culto
protestante nas Américas, em um falão rústico existente na ilha.
Dirigiu o culto o pastor Pierre Richier, o qual pregou com base em
Salmos 27.4: ‘Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa
morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar
a formosura do Senhor, e aprender no seu templo’. Cantaram na
ocasião o Salmo 5.
No
dia 21 de março de 1557, um domingo, eles organizariam a primeira
Igreja Evangélica das Américas, ocasião em que seria também
celebrada pela primeira vez a Ceia do Senhor. O vice-almirante
Villegaignon foi o primeiro a participar da Ceia do Senhor.
Entretanto, mais tarde, traiu e perseguiu os huguenotes, passando a
ser considerado pelos historiadores, por esse ato de traição, como
o ‘'Caim das Américas’.
Três
dos 14 nomes mencionados foram os três primeiros mártires da fé
evangélica no Novo Mundo: Jean de Bourdel, MathieuVerneuil e Pierre
Bourdon, executados em 9 de fevereiro de 1558, uma sexta-feira, por
ordem de Nicolas Durand de Villegaignon, na Ilha que tem o nome do
‘Caim das Américas’. O nome primitivo da atual Ilha de
Villegaignon era Serigi ou Serigipe. A muralha do lado norte, de onde
foram jogados ao mar os três franceses, é a única que resta das
obras primitivas na ilha. O atual forte da Ilha foi construído sobre
as bases do forte primitivo.
Dez
anos após a realização do primeiro culto na Guanabara, outro
huguenote também pagou com a vida, pelo ‘crime’ de pregar o
Evangelho. No dia 20 de janeiro de 1567, quando se lançavam os
fundamentos da cidade do Rio de Janeiro, Jacques le Balleur foi
enforcado, por ordem de Mem de Sá, e com a assistência do padre
José de Anchieta. Jacques le Balleur chegou à Guanabara na primeira
expedição dos franceses.
Em
1967, por ocasião da Conferência Mundial Pentecostal realizada no
Brasil, foi promovido pelas Assembleias de Deus brasileiras um culto
especial na Ilha de Villegaignon rememorando o primeiro culto
protestante no país. Quem quiser saber detalhes sobre os primeiros
protestantes no Brasil e seu martírio, é só adquirir a obra ‘A
Tragédia da Guanabara – A História dos Primeiros Mártires do
Cristianismo no Brasil’”.
Em
24 de agosto de 1572, em Paris, um terrível ardil engendrado por
Catarina de Médici massacrou milhares de huguenotes na Noite de S.
Bartolomeu (pelo menos 3 mil na capital e 8 mil nas províncias, mas
o número de vítimas pode ter sido muito superior).
Em
1598, por meio do Edito de Nantes, o rei Luís XIV decretou a
tolerância religiosa, mas o Edito foi revogado em 1685, e os
huguenotes foram expulsos.
PÓS-REFORMA.
A
Contra-Reforma.
A
Contra-Reforma”, como o nome sugere, consistiu na reação da
Igreja Católica à Reforma Protestante, por meio do Concílio de
Trento (1545-1563), instituindo o seguinte: novas ordens monásticas,
como a dos Jesuítas; expansão missionária às Américas e ao
Extremo Oriente; comissões de moralidade, para apuração de
condutas de clérigos; a construção de igrejas barrocas de beleza
exuberante; o desenvolvimento de novas formas musicais, como a
polifonia; a Inquisição.
Configuração
da Europa.
A
Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) definiu os contornos religiosos e
territoriais na Europa Ocidental.
A
Rússia tornou-se o centro da Igreja Ortodoxa Oriental.
Novas
igrejas surgiriam mais tarde, em outras nações, a partir do
trabalho missionário.
Efeitos
de natureza diversa.
A
Reforma deixou sementes que frutificaram na alfabetização e
educação do povo, no capitalismo, na democracia política, na
oratória pública, na divulgação de opiniões por meio de
panfletos, enfim, no desenvolvimento político, social, econômico,
tecnológico e cultural de diversas nações.
Desenvolvimento
da Fé Reformada.
A
fé reformada é o conjunto formado por pelo menos uma das Confissões
derivadas da Reforma, os Cinco Solas e os Cinco Pontos do Calvinismo
(Depravação Total, Eleição Incondicional, Expiação Limitada,
Graça Irresistível ou Chamamento Eficaz e Perseverança dos Santos
– “TULIP”, na sigla em inglês).
Os
“símbolos de fé” são divididos em credos, confissões,
catecismos e cânones.
Há
o Credo Apostólico, o Credo Niceno e o Credo de Atanásio (todos
estes provenientes da Era Patrística, comentada linhas acima).
Dentre
as Confissões e Catecismos se podem citar a Confissão de Augsburgo
e o Catecismo de Lutero (da Igreja Luterana); a Confissão de Fé de
Westminster e os Catecismos de Westminster, Maior e Breve (dos
calvinistas, como presbiterianos e puritanos); a Segunda Confissão
de Fé Helvética (dos calvinistas suíços); o Catecismo de
Heidelberg (com aspectos luteranos e reformados); a Antiga Confissão
de Fé Escocesa.
Entre
os cânones, há os Cânones de Dort.
Pietismo.
O
pietismo foi um movimento cristão que surgiu na Alemanha, dentro da
Igreja Luterana, com o objetivo de combater o que considerava
“ortodoxia morta”, ou seja, a mera aceitação das doutrinas
cristãs, desprovida de fé individual e santidade no estilo de vida.
Felipe Jacob Spener (1635-1705) é considerado o pai desse movimento.
Uma iniciativa sua foram os collegia
pietatis,
pequenos grupos que se reuniam para edificação mútua.
Como
dito alhures, o Conde Zinzendorf acolheu e apoiou os morávios,
estabelecendo a comunidade de Bethlehem na Pensilvânia (América do
Norte). Esse grupo é contado entre os pietistas.
Metodismo.
O
Metodismo foi um movimento evangelístico e avivalista iniciado no
Séc. XVIII pelos irmãos João (1703-1791) e Carlos Wesley
(1707-1788), espalhando-se pela Inglaterra, Estados Unidos e outras
partes do mundo. Está relacionado ao Primeiro Grande Avivamento,
ocorrido na América. Outros nomes são George Whitefield (1714-1770)
e Francis Asbury (1745-1816).
Os
metodistas reuniam-se em grupos ou sociedades baseados na disciplina,
em torno das práticas da oração, confissão coletiva, santidade e
serviço.
Segundo
GREZ et
al,
o Wesleyanismo, por sua vez, é conjunto de grupos ou igrejas que se
identificam com o metodismo, incluido as igrejas metodistas, o
Movimento Holiness
e
o Pentecostalismo, este em razão dos temas da “segunda bênção”
e da santificação. Os wesleyanos geralmente são arminianos,
divergindo, pois, dos calvinistas quanto à Doutrina da Salvação
(Soteriologia).
Avivamentos.
Depois
da Reforma Protestante, que pode ser considerada um verdadeiro
avivamento espiritual, houve, na Europa Ocidental e nos Estados
Unidos, importantes avivamentos, também conhecidos como
“despertamentos”.
Assim,
pois, o Movimento Pentecostal, que será visto adiante, não
inaugurou a era moderna dos avivamentos espirituais, como
erroneamente se pode imaginar. Ele foi (e é) um importante movimento
de renovação espiritual, santificação, evangelização e missões,
mas não o único que tenha destacado o valor do avivamento
espiritual.
Citemos
dois despertamentos de elevada importância histórica:
O
Primeiro Grande Avivamento (1725-1775) espalhou-se pelas colônias
americanas e teve Jônatas Edwards como seu principal personagem.
O
Segundo Grande Avivamento (1800-1861) contou com pregações
avivalistas, acampamentos de igrejas, ênfase na piedade pessoal,
milhares de conversões. Carlos Finney foi um importante evangelista
da época, e Dwight L. Moody, que empregou as técnicas
evangelísticas de Finney, inaugurou o método da colportagem
(distribuição de literatura de porta em porta). O avanço
missionário está ligado a esse despertamento. Guilherme Carey
(1761-1834), personagem daquele contexto, é considerado o “pai das
missões modernas".
AMÉRICA
E BRASIL.
Estados
Unidos.
A
origem dos Estados Unidos está profundamente ligada aos
desdobramentos da Reforma, o que influenciou sua constituição
política, econômica e social.
Já
por volta de 1605 chegavam protestantes ingleses em Jamestown e
Massachusetts.
Vários
grupos reformados dirigiram-se ao nordeste americano. Anglicanos
fixaram-se na Virgínia; puritanos congregacionais, na Nova
Inglaterra; reformados holandeses, em Nova York; luteranos foram para
Delaware; quacres e outros grupos foram para a Pensilvânia – o
nome desse Estado americano deriva do reformador Guilherme Penn
(1644-1718), que fundou a cidade de Filadélfia, sua capital.
Nos
Estados do Sul, estabeleceram-se batistas e presbiterianos.
A
Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia (1776), primeira
declaração moderna de direitos humanos, foi promulgada pelos
descendentes dos puritanos ingleses fixados na Nova Inglaterra em
1620, e, bem por isso, veio a ser influenciada pela tríade bíblica
formada pelas noções de criação,
aliança e lei,
como ensinam ROCELLA e SCARAFFIA.
Assim também, a Declaração de Independência dos Estados Unidos
(1781) tem a marca do protestantismo.
Todos
os presidentes americanos até hoje foram protestantes, à exceção
de John Fitzgerald Kennedy (1961-1963), descendente de irlandeses
católicos.
As
igrejas americanas podem ser classificadas sumariamente em
tradicionais; pentecostais (Igreja de Deus em Cristo, Assembleia de
Deus, Igreja Pentecostal Unida);
carismáticas (igrejas tradicionais renovadas) e da Terceira Onda
(Comunidade Cristã Vineyard).
Movimento
Holiness.
Como
referido acima, o Movimento Holiness
foi
uma tendência carismática de matiz wesleyana, surgida no Séc. XIX
entre igrejas protestantes. A palavra holiness,
do inglês, significa “santidade”. Sua ênfase era a
“santificação completa”, uma “segunda bênção” verificada
depois da santificação inicial ou conversão.
No
Brasil, a Igreja Holiness, dedicada principalmente à comunidade
japonesa - mas não só! - é fruto desse movimento.
Movimento
Pentecostal.
O
Movimento Pentecostal tem seu marco histórico em 1906, quando, no
prédio nº 312 da Rua Azusa, o Espírito Santo foi derramado, com a
evidência do falar em línguas (glossolalia).
William J. Seymour (1870-1922), um pastor negro e pobre, é
considerado o fundador desse movimento.
Nascia
ali o Pentecostalismo Clássico ou Histórico, mas antes daquele dia
Charles Fox Parham (1873-1929)
já pregava que o batismo com o Espírito Santo era evidenciado por
línguas.
É
importante observar que um elemento distintivo do Movimento
Pentecostal é a glossolália como sinal distintivo do revestimento
de poder.
O
Pentecostalismo nasceu com uma ênfase evangelística e missionária,
além da pregação de santidade e esperança na volta iminente de
Cristo. Em matéria de Soteriologia, os pentecostais são geralmente
arminianos, e, em sede de Escatologia, tendem a ser pré-milenistas
dispensacionalistas. Essas tendências são as que predominam, com
larga vantagem e em caráter oficial, na Assembleia de Deus
brasileira.
Assembleia
de Deus no Brasil.
A
Assembleia de Deus no Brasil foi estabelecida em 1911, com o nome
inicial de “Missão da Fé Apostólica”, pelos missionários
suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, provenientes dos Estados Unidos,
onde tiveram contato com o Movimento Pentecostal. Homens simples,
viajaram ao Brasil por terem recebido, numa profecia, orientação
para se dirigirem ao Pará, lugar do qual jamais tinham ouvido falar.
Sua pregação era de que “Jesus Cristo salva, cura, batiza com o
Espírito Santo e em breve voltará”.
Celina
Albuquerque foi a primeira crente brasileira batizada no Espírito
Santo.
Alguns
nomes importantes para a Assembleia de Deus foram Eurico Bergsten,
Otto e Adina Nelson, Joel Carlson, Samuel Nystrom, Adriano Nobre.
Conceito
de “evangélico”.
Antes
de tratarmos da classificação das igrejas evangélicas brasileiras,
vamos pensar um pouco sobre o conceito de “evangélico”.
De
modo geral, diz-se que são evangélicos, no Brasil, todos os
cristãos não católicos, sem distinção, o que inclui uma
quantidade enorme e diversificada de tendências protestantes. Esse é
o sentido popular do termo.
A
designação de “evangélico” (do inglês evangelical)
pode se referir também ao Evangelicalismo, movimento antigo,
internacional e não denominacional baseado nos elementos essenciais
da Fé Cristã, destacando a necessidade de salvação pela graça
mediante a fé em Jesus Cristo, a infalibilidade das Escrituras e uma
atitude mais proativa do cristão.
De
acordo com DAVID BEBBINGTON,
os quatro pilares do Evangelicalismo são conversionismo, biblicismo,
crucicentrismo e ativismo (no bom sentido).
Surgiram
alas evangélicas em igrejas protestantes, como a Anglicana e a
Luterana.
O
evangelicalismo britânico, de que David Martyn Lloyd-Jones
(1899-1981) veio a ser um dos principais representantes no Séc. XX,
foi uma tendência contestatora do formalismo da Igreja Anglicana.
Por causa disso, houve uma controvérsia, em 1966, entre dois
gigantes da teologia do Séc. XX, ninguém menos que Lloyd-Jones e
John R. W. Stott (1921-2011), porque este, embora da ala evangélica
da Igreja Anglicana, discordava da proposta daquele no sentido de que
os líderes evangélicos deixassem suas denominações para se
reunirem conforme sua fé.
O
evangelicalismo americano (neo-evangelicalismo), surgido em meados
dos anos 1940, é uma tentativa de interagir com acadêmicos e com a
sociedade em geral de modo persuasivo e racional, sem os extremismos
fundamentalistas, sendo que o fundamentalismo nascera (por volta de
1915) com o objetivo nobre de se opor ao racionalismo do Liberalismo
Teológico, mas, nessa tarefa, tendeu ao isolamento. Um expoente do
neo-evangelicalismo foi Francis Schaeffer (1912-1984).
No
Brasil o termo “evangelical” restringe-se às alas mais
evangélicas de Igrejas protestantes, como a Luterana. O que se
popularizou mesmo foi o emprego do termo “evangélico”.
Como
ensina AUGUSTUS NICODEMUS LOPES,
há muita confusão quanto ao termo “evangélico” hoje no Brasil,
e por causa disso um evangélico, ao se identificar como tal, precisa
explicar que tipo de evangélico ele é. O teólogo presbiteriano
ensina que o termo “protestantes” é o preferido dos liberais, ao
passo que o termo “reformados” passou a designar especialmente os
calvinistas, embora luteranos, episcopais e anglicanos também sejam
reformados. Mas “evangélicos” abrange, popularmente, luteranos,
episcopais, anglicanos, batistas, presbiterianos, metodistas,
congregacionais, pentecostais e neopentecostais.
Apesar
da limitação do uso do termo “evangélico” nesse contexto,
tem-se por uso consagrado para distinguir a parcela cristã não
católica da população.
Classificação
das igrejas evangélicas brasileiras.
Um
das formas de classificar as igrejas evangélicas brasileiras é
dividi-las em históricas, pentecostais históricas e
neopentecostais. Diante das mudanças na conformação da Igreja
brasileira, da diversidade do neopentecostalismo, bem como da
distância cada vez maior entre Neopentecostalismo e Pentecostalismo
Histórico, tal classificação parece desatualizada, mas é a que
mencionaremos, seja porque muito difundida, seja porque servirá como
ponto de partida.
Igrejas
históricas são as denominações plantadas no Brasil por
missionários estrangeiros e vinculadas a uma herança multissecular.
São elas: Luterana, Episcopal, Anglicana, Presbiteriana, Batista,
Congregacional, Metodista. Tais igrejas são as que os assembleianos
comumente chamam de “tradicionais”.
Igrejas
pentecostais históricas são principalmente a Congregação Cristã
no Brasil (1910) e a Assembleia de Deus (1911), oriundas do Movimento
Pentecostal (1906). São as igrejas da “Primeira Onda do
Pentecostalismo”.
A
partir de 1950, surgem as Igrejas da “Segunda Onda do
Pentecostalismo”: O Brasil para Cristo, Quadrangular, Cristo Vive,
Casa da Bênção, Nova Vida, entre outras.
As
igrejas neopentecostais ou da “Terceira Onda” são igrejas
criadas no Brasil ou nele estabelecidas a partir de meados da década
de 1970 (Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus,
Mundial do Poder de Deus, Apostólica Renascer em Cristo, Sara Nossa
Terra, Ministério Internacional da Restauração, Nacional do Senhor
Jesus Cristo, Plenitude do Trono de Deus, entre outras).
Ao
lado das pentecostais e neopentecostais, há, ainda, as igrejas
renovadas, como a Batista Nacional e a Presbiteriana Renovada.
Neopentecostalismo.
O
termo “neopentecostalismo”, bastante difundido, designa um
contingente muito diverso de igrejas evangélicas brasileiras, e por
isso tal designação é certamente imprópria. Demais disto, o
prefixo “neo” indica renovação, mas as igrejas neopentecostais
não são exatamente uma renovação do Pentecostalismo Histórico.
Todavia, por se tratar de uma expressão corrente, será adotada
aqui.
De
maneira bem ampla, podem-se anotar os seguintes aspectos ou doutrinas
em igrejas neopentecostais: Teologia da Prosperidade ou Confissão
Positiva; maldição hereditária; igreja em células (G12 ou M12);
Movimento Judaizante; regressão espiritual; (suposta) restauração
do ministério apostólico; cobertura espiritual; autoajuda; Igreja
Emergente; Adoração Extravagante; ênfase em curas e milagres;
personalismo; constantes inovações; marketing
agressivo;
busca de poder financeiro, político, midiático e social;
interpretação livre das Escrituras; utilitarismo e pragmatismo;
pregação alegórica, emocional, subjetivista e antropocêntrica.
Infelizmente,
os pentecostais, que muitas vezes se assombram com a possibilidade de
aprender com as igrejas históricas, têm se inclinado frequentemente
à nefasta influência neopentecostal.
CONCLUSÃO.
À
guisa de conclusão, pode-se afirmar que não conhecer a História é
abrir espaço para cometer erros do passado.
Lembremos
que, depois de um período de convivência harmoniosa entre hebreus e
egípcios, surgiu um Faraó “que não conhecera a José”, ou
seja, que não tivera contato com a história daquele patriarca, e o
resultado foi a escravização do povo, o que durou mais de 400 anos.
O
apóstolo Paulo, referindo-se às injúrias sofridas por Cristo,
disse que “tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino
foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das
Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4). E, em alusão explícita
a castigos decorrentes dos pecados de Israel, Paulo escreveu: “Estas
coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para
advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos
têm chegado” (I Co 10.11).
A
Bíblia é o Livro da História da Salvação, e nele há diversos
Livros Históricos. Se Deus entendeu que Sua Revelação deveria ser
exposta, não apenas na forma de doutrinas, mas também por meio de
histórias, isto deve nos dizer alguma coisa.
A
História da Igreja, iniciada em Atos dos Apóstolos, está sendo
escrita neste momento. Que registros cada um de nós tem deixado?
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
CARRIKER,
Timóteo. Missões
na Bíblia - Princípios Gerais.
São Paulo: Vida Nova, 1992, 70p..
CHAMPLIN,
R. N. Enciclopédia
de Bíblia, Filosofia e Teologia.
São
Paulo: Hagnos, 2014, V. 2, 12. ed., 995p.
GONZALEZ,
J. L. E
até aos confins da Terra: uma história ilustrada do Cristianismo. A
Era das Trevas. V.
3. São Paulo: Vida Nova, 1981, 181p.
_______________.
E
até aos confins da Terra: uma história ilustrada do Cristianismo. A
Era dos Altos Ideais. V.
4. São Paulo: Vida Nova, 1981, 185p.
_______________.
E
até aos confins da Terra: uma história ilustrada do Cristianismo. A
Era dos Sonhos Frustrados. V.
5. São Paulo: Vida Nova, 1995, 172p.
_______________.
E
até aos confins da Terra: uma história ilustrada do Cristianismo. A
Era dos Reformadores. V.
6. São Paulo: Vida Nova, 1983, 219p.
GREZ,
S. J., GURETZKI, D., NORDLING, C. F. Dicionário
de Teologia.
São Paulo: Vida, 2000, 142p.
HALLEY,
H. H. Manual
Bíblico de Halley: Nova Versão Internacional. São
Paulo: Vida, 2002, ed. rev. e ampl., 895p.
KNIGHT, A., ANGLIN, W. História do Cristianismo. Rio de Janeiro: CPAD, 1983, 2. ed., 351p.
LOPES,
Augustus Nicodemus. O
que estão fazendo com a Igreja: ascensão e queda do movimento
evangélico brasileiro.
São
Paulo: Mundo Cristão, 2008, 201p.
ROCELLA,
Eugenia; Scaraffia, Lucetta. Contra
o Cristianismo: A ONU e a União Europeia como nova ideologia.
Tradutor:
Rudy Albino de Assunção. São Paulo: Ecclesiae, 2014, 251p.
SITES
E
BLOGS
CONSULTADOS:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Evangelicalismo
NOTAS DE RODAPÉ