sexta-feira, 13 de março de 2009

Conservadorismo não é fundamentalismo

Quando querem atacar o pensamento evangélico sobre temas éticos, jornalistas dizem que somos “conservadores”, mas com um sentido pejorativo que mais se aproxima de “fundamentalista”. No entanto, Conservadorismo e Fundamentalismo são coisas distintas, e ambos são mal-interpretados.
Conservadorismo, em termos religiosos, é a postura de quem pensa e trabalha contrariamente ao secularismo, que por sua vez é a filosofia de viver como se Deus não existisse. Ser conservador, na acepção verdadeira, não é ser contra a justiça social, contra a modernização da sociedade, contra os avanços da ciência, contra as pessoas homossexuais ou a favor da manutenção da exploração econômica. Esse é o discurso ideológico de uma esquerda materialista e de um falso intelectualismo que se colocam contra a mensagem de transformação do Ser Humano pela conversão a Cristo.
Já o Fundamentalismo foi, antes de tudo, uma corrente teológica que surgiu no final do Séc. XIX entre os norte-americanos para frear o Liberalismo Teológico, que veio assediando protestantes com afirmações de que não existem milagres, de que tudo na Escritura são mitos, e de que a Bíblia não passa do registro da experiência religiosa de um povo, não sendo inspirada por Deus. Na origem, os fundamentalistas prestaram um grande serviço à Igreja, assinalando firmemente doutrinas como a Criação, o nascimento virginal de Cristo e a inspiração, inerrância e autoridade da Bíblia. Nisso os fundamentalistas cumpriram importante mister.
Com o tempo, assim como o termo “puritano” foi deturpado, a palavra “fundamentalista” assumiu a conotação de pessoa radical, que não admite a iluminação da Razão, tal como se diz dos Talebãs. Ao chamar uma pessoa de fundamentalista, impede-se o diálogo, e se convida o auditório a tapar os ouvidos ao que ele diz.
Por que somos contra o aborto? Por que não concordamos com o comportamento homossexual? Por que reconhecemos a sacralidade do casamento? Por que não aceitamos a prática da eutanásia? Dirão os modernistas que a resposta é fácil: é porque somos fundamentalistas.
Acredito, porém, que contribuímos para esse estado de coisas quando adotamos a moral social como arquétipo da moral cristã. Dito de outro modo, por muito tempo transmitimos para a sociedade a ideia de que a moral de Cristo é se vestir de determinada forma, falar de determinada forma, não frequentar determinados lugares, e cumprir à risca o ritual social de crescer, casar, trabalhar, reproduzir as tradições sociais e morrer esperando uma recompensa. Esse era o modelo considerado santo, mas não se exigiam, por assim dizer, virtudes como amor, justiça e verdade.
Para se ter uma noção do que estou dizendo, alguns costumes tão caros a grupos legalistas eram adotados há décadas como o padrão moral da sociedade, sendo incorporados pelas igrejas como sendo o certo. Aquela indumentária de coque, meião e redinha – como ouvi certa vez de um irmão – não era a marca de santidade das crentes, mas um simples costume das senhoras direitas em algum lugar no passado. Hoje ainda em alguns lugares o coque, meião e redinha, ou seus similares, representam a marca do ser santo.
Quero deixar bem claro que a mensagem de Cristo é conservadora, sim, mas há que se indagar o que essa mensagem conserva, porque, como diriam os professores de Português, quem conserva conserva alguma coisa. A mensagem de Cristo apareceu como revolucionária, e gosto de dizer que Jesus Cristo trouxe a contra-cultura com o Sermão do Monte (Mt 5 – 7), pois tudo o que o Mestre diz ali contraria a cultura do mundo inteiro.
Ter fome e sede de justiça é revolucionário. Oferecer a outra face ao que o fere é revolucionário. Cultivar a interiorização de princípios éticos é revolucionário. Querer o bem dos inimigos é revolucionário. Ser pacificador num mundo em conflitos é revolucionário. Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo é a maior revolução que poderia existir. Assim, Jesus é O Revolucionário, e os cristãos, revolucionários com Ele.

2 comentários:

  1. Muito bom, como sempre.

    Acrescentaria que alguns conceitos infelizmente mudam para pior, com o passar do tempo. Tal aconteceu com o fundamentalismo. Inicialmente, como você bem expôs, defendia os pontos doutrinários que eram atacados pelos liberais - o nascimento virginal de Cristo, os milagres, a infalibilidade das Escrituras etc. Nesse aspecto, todos os que confessam as Escrituras como única regra de fé e prática seriam fundamentalistas. Infelizmente, com o passar do tempo, o movimento passou a incluir outros pontos NÃO ESSENCIAIS e não consensuais como "fundamentais" - tais como determinada posição escatológica (pré-milenarismo, pré-tribulacionismo, dispensacionalismo), a obrigatoriedade da total abstenção do álcool, a defesa total, irrestrita e intransigente de Israel etc. Ora, crentes fieis e verdadeiros podem diferir nesses pontos - ainda que alguns estejam certos e outros errados - mas ninguém deixará de ser salvo se for amilenista (como o eram Calvino, Lutero, etc.) Outro grande problema do movimento fundamentalista foi o farisaísmo, o "separatismo" que os colocaria num pedestal muito acima dos outros (segundo creem). Há um artigo muito interessante do Rev. Augustus Nicodemus sobre o movimento fundamentalista que recomendo fortemente - qualquer que seja a posição teológica que se tenha - pois é muito lúcido sobre o assunto - disponível on line em http://www.teologiabrasileira.com.br/Materia.asp?MateriaID=204 Mais uma vez, parabéns pelo texto.

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  2. A doutrina bíblica é na para acepção do termo - fundamentalista - No que a Bíblia nos ensina claramente devemos, ainda que politicamente incorreto - ser fundamentalisatas - Puritanos?// Seria uma honra ser chamado assim no que diz respeito a VERDADE - no que diz respeito as tradições e preceitos humanos - ISSO É UMA TRAGÉDIA.

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