terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Estudos sobre Herodes (4) - Rei morto, rei posto

Vimos até agora uma introdução histórica à Dinastia de Herodes, o encontro de Herodes Magno com os sábios do Oriente e o genocídio determinado contra criancinhas indefesas. Deparamo-nos com o texto de Mt 2.19-23, como segue:

"19 Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse-lhe: 20 Dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino. 21 Dispôs-se ele, tomou o menino e sua mãe e regressou para a terra de Israel. 22 Tendo, porém, ouvido que Arquelau reinava na Judéia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá; e, por divina advertência prevenido em sonho, retirou-se para as regiões da Galiléia. 23 E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno".

Morto Herodes, o Grande - o que ocorreu em 4 a.C., sucedeu-lhe no trono seu filho Arquelau, filho de Maltace, a samaritana. O testamento de seu pai lhe deixou os territórios da Judeia, Samaria e Idumeia. Herodes queria que ele fosse rei, mas o Imperador Augusto lhe deu apenas o título de etnarca. Arquelau governou de 4 a.C. até 6 d.C., totalizando 10 anos. Era um homem cruel. Chegou a reprimir uma revolta em Jerusalém justamente na Páscoa, no ano 4 d.C. Mandou crucificar duas mil pessoas (veja o primeiro estudo desta série).
Era natural que José não quisesse retornar à Judeia. Avisado pelo anjo, mais uma vez em sonho, de que Herodes Magno havia morrido, José, em vez de rumar para a Judeia, preferiu ir para Nazaré, cidade da Galileia. Mateus vê nisso o cumprimento de profecias, que diziam: "Ele será chamado Nazareno".
Vejamos que dado interessante: em Is 53.3, o profeta diz a respeito do Servo do SENHOR: "Era desprezado". No Sl 22.6, Davi, também escrevendo sobre o Messias, diz: "eu sou verme e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo". A palavra "desprezado" era a que Mateus tinha em mente para dizer que o Messias seria Nazareno, pois a raiz é a mesma. E, na realidade, os nazarenos eram desprezados por sua origem pobre, sendo habitantes da desfavorecida região da Galileia, à época governada por Herodes Antipas, irmão de Arquelau.
Para se ter uma ideia de como os galileus e especialmente os nazarenos eram desprezados, observemos:
a) quando Filipe falou a Natanael acerca do Messias como sendo "Jesus, o Nazareno, filho de José", Natanael perguntou retoricamente: "De Nazaré pode sair alguma coisa boa"? (veja Jo 1.43-46);
b) em Mt 4.12-16, o escritor bíblico anota o cumprimento de profecia dada por meio de Isaías, segundo a qual o povo que estava em trevas, na região da sombra da morte, na "Galileia dos gentios", viu uma grande luz - essa luz era a pregação das Boas Novas por Jesus, o Nazareno (veja Is 9.1,2);
c) Na Festa dos Tabernáculos, quando o líder Nicodemos defendeu Jesus, fariseus lhe afirmaram: "Examina, e verás que da Galileia não se levanta profeta" (Jo 7.52). Além do preconceito, os fariseus revelaram ignorância histórica, pois esqueceram de que o profeta Jonas, filho de Amitai, era galileu.
Mateus está ocupado em demonstrar duas coisas principais: a) Jesus é o Rei dos judeus;
b) Jesus cumpre em Sua vida as profecias da Tanach, como era conhecida pelos judeus a parte das Escrituras que chamamos de Antigo Testamento.`
Por isso, vimos até aqui menções aos profetas Miqueias (5.2), Jeremias (31.15), Oseias (11.1), e, agora, Isaías (53.3) e Davi (Sl 22.6).
A família de Jesus não escolheu Nazaré por acaso. Embora fossem de ascendência belemita, e, portanto, judeus, da Casa de Davi, ele e Maria eram habitantes de Nazaré (Lc 2.4; veja 1.16,26,27; 3.23,31,32). Jesus era judeu de nascimento e de linhagem, mas habitante de Nazaré da Galileia. Era descendente de Davi, mas sofredor como os Seus conterrâneos.
Incrustada no bojo desses textos se encontra a afirmação da concepção virginal de Maria. Explico: de acordo com comentário da BÍBLIA ANOTADA a Mt 1.11, o rei judeu Jeconias, ou Conias (Jr 22.24, 28; 37.1), que aparece na genealogia de Jesus, não poderia ser ascendente do Messias porque sobre si havia sido colocada a maldição de que jamais um de seus descendentes se assentaria no trono de Davi. Todavia, Maria também era descendente de Davi, de maneira que Jesus, ligado biologicamente a Maria, e não a José, pôde se tornar o Rei dos judeus - isso no aspecto escatológico, e não, histórico ou temporal. Por isso, esse é mais um elemento para afirmarmos que Jesus Cristo nasceu de uma virgem, como creem os cristãos conservadores, muitas vezes chamados de "fundamentalistas" pelos liberais teológicos.
Que Deus nos abençoe. Até o próximo estudo.

Nota: A BÍBLIA ANOTADA. The Ryrie Study Bible/ Texto Bíblico: Versão Almeida, Revista e Atualizada, com introdução, esboço, referências laterais e notas por Charles Caldwell Ryrie. Sã o Paulo: Ed. Mundo Cristão, 1994, 1835pp.



Um comentário:

João Armando disse...

Muito bom o esclarecimento sobre o "ele será chamado nazareno" e "desprezado". Era uma dúvida que eu tinha, pois não conseguia encontrar o texto no AT.



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