Preocupa-me a ideia de que muitos líderes cristãos, blogueiros entre eles, passem a maior parte de seu ministério reagindo a heresias e problemas...
Tudo bem, eu sei que a Teologia de Paulo, encartada em suas Epístolas, não é tão sistemática, mas produzida em resposta a problemas morais, espirituais e doutrinários das igrejas. Como diriam os penalistas, era uma teologia "fragmentária". De toda maneira, ele escreveu mais sistematicamente em Romanos e Gálatas, e eu estou para arriscar que Lucas, seu amigo, escreveu o Evangelho e Atos como que numa sistematização evangélica e histórica dos pensamentos paulinos. No mais, as Epístolas de Paulo fornecem boa doutrina e teologia profunda no contexto da problemática missionária e eclesiástica. Mesmo em sua teologia responsiva, Paulo não deixava de transmitir teologia.
E nós? Temos produzido boa teologia?
Enquanto nos açodamos a tratar de temas internos de nossas igrejas ou de heresias variadas, prossegue doutrinando o pessoal da Teologia da Prosperidade, da Confissão Positiva, do Movimento Judaizante, das seitas gnósticas, da angelolatria, do falso pentecostalismo. Eles criam doutrinas, produzem seus livros e músicas, inventam muitas coisas, e nós muitas vezes vamos estudar o que eles fizeram para depois criticar em nossos espaços, não raro para leitores e ouvintes que já concordam conosco!
É importante criticar comportamentos desviantes, mas há que se ter mais do que reação. Se essas heresias pululam e chamam a atenção do povo, por que isso acontece? Por que as igrejas heréticas são repletas de gente? Por que as igrejas sérias diminuem? Será esse o nosso chamado? Somos "pequenino rebanho" em número também? Temos que nos contentar com isso? É sinal dos tempos sermos profetas no deserto?
Será que a nossa teologia não precisa de uma renovação? Não me refiro a "novas revelações", pois defendo a tradição apostólica. Abomino essa tese de "nova unção", profecias para "esta geração", inovações absurdas. Defendo apenas a Palavra de Deus. Mas, como a Palavra é tão rica e maravilhosa, será que não devemos buscar uma renovação de nossas ideias para fazer novas perguntas, que, depois, demandarão novas respostas?
Já disse neste espaço que gosto de uma teologia que faz perguntas. Sim, precisamos ir além do lugar-comum. Temos o Movimento Pentecostal, temos o Pensamento Reformado, temos o Evangelicalismo, temos a Missão Integral, e de tudo isso podemos extrair coisas valiosíssimas. Entende o que digo?
Não é preciso reinventar a roda, mas examinar o que a Bíblia diz sobre temas polêmicos, importantes ou confusos, como a união civil entre pessoas do mesmo sexo para garantia de direitos, o divórcio e segundo casamento entre cristãos, o tratamento eclesiástico de novas formas familiares (monoparental, por exemplo), os desafios das redes sociais e das novas tecnologias para a pregação cristã, a relação com as demais religiões, os atributos de Deus, a Trindade, a era pré-adâmica (por que não?), a relação do aquecimento global com a Escatologia, e tantas coisas mais.
Se eu estiver errado ou com uma visão parcial da situação, o (a) leitor (a) me corrija. Este texto, como seu autor, não está completo. Aceito sugestões e informações. Este texto não é mais que uma provocação.
Um comentário:
"Este texto não é mais que uma provocação" - E que provocação! São tiros para todo lado, é difícil reagir a tudo de uma vez! Não obstante, algumas colocações:
a) A verdadeira pluralidade (não a dos neo-ortodoxos, tão bem denunciada pelo Rev. Augustus Nicodemus em recente livro seu) é bênção. Temos as diversas tradições na igreja, e podemos e devemos enriquecermo-nos uns com os outros. Quem se isola empobrece.
b) A ideia de se especular sobre a era pré-adâmica é interessante porque nos lembra a problemática do tempo. O tempo foi criado por Deus, que é imutável e, portanto, eterno. Perguntar "o que havia ANTES de Deus criar o tempo" mostra que não conseguimos evitar pensar em termos de tempo. Nossas mentes são limitadas. "Antes" é um advérbio de tempo - e, se não havia tempo, não cabe falar em "antes" ou "depois"... seja como for, não há qualquer informação bíblica sobre isso - daí, qualquer discussão sobre isso será mera especulação.
c) Reagir a erros e heresias é necessário. Ser "proativo" (palavra muito na moda) é bom, mas o fato é que, no mundo pós-Queda, os profetas, presbíteros e mestres, até o próprio Jesus, sempre agiram com correção boa parte do tempo. Veja-se o Sermão da Montanha. Há ensino direto, proativo, "positivo" e há muita correção de rumos, de erros, de distorções.
d) Outro fato da vida - são poucos, sim, os que se salvam - nisto eu tenho de discordar de Spurgeon - grande irmão nosso do século IXX - que era pós-milenista e, portanto, bastante otimista. Jesus disse que são poucos os que adentram pela porta estreita e que andam no caminho apertado. Muitos procuram entrar debalde. São muitos os chamados, mas poucos os escolhidos. Isso não é desculpa para ninguém ficar parado e não evangelizar ou não corrigir ou o que for. O evangelho é para todas as nações, e a pregação é para "quem quiser" mas que são poucos os que são salvos, que somos, para usar as palavras de Jesus, um "pequenino rebanho", isso tudo são fatos. Por outro lado, dentro do universo de toda a humanidade, a "santa grei" é composta de milhões e milhões", uma multidão que ninguém pode contar - conforme a visão de João no Apocalipse.
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