Ouvi falar de um país grande em que dois candidatos disputavam a eleição presidencial sob as seguintes condições:
- O presidente do tribunal eleitoral tinha sido advogado eleitoral do partido da candidata-presidente, e assessor de um dos chefões do mesmo partido;
- Esse chefão do partido estava preso na capital federal, onde haviam estado outros integrantes da cúpula partidária;
- A prisão do grupo decorreu de recente condenação pela corte suprema, que entendera ter havido uma tentativa de assalto ao poder político por meio da compra de apoio de parlamentares, num escândalo de proporções homéricas, que usou dinheiro público;
- A corrupção esteve incrustada no Poder no mesmo período em que o agora presidente do tribunal eleitoral servia no Governo ao primeiro chefão citado - no entanto, isso não impediu que o jovem advogado viesse a ocupar importantes cargos públicos, e se tornasse um dos juízes do processo que julgava os crimes praticados pelo seu antigo chefe;
- Durante o ano eleitoral, surgiram novas e escabrosas denúncias contra o pessoal do partido do Governo, com possíveis implicações para a candidata-presidente e contra seu antecessor e mestre - este o verdadeiro líder do grupo;
- Em vez de se mostrar preocupada, a candidata-presidente, com apoio voraz de seu antecessor e mestre, partiu para a agressão contra o opositor, um político experiente e democrata que passou a ser chamado de "nazista", "herodes", "playboy" e "filhinho de papai", entre outras coisas, num sistemático trabalho de difamação;
- Enquanto boatos eram espalhados para amedrontar eleitores carentes e desprotegidos, o mestre da candidata-presidente vociferava aos quatro ventos que aquela eleição era uma guerra entre ricos e pobres, "nós e eles", norte e sul...;
No entanto, apesar de coisas que em outros países levariam rapidamente a uma crise política e quiçá institucional, caso não tomadas as medidas legalmente cabíveis, esse grande país, de acordo com as pesquisas, estava dividido ao meio, dando alguma vantagem para a candidata-presidente...
Depois de ouvir esse relato, não duvidei de que esse país pudesse existir. Tudo parecia factível. Só não acreditei quando me disseram que se tratava de um país democrático.
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