segunda-feira, 30 de junho de 2008

Alegoria é um traje que se veste com discrição

As alegorias que certos pregadores "avivalistas" fazem me dão a impressão de sua imaginação, criatividade e talento oratório, mas testificam de sua incompreensão do plano bíblico, porque usam e abusam do Texto Sagrado a seu bel-prazer, sem critério, sem princípios de hermenêutica, ao sabor da especulação e da arte de juntar palavras.
Para mim isso é vazio, não diz nada, além de ir contra a Palavra de Deus, que, como sistema, anuncia rigorosamente no Antigo Testamento a Salvação da Humanidade dentro de uma descrição das promessas divinas nesse sentido, com seu cumprimento e explicação no Novo Testamento, na Pessoa de Jesus, o Cristo. Tudo o que houver nas Escrituras deve ser lido sem olvidar esse parâmetro, além da simplicidade e honestidade quanto à interpretação de textos antigos, escritos para outros povos, com autoria, destinatário, data, ocasião, estilo e gênero literário implicados.
As pregações alegóricas chamam a atenção e apetecem o povo que gosta de se emocionar, como os que freqüentam sessões do júri só para verem o promotor e o advogado teatralizando diante do juiz togado e dos juízes leigos. Esquecem-se os autos e se destacam os medos, as virtudes, as preferências, as vacilações da alma. O direito é torcido, enquanto as emoções se satisfazem, pois - ninguém nega - falar bem é encantador.
Fico triste ao observar que o pentecostalismo tem sido tão caracterizado por pregações meramente alegóricas, quando o verdadeiro Pentecostes não está associado a especulações e emocionalismos, mas à pregação fervorosa da Salvação no poder do Espírito Santo.
Ora, a Bíblia é muito rica, não precisa que acrescentemos imagens pessoais, subjetivas, para aumentar o impacto da pregação. Que é isso? A Palavra de Deus é linda, gloriosa, maravilhosa, profunda em sua mensagem! Além disso, a Palavra de Deus é repleta de poemas, parábolas, símiles, provérbios, símbolos, tipos, narrativas, épicos, romances, cartas, e dentro disso há as alegorias bíblicas, encerradas em balizas muito bem definidas - como a Arca de Noé para a Salvação em Cristo, ou Sara e Agar simbolizando, respectivamente, a Jerusalém Celestial e a Jerusalém terrestre - pegue lá uma concordância bíblica e veja onde essas alegorias estão!
Portanto, não precisamos criar alegorias e dizer que o Texto Bíblico as aceita, porque somente as alegorias contidas na Escritura é que devem ser tomadas como tais. Aliás, as próprias alegorias bíblicas são como trajes que se vestem com discrição - por ser justamente chamativa, fulgurante, com forte apelo emocional, a alegoria não pode ser usada por pessoas espalhafatosas, que querem aparecer mais do que a mensagem.

Não renuncio à liberdade

Pessoas que preferem o regime de Cuba e do antigo Comunismo Soviético à Democracia, em nome de uma suposta socialização, usam o argumento de que não há democracia sem justiça social. Com essa frase, eles querem dizer que não adianta uma liberdade formal na Constituição sem o gozo de recursos materiais igualitários, e por isso os regimes socialistas teriam direito de calar a oposição, fechar o parlamento, impedir o voto, coibir a imprensa e intrometer-se em igrejas e empresas.
Esse argumento é falacioso e perigoso.
O argumento é falacioso porque é da própria natureza da Democracia o processo de construção da liberdade e da igualdade, com oportunidade para todos, abrindo-se o canal para o diálogo, para ouvir as minorias. A liberdade e a igualdade são os fundamentos, mas seu aperfeiçoamento decorre do desenvolvimento social, com educação e, principalmente, formação de princípios éticos e altruístas, o que, se parece quimera, pelo menos respeita a dignidade humana.
O argumento é perigoso porque pavimenta o caminho das ditaduras, que nunca forneceram a igualdade propagandeada, senão a repartição isonômica da pobreza para a população alheia à bucocracia e ao poder.
De minha parte, eu não renuncio à liberdade, pois não renuncio à minha dignidade de Humano. Se sou pobre ou rico, instruído ou analfabeto, assistido pelo poder público ou privado, ou, ainda, "desassistido de tudo", eu ainda prefiro a minha liberdade. Eu sou livre porque Deus me fez livre. Não posso negar a imago Dei.
Agora, sei que o regime político-econômico precisa se inspirar na dignidade humana para fomentar a igualdade social, e não apenas a chamada "igualdade perante a lei". Só que isso não se faz com mordaças nem chicotes - a igualdade de oportunidades é construída com programas econômicos assentados em bases racionais, e conduzidos por políticos sérios, munidos de espírito público, competência e visão do futuro.
Jamais posso concordar com os regimes socialistas autoritários. Quanto ao Capitalismo, se associado a programas sociais, à imposição de deveres legais a empresas e à humanização das regras funcionais e trabalhistas, é possível viver com certa tranqüilidade. Aliás, o problema não são os regimes políticos, mas os homens que fazem parte deles.

domingo, 29 de junho de 2008

O que terá acontecido à modelo Ruslana Korshunova?

Sinceramente não sou atento ao chamado "mundo da moda". Talvez por isso nunca tenha ouvido falar da jovem modelo do Cazaquistão Ruslana Korshunova, que morreu hoje ao cair do seu apartamento, no 9º andar de um prédio em Manhattan, Nova York.
A jovem tinha 20 anos. De acordo com a imprensa de Nova York, mencionada pelo "site" da Folha de São Paulo, a polícia acredita que ela se matou, mas a investigação certamente dirá o que ocorreu.
Ainda segundo o "site" da Folha de São Paulo, a moça vinha postando alguns textos em um "site" de relacionamentos. Entre o russo e o inglês, ela escrevia acerca de seus sentimentos, e um dia disse se sentir "perdida".
"Perdida". Meu Deus, eu realmente não posso imaginar o que aconteceu, e ninguém é capaz de perscrutar o que se passava na mente daquela moça de apenas 20 anos de idade. O fato é que me assusta saber que uma moça de 20 anos possa se sentir perdida.
O que faremos pelos jovens do mundo? Que tipo de referência temos sido para eles? No caso dessa moça, ela era de algum modo referência para jovenzinhas que acompanham a moda e que se inspiram em modelos de sucesso, não só quanto ao que vestir, mas também quanto ao que pensar, sentir e fazer.
Eu me preocupo com a juventude quando ela pára de sonha, quando ela não tem mais esperança. Ora, se os jovens não têm esperança, como ficarão os adultos, os mais experientes? Se a esperança faltar aos mais moços, o que se fará dos velhos?
É preciso agirmos logo...
Consultei informações pelo seguinte caminho:

sábado, 28 de junho de 2008

Nem sempre o zelo doutrinário advém do desejo legítimo de manter a sã doutrina. Às vezes esse zelo provém do "denominacionalismo" ou da simples vaidade. HEGEL referiu-se ao amor que se mostra como egoísmo: amo minha terra porque é minha; amor meus pais porque são meus; amo minha igreja porque é minha...Ora, jamais o egoísmo pode servir a Deus.
Independentemente de qualquer teoria ou doutrina acerca do batismo com o Espírito Santo - sobre o quê nós andamos tão divididos - há a imperiosa necessidade de buscarmos a plenitude do Espírito.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Eu tenho tanta alegria em expor minhas opiniões em público acerca das coisas do SENHOR que nem chego a me importar com aqueles que, pelos cantos, dizem que sou arrogante ou "sabichão". Aliás, eu me importo um pouco, e depois me "desimporto" logo.
Montesquieu, por favor me perdoe, mas não acho que o poder corrompe. É o Homem que corrompe o poder, pois o poder é neutro. Todo poder legítimo cumpre um dever legítimo. O problema é que o Homem aparentemente bom revela seu pecado quando assalta o poder.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Malaquias - um Livro que precisa ser mais visitado e conhecido

É triste verificar que o Livro de Malaquias só é lembrado quando queremos falar de dízimos e ofertas ou da predição acerca de João Batista. Trata-se de um Livro riquíssimo, que vai além desses importantes temas, e, como Palavra inspirada por Deus, tem uma mensagem atual, espiritual e profunda. É um convite à reflexão sobre religiosidade e moralidade.
Malaquias gira em torno de seis grandes questões, quais sejam: a prova do amor de Deus (1.1); o culto negligente a Deus (1.6); a importância da fidelidade no casamento (2.14); a justiça de Deus (2.17); a mordomia (3.8) e a religiosidade utilitarista (3.13,14).
De um modo geral, o profeta dedica-se ao fato de que os judeus de seu tempo buscavam vantagens em troca da prática religiosa, mas eram infiéis e não adoravam ao SENHOR com sinceridade e zelo. Sua espiritualidade era formalista, vazia.
Primeiro, o povo suspeita de que Deus não o ama, e Deus responde que Seu amor se comprova pela Eleição, mediante a Graça. Em vez de Esaú, o primogênito, Deus escolheu a Jacó. O SENHOR amou aquele povo desprezível (1.1-5).
Segundo, os sacerdotes se mostram negligentes para com o serviço sagrado, oferecendo sobre o altar animais cegos, coxos, enfermos e dilacerados. Ao entregar animais desprezíveis, sinalizam a noção de que as coisas do SENHOR são desprezíveis em si. O profeta atenta para a forma, não para o formalismo. A forma do culto reflete a "teologia" de quem presta o culto. Quem despreza as coisas de Deus oferece coisas desprezíveis a Deus (1.6-14). A repreensão contra os sacerdotes é dura porque, além do culto negligente, eles deixaram de ensinar o povo conforme a Lei de Deus. Achando que o culto a Deus é desprezível, tornaram-se, eles mesmos, desprezíveis (2.1-9).
Terceiro, os homens estavam assumindo compromissos com outras mulheres que não suas esposas, e faziam isso com mulheres de outras nações, adoradoras de deuses esranhos. Havia infidelidade a Deus e ao pacto nupcial, associado, porém, a ofertas religiosas e aparência de piedade. Deus odeia o divórcio, diz o texto (2.10-16).
Quarto, o povo achava que Deus não era justo. Em resposta, o SENHOR anuncia o futuro juízo contra os feiticeiros, os adúlteros, os que juram falsamente, os que defraudam o salário do trabalhador, os que oprimem o órfão e a viúva, os que torcem o direito do estrangeiro, e não temem o Seu nome. A justiça de Deus seria revelada pela aparição do Anjo da Aliança (2.17-3.5), que, sabemos, é Jesus Cristo.
Quinto, o povo roubava a Deus, não contribuindo para a manutenção das coisas sagradas. Não havia respeito à mordomia, que é a administração dos bens concedidos por Deus. Eles queriam usar os bens para seu proveito próprio, sem se preocupar com as necessidades da Casa do SENHOR. Vale dizer que a promessa divina de bênção sem medida, pelo abrir das janelas do céu, tem que ver com chuvas abundantes, necessárias para a obtenção de boas colheitas. Não se pode esquecer que se trata de uma economia agropastoril, e que Israel recebera promessas de cunho material, que agora Deus repete e confirma no seu trato com o remanescente Judá (3.6-12).
Sexto, o povo era utilitarista em sua religião, acreditava que tinha sido inútil servir a Deus, chegando mesmo a perguntar "Que nos aproveitou termos cuidado em guardar os seus preceitos e em andar de luto [em atitude de piedade] diante do SENHOR dos Exércitos"? Eles achavam que felizes e prósperos eram os ímpios e soberbos, porque, segundo eles, tentavam ao SENHOR e escapavam (3.13-15).
Em suma, Deus rechaça o utilitarismo religioso, que é necessariamente desprovido de espiritualidade autêntica e de moralidade sadia.
Fico assustado com o fato de muitos usarem Ml 3.10ss para justificar o método da barganha com Deus, quando o texto apela justamente para o altruísmo, a mordomia, a fidelidade, a confiança na providência do SENHOR! Será disfunção cognitiva ou má-fé?
De certo modo, Malaquias aproxima-se de nós quanto ao contexto porque o tempo era de espera...
Com o templo reconstruído, com os avivamentos sendo coisa do passado, com a frustração de falsas expectativas em torno de Zorobabel como o prometido Filho de Davi, com a idéia de que a glória predita por Ageu não havia se cumprido...o povo tinha "apenas" o cotidiano religioso, as ofertas e sacrifícios, o ensino por meio dos sacerdotes, a vida normal, enfim. Eles precisavam de fé, amor e esperança, algo que demonstraram não ter.
Deveríamos, já pelo contexto vital do Livro (a chamada "sitzenlaben"), aprender que Malaquias tem muito a dizer a nós, cristãos brasileiros do início do Séc. XXI.
Talvez os pentecostais históricos - e esse grupo não é muito diversificado - deveríamos repensar para onde vai nosso Movimento, que, recordando avivamentos pretéritos, não poderia, por outro lado, descuidar do combate ao utilitarismo religioso que insiste em dominar nossos púlpitos, congressos, festas. Mas essa preocupação deve ser de todas as igrejas, uma vez que o triunfalismo é realidade assustadora ao nosso redor.
Por fim, temo que o Antigo Testamento, onde Malaquias se encontra, seja utilizado tão mal pelos novos segmentos judaizantes que surgem no Brasil. O Antigo Testamento é riquíssimo, e, em seu exame, só teremos a perder se não o enxergarmos com a sinceridade e zelo do profetas Malaquias.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Não me assusto

Não me assusto ao ler que o justo Noé se embebedou.
Não me assusto ao ler que justo Abraão mentiu e tentou usar medidas próprias para alcançar a Promessa.
Não me assusto ao ler que Jacó enganou e se enganou.
Não me assusto ao ler que Moisés, Gideão e Jeremias hesitaram tanto quando de sua vocação.
Não me assusto ao ler que Davi traiu e matou.
Não me assusto ao ler que Pedro vacilou, acertou, vacilou, acertou, vacilou, acertou...
Não me assusto ao ler que Paulo e Barnabé brigaram e se separaram.
Não me assusto ao ler que Paulo recusou João Marcos quando deveria aceitá-lo como colega de missão.
Eu me assustaria se esses homens fossem heróis em vitrines.
Eu me assustaria se os visse perfeitos, e eu, coitado...
E mais me assustaria se a cada dia o meu pecado viesse me dizer:
Não há, enfim, solução pra você.
O PLC 122/06 é inconstitucional, imoral e antibíblico.
Discordar do homossexualismo é divergir do comportamento, da prática, da opção homossexual, algo totalmente diferente de discriminar a pessoa que o pratica.
A Bíblia condena a prática, e não dá direito a nenhum tipo de discriminação.
Uma coisa é ser contra o que o homossexual faz, e pregar contrariamente isso. Outra coisa bem distinta é ofender a pessoa do homossexual ou privá-lo de direitos em nome dessa discordância.
Isso não é claro? Para mim não há dúvida nenhuma. A Igreja evangélica brasileira sabe muito bem disso, e não costuma discriminar as pessoas. Pelo contrário, a Igreja inclui. A Igreja é a própria inclusão.
É impossível conceber que alguém que não conhece a Jesus irá reconhecê-lo quando Ele vier buscar a Igreja. As pessoas que se declaram cristãs e não praticam as mesmas obras de Cristo ficarão alheias à Sua Vinda, como os líderes judeus que mantinham uma escatologia do messias político e não reconheceram em Jesus de Nazaré o Messias prometido pelos profetas. Só as ovelhas conhecem a voz do seu Pastor.
Acabo de receber e-mail do redator da Revista Ultimato: a edição de julho/agosto será acerca de Edir Macedo e da teologia da prosperidade. A julgar pelos títulos, os artigos são muito pertinentes.
No dia 05 de julho, um sábado, estarei na Igreja Batista Memorial, aqui de Campo Grande/MS, falando a colegas professores de Escola Dominical. Estou ultimando a pequena apostila que me servirá de roteiro. Aguardo esse dia com grande expectativa, quando refletiremos sobre alguns aspectos da Escola Dominical, uma das paixões de minha vida.
Um dos mais graves danos surgidos contra a religião cristã foi o ensino de uma espiritualidade estanque, meramente religiosa. A espiritualidade está relacionada a tudo, desde a política até às relações interpessoais, desde a visão de mundo até às emoções e ao trato da família, desde a questão social até ao cuidado do meio ambiente. Chego a pensar que o constrangimento sentido por Adão e Eva pelo fato de estarem nus, logo depois de comerem do fruto proibido, retrata o tabu que caracteriza o tradicionalismo religioso. É como se pensassem assim: já que o pecado foi cometido, vamos ficar com vergonha disso e arranjar um modo de esconder. No entanto, quando Deus chama o Ser Humano pelo nome, ele se esconde com medo, porque sua religião é apenas um disfarce para ocultar as vergonhas. Por sua vez, Deus quer resolver o problema do pecado à raiz, sem subterfúgios nem tabus.
Vou confessar: a maior alegria que senti na minha vida foi a obtenção do perdão dos meus pecados por parte de Jesus Cristo. Nenhum outro sentimento se pode comparar a isso.
Todos os deputados evangélicos da atual legislatura são integrantes do chamado "baixo clero". Nenhum deles se notabilizou até agora sequer pelos discursos na tribuna. Os mais famosos se tornaram conhecidos pelas páginas policiais.
Toda leitura implica num "diálogo" com o texto, pois o leitor, munido de sua própria biografia, sentimentos e idéias, pergunta ao texto aquilo que considera importante saber, enquanto outro leitor pergunta coisas diversas. Com a leitura da Bíblia não pode ser diferente. Isso explica parcialmente a diversidade de interpretações e aplicações de um mesmo texto bíblico.
Igrejas em que as pessoas não exercitam a comunhão fraternal justificam a prática dos cultos virtuais, com a diferença de que no culto tradicional os espectadores estão no mesmo espaço físico.
A igreja local não é uma casa de detenção para a gente aprender, sob tortura psicológica, quão difícil é defender a causa de Cristo.
Uma parte das heresias que se abatem sobre a Igreja brasileira vem do analfabetismo funcional, que é o que se dá com as pessoas que não entendem o que lêem. Assim, em vez de um problema bíblico ou teológico, temos um problema cultural, social, gramatical. Se a Igreja alfabetizar (direito) esse povo, os teólogos, pastores e mestres poderão gastar seu tempo com coisas mais profundas, em lugar de ficar explicando elementos de interpretação de texto.
Qualquer idéia sobre Deus que não esteja de acordo com o que a Bíblia diz precisa ser repensada. A Pessoa, natureza e caráter de Deus devem ser cridos e contemplados tal como a Bíblia descreve ou indica. Idolatria é toda atitude de substituir Deus por concepções pessoais, ainda que numa cópia distorcida daquilo que a Escritura propõe.
A religião verdadeira aproxima o Ser Humano de Deus, de si mesmo e do próximo. Já a religiosidade fria e tradicionalista afasta o Ser Humano de Deus, de si mesmo e do próximo. Para mostrar como a Humanidade deve ser, Cristo encarnou, habitou entre nós, sofreu, morreu (e ressuscitou). Em sentido contrário, o asceta, o fanático religioso e o fundamentalista usam a religião para se distanciar, se elevar, se enaltecer, se livrar da condição humana, na busca de uma espiritualidade meramente subjetiva. Religião sem contextualização e sem empatia não é nada, pois não conhece a Cristo, ou não se alimenta desse conhecimento.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Jesus Cristo, Deus e Imagem de Deus, veio em carne oferecer ao Homem a possibilidade de vencer o pecado. Olhando para Jesus, podemos vencer a morte, que é o efeito do pecado. Ao comer da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, o Homem se desumanizou, porque andou contra o plano original. Jesus Cristo veio humanizar o Homem, e não divinizá-lo. A proposta da Serpente é afirmar no coração do Homem a falsa idéia de que pode se tornar como Deus, por meio da emancipação ética. Se andarmos como Jesus andou, seguindo Seus passos, seremos livres do poder do pecado, e um Dia seremos livres do próprio pecado. Fomos feitos imagem e semelhança de Deus em termos de personalidade e caráter. Só Jesus pode devolver ao Homem a retidão que se perdeu no Éden.
Quando o Ser Humano decide conduzir sua vida sem consultar ao SENHOR, está mais uma vez lançando mão da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Suas escolhas éticas alienadas de Deus são uma declaração de emancipação em relação ao Criador, como se não dependesse d'Ele. E, como ninguém vive sem Deus, o efeito dessa decisão é a morte.
Eu creio num Céu em que as pessoas irão trabalhar. Quem não gosta de trabalhar não pode ir para o Céu. O Céu será a potencialização, em estado ótimo, de tudo quanto é verdadeiramente bom aqui na Terra.
A morte é a única certeza universal, e a dúvida que nem os que passam por ela podem resolver. Aliás, quem passa por ela não pode resolver mais nada.

Teologia - o que é mesmo?

Teologia é o estudo do que Deus disse em Sua Palavra.
Teologia é o saber que se contenta humildemente em não saber.
Teologia é mais um perguntar do que um responder.
Teologia é ler, ouvir, enxergar as palavras de Deus com algum sistema, com algum critério, com algum método.
Teologia é mais do que filosofia, e não é propriamente ciência.
Teologia é teologia, é assim mesmo um tertium genus.
Teologia - eu ainda não sei o que é.
Teologia é academia sem academicismo.
Teologia é teoria, sim senhor, e também prática.
Teologia é testemunho, culto, arte e maneira de ver.
Teologia é para quem aprecia a leitura, o exame, a investigação, o raciocínio, a reflexão, o questionamento, o diálogo.
Teologia é resultado de esforço, muito esforço, muito esforço.
Eu sou um estudante de Teologia, mas não um estudioso da Teologia.
Quero ser bacharel em teologia. Mas "teólogo" é algo além.
O teólogo é muito bem definido pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho. Quem quiser conhecer seu conceito, leia o artigo "Aos pretendidos teólogos", de sua autoria. Adianto que em sua concepção teólogo é quem estabelece uma teoria teológica original, conhecida internacionalmente e seguida por muitas pessoas. Sinceramente, nunca vi um téologo na minha frente.
Mas eu e você podemos fazer teologia sem ser teólogos do naipe dos grandes autores de linhas teológicas. Podemos pesquisar e escrever à base do que outros deixaram registrado. Podemos pensar a fé...
Isso! Acho que teologia seja pensar a fé...

Ando longe

Ando longe de ser tão forte
Quanto minhas idéias.
Ando longe de ser apedrejado e calar.
Ando longe de defender uma causa
E morrer por ela.
Ando longe de rir depois de apanhar.
Ando longe de ter a fé
Que eu declaro necessária.
Ando longe da paciência
Que tanto me recomendam.
Ando longe de conviver
Com aqueles que não me querem.
Ando longe de mim mesmo
Quando me dou com os que me ferem.
Ando longe de um sonho
Que eu cultivo dia-a-dia.
Ando longe, e, no deserto,
Não acredito em oásis.
As miragens já se foram com o tempo.
Ando longe do ânimo que eu almejo encontrar
Nas pequenas coisinhas que ninguém pode ver.
Ando longe e solitário em meu lugar.
As amarguras secam todo prazer.



"O Sistema Carcerário é um inferno"

Quem disse a frase que dá título a esse texto foi o deputado Domingos Dutra (PT/MA), relator da CPI do Sistema Carcerário. Hoje ele entregará seu relatório sobre os trabalhos da CPI, pelos quais concluiu que o sistema está "em frangalhos", "falido" e "apodrecido".
O deputado maranhense descobriu que 80% dos presidiários não trabalham, 81% não estudam, e 80% reincidem no crime.
Entre as propostas que poderão constar do Relatório da Comissão, estão a ampliação das penas alternativas, a padronização de procedimentos em todos os presídios, a oferta efetiva de trabalho e educação aos presos, e a liberação dos que já cumpriram a pena.
Que o sistema prisional brasileiro é horrível eu acredito que todo mundo sabe. O mérito dessa CPI é estudar soluções, depois de visitar estabelecimentos penais pelo Brasil e analisar sistematicamente as falhas estruturais.
De minha parte, creio que um dos motivos de não resolvermos o problema carcerário consiste em nossa idéia de que a podridão da cadeia já seria uma punição para o criminoso. Assim, celas superlotadas, falta de higiene, insalubridade, promiscuidade, tudo isso constituiria uma pena adicional à que consta da sentença, já que a execução penal é cheia de benefícios, como a progressão da pena e o indulto, por exemplo.
Ora, não posso imaginar argumento mais simplista e cruel. Achar que um sistema apodrecido vai contribuir para a justiça é considerar que a pena é mero castigo, retribuição pelo mal, quando a pena, ao menos no Direito Penal moderno, é também para ressocializar o criminoso, devolvê-lo à sociedade em condições melhores.
A pena não pode ser "desumanizadora". Nós estamos num Estado Democrático de Direito, que privilegia a dignidade da pessoa humana, os direitos fundamentais. Não pode haver desequilíbrio entre a persecução penal e os direitos humanos.
O preso é uma pessoa - é bom recordar isso! O que ele cometeu é crime, segundo nossas leis, mas nem por isso ele passa a ser mais pecador que qualquer um de nós. Nessa questão não podemos nos deixar levar pelas emoções. Quem sofreu com o crime tem o direito de chorar, de se indignar, mas os outros precisam pensar na realidade como um todo, sem "judicar em causa própria".
Nesse sentido a Igreja tem um papel crucial na visitação aos presídios, delegacias, casas de detenção. Ali estão as pessoas que "não deram certo", que a sociedade não quer por perto...É muito importante entendermos que a Igreja deve ir aonde há necessidade. Em minha opinião, o resgate das almas dos presidiários é um desafio para a Igreja brasileira. Se ela fizer isso de maneira eficiente e fundamentada na Bíblia, a sociedade colherá bons frutos, pois muitos dos crimes poderiam ser evitados se houvesse reintegração social dos presos.
Devemos pensar nisso. Talvez eu retome esse assunto em outra oportunidade.
Obs.: As informações sobre o Relatório da CPI foram extraídas do "site" de notícias da Globo, mais precisamente pelo caminho http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL612160-5601,00-SISTEMA+CARCERARIO+E+UM+INFERNO+DIZ+RELATOR+DE+CPI.html

domingo, 22 de junho de 2008

Não se pode culpar o Exército pelo caso do Morro da Providência

Depois que três jovens do Morro da Providência, no Rio, foram entregues por militares a traficantes do Morro da Mineira - o que culminou com a morte dos três rapazes, com 46 tiros -, alguns têm dito que isso faz lembrar o Regime Militar, que a culpa é do Exército, que o episódio tem que ver com a inabilidade das Forças Armadas para o policiamento. A jornalista Eliane Cantanhêde, da Folha de São Paulo, chegou a escrever, e dizer num videocast, que a culpa é também da AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras) por ter formado o tenente responsável pelo crime...
Não posso concordar com isso. Ao ler o artigo da colunista no "site" www.folha.com.br, enviei-lhe um e-mail, que ela respondeu gentilmente. Agora, acabo de assistir ao seu videocast, que vai no mesmo sentido, e resolvi deixar registrado aqui o meu pensamento.
Vamos aos fatos: o Exército foi ao Morro da Providência para trabalhar no tal projeto "Cimento Social", idéia do senador e candidato a prefeito do Rio Marcelo Crivella, aliado do presidente Lula. Crivella pediu e Lula ordenou a ida do Exército ao morro. Os militares foram maquiar casinhas pobres e fazer o policiamento em torno das obras. Nenhuma dessas tarefas constitui sua missão institucional, mas ele atendeu a ordens superiores porque a hierarquia e a disciplina são as suas bases.
O curioso é que o Ministro da Justiça, Tarso Genro, vem a público dizer que não concorda com o emprego das Forças Armadas na segurança pública. Sim, eu concordo com ele, pois, embora as Forças Armadas devam assegurar a lei e a ordem, isso não pode ser feito sem o cumprimento de certos requisitos, como o pedido do Governador dizendo que não tem mais o controle da criminalidade. Mas eu pergunto: não foi Lula, chefe do Tarso Genro, quem deu a ordem para os militares subirem o morro?
Eu creio que discutir o papel das Forças Armadas como polícia é desviar o foco do problema, eis que o Exército estava fazendo um trabalho de cunho social, motivado por fins políticos, sendo que o policiamento veio secundando esse trabalho.
Vale dizer ainda que o que o tenente fez, com o auxílio de três sargentos e sete soldados, foi por conta própria, e não pode nos remeter aos anos de Ditadura Militar. Se ele é um oficial, formado na AMAN, será que podemos culpar a AMAN pelo ocorrido? Entendo que não. Ele tem responsabilidade individual porque não trabalhou em nome da instituição. Aquele tenente fez algo totalmente diverso do que o Exército deve fazer. Não consigo compreender como alguém faz relação entre esse crime terrível e a atuação das Forças Armadas.
Responsabilizar o Exército pelo que esses militares fizeram é como responsabilizar os pais pelo que seus filhos adultos fazem. É como responsabilizar a escola pelo que o ex-aluno, agora adulto, faz. Recordo do que escreveu o profeta: "Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram?" (Ez 18.2). Ora, se os dentes dos filhos estão embotados, eles é que comeram uvas verdes, e não seus pais.
A lembrança recalcitrante do Regime Militar faz com que jornalistas relacionem atos covardes de certos militares a horrores daqueles período. Entretanto, como eu escrevi à jornalista Eliane Cantanhêde, civis também participaram daquele Regime. O problema não são os militares, mas a sociedade eticamente deplorável em que vivemos.
Obs.: o artigo da jornalista Eliane Cantanhêde está em

sexta-feira, 20 de junho de 2008

A morte do ator André Valli

O ator André Valli, falecido hoje aos 62 anos, marcou minha infância com seu personagem Visconde de Sabugosa, da obra de Monteiro Lobato. Aquela roupa de sabugo de milho, a voz inconfundível e o jeito inventivo do Visconde são parte de minha infância, guardadas em minha memória afetiva.
O antigo Sítio do Picapau Amarelo era um programa muito bom, algo que a Rede Globo de vez em quando consegue produzir, especialmente quando traz para o grande público textos da Literatura Brasileira. A Dona Benta representava a vovó clássica. A Tia Anastácia fazia as delícias que as crianças queriam comer. Pedrinho e Narizinho eram traquinas. Mais traquina ainda era Emília, a boneca de pano que se tornou um ser humano...
Lembro ainda de João Perfeito e do Garnizé, do Conde Rabicó e da Cuca. Naquele sítio aparecia cada figura!
É uma pena que o ator André Valli tenha morrido tão jovem. Mas ele encarnou tão bem o personagem de Monteiro Lobato que estará sempre nos corações de muitos e muitos brasileiros da minha geração.

Pastor não é guru

Por favor, vamos entender que o pastor não é um guru! O pastor não é um guia espiritual, um conselheiro à moda das religiões orientais!
Quando o autor da Carta aos Hebreus se refere aos pastores como "guias" (ARA), não se trata de líderes espirituais do tipo hindu, mas do tipo que prega a Palavra de Deus, do tipo que precisa servir de padrão para que as ovelhas o sigam e assim possam imitar sua conduta (Hb 13.7). Nesse sentido, o pastor é uma referência, um modelo, não por superioridade, mas por exigência ética de integridade, de consonância entre doutrina e testemunho, teoria e prática, kerigma (proclamação) e ação. Não é modelo em termos de ideal, mas de exemplo, serviço, comunhão com as ovelhas.
Pedro chama Jesus Cristo de "Pastor e Bispo da vossa alma" (I Pe 2.25). Só Jesus recebe esse título. Os pastores não são bispos de nossas almas. Eles não dirigem nossas vidas no nível da união mística, pois esse nível é exclusividade de Cristo. Só Jesus pode habitar o corpo humano por meio do Espírito de Deus. Só Jesus é o Maravilhoso Conselheiro (Is 9.6). Jesus é nosso Líder Espiritual!
Tratamos os pastores como verdadeiros gurus quando acreditamos que suas orações são mais fortes, melhores, fundamentais para que Deus ouça e opere. É mais recomendável orar com eles, e não simplesmente pedir que orem por nós. A oração do pastor não é mais forte do que a nossa. Ele não é um sacerdote diferente de nós. O sacerdócio é universal (I Pe 2.9).
Artistas e empresários adeptos de religiões orientais ou africanas têm seus líderes espirituais. Budistas fazem isso, hinduístas fazem isso, umbandistas e seus correlatos fazem isso. Os Beatles adotaram um guru indiano que os aconselhava na carreira. Muitas pessoas fazem isso. O comediante Ronald Golias, morto em 2006, seguia a suposta orientação de um espírito de um índio americano...
Não estou sendo agressivo, nem quero aproximar a Igreja de Cristo a religiões tão distintas. Critico a postura de crentes e pastores que acabam distorcendo a função do pastor, o qual é uma pessoa que exerce um dom voltado à liderança da igreja, mas não das almas das pessoas. É certo que o pastor aconselha, orienta, ora junto, exorta, conduz, administra o grupo, mas seu trabalho é sempre dirigido à igreja enquanto comunidade de fé, e não à orientação da alma do crente a uma condição superior, especial. Quem faz isso é Jesus, não há outro. Ele é o Único Mediador (I Tm 2.5).
Por mais que a Escritura aponte para o acesso a Deus por meio de Jesus, as pessoas querem outros intercessores, mediadores. Dessa forma foi que nasceram os "santos" católicos. O Homem acha difícil chegar a Deus, e então diz que vai pedir à mãe para o Filho atender...Não hesito em dizer que o comportamento de muitos crentes em ver no pastor um homem especial guarda alguma relação com a idéia de que Deus não é tão acessível assim...e que o pastor, supostamente mais qualificado, poderá ajudar de algum modo.
Especialmente no Brasil, a cultura popular é amplamente arraigada no Catolicismo e no misticismo, duas correntes que conduzem à noção errônea de que Jesus não é suficiente para mediar uma relação com o Criador.
É necessário pensarmos nisso com cuidado. Sei que o leitor pode ter alguma dificuldade em compreender, talvez, onde quero chegar, pois parece haver uma linha tênue entre o pastor da igreja e o pastor de almas. Uma coisa, porém, precisa ficar muito clara: o pastor da igreja não conduz o espírito humano. Quem conduz o espírito humano é Jesus Cristo.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Rascunhando temas de "Teologia Negra"

O pessoal da Teologia Negra tem seus textos prediletos, como At 13.1, em que ficamos sabendo de um Simeão, chamado Níger, membro destacado da igreja em Antioquia...
Há também aquele etíope que tirou Jeremias literalmente do fundo do poço (Jr 38.1-13), e o outro etíope que era alto oficial da rainha dos etíopes (At 8.26-40).
De acordo com Jr 13.23, resta claro que os etíopes da época de Jeremias tinham a pele escura. Os etíopes eram os nascidos na terra de Cuxe.
Seria Sofonias um cuxita (Sf 1.1)? Essa é uma questão de interesse dessa perspectiva teológica negra. Quanto à segunda esposa de Moisés não há dúvida de que era cuxita (Nm 12.1-16). A Teologia Negra pergunta-se se acaso a sedição de Arão e Miriã contra Moisés "por causa da mulher cuxita" (Nm 12.1) não teria sido motivada por racismo.
O profeta Amós questiona: "Não sois vós para mim, ó filhos de Israel, como os filhos dos etíopes"? (Am 9.7). No entanto, quão xenófobos se tornaram os israelitas! A xenofobia é irmã do racismo.
Alguém disse de maneira estapafúrdia que a maldição de Caim (Gn 4.15) teria sido a pele escura. Foram os Mórmons? Agora não lembro, mas sei que os Mórmons eram racistas e depois mudaram sua doutrina.
Alguns ainda hoje dizem que paira sobre a África negra a maldição de Noé sobre Canaã (Gn 9.25,26). Baseiam-se na forma como os descendentes de Sem, Cão e Jafé se espalharam pelo mundo, ensinando que Sem é pais dos orientais, Cão, dos africanos, e Jafé, dos europeus. Ora, justamente por isso, é bom lembrar que Canaã não tem nada a ver com a África, pois Moisés se refere explicitamente àqueles povos que habitavam a Terra Prometida, a qual lhes foi tirada por Israel, nação semita. A maldição conferida por Noé não alcançou outros descendentes de Cão, embora tenha sido este o filho que viu a sua nudez.
Tudo isso são temas de uma Teologia Negra. Mas há a necessidade de ampliar a atenção a todas as nações, a todas as etnias, porque a discriminação racial não se limita aos negros. Judeus, ciganos, curdos, libaneses, enfim, etnias minoritárias ou em situação mais frágil têm sido oprimidas ao longo dos séculos. A preocupação deve ser maior do que simplesmente com relação aos negros, o que não impede a formulação de idéias teológicas a partir de textos bíblicos que destacam personagens negros, por exemplo.
Em vez de "raça", a palavra mais recomendada é "etnia". Na verdade, não há raças, somos todos a Raça Humana. Temos, é certo, biotipos diferentes, a cor da pele, o jeito dos olhos, o cabelo, a altura...Mas somos integrantes da Humanidade, temos um mesmo ancestral - Adão.
Não preciso citar aqui tantas e tantas referências bíblicas a respeito do plano de Deus para as nações. Posso ao menos lembrar aquela promessa a Abraão, de que em sua semente seriam abençoadas todas as nações ou famílias da terra (Gn 12.3). Ou aquela passagem de Am 9.7, já referida, em que o profeta menciona o cuidado de Deus em conduzir os siros de Quir e os filisteus de Caftor, assim como conduzira Israel do Egito. Ou, ainda, a ênfase apocalíptica no sentido de que haverá a reunião celestial de todas as tribos, línguas, povos e nações. Ou, ainda, a menção de que o Evangelho será pregado até aos confins da terra (At 1.8), a toda criatura (Mc 16.15), a todas as nações (Mt 28.19).
Deus não é racista. Deus é o Criador da diversidade étnica, cultural, biológica. Deus é sábio. Deus gosta da pluralidade.
Quanto ao Brasil, não o considero um País racista, nem creio que os negros sejam vítimas de uma perseguição nas relações institucionais e sociais. Se há distorções econômicas, profissionais e sociais em relação aos negros brasileiros, isso se deve à forma como foram introduzidos no País, por meio do regime escravocrata, que, durando séculos, contribuiu para uma cultura patrimonialista, de violação dos direitos da personalidade. O negro sofreu com isso, mas nossa sociedade não vive, nem de longe, a segregação racial que os Estados Unidos viviam até a década de 1960, e que foi alvo da luta pacífica do pastor batista Martin Luther King. Aliás, muito desse preconceito existe lá até os dias atuais.
De fato, a Igreja norte-americana é profundamente marcada pela divisão racial, que está presente em sua formação histórica e no desenho da sociedade. Igrejas inteiras são negras ou brancas. O racismo social reflete-se na idiossincrasia da igreja estadunidense. É uma pena. Mas o Brasil é diferente, precisamos entender isso para não criarmos divisões raciais sob o pretexto de buscarmos "corrigir distorções históricas".
A Teologia Negra pode contribuir muito para o debate do sistema de cotas, por exemplo. Há muito o que discutir. Só estou aqui pincelando algumas idéias elementares.
*Hoje, 17 de julho de 2010, reli este texto devido a um comentário do amigo João Armando sobre a postagem que fiz sobre o livro Uma gota de sangue, de Demétrio Magnoli. O uso da expressão "teologia negra" foi feito aqui, mas não a aprecio muito, nem estou de acordo com a adaptação ideológica do discurso evangélico e teológico à agenda política. Usei a expressão "teologia negra" como forma de me referir à abordagem étnica na Bíblia.

A visita de Deus (Lc 7.11-17)

Vinha o cortejo fúnebre seguindo seu rumo na cidade galiléia de Naim. Lá estava uma viúva prateando a morte de seu filho único, acompanhada de uma "grande multidão", assim com pleonasmo e tudo. O cortejo chegava já à porta da cidade, para fazer o enterro do lado de fora.
Do outro lado, aproximando-se da porta da cidade, mas para entrar, vinha Jesus com os Seus discípulos e "numerosa multidão", assim com pleonasmo também.
Na porta da cidade as multidões se encontraram. A morte saía enquanto Jesus chegava. O encontro foi emocionante para o SENHOR, que Se compadeceu da viúva e lhe disse: "Não chores"!
Em seguida, Jesus tocou o esquife e, parando o funeral, ordenou ao morto que se levantasse. Imediatamente, o jovem se colocou sentado e começou a falar.
Note-se o caminho que Jesus percorreu para realizar o milagre: compaixão, consolo à viúva, e, enfim, a ordem dirigida ao defunto. Antes do milagre veio a compaixão, que se fez seguir por uma palavra à mulher que perdera seu filho. Mais do que isso, o jovem era o único filho daquela senhora enviuvada.
O texto de Lc 7.11-17 é rico. Temos aqui uma viúva, e, mais do que viúva, uma viúva que perdeu seu filho, e, mais do que seu filho, o seu único filho. Temos aqui uma situação de luto. Temos o encontro entre Jesus e algumas das mais difíceis condições humanas, que são a viuvez e a perda de um filho único. Jesus verdadeiramente Se compadeceu, ficou triste com o fato diante de Si, e tomou a atitude que considerou acertada: devolver a vida àquele rapaz, restituindo-o a sua mamãe.
O episódio gerou algo positivo entre os espectadores: "todos ficaram possuídos de temor e glorificavam a Deus, dizendo: Grande profeta se levantou entre nós; e: Deus visitou o seu povo" (v.17).
Sim, o milagre deve produzir temor e glorificação a Deus! Há que se reverenciar o Deus que ressuscita mortos. Há que se louvar o Seu nome.
Como nós estamos acostumados a ver milagres nos Evangelhos, talvez deixemos de analisar o quanto esses fenômenos causaram entre os presentes em termos de comoção, admiração, alegria, surpresa. De fato, aquelas duas multidões - uma que chegava e outra que saía - passaram a entender que Jesus era um Grande Profeta, e que Deus visitou o Seu povo. Essas duas afirmações têm enorme peso teológico, algo que o milagre produziu.
Jesus é o Profeta prometido em Dt 18.15,18. Jesus veio falar as palavras de Deus, sem tropeçar em absolutamente nada. Jesus é a personificação da Verdade, da Sabedoria, da Vontade do Pai. Jesus é o Logos (Jo 1.1,14; I Jo 1.1). Jesus é a Palavra.
Deus visitou o Seu povo na Pessoa de Jesus Cristo, porque Jesus é Deus, e tabernaculou entre nós (Jo 1.1,14). Na bênção de Noé a Sem, ele disse que Deus habitaria nas tendas de Sem (Gn 9.27). Como semita, Jesus cumpriu essa bênção profética. Se por um período Deus habitou com o Seu povo por meio do tabernáculo no deserto (Ex 29.45), na plenitude dos tempos enviou seu Filho para habitar conosco, dando-nos depois o Espírito (Gl 4.4-6).
Mas, antes da dotação do Espírito, Deus tabernaculou entre nós na Encarnação de Cristo, fazendo Sua morada entre os homens, porque puderam ver Sua glória, glória como do Unigênito do Pai (Jo 1.14), sendo testemunhas presenciais desse evento (I Jo 1.1-3).
Quando aquelas pessoas simples da cidade de Naim disseram que Deus visitou o Seu povo, ah, isso é muito profundo. O milagre da ressurreição ali testemunhado foi uma intervenção divina entre os homens. Seguramente não sabiam ainda que Jesus era o próprio Deus, mas puderam entender que o milagre foi uma visitação de Deus.
Nosso SENHOR é imanente, além de transcendente. Ele Se ocupa das coisas dos homens. Ele visitava o Primeiro Casal no Éden (3.8). Deus Se importa! Deus sempre Se importa. Amém.

O Morro da Providência

O que aconteceu no Morro da Providência? Que terrível providência foi aquela que tomaram quanto a três jovens? O que se passava na cabeça daqueles que entregaram três rapazes a traficantes de um bando rival? O que foi aquilo, em que mundo nós estamos, o que mais perguntar, o que pensar?
Quem deveria construir e proteger acabou lançando jovens à morte. Dessa vez a brutalidade superou a si mesma. Nosso País consegue atingir, todos os dias, níveis diferentes de maldade.
Que os jovens morrem nós já sabemos. Que os jovens são ceifados pelas drogas nós já sabemos. Que os jovens são interrompidos nós já sabemos. Isso dói. Mas o Brasil obteve nesses dias um luto diferente, o luto por três jovens que foram mortos de maneira absurdamente inusitada. Um novo conceito de crime se estabeleceu: imitadores de militares entregando jovens a criminosos dos morros.
A juventude não combina com nada disso que aí está. A juventude tem sido relacionada a desvio, inconseqüência, infrações, mas a juventude é bela, forte, viçosa. A juventude tem sido viciada, cansada, desgastada. A juventude combina, isto sim, com sonhos, não com pesadelos.
É triste ver o Brasil assim tão morto. Quando criança, ouvia dizer que o Brasil era um País jovem. Mas esse País cresceu e retrocedeu. Não soubemos cuidar dos jovens. E um País que não cuida dos jovens não pode esperar dias melhores, porque o natural é que os pais sejam enterrados pelos filhos, e não o contrário.
Um País em que os pais enterram os filhos com freqüência precisa sentar e repensar para onde está indo. Já.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Para quem não gosta de lamentações...

O Livro Lamentações de Jeremias é tocante. Em versos cuidadosamente arranjados, o profeta demonstra toda a sua tristeza ante a invasão de Jerusalém pelos babilônios. Está ali derramado o coração de um patriota, que - vejam que ironia! - foi chamado de desertor pelos seus compatrícios.
Jeremias chora por contemplar a solidão (1.1), a escravidão (1.1), a agonia (1.2), o exílio (1.3), a angústia (1.3), o luto (1.4), a amargura (1.4), a dispersão (1.15) dos moradores da grande capital de Judá. Dentre os muitos horrores ali narrados, vê-se que mulheres foram forçadas (5.11), as crianças foram alcançadas pela fome (2.11,12), os sacerdotes passaram a gemer (1.4), as pessoas tiveram que comprar até mesmo água para beber (5.4). É um cenário de guerra, de desolação, de ruína.
Jeremias usa palavras intensas, parece querer que sua tristeza se manifeste com toda a força. Ele precisa desabafar, mostrar sua indignação, prantear. Lamentações diz em poema o que a profecia de Jeremias diz em prosa.
Mas o profeta quer trazer à memória o que lhe pode dar esperança (3.22). Ele sabe que as misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos (3.22), que elas se renovam a cada manhã (3.23), que a fidelidade do SENHOR é grande (3.23), que o SENHOR é bom para os que n'Ele esperam (3.25), que talvez haja esperança se o Homem colocar a boca no pó (3.29).
A esperança de Jeremias não é retórica, não é formal, não é para dizer que tem fé. A esperança de Jeremias é a esperança de quem chorou tudo o que tinha para chorar, e em meio a tantas lágrimas soube desfrutar do cuidado de Deus.
Entendo que é melhor chorar muito e depois sorrir de verdade do que esboçar um sorriso de aparências e guardar amargura no coração para sempre. Para quem não gosta de lamentações, para quem acha que chorar não é coisa de crente "vitorioso", que tal imitarmos Jeremias, enfrentando as coisas feias do jeito que são, para, enfim, gozarmos do que a vida realmente tem de bom?

"Impressão de bem-estar"

Uma sentença de Salomão chamou a minha atenção agora mesmo. Encontra-se em Pv 1.32 e diz assim: "Os néscios são mortos por seu desvio, e aos loucos a sua impressão de bem-estar os leva à perdição".
No contexto, o autor exalta a sabedoria e rechaça a tolice como estilo de vida. Aliás, esse é o princípio que paira em todo o Livro: saber viver.
O texto em destaque tem um paralelismo entre o néscio que morre por seu desvio e o louco que vai à perdição por sua impressão de bem-estar. O louco está para o néscio assim como a perdição está para a morte e o desvio está para a impressão de bem-estar.
Quem é, pois, o néscio? Néscio é tolo, estúpido, desprovido de sabedoria. Inteligência é menos que sabedoria. Alguém pode ser dotado de inteligência e ao mesmo tempo desprovido de sabedoria, porque não teme ao SENHOR (Pv 1.7). Louco é o que despreza a sabedoria e o ensino (idem). Na verdade, o louco e o néscio são a mesma pessoa, pois desprezar a sabedoria é mais do que tolice - é loucura.
O néscio desvia-se quando deveria seguir o caminho direito, e com isso encontra a morte. Agora, e o louco? O louco, tal como descrito em Pv 1.32, vai à perdição por sua "impressão de bem-estar"...
Sim, impressão de bem-estar! Quão enganoso é o coração do Homem, a ponto de achar que está bem! Tendo boas condições físicas, emocionais, financeiras e profissionais, alguém pode achar que está bem. Tendo menos que isso, alguém ainda pode achar que está bem. A impressão de bem-estar é traiçoeira, é um engodo. Ela faz com que o indivíduo siga desavisado para o Inferno.
O coração do Ser Humano é tão enganoso que a pessoa, mesmo não desfrutando de comunhão com Deus, na Pessoa de Jesus, mesmo não tendo em si a habitação do Espírito, pode viver a vida inteira sem cogitar de que necessita de Salvação. A sua impressão de bem-estar o impede de enxergar a necessidade do espírito. Seu vazio permanece ali, nos escaninhos do ser, mas ele não percebe ou não quer admitir sua carência.
Portanto, cabe aos cristãos anunciar o Evangelho a todas as pessoas, tirando-as dessa ilusão de estar bem. E não faremos isso pregando prosperidade, saúde e "vitória", pois esse tipo de pregação só alimenta a impressão de bem-estar, já que os néscios pensarão: se eu estou bem, para que eu preciso de Jesus? O evangelho da riqueza e da saúde não fala ao coração do pecador.
Precisamos dizer às pessoas que a maior dádiva que existe não é a felicidade, mas a vida em Cristo. O hedonismo diz-nos que precisamos ser felizes. O Evangelho, porém, diz-nos que precisamos amar a Deus e às pessoas. A felicidade, ou bem-aventurança, é uma conseqüência, jamais uma prioridade ou objetivo.
O Sermão do Monte (Mt 5-7) promete bem-aventurança, mas tendo em vista a renúncia, a abnegação, o amor, o altruísmo. Se dissermos isso aos que padecem da impressão de bem-estar, certamente teremos deixado uma mensagem revolucionária para suas vidas.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A bem servida Igreja de Antioquia

Em At 13.1 vemos que a igreja gentílica instalada em Antioquia da Síria estava muito bem servida, pois nela congregavam "profetas e mestres": Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. A comunidade estava repleta de homens vocacionados por Deus e preparados para a obra, com alguns dos dons mencionados depois em Ef 4.11 - Epístola que, diga-se de passagem, foi escrita por aquele Saulo, agora denominado Paulo.
Barnabé recebe belo testemunho da Bíblia: generoso, era José de nascimento, mas foi apelidado "Barnabé" porque essa palavra significa "filho de exortação" (At 4.36,37); ele introduziu o antigo perseguidor Saulo no conjunto dos discípulos, crendo em sua conversão (At 9.26,27); com a dispersão e pregação do Evangelho a gentios, foi Barnabé enviado a Antioquia, onde se alegrou com o que Deus fazia por ali, levando consigo depois o próprio Saulo (At 11.19-26); Barnabé era "homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé" (At 11.24).
Saulo, um terrível perseguidor da Igreja, que consentiu na morte de Estêvão (At 8.1, 9.1,2; Fp 3.6), converteu-se numa experiência extraordinária com o SENHOR Jesus. Ele era um homem de três mundos: judaico, romano e grego. Conhecia idiomas, filosofias, noções de Direito, poemas gentios. Estudou na importante escola de Gamaliel (At 22.3; ver At 5.32), era de formação farisaica, entendia profundamente da Lei, dos Profetas e dos Escritos.
Dos demais eu não sei, mas eram profetas ou mestres, conforme a pena de Lucas. "Colaço de Herodes" é uma forma elegante de dizer que Manaém tinha sido criado com o tetrarca da Galiléia. Não poderia ser, portanto, alguém de parcas condições financeiras. Mas ele preferiu estar na igreja em Antioquia.
O ambiente estava muito agradável, por certo. Mas, enquanto serviam eles ao SENHOR e faziam jejuns, disse o Espírito Santo que separassem a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tinha chamado. Como considero que Lucas é tão teólogo quanto historiador, não tenho medo de extrair daqui a lição de que o Espírito é Quem chama, ao passo que é a igreja quem separa para a missão.
Com efeito, depois de orar e jejuar, a igreja despediu aqueles missionários sob imposição de mãos. Deus vocaciona, mas a igreja precisa ordenar e despedir. Antes, ela precisa ter consciência da direção do Espírito nesse sentido.
Não sabemos como foi que o Espírito disse à igreja que havia chamado a Barnabé e a Saulo para as missões estrangeiras. Pode ter sido por meio do dom de profecia, registrado por Lucas em At 11.27-30 e 21.7-16. Um certo Ágabo era "profeta", bem como as quatro filhas do diácono Filipe, que, por sua vez, exercia o dom de evangelista. Esses dons são mencionados em Ef 4.11. Note-se que neste texto Paulo menciona profetas e mestres ao lado de evangelistas, por exemplo.
O que quero destacar, porém, é a necessidade de entendermos o que o Espírito diz à nossa igreja local. Precisamos atender às vocações que Deus faz em nosso meio. É Ele Quem chama. A igreja separa.
Às vezes fica tão confortável e aconchegante o nosso "grupinho" que não queremos enviar os nossos melhores profetas e mestres em missão. Queremos tê-los conosco em nossas escolas bíblicas, em nossos cultos de doutrina, em nossas palestras sobre assuntos mais profundos. Fico feliz quando vejo uma igreja semelhante à de Antioquia, repleta de dons, mas também me preocupa o fato dessas pessoas habilidosas permanecerem tanto tempo juntas no mesmo lugar. Não entendo a lógica de reunir "tanta gente boa" numa igreja quando há tantos lugares carentes em todos os aspectos.
A igreja sediada em Antioquia foi sábia. Ela ouviu a voz do Espírito, orou, jejuou e enviou. Essa é a tarefa da igreja. Não fomos chamados para um agrupamento meramente social, onde tão-somente desfrutamos da amizade dos irmãos e recebemos conforto e conhecimento. Fomos chamado "para fora". Afinal, não é este o significado de ekklesia?

domingo, 15 de junho de 2008

A falta que faz uma boa Oposição

Não gosto de discutir política, não sei se para evitar discussões apaixonadas ou por ausência de conhecimento nessa área. No entanto, de vez em quando escrevo algumas linhas neste blog acerca de assuntos políticos. Agora, penso sobre a falta que faz uma boa Oposição.
Escrevo Oposição com letra maiúscula por reconhecer nela uma instituição democrática, e não simplesmente uma contradição ao Governo. A democracia precisa de Governo e Oposição. A república também. Não existe Governo democrático sem divergência de opiniões, idéias e programas políticos.
O Brasil vive um momento que me preocupa, pois no âmbito federal não há Oposição genuína. Os principais partidos de Oposição não têm um programa consistente, não fazem uma fiscalização corajosa do Executivo, parecem ter medo de seu passado. O PSDB namora o PT, e isso o compromete. O DEM é veemente em questões tributárias e nas CPI´s, mas não oferece alternativa substancial. Parece que foi para a Oposição compulsoriamente, sem ter clareza quanto ao seu papel.
Fomos iludidos durante anos, crendo que o PT fazia Oposição de verdade, com sua bandeira ética, sua luta contra a corrupção e por transparência no trato da coisa pública. Contudo, o que fez o PT ao abocanhar o poder? Fez mais do mesmo, e talvez pior, com maior avidez e cinismo.
Nos Estados e Municípios em que o PT é Oposição, ainda há aquela busca por CPI´s, aquela sede de denunciar casos de improbidade, mas o mesmo não se vê onde ele é Governo. Do outro lado, os democratas e tucanos agem semelhantemente, haja vista o episódio atual de apoiar a Governadora do Rio Grande do Sul e repreender o Vice-Governador sem um aprofundamento da investigação, sem o veredicto da Justiça, por certo ainda longínquo.
O presidente Lula gaba-se de sua grande popularidade, e nisso se estriba para falar impropriedades contra adversários e contra as próprias leis e os outros Poderes. Gaba-se do crescimento econômico, do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), das medidas que estaria tomando para melhorar a educação, da inclusão de um número maior de pobres em programas sociais, da política de cotas para negros em universidades, do etanol. Mas se esquece de que sua política na saúde é muito deficiente, de que seu Governo é deveras corrupto, de que seus colegas tomaram a máquina pública, de que ele mesmo usa o PAC com interesse eleitoreiro, de que a política de reservas indígenas contínuas é um desastre jurídico-político, de que ele contou até agora com a boa fase da economia mundial, de que ele não tem um plano de desenvolvimento sustentável para o País, o que necessariamente passa pela educação e pela ciência e tecnologia, tão desprestigiados pelo Lula.
O PT mostra-se estatizante, autoritário e intervencionista. O Estado-petista é um big brother - está em toda parte. Eles querem nos obrigar a admitir a homossexualidade como coisa normal, eles querem influenciar ideologicamente os nossos filhos com filosofia e sociologia nos currículos escolares, eles querem que adotemos a teoria marxista da luta de classes, eles querem que achemos que o mundo se divide em ricos maus e pobres bonzinhos, com trabalhadores rurais e índios bonzinhos a seu lado.
De toda maneira, não vejo ainda elementos propícios para uma ditadura, pois, apesar do crescimento econômico, da aprovação popular ao Presidente e da nulidade da Oposição, o Brasil é um País muito grande e visado pela comunidade internacional. Não seria fácil dar um golpe de Estado aqui, pelo menos por enquanto. Creio que os muitos interesses escusos vão se acomodando debaixo das barbas do Presidente Lula.
Entretanto, essa situação me preocupa, sim. É triste não ver uma postura diferente em termos políticos. O que ouvimos são vozes isoladas, como era a voz do ilustre Senador Jéfferson Peres, morto em 23 de maio deste ano. Que cenário ruim: no Governo está o autoritário PT, que durante anos alimentou a minha esperança, mas depois logo a frustrou; de outro, temos os democratas que num passado recente apoiavam fielmente a ditadura militar, e, consigo, os contraditórios tucanos, que nem precisam de inimigos, pois devoram a si mesmos.
Como cidadão, não gosto de ver essa ausência de Oposição em nosso País. Sei que existem no Brasil muitas idéias, iniciativas, pesquisas, mas parece que os bons não se interessam por política, a qual fica reservada, em sua maior parte, aos maus.
Há esperança? Sim, ela tem que existir. Eu tenho esperança. Não quero ser apocalíptico, não quero interpretar a Bíblia aguardando uma grande hecatombe que começará matando os pobres e doentes. Não quero acreditar que o mal sempre vence na seara política. Não sei por que, mas sempre acho que as coisas podem mudar se as pessoas deixarem de ser tão corruptas em seu cotidiano, se as pessoas deixarem de esperar benesses do Governo, se as pessoas forem mais leais nas pequenas coisas, se as pessoas tiverem os valores do Sermão da Montanha.

Estudos teológicos...

Estou trabalhando num estudo sobre I Pe 3.19 e seguintes, para este blog. Fiz um texto básico, mas preciso pesquisar mais, e ainda não tive coragem de publicar. Pelo pouco que pensei e vasculhei já percebi que a passagem é profunda e demasiado difícil para um exame simplista, marcado pela subjetividade, pelo "achismo".
Não se faz teologia facilmente. Preciso pesquisar alguma coisa mais densa, correntes teológicas, autores, dados históricos da passagem, o que os Pais da Igreja pensavam a respeito, alguma informação exegética, algo que os estudiosos do grego possam apontar.
Creio que precisamos de mais teologia de peso no Brasil, mais teologia bíblica, mais exegese. Tenho ainda poucos subsídios, mas quero adquiri-los com o tempo. Não me conformo em me tornar simplesmente um crítico da situação da Igreja.
Gostaria de fazer teologia com profundidade, com técnica. Tenho a certeza de que a Bíblia é riquíssima, fornecendo-nos verdades maravilhosas, que precisam ser buscadas, garimpadas. A sabedoria de Deus é tão grande que é um pecado não buscá-la, não percebê-la, não querê-la.
O próprio texto bíblico oferece motivo de satisfação abundante, e respostas à mente e ao coração. É isso o que me move a estudar cada vez mais.
Portanto, para quem lê o que escrevo aqui, digo que estou preparando esse estudo, mas com um pouco mais de cuidado, pois as dificuldades que o texto apresenta não podem ser desmerecidas - antes, enfrentadas.

sábado, 14 de junho de 2008

Não sou imprescindível

Na Universidade, tinha um amigo que dizia: "Sei que eu não sou a última grande aquisição para o Reino de Deus". Ele dizia isso quando conversávamos sobre a situação da Igreja, dos crentes. Estou me referindo talvez ao ano de 1998, ou um pouco depois disso. Meu amigo, um talentoso batista morador do Espírito Santo, chama-se Emel Rapchan. Gostaria de vê-lo novamente. É uma pessoa ímpar!
Nestes dias, a frase do Emel voltou à minha lembrança, quando questiono o meu papel no Reino de Deus e minhas motivações. Penso a respeito de meus talentos, da minha vocação, das "neuras", das idas e vindas, das dificuldades que vejo na estrutura eclesiástica, na diferença entre a doutrina que aprendi e aquilo que se faz supostamente em nome dela. Penso também na minha vontade de fazer uma teologia bíblica, isenta de "denominacionalismos". Penso em pregar, ensinar, em ser aquilo que Deus planejou. Mas sempre esbarro em alguma coisa.
Quando me vejo nesse sério conflito, pergunto: por que motivo eu considero a minha pessoa tão importante? Por que eu sempre me debato com a idéia de que um dia eles irão me ouvir, me ver, me respeitar? Por que eu devo esperar o reconhecimento do meu povo? Será que eu não preciso é ficar "na minha", calado, refletindo mais, orando mais, sem achar que uma coisa grandiosa ainda vai acontecer na minha vida?
Aconteça o que acontecer, trabalhando como formiguinha ou sendo visto por muitos, devo estar ciente de que não sou uma aquisição que Deus fez para que Seu plano desse certo. Não sou "o cara". Não sou a pessoa que Deus levantou para resolver os problemas da Igreja no Brasil. Essa pessoa não existe.
Fui de fato comprado por bom preço. Jesus derramou Seu sangue por mim. Sou precioso aos olhos de Cristo porque tenho uma alma. Mas Ele me escolheu por Sua graça, não para fazer isto ou aquilo, mas para desfrutar de Seu amor. Admitir isso é melhor.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

"Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão" (Ex 20.7)

Quando eu era criança, ouvia que tomar o nome de Deus em vão era, por exemplo, tomar uma topada e gritar "ai, meu Deus". Hoje, entendo que o pecado é algo muito, muito mais profundo.
De acordo com Ex 20.7, Lv 19.12 e Dt 5.11, o que se proibia aos israelitas era o juramento falso em nome de Deus, o uso de Seu nome em afirmações inverídicas ou declarações frívolas. O pecado era tão sério que Deus não tomaria por inocente aquele que tomasse Seu nome em vão - a punição sempre deveria ser aplicada.
O nome de Deus tem sido usado em vão todos os dias por "apóstolos", "bispos", "pastores", "missionários", tanto em programas de televisão como nos púlpitos de suas igrejas.
Como se usa o nome de Deus em vão no Séc. XXI? Esse pecado é cometido toda vez que se atribuem a Deus palavras que Ele não proferiu, ensinos que não Lhe dizem respeito, "leis espirituais" que não são bíblicas, formas do agir de Deus que não existem, que não se coadunam com o Evangelho.
Ouvimos os maiores absurdos ao lado de frases como "Deus disse isso ou aquilo", "É assim que Deus faz", "Deus quer isso ou aquilo", "Deus gosta desses ou daqueles", "Deus fará", "Deus prometeu". Quem une essas frases a heresias e palavras mentirosas está tomando o nome de Deus em vão. Isso não é motivo de preocupação?

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Obedecer aos pais

"Ester cumpria o mandado de Mordecai como quando a criava" (Et 2.20).
Dentre tantas lições que o Livro de Ester pode nos oferecer, observo a obediência da personagem-título a seu primo Mordecai, que a criara como se fora sua filha.
O texto em destaque refere-se a Ester já adulta e recém-casada com o rei do império medo-persa.
Desde o casamento com o rei até a maneira como lidar com a ameaça de perseguição aos judeus, Ester foi orientada por seu "pai de criação". Ela nada fazia sem conversar com ele, sem atender às suas palavras.
Sabemos que o Livro de Ester trata da providência divina em favor do povo judeu num momento difícil. Mas não podemos negar que essa mesma providência se deu por meio de uma família, por meio da obediência de uma filha àquele que a criara.
Isso fica sintetizado em 4.13,14, quando, diante da hesitação da moça, Mordecai sugere que sua elevação a rainha poderia ser ato da mão de Deus, para aquela conjuntura especial em que o povo precisava de livramento. Deus agiu no coração do homem, e ele orientou sua filha adotiva. O resultado foi um emblemático livramento dos judeus, que entrou para a História da Salvação, pois Jesus Cristo nasceu dentre os judeus.
Não estou dizendo, com isso, que os pais devam dirigir as vidas de seus filhos adultos, nem intervir na condução dos casamentos alheios. Uma vez emancipado, uma vez independente, o indivíduo deve comandar a sua própria vida e a família que porventura tenha constituído (Gn 2.24; Ef 5.31; ver ainda Gl 4.2). No entanto, essa obediência devotada por Ester a Mordecai exemplifica a atitude dos que honram a seus pais e atendem aos seus sábios conselhos mesmo na vida adulta.
Veja-se que Ester casou sob orientação do pai adotivo, o que para ela foi uma decisão importante para o resto de seus dias. Depois, o Livro não diz que Mordecai ficou se intrometendo na vida do casal, mas que, quando surgiu a ameaça de perseguição, ele, com sua experiência, a aconselhou em casa passo, e ela o ouviu.
Quão diferente o comportamento de Ester em relação ao que se vê em nossa sociedade hoje! A autoridade familiar está em perigo. Muitos filhos querem independência quando ainda adolescentes. Muitos não dedicam a seus pais a necessária obediência hierárquica. Muitos pais não têm "voz de comando" (para usar uma expressão da Super Nanny). Muitos pais são ausentes.
Tenho para mim que o princípio sócio-político da autoridade sempre deriva do conceito de autoridade que se tem em casa. As autoridades civis e escolares terão o mesmo tratamento que os filhos deram a seus pais quando sob o poder familiar. É por isso que nossa sociedade vive uma crise de autoridade: não se respeitam as leis, os fiscais de trânsito, os fiscais sanitários, os fiscais das prefeituras, os policiais, os governantes, o direito, enfim, todo o conjunto de normas jurídicas e de pessoas investidas de poder social.
Voltando ao exemplo de Ester, pelo menos a Igreja deve dar o exemplo, pois se trata de obedecer a Deus. Não tenho nenhuma dúvida de que Et 2.20 não foi inserido por acaso nas páginas da Escritura.
Deus aprecia o respeito aos pais, que não deixam de o ser só porque nós crescemos.

Se tivermos em mira o galardão

Se tivermos em mira o galardão
Que o SENHOR entregará segundo as obras,
Certamente Lhe daremos muito mais
Que apenas as migalhas e as sobras.
Se tivermos em mira o galardão
Que no Céu é o que vale como prêmio,
Mudaremos atitudes desde então:
"O que sou em vez do que eu tenho".
Se tivermos em mira o galardão
Haverá revisão de vãos conceitos.
O que era já não mais virá a ser,
E os valores tomarão lugar primeiro.
Se tivermos em mira o galardão
Que mudança não terá, enfim, espaço?
Falaremos a verdade com o irmão,
Evitando a carne e todo embaraço.
Acontece que nem sempre nos lembramos
Da doutrina tão veraz em toda a Bíblia:
O que penso, digo, quero, sinto ou faço,
Tudo isso repercutirá ainda
Com maior e mais altissonante força,
Na medida de um dia que não finda.

Um roteiro mais simpático

Chegar ao lugar em que a igreja se reúne e buscar um assento. Orar de joelhos por uns instantes e depois ficar sentado, ao toque da campainha. Cantar hinos com a congregação, ao som da orquestra ou de um conjunto musical. Depois, ouvir a sucessão de louvores pelo coral, pelas crianças, adolescentes e jovens, além dos "hinos avulsos" dos irmãos que enviam seus bilhetes ao dirigente do culto.
Após uma hora e meia de cânticos, escutar o irmão falando sobre dízimos e ofertas, tendo lido Ml 3.10, II Co 9.6 ou outro texto de sua escolha. Separar umas moedas ou o dízimo, para colocar na sacolinha que um diácono trará aonde eu estiver.
Faltando uns dez ou quinze minutos para as 21h, ver o pregador se dirigir ao púlpito, saudando a igreja e lendo um texto da Bíblia, seguido por uma pregação de 40 minutos ou mais. A cadeira é confortável, eu irei ficar bem...
Ao término, com a bênção apostólica, sair para casa feliz da vida, achando tudo muito bom. Ter certeza de que Deus falou comigo, que não preciso me importar com critérios de hermenêutica, com dissociação entre texto e comentário, tampouco com afirmações distantes da doutrina oficial da própria denominação. Crer que aquele que prega sempre fala a verdade.
Começar a semana alegre, achando que tudo está dando certo, que minha vocação vai ser confirmada por Deus, mesmo que os homens não saibam disso ainda. Trabalhar todos os dias sem me preocupar com problemas da Igreja brasileira, porque já tem muita gente boa pensando nisso, e eu sou apenas um funcionário público.
Cuidar somente da minha família, dos meus estudos e do meu trabalho, sabendo que as coisas sempre caminham na direção certa.
Preparar minhas aulas de escola bíblica sem me preocupar com o sistema que pesa sobre os meus ombros, pois devo trabalhar como uma formiguinha, influenciando positivamente quem está à minha volta, sem contrariar o que a liderança diz e faz, porque ela, e não eu, foi escolhida e ungida para essa missão.
Ser simples e humilde para entender que não vou resolver os problemas do mundo, que meu serviço a Deus é honrá-lo com um comportamento exemplar na sociedade, orando, lendo a Bíblia, indo aos cultos e cumprindo meus deveres familiares, sociais e cívicos.
Acreditar que, se não existe igreja perfeita, vamos ficar bem de qualquer jeito. "Deus proverá", o justo sofre mesmo, não adianta espernear, vai dar tudo certo, no final acaba bem, o importante é servir a Deus naquilo para o que a gente foi chamado.
Ter paciência. Ter fé. Suportar. Não aspirar ao reconhecimento humano daquilo que digo ou faço, não pretender que minha igreja mude crenças e condutas só porque eu disse que haveria caminho melhor. Continuar firme no propósito, como irmãos que estão nessa situação há décadas.
Ficar mais calado, ouvir mais. Não dar muitas opiniões, não ser prolixo, controlar o temperamento, respeitar as idéias divergentes, não bancar o sabichão.
Não dar tanta atenção a análises pessoais da Bíblia, se elas contrariam a Teologia Sistemática que adotamos.
Ser um crente mais conectado com a denominação, menos crítico, mais conformado com a maneira como as coisas são, pois não poderei mudá-las jamais.
Ler a Bíblia em meu devocional sem ficar pensando em aplicações que não poderei fazer, a não ser que me convidem. Ser mais espiritual, "tomar o texto para mim", orar mais, ficar mais "na minha", seguir o exemplo de Jesus e pronto.
Voltar ao culto no domingo e achar tudo muito bom de novo. Viver com isso e prosseguir assim até a Volta de Jesus.

terça-feira, 10 de junho de 2008

A questão homossexual na ordem do dia

O Movimento Gay está avançando pelo mundo - nós sabemos disso. No Brasil, temos agora a possibilidade de aprovação do PLC (Projeto de Lei iniciado na Câmara) nº 122/06, que tramita atualmente na Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal, com última tramitação no dia 21 de maio próximo passado. Temos ainda a Parada Gay mais chamativa (e lucrativa) a cada ano, e os sargentos que declararam sua homossexualidade em matéria de capa da Revista Época.Além disso, a imprensa tem noticiado casos de militares que mudam de sexo, e que se vêem reformados ou licenciados pelos quartéis, ao mesmo tempo em que o presidente Lula declara, em reunião pró-homossexual, seu apoio ao que se convencionou chamar de luta contra o preconceito homofóbico - com a útil presença do sargento gay que não foi preso.Isso tudo sem falar nas novelas da TV Globo, emissora que faz apologia de "casais" gays, e que já fez beijo gay na recente minissérie "Queridos Amigos".Precisamos pensar. É muita coisa de uma vez.Primeiro, li o PLC 122 há algum tempo, e preciso fazer breve consideração: é realmente um projeto de lei para a gente se preocupar, porque, alterando a Lei nº 7.716/89, que trata da discriminação racial e de cor, inova ao criar o delito de discriminação por "orientação sexual" e "identidade de gênero". Também busca mudar o Código Penal e a Consolidação das Leis do Trabalho, no sentido de criar um crime de discriminação especial em relação à opção sexual, e punir discriminações dessa natureza nas relações de trabalho. O PLC 122/06 advém do Projeto de Lei 5.003/2001, de autoria da então Dep. Iara Bernardi, do PT.A questão é o que os juízes irão interpretar como discriminação "homofóbica", o que pode, sem nenhuma dúvida, acabar incidindo sobre pregadores, porque nós evangélicos pregamos contra a homossexualidade, que é pecado. Caso a lei seja promulgada, não poderemos expor com tranqüilidade os textos de Gn 18.16-19.29, Lv 18.22, Rm 1.18-27, I Co 6.9, por exemplo.Embora a Constituição exalte a liberdade de religião, de pensamento, de expressão e de culto, sabemos que a sociedade está se degenerando. Eu vejo flagrante inconstitucionalidade nesse projeto de lei, mas tudo indica que irá ser aprovado e sancionado - a Relatora é a Senadora Fátima Cleide, petista, e o presidente Lula já disse ser favorável. A pressão é grande sobre parlamentares, e, convenhamos, nossa bancada dita evangélica é muito ruim, salvo raríssimas exceções, porque dada ao jeito antiquado de se fazer política. Quase todos os parlamentares evangélicos pertencem ao denominado Baixo Clero, pois não têm nenhum peso político, sequer fazem discursos memoráveis da tribuna...Agora, precisamos entender que esse projeto não prevê que pastores celebrem casamentos homossexuais. Pelo menos ainda não. Vamos trabalhar com o que é problema de fato, e não com terrorismo apocalíptico, que sempre se faz a partir de especulações. O projeto já é preocupante demais sem essa previsão de casamento gay nas igrejas - o que não pode ocorrer mesmo porque a igreja não é agência do Estado, e o Estado é laico. O que está em jogo é a liberdade religiosa e de expressão.Quanto aos sargentos gays, eu trabalho no Ministério Público Militar e sei que o crime de deserção é simples: com oito dias de falta ao quartel, o militar incorre no delito, e deve ser recolhido à prisão por 60 dias, sem direito a habeas corpus. Essa é a lei. Não posso tecer considerações acuradas sobre o propalado transtorno emocional do sargento, que supostamente sustentaria sua necessidade de reforma. Mas posso afirmar que o fato de ele ser homossexual não tem nada a ver com a prisão por deserção, que precisa ser cumprida e sempre é realizada, automaticamente, desde que verificada a falta por mais de 08 dias. A hierarquia e a disciplina precisam ser observadas nas Forças Armadas. Não podem os sargentos fazer alarde de sua condição sexual para difamar o Exército, desviando o foco dos seus problemas funcionais para algo que está em discussão na sociedade civil.Há uma propaganda no sentido de desacreditar quem é contra a homossexualidade. Os ativistas gays são, na verdade, fundamentalistas por não aceitarem opiniões distintas.As Paradas do Orgulho Gay são um exemplo disso: ora, se eles estão satisfeitos e seguros de seu estilo de vida, por que precisam tanto da aceitação social, por que precisam dizer a todo mundo que ser gay é normal, justo e bom? Eu sou evangélico, mas não preciso sair dizendo por aí que ser evangélico é normal, justo e bom, porque estou plenamente seguro de minhas opções e estilo de vida.O debate está na ordem do dia. Quisera eu nossos deputados, senadores e líderes evangélicos pudessem acrescentar qualidade ao diálogo. O que vejo, porém, é um cenário medonho.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O pregador e o professor

O pregador fala ao coração e ao intelecto, nessa ordem. O professor, ao intelecto e ao coração, nessa ordem.
O pregador discursa. O professor dialoga.
O pregador valoriza a segurança no que diz. O professor valoriza a substância do que diz.
O pregador comove. O professor convence.
O pregador exorta. O professor ensina.
O pregador convoca. O professor convida.
O pregador apela. O professor indaga.
O pregador dá respostas. O professor faz perguntas.
O pregador polemiza por acidente. O professor polemiza por método.
O pregador fala ao público. O professor, no meio do povo.
O pregador está ao púlpito. O professor, na linha de tiro.

domingo, 8 de junho de 2008

A vocação de Estêvão e o legado que ele deixou

Alguém que tenha o mais elementar conhecimento da Escritura pode negar a vocação de Estêvão como pregador do Evangelho? No entanto, esse grande homem não teve tempo de empreender uma carreira longa, vindo a se tornar o primeiro mártir do Cristianismo.
Deveríamos pensar mais sobre Estêvão. Ele era possivelmente um judeu helenista, ou seja, um daqueles judeus que falavam grego como única ou segunda língua, além do aramaico, por causa da Diáspora (dispersão dos judeus devido a domínios estrangeiros).
Quando se mostrou necessário, a Igreja separou sete diáconos, sendo Estêvão um deles (At 6.1-6). Portanto, ele era um homem de boa reputação, cheio do Espírito e de sabedoria (v.3). Além disso, destacou-se entre os seus pares como sendo "cheio de fé e do Espírito Santo" (v.5).
Sendo cheio de fé, de sabedoria e do Espírito Santo, diz o texto lucano que Estêvão era ainda cheio de graça e de poder, fazendo prodígios e grandes sinais entre o povo (At 6.8). Há aqui a idéia de que o homem era usado por Deus, transbordando de dons espirituais e dando claras evidências do fruto do Espírito em sua vida.
Estêvão era um personagem marcante, uma figura verdadeiramente avivada. A pena de Lucas deixa entender que as características de Estêvão eram testemunhadas pelas pessoas à sua volta.
Certo dia, porém, houve um sério embate, pois se levantaram alguns da sinagoga dos Libertos, provenientes de Cirene, Alexandria, Cílicia e Ásia, e discutiam com Estêvão. Eles também eram judeus helenistas, e não eram cristãos. A sinagoga dos Libertos era, como toda sinagoga, dominada pelos fariseus.
A discussão dava-se em termos teológicos, e os oponentes "não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito" com que Estêvão falava (At 6.10). Nosso personagem tinha uma mistura especial: conhecimento profundo da Escritura e plenitude do Espírito.
Como os inimigos de Jesus fizeram anteriormente, esses agora subornaram alguns que testemunhassem falsamente contra Estêvão, imputando-lhe o pecado de blasfêmia contra Moisés e contra Deus (At 6.11). Eles estavam muitíssimo enraivecidos porque Estêvão falara algo sobre o Templo...
Já no Sinédrio, para onde foi levado pelo povo, anciãos e escribas (At 6.12), Estêvão ouviu acusações falsas de que ele pregara "contra o lugar santo e contra a Lei" (At 6.13).
Segundo os acusadores, Estêvão teria dito que Jesus, o Nazareno, destruiria "este lugar" (o Templo), e mudaria os costumes dados por Moisés (At 6.14). Parece que naquela época a profanação do templo era o único pecado a que o Sinédrio poderia aplicar a pena capital, pois todos os demais casos de pena de morte ficavam a cargo de Roma (DANA, p. 94).
Durante a sessão de julgamento,"todos os que estavam assentados no Sinédrio, fitando os olhos em Estêvão, viram o seu rosto como se fosse rosto de anjo" (At 6.15).
Agora vem um momento decisivo. Perguntado, pelo sumo sacerdote, se as coisas eram do jeito que as testemunhas falavam (At 7.1), Estêvão poderia mudar seu discurso, abrandá-lo, dar uma interpretação diferente, dizer que não fora compreendido...e escapar da condenação prescrita pela Lei de Moisés para o crime de blasfêmia. Entretanto, para surpresa de todos, Estêvão "foi com tudo", e resolveu defender com toda a clareza a tese de que o Altíssimo não habita em casas feitas por mãos humanas (At 7.2-53; cf. Is 66.1,2).
Vale dizer que em seu sermão Estêvão fez um brilhante resumo da História de Israel, passando por Abraão, Isaque, Jacó, José e seus irmãos, pela escravidão no Egito, por Moisés, Josué, Davi e Salomão, até chegar a Jesus Cristo; o que ele disse está contido nos Livros de Gênesis, Êxodo, Números, Deuteronômio, Amós, Josué, II Samuel, I Crônicas, II Crônicas, I Reis e Isaías; Estêvão disse corajosamente que, assim como os antepassados israelitas rejeitaram José, Moisés e os profetas, aqueles seus contemporâneos rejeitaram a Jesus Cristo e resistiram ao Espírito Santo - dali a alguns instantes, acabariam rejeitando a Estêvão também.
O resultado era esperado, e creio que Estêvão já estava certo disso. Os seus opositores estavam enfurecidos, rilhando os dentes (At. 7.54).
A seu turno,"Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à sua direita" (At 6.55). Disse que via os céus abertos, e o Filho do Homem em pé à destra de Deus (At 6.56.). Ele estava perto de deixar este mundo.
Naquele momento, os terríveis opositores clamaram em alta voz, "taparam os ouvidos e, unânimes, arremeteram contra ele" (At 6.57).
Lançado fora da cidade, Estêvão foi apedrejado. As testemunhas deixavam suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo (At 7.58), que viria a ser depois o apóstolo Paulo, mas que naquela hora consentia em sua morte (At 8.1). Como era proveniente da Cilícia, talvez até fosse membro da Sinagoga dos Libertos.
Enquanto era apedrejado, Estêvão invocou ao SENHOR Jesus, para que recebesse o seu espírito (At 7.59); e pediu ao SENHOR que não lhes imputasse esse pecado (At 7.60).
Lucas conta que "alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram grande pranto sobre ele" (At 8.2). Por sua vez, o jovem Saulo "assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere" (At 8.3).
Com a morte de Estêvão, naquele mesmo dia começou "grande perseguição contra a igreja em Jerusalém" (At 8.1), de modo que todos foram dispersos, com exceção dos apóstolos, para as regiões de Samaria e da Judéia (At 8.1).
Mais adiante, em At 11.19-26, vemos que "os que foram dispersos por causa da tribulação que sobreveio a Estêvão" (v.19), foram se espalhando pelo mundo, indo para a Fenícia, Chipre e Antioquia, pregando só aos judeus. Alguns, porém, que eram de Chipre e Cirene, pregaram também a gregos em Antioquia, muitos dos quais vieram a crer no SENHOR Jesus. Ao saber disso, a igreja em Jerusalém enviou Barnabé a Antioquia, o qual, tendo chegado lá, se alegrou e os exortou a permanecerem firmes.
Semelhantemente a Estêvão, Barnabé é descrito como um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. Foi ele quem saiu a buscar Saulo, e o levou a Antioquia, onde permaneceram durante um ano, ensinando a numerosa multidão. Mais tarde, esses mesmos Barnabé e Saulo foram separados, em Antioquia, para a obra missionária (At 13.1-3). Essa igreja se tornou importante na Igreja Primitiva, com seus profetas e mestres (At 13.1).
Assim, de algum modo a morte de Estêvão contribuiu para o nascimento da igreja em Antioquia, a primeira igreja gentílica, que foi evangelizada por pessoas que escapavam da perseguição iniciada no dia de seu apedrejamento. Ademais, por ironia, um dos líderes mais proeminentes de Antioquia foi justamente Saulo de Tarso, que consentira em sua morte!
A história de Estêvão oferece-nos muitas lições preciosas, e contém informações muito importantes:
Como visto, a morte de Estêvão deu início à perseguição e dispersão dos crentes. Talvez sua pregação dura contra a idéia de que Deus habita no Templo tenha servido de motivação para se quebrar a trégua concedida com o parecer de Gamaliel (At 5.33-42).
O caso de Estêvão mostra que não é de hoje que servos de Deus têm que se explicar diante de autoridades religiosas por elementos de seu ensino.
Estêvão dá-nos uma formidável lição de integridade e coragem a toda prova.
A pregação de Estêvão ficou registrada para a posteridade, e é o mais longo sermão do Livro de Atos, onde há pregações de líderes como Pedro e Paulo. Além disso, embora Lucas afirme que Apolo era eloqüente e poderoso nas Escrituras (At 18.24), não registrou uma linha sequer de suas pregações.
Com certeza, a ênfase que Lucas dá a Estêvão não é casual - trata-se de um personagem-chave na teologia lucana, e de estreita relação com a história de Paulo, ainda que em termos de perseguido-perseguidor.
Estêvão é o exemplo de pregador que morre pela Causa de Cristo, fazendo mais em sua morte do que em sua vida. É como a história daquele missionário que, segundo minha esposa, se preparou para evangelizar selvagens, mas logo foi morto por eles. No entanto, Deus enviou mais dez missionários para aquele lugar, os quais não puderam ser atacados, pois formavam um grupo. Nesse episódio, o primeiro missionário serviu a Deus com a sua morte, abrindo o caminho para outros, que se inspiraram em sua coragem.
Aqueles que permanecem vivos sentem-se encorajados por saberem que um líder foi fiel até à morte.
Estêvão deveria ser lembrado pelos pregadores do evangelho da vitória e da prosperidade, pois ele não foi livrado, não usou "determinação", não mentalizou seu sucesso sobre os inimigos, e morreu de maneira brutal - ele de fato entregou sua vida a Deus.

Livro consultado: DANA, H.E. O Mundo do Novo Testamento: Um estudo do ambiente histórico e cultural do Novo Testamento. 4ª ed. Tradução de Jabes Torres. Rio de Janeiro: JUERP, 1990, 215p.



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Para pensar:

Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

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Bases de Fé

Creio:
Em um só Deus e na Trindade.
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão.
Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
No batismo bíblico em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo.
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus, através do poder do Espírito Santo.
No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo.
Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade.
Na Segunda Vinda de Cristo.
Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo.
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis.
E na vida eterna para os fiéis e morte eterna para os infiéis.