quarta-feira, 30 de abril de 2008

Os "profetas" do nosso tempo

Quem são os homens e mulheres que a sociedade brasileira ouve? A quem nós estamos seguindo? Que filosofia, teologia ou ideologia esses "profetas" pregam?
Há uma filosofia disseminada nas rodas de cerveja e programas de TV, a filosofia do Zeca Pagodinho, que profetiza o "deixa a vida me levar". Será essa a filosofia a seguir? Será que eu posso viver sem compromisso com a vida, como se as coisas pudessem transcorrer irresponsavelmente? Uma sociedade regada a cerveja e boa-vida tem futuro?
A senhora Xuxa Meneghel chegou a ser censurada em público pelo então Ministro José Serra, que havia dito, com acerto, que a Xuxa era um mau exemplo para as jovens, por divulgar sua "produção independente". Infelizmente, Serra pediu desculpas, quando deveria manter a posição. A "profetisa" Xuxa prossegue ensinando que se pode dar à luz uma criança sem o estabelecimento de uma união familiar nos moldes bíblicos.
R.R.Soares ensina que a fé é uma atitude positiva que desperta o poder de Deus em favor do indivíduo, a partir da verbalização ou "confissão", como se fosse, na verdade, um passe de mágica, com vistas à obtenção de curas e milagres. Ensina ainda que os crentes podem tomar posse de bênçãos que já teriam sido concedidas por Deus por meio de Sua Palavra, o que difere do simples pedido em oração, pois pressupõe a determinação, no aspecto imperativo de trazer à existência. Nada disso não é bíblico de jeito nenhum, pois a fé consiste em confiança na Palavra de Deus, e pronto.
Edir Macedo e seus imitadores ensinam na prática que a Bíblia (especialmente o Antigo Testamento) pode ser usada como autorização para experiências dramáticas as mais diversas, como se a Bíblia fosse um livro de mero registro de experiências do passado, para fundamentar experiências supostamente espirituais com o Deus de Israel, em todos os tempos. Ensinam também que os filhos de Deus têm direitos a reivindicar, no que toca à família, sucesso financeiro, profissional e empresarial e aumento do patrimônio e renda. É o evangelho materialista que atende às demandas egocêntricas da Modernidade.
Há muitos outros "profetas" espalhados por aí. Depois eu vejo se escrevo sobre mais alguns deles.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Convicções firmes

É necessário mantermos convicções firmes, inabaláveis, enraizadas. Se tivermos qualquer dúvida quanto à Bíblia, ao menos precisamos manter algumas certezas fundamentais. Compartilho com o leitor as coisas das quais eu não abro mão:
1) O SENHOR é o único Deus e não há outro. Ele criou todas as coisas e as sustenta. O Deus que Se revelou na Escritura Sagrada é Soberano, Onipotente, Onisciente, Onipresente e absolutamente justo, santo e bom. É subsistente em três Pessoas divinas e distintas, que, no entanto, não são três deuses, mas apenas Um. Não se trata de doutrina para entender, mas para crer, pois negar a Trindade é negar fartas passagens bíblicas nesse sentido. Ou se aceita a Trindade ou se nega a Bíblia. Não há como combinar crença na Bíblia com descrença na Trindade Divina.
2) Deus enviou Seu Filho Jesus Cristo para nos salvar de nossos pecados. Para isso, o Cristo, Filho de Deus, encarnou, morreu, ressuscitou e foi assunto ao Céu. Jesus Cristo veio ao mundo como Homem, por causa da encarnação, e como Deus, que é eternamente, não sendo simplesmente um homem divinizado nem um deus diminuído. Não podemos duvidar desses eventos principais, que aconteceram de fato, não sendo mitos nem fantasias dos discípulos. Descrer na encarnação, morte e ressurreição de Cristo é não ser cristão. Se Cristo não houvesse ressuscitado, nossa fé seria vã (I Co 15.14). Igualmente, se Cristo não houvera subido ao Céu, não poderia ele consistir nas primícias dos que dormem e no Primogênito dentre muitos irmãos, porque nossa glorificação futura depende disso.
3) Jesus Cristo concede o Espírito Santo a todo aquele que o aceita como SENHOR e Salvador, a fim de promover a regeneração e santificação pessoal e o desempenho do serviço cristão, por meio dos dons espirituais. Não importa muito se o nome disso é batismo com o Espírito Santo, nem se é evidenciado por línguas ou qualquer outro sinal - o que importa mesmo é que nada podemos fazer como cristãos sem o poder de Deus, e que é necessário sermos cheios do Espírito Santo diariamente, com o uso das práticas da oração, da leitura devocional da Bíblia e do culto.
4) Um dia, não se sabe quando, Jesus Cristo voltará para buscar Sua Igreja. Essa é a certeza mais sublime. Não importa se vai ser antes, durante ou depois da Grande Tribulação; não importa se vai ser antes, durante ou depois do Milênio; não importa se vai haver duas etapas de uma só Vinda - o que é mais importante é que Ele virá com poder e grande glória.
5) Há um Céu para justos e um inferno para injustos. Trata-se de duas realidades, e não de dois mitos ou fantasias. Os justos viverão com Cristo eternamente, enquanto os maus sofrerão, também eternamente, a pena de morte pela alienação em relação a Deus. Não sei como é o Céu, mas quero ir para lá. Não sei como é o Inferno, mas não desejo que ninguém vá para lá, porque lá Deus não está.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Para pensar

  • Uma das formas de descobrir a própria vaidade é deparar-se num lugar em que ninguém o conhece e ficar procurando ocasiões para falar de si mesmo.
  • Por mais estranho que pareça, às vezes é difícil discernir entre o humilde verdadeiro e o humilde que se ufana dessa virtude.
  • Posições de liderança e grande exposição pública só deveriam ser dadas a quem não liga para isso.
  • Geralmente, os mais competentes deixam que outros governem.
  • Ninguém se engane: o povo não está nem aí para a democracia. Quem prefere a democracia somos nós, que estudamos, e os intelectuais, os jornalistas e alguns artistas. O povo mesmo não se preocupa nem um pouco com a forma como as decisões políticas serão tomadas. Para ele, o que importa é emprego e distribuição de renda. Nem saúde e educação estão importando mais, infelizmente.
  • Governos de inclinação esquerdista-autoritária revelam a insustentabilidade do mito do bom proletário, assim como não procede o mito do bom selvagem, nem o mito do bom camponês. Todos pecaram, dentro ou fora das elites.
  • O pensamento simplista é a regra. O silogismo é a regra. O tabu é a regra. Pessoas racionais e contestadoras deveriam saber disso, pela lógica.
  • Quem conseguiu transformar o Evangelho numa mensagem de conformismo e vender isso ao mundo fez um grande desserviço à humanidade, e merece sentar no banco dos réus. Mas talvez eu mesmo esteja contribuindo para isso.
  • A religião cristã é tão profundamente cristocêntrica que as pessoas sentem a necessidade de acrescentar alguma regra ou costume. Não se contentam com a pessoalidade da doutrina.

Sobre o Canal Livre de ontem

No Programa Canal Livre transmitido ontem pela Rede Bandeirantes, foram entrevistados um psiquiatra, uma psicóloga e uma psicopedagoga, que falaram sobre a reação da sociedade à exposição diária do Caso Isabella Nardoni.
O que me chamou a atenção foi um trecho da terceira entrevista, em que a psicopedagoga afirmou que a desestruturação familiar trouxe problemas quanto à formação ética dos filhos. Para mim, ela estava certíssima. No entanto, como imaginei, tanto o Fernando Mitre como o Marcelo Parada levaram a questão para o lado de que a remodelação familar não pode ser responsabilizada pelos problemas familiares de hoje, e que estaríamos num período de transição em que a "nova família" precisa ainda se adaptar, cabendo à sociedade resolver esses novos conflitos.
Ante a intervenção dos jornalistas, a psicopedagoga acabou concordando com a premissa de que a família tradicional também tinha seus problemas. Sim, ninguém nega isso. Entretanto, o que ela estava defendendo - e com isso eu concordo - era que os casamentos sucessivos dos pais atrapalham a formação ética dos filhos, que ficam sem saber afinal de contas quem é o responsável, que é a autoridade dentro de casa, pois entram as figuras do padrasto e da madrasta. Diante de uma pergunta do Marcelo Parada sobre a família Nardoni, que para ele parece "forte", ela disse que força não significa ética - mais uma boa afirmação. Uma família forte e unida não é necessariamente um lugar de acolhimento moral.
Outro ponto que eu gostaria de destacar foi quando o mesmo Marcelo Parada reclamou que certa vez, numa reunião escolar de que participou, a escola pediu aos pais que não deixassem os filhos levarem celular para ó colégio, a fim de não atrapalhar as aulas. Parada achou que isso fôsse algum tipo de receio ou medo por parte dos professores, que estariam repassando essa autoridade para os pais. Mais uma vez discordei do jornalista, pois essa autoridade é primordialmente dos pais, e não dos professores. É dever primeiro dos pais não permitir que os filhos levem celular para a escola. Creio que é justamente essa transferência de autoridade que contribui, entre outros fatores, para que as famílias brasileiras tenham se tornado débeis no aspecto da formação do caráter.

A falácia de que o ato civil do casamento é só "assinar papéis"

Em nossa época muitas pessoas preferem "morar juntas", o que no passado era chamado de "se amaziar" ou "se amigar". Hoje existe até mesmo a constitucionalização disso, com a "união estável", a que se reconhecem alguns direitos.
Ouvimos pessoas dizerem que não se casaram ou que não se casarão "no papel" porque o que importa é o amor, a convivência. Dizem que o casamento civil é só "assinar papéis".
Entretanto, sob o ponto de vista jurídico, para maior segurança, o melhor é o casamento formal, sim. Sabem por quê? Porque, na hipótese de uma separação - hipótese sempre cogitada para aqueles que não querem compromisso - fica muito difícil fazer certas provas para efeito previdenciário e sucessório, quando a simples Certidão de Casamento resolveria tudo num só momento.
A burocracia que precede o casamento serve para a prova instrumental da instituição familiar. A Certidão é essa prova, que dispensa, via de regra, todas as outras. Digo "via de regra" porque pode haver uma separação de fato, quando um dos cônjuges poderá querer a comprovação de que já não vive mais com o outro há certo tempo.
De qualquer forma, essa idéia de não se casar para ter "menos dor de cabeça" é um tanto infantil, e resulta da finalidade não-compromissória da relação que se está construindo a dois, uma vez que inevitavelmente haverá conseqüências jurídicas de uma relação mais duradoura ou que gere filhos, ainda que os companheiros achem que deixar de assinar papéis seja a maneira de não ter compromisso.
Quando trabalhava como escrevente judicial num Fórum em Minas Gerais, e lidava com ações previdenciárias, via a dificuldade que envolvia processos em que o (a) autor (a) precisava juntar provas testemunhais e documentais (recibos, cartas etc.) no sentido de que havia um relacionamento afetivo duradouro, e de que esse relacionamento configurava uma entidade familiar, e não um concubinato. Além do esforço e da necessidade de contratação de advogado, havia para o (a) autor (a) o constrangimento de discutir coisas tão íntimas num processo judicial, juntando-se às vezes fotografias que refletissem o convívio familiar e social do suposto casal. Constrangimento maior havia quando a viúva aparecia contestando o pedido da suposta companheira...
Portanto, deixo essa alerta: a formalização do casamento sempre é um bom caminho para aqueles que querem um compromisso conjugal verdadeiro.
Sei que este blog é visitado por poucas pessoas, e entendo que esse tipo de texto serviria a um público diferente daquele com o qual convivo. Mas vale essa reflexão até para aconselharmos as pessoas que porventura depararem com a dúvida.

domingo, 27 de abril de 2008

Crônica: Algumas ponderações para a reforma da Língua Portuguesa

Não me levem a mal, mas tenho a impressão de que a Língua Portuguesa não foi muito delicada com algumas figuras familiares. Refiro-me às palavras "sogro" e "sogra", "madrasta" e "padrasto" - creio que os próprios sogros e padrastos nem gostam desses termos que usamos para designá-los.
O vocábulo "sogro" lembra-me outra coisa, que não sei o que é no momento. Parece personagem de contos medievais, algo assim. Pense na seguinte frase: "Ali naquelas terras, vive um sogro solitário..." Não sugere uma imagem de filme fantasioso?
Quanto à palavra "sogra", além de ser associada ao "sogro", vem com a carga das piadas de sogra - aliás, de muito mau-gosto - e daquele artefato de festas infantis, a chamada "língua-de-sogra". Coitadas! Nunca entendi o motivo disso tudo. Deve ser porque meus sogros são muito gente fina.
Mas temos ainda a palavra "madrasta". Os contos de fadas apreciam essa figura da madrasta, que sempre vem retratada como megera ou bruxa. Lembram da história da Cinderela? E da Branca de Neve, lembram? Não vou citar outras, minha esposa disse que as outras são variantes destas. De qualquer modo, quando falamos de "madrasta", creio que fica impregnada em nosso inconsciente aquela idéia ruim das historinhas de criança.
Com a mudança dos costumes, com os casamentos cada vez mais efêmeros e instáveis, a família brasileira teve sua estrutura remodelada. Dessa forma, as madrastas e padrastos são freqüentes, abundantes.
De fato, há famílias em que os cônjuges (parceiros, companheiros, não sei mais) trazem para o recôndito do lar filhos de casamentos pretéritos, e todos convivem. O pai de um é o padrasto de outro, a mãe de um é madrasta de outro. Desse modo, une-se numa só casa a máxima personificação brasileira do afeto - a mãe - com a boa e velha madrasta. Eis a família feliz de nossos dias, a vitória dos paradoxos!
Há o caso dos casais que se separam e o marido precisa pagar pensão, o juiz regula visitas semanais, essas coisas. Os filhos vão passar finais-de-semana na casa do pai, com a presença inevitável da...madrasta, que na maioria das vezes deve ser gente boa.
Registre-se também que, assim como uma dupla de pai e mãe são os "pais", uma dupla de padrasto e madrasta é denominada "padrastos", o que atribui um peso ainda maior ao que já é denso.
Portanto, diante de todas essas injustiças e à necessidade de adaptarmos nosso vocabulário às transformações sociais, proponho uma reforma línguística no País, que confira maior leveza a essas personagens. Aceito idéias.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Para descontrair

Certa vez num concílio para ordenação pastoral, desses que se fazem em igrejas batistas, um dos examinadores perguntou ao candidato:
- Filho, você acredita na existência do diabo?
- Não senhor, o diabo não existe, respondeu o mancebo.
Grande surpresa dominou tanto os examinadores como os demais pastores presentes. Um futuro pastor que não acredita na existência de Satanás! Que violência aos textos bíblicos!
Com essa resposta inusitada, o concílio conturbou-se. Os examinadores já não queriam prosseguir. O rapaz estaria dando prova cabal de sua inaptidão para o ministério.
No entanto, pedindo a palavra com a mão levantada, um velho pastor jubilado levantou e disse pausadamente:
- Não reprovem o rapaz por causa disso. Uns dois anos de ministério à frente de uma igreja serão suficientes para ele entender que o diabo existe, e como existe...!
Resultado: o concílio prosseguiu e o candidato foi aprovado.

O dinamismo do Evangelho de Marcos

Um dia desses eu estava lendo o Evangelho de Marcos e reparei o grande dinamismo da narrativa. Nele, Jesus é descrito como uma pessoa ágil, trabalhadeira, com muita energia e com uma agenda a cumprir. O mais interessante é que Marcos não atribui essas qualidades a Jesus por meio da descrição nem da dissertação - a narração é que revela esses atributos, o que torna o Livro especialmente belo.
De modo breve, em rápidos lances, Marcos usa expressões e frases que introduzem o Mestre em atividades variadas ou em recuos necessários: "Naqueles dias, veio Jesus..."; "E logo o Espírito o impeliu..."; "foi Jesus para a Galiléia..."; Caminhando junto ao mar da Galiléia..."; "Pouco mais adiante, viu..."; "Depois, entraram em Cafarnaum..."; "Tendo-se levantado alta madrugada, saiu..."; "...entrou Jesus de novo em Cafarnaum..."; "De novo, saiu Jesus para junto do mar..."; "Achando-se Jesus à mesa..."; "De novo, entrou Jesus na Sinagoga..."
As citações que eu poderia fazer são muitas. O próprio leitor pode pesquisar e constatar a mesma coisa: o dinamismo de Cristo narrado por meio de verbos, que ressaltam ações.
Por causa desse estilo de Marcos, essa leitura a que me referi me deu a impressão de que sai fogo do Livro. Não estou usando o termo com o sentido pentecostal, nem quero tratar do fogo como símbolo escriturístico. Não tem nada que ver com isso...
Estou simplesmente dizendo que senti a vivacidade das páginas de Marcos, ao trazer à minha mente como que a efervescência do trabalho de Cristo, curando, pregando, ensinando, expulsando demônios, repreendendo, saindo, chegando, entrando, fazendo tudo isso de novo, nesta ou naquela cidade, na aldeia, em casas, na praça, no templo, na sinagoga ou no deserto.
A emoção, o dinamismo, a vivacidade de Jesus em Marcos contrastam com nossa racionalidade exacerbada, com a frieza dogmática, com o legalismo, com o formalismo, com o intelectualismo, com a insensibilidade, com a distância para com o Ser Humano.
Creio que preciso ler mais o Evangelho de Marcos. Gostaria de tratar mais desse assunto, numa perspectiva mais ampla.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Rebanho, sim; curral, não!

Uma das metáforas para igreja ou povo de Deus é a do rebanho de ovelhas, amplamente usado na Bíblia. Isso tem que ver, de um lado, com a fragilidade da ovelha, e, de outro, com a responsabilidade do pastor em alimentá-la e protegê-la. No entanto, parece que muitos querem tratar a igreja como um curral eleitoral.
As igrejas não podem servir de palanque para quem quer que seja. No máximo, se houver um membro candidato a algum cargo público eletivo, o pastor deve apresentá-lo à intercessão dos santos, como se faz com pedidos de oração por emprego, concurso, casamento, criação de empresa etc. Mas daí a fazer campanha junto ao púlpito há uma grande diferença!
Sou terminantemente contrário a) ao uso das instalações físicas da igreja para fazer menção a campanha político-partidária; b) à distribuição de folhetos político-partidários dentro do templo ou em suas instalações; c) à defesa de determinados políticos, em detrimento de outros; d) à indução a que se vote neste ou naquele candidato; e) ao lançamento de "candidatos oficiais" da igreja, mediante aprovação prévia em comitês ou conselhos políticos; f) à apologia no sentido de que crente tem que votar em crente, como se isso estivesse escrito na Bíblia.
A igreja é rebanho de Deus, e não um curral eleitoral, expressão que se usa para caracterizar grupos dominados por um candidato que se impõe mediante troca de favores e manipulação das mentes.
Tenho dito.

O problema dos pastores políticos

Vou ser sincero: não concordo com o exercício de mandatos públicos eletivos por parte de pastores em atividade. Se o pastor pretende se candidatar a cargo público eletivo, deve se licenciar da função pastoral. Ofício eclesiástico não combina com mandato político.
Existem alguns motivos para eu pensar assim: a) a política envolve interesses que, não raro, podem se confundir ou conflitar com os interesses da igreja, o que causaria uma suspeição na própria atividade política; b) a posição de líder de igreja faz com que o pastor exerça uma influência natural sobre os membros, o que pode acarretar conseqüências ruins em termos políticos; c) seguindo a lei física de que um corpo não pode ocupar dois lugares ao mesmo tempo, fica difícil imaginar que o pastor-político ou o político-pastor exercerá com eficiência as duas funções.
Dessa forma, meus argumentos giram em torno de três aspectos: a) ético - evitar a suspeição; b) político - evitar influência no membro-eleitor; c) lógico - evitar o desgaste e a ineficiência em funções que exigem muito de quem as exerce.
Então, pelos argumentos ético, político e lógico, entendo que o pastor que deseja se candidatar a um cargo público precisa deixar, ao menos provisoriamente, a função pastoral. Não precisa deixar de ser pastor, porque isso é vocação e dom; mas deve, a bem de si mesmo, se licenciar do trabalho pastoral.

O perigo do Estado que tudo vê

Em 1954, Paul W. Anderson (1926-1986) publicou uma obra de ficção científica chamada Sam Hall, em que órgãos governamentais elaboram e disseminam dossiês com informações destalhadas sobre cidadãos*.
Em 2006, o então ministro da Fazenda Antonio Palocci foi acusado de mandar o presidente da Caixa Econômica Federal violar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, a fim de conseguir alguma coisa contra o rapaz, que servia de testemunha num caso de corrupção iniciado em Ribeirão Preto-SP e que aportou em Brasília-DF. Devido à invasão, descobriu-se algo muito pessoal relacionado ao pai biológico de Francenildo, algo que ninguém mais precisaria saber.
Agora em 2008, investiga-se, para desagrado do presidente Lula e de seu governo, se a ministra Dilma Rousseff e alguém sob suas ordens criaram, dentro da Casa Civil, um dossiê com informações sigilosas sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sua esposa e mais algumas pessoas. Depois de algum tumulto, o governo determinou a investigação de quem vazou o dossiê, como se a extração e manipulação de dados sigilosos para fins extra-oficiais não fosse crime.
Andando pelas ruas, somos filmados por câmeras de fiscalização de trânsito, câmeras de segurança de estabelecimentos comerciais, e não sabemos se o Google Earth não está registrando nossas imagens captadas via satélite. Aliás, li em algum lugar que satélites estão flagrando imagens de nudez por aí, cenas da intimidade de pessoas anônimas, e de maneira inadvertida.
Daqui a pouco, estaremos num grande filme. Todos nós seremos personagens de um espetáculo universal de cinema ao vivo. Espere aí: isso já não acontece?
Tenho receio do Estado que tudo vê. Hoje é um caseiro cujo pai biológico vem à tona por causa de uma quebra de sigilo bancário; é um documento repleto de dados sobre pessoas que ocuparam cargos importantes na República. Mas, você já parou para pensar que existem inúmeros bancos de dados em que nossas informações vivem armazenadas, seja em papel, seja virtualmente?
Os bancos contém dados sobre nós, a Receita Federal faz seu mapeamento minucioso, e nós mesmos inserimos dados via internet. Nomes e números, senhas, códigos e perfis. Somos personagens gravados em algum registro informatizado por esse mundo.
Com o caso Isabella Nardoni, a Imprensa não só conta todos os dias sobre testemunhas, laudos e suspeitos, como vasculha informações pessoais, profissionais e familiares dos envolvidos. Sabemos que Alexandre Nardoni tinha um carro e uma motocicleta quando estudante de Direito; que foi reprovado três vezes no exame da OAB; que se apresenta como consultor jurídico, mas que na verdade estagia no escritório do pai; e que seu apartamento foi um presente do pai - eu questiono se essas notícias precisavam ter sido publicadas. Aliás, isso é notícia?
Acho muito curioso a Imprensa dar tantas informações sobre um caso penal e logo em seguida dizer que o inquérito está sob segredo de Justiça. Não há contradição nisso?
Tenho receio do que ocorrerá daqui a poucos anos em termos de violação de privacidade, de intimidade e de sigilo: o Estado manuseando dossiês, a Imprensa perscrutando lares, todo mundo sendo visto por olhos às vezes malignos, e nós sem sabermos se não existe uma câmera escondida na janela daquele prédio abandonado.
Mais do que isso: pode ser que no futuro poucas pessoas dentro de um governo manipulem registros sigilosos sobre você, sem vazamento e com muito cuidado, de modo que você seja conduzido, sem saber, a fazer aquilo que o governo quer que seja feito. Por isso, creio que o vazamento de um dossiê sempre é um mal menor que o próprio dossiê.
*Informações colhidas no artigo Utopia e ficção científica: a "geografia real" e os futuros (im)prováveis, de autoria de Marcos Lobato Martins, na Revista Leituras da História, Ano I, nº 6, Editora Escala, pp.20-27.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

O olhar de um estrangeiro (conto)

Cheguei agora há pouco a este mundo. Estou começando a me adaptar aos costumes de um povo muito diferente. Ainda me pego assustado, surpreso e pensativo. Há muito o que aprender e não aprender com eles.
Vejo homens com roupas cheias de panos andando sob um sol escaldante, que faz o horizonte tremular. Eles usam no pescoço um pano que dá um nó e deixa o calor ainda mais forte. Por cima de uma veste, existe outra, bem calorenta, que se abotoa e esconde parte dessa tira que envolve o pescoço.
As mulheres usam roupas demasiado compridas. Em vez de bonitas, parece que lutam para ficar mais feias. Acho que há uma disputa para ver quem é a mais feia de todas. A fealdade feminina deve ser uma virtude por aqui. A vaidade natural das mulheres foi substituída por alguma coisa que ainda não consegui visualizar.
Parece-me que a moda desse povo é acompanhar a moda de décadas atrás, porque descobri, vendo filmes e livros, que assim se vestiam seus pais e avós. Deve ser, enfim, um critério de bom gosto.
Adultos, jovens, adolescentes e crianças vestem-se com roupas parecidas, mudando só o tamanho. A infância deles é uma etapa que antevê o futuro padronizado de todos. O menino é um homenzinho, a menina, uma mulherzinha. As mesmas roupas calorentas se vêem nas crianças e adolescentes, como um uniforme que varia do preto ao cinza.
Vejo também que esse povo usa um livro sagrado, mas não entende direito o que ele diz. Há uma retórica de que o livro é a palavra divina, mas ao mesmo tempo dizem que não se deve estudá-lo. Em minha cultura, lá no meu planeta, isso seria chamado de contradição, mas realmente não sei como eles denominam esse fenômeno por aqui. Talvez seja normal dizer que um livro é palavra divina e não reconhecê-lo como fonte de ensino. Talvez seja algo do misterioso, do sobrenatural, do místico.
Eles reúnem-se num prédio simples e cantam músicas sagradas. O líder fala, mas nada impede que outros atravessem com idiomas diferentes, que ninguém entende. Às vezes aparece alguém com uma interpretação, mas é raro. Via de regra, falam-se várias línguas, e, por estranho que possa parecer, quanto menos se entende o idioma mais alegria se vê entre o povo!
Acompanhei algumas dessas reuniões. Enquanto o líder falava no vernáculo, havia silêncio. Quando, porém, ele falou em língua desconhecida, houve grande emoção, e outros passaram a dizer palavras em língua desconhecida. A comoção é generalizada quando isso acontece. Eu confesso que ainda não compreendi isso, embora tenha me esforçado bastante. Talvez seja o mesmo interesse pelo misterioso, sobrenatural e místico, como se a sacralidade deles estivesse no desconhecido, e não em algum tipo de revelação.
Outro dia uma dessas pessoas se levantou dizendo que traria uma revelação. No entanto, no meio do discurso, disse que era mistério. Aí eu já não entendi nada: é revelação ou mistério? Mais uma vez aquela questão da contradição!
Tenho lido o livro sagrado desse povo, ao mesmo tempo em que estudo um livro de gramática e interpretação de texto, usado pelas escolas primárias. Usando os princípios gramaticais e de interpretação contidos nesse livro didático, parece que há uma distância entre o que está escrito e o que este povo faz em sua prática, ao menos quanto a algumas coisas de seu culto e de seu discurso.
Será que a regra entre eles é justamente negar e contradizer o escrito para finalmente despertar o âmago das coisas? Será uma tática filosófica? Que lógica conduz esse povo? Quem foi seu fundador? Que estupenda inteligência inspira seus raciocínios? Seria, afinal, a experiência diária e costumeira a chave para se chegar à verdade que eles dizem existir?
Que espécie de cultura é esta? Temo jamais descortiná-la.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Criou o homem seu deus à sua imagem

Deus criou o homem e a mulher à Sua imagem e semelhança (Gn 1.26,27), mas o homem e a mulher criam deuses à sua imagem e semelhança.
Quem destaca os milagres afirma que "nosso Deus é um Deus de milagres", e coloca o sobrenatural como aspecto mais importante, como se prodígios sempre tivessem que ocorrer para confirmar a atuação de Deus na vida humana.
Quem é muito sentimental afirma que Deus é mais amoroso do que justo, esquecendo-se de que amor é ação, mais do que emoção, e de que os atributos de Deus não se contradizem.
Quem é racional demais afirma que Deus não foge a esquemas previamente organizados, e que esses esquemas servem para tudo, desde a Criação até à liturgia cristã.
Quem supervaloriza a justiça social defende a idéia de um Deus que busca fundamentalmente a libertação dos pobres, a emancipação do Terceiro Mundo, o aperfeiçoamento das sociedades por meio da atividade político-partidária e dos movimentos sociais.
Quem é autoritário cria um deus vingativo, mais justo do que amoroso, como um policial do Universo, que espreita a todo instante para ver quem vai pecar. Esquecem que Deus é amor. Esse deus policial impõe medo, um verdadeiro terrorismo, que chama de "santificação" o processo de amedrontamento e aprisionamento de crentes, quando santificação é o processo de amadurecimento ético em Cristo.
Há também o deus materialista, para os que enfatizam o poder, os bens materiais e o dinheiro. Esse deus está muito em voga. Em outras épocas ele foi denominado "Mamom".
Dessa forma, cada um cria o deus que se encaixe melhor a sua ideologia. O problema é querer que o Deus da Bíblia se adapte aos modelos ideológicos. Com isso, cria-se um panteão supostamente bíblico: o deus do milagre, o deus passional, o deus racional, o deus policial, o deus social, o deus materialista, dentre tantos outros que sejam permitidos pela imaginação humana decaída.
Com o aumento das teologias, a gosto do freguês, os deuses se multiplicam.
Além disso, e nesse mesmo contexto, traduções manipuladas da Bíblia, bem como paráfrases, contribuem para as distorções. Hoje existem edições bíblicas dependendo do público. Ora, isso não é perigoso? Não se pode com isso contribuir para o aumento do panteão, pela modificação de características de Deus, adicionando-as ou diminuindo-as?
Portanto, é necessário revisarmos nossos conceitos de Deus. A única maneira de conhecermos a Deus é atentando para a Bíblia. Qualquer outro caminho conduz à criação de deuses à nossa imagem e semelhança.

Sobre filhos e ovelhas

Minha filha Elisa ainda mama no peito, embora tenha quase dois anos e quatro meses - que se completarão amanhã -, e embora já coma arroz, feijão, carne etc. Ela gosta de mamar por uma questão emocional, porque nutrição ela consegue normalmente sem o leite materno.
Elisa mama às vezes quando quer chamar a atenção da mãe, especialmente quando eu estou conversando com ela. Mama várias vezes ao dia, se deixar. De manhãzinha, ela acorda e mama. À noite, para dormir, ela mama.
Miriam tentou alguns expedientes sugeridos, mas não deu certo. Sugeriram sal amargo e outras coisas, mas Elisa encara tudo. Ela quer mamar e, para isso, supera os amargos da vida. Tudo por um motivo emocional, talvez de insegurança, não sei.
No entanto, agora queremos ter outro filho, e parece que o fato de Miriam amamentar diminui a fertilidade. É a Miriam que diz isso, eu não entendo. Dessa forma, ficamos num dilema, pois queremos ter outro filho ou filha, mas só nós sabemos como a Elisa fica nervosa quando a Miriam diz que não vai dar o mamar pra ela. Certa vez Elisa até arranhou o rosto com as próprias unhas, de tanta raiva que sentiu por causa disso!
Assim, mesmo sem precisar do leite materno, porque já passou dos dois anos de idade, Elisa acha que precisa do leite. Enquanto isso, outro rebento ainda não pode ser gerado, e, quando nascer, vai querer, com razão, todo o leite do mundo.
Eu compreendo a Elisa - apesar de não concordar com sua postura. Ela sente-se bem acomodada junto à mãe. Afinal, qual o melhor lugar senão o colo aconchegante de nossa mãezinha? Existe, por acaso, um lugar melhor?
Temos, portanto, uma espécie de dilema que muitos pais devem atravessar. Deve ser tema freqüente de conversas entre mães que passaram por isso e mães que experimentam o fenômeno.
De minha parte, além de ficar na expectativa de que Miriam engravide, vejo-me a pensar no trabalho pastoral...
O pastor cuida de um rebanho com múltiplas necessidades. As ovelhas são diferentes, têm necessidades diferentes. Uma ovelha está crescidinha, mas ainda toma leite materno. Outras ovelhas precisam nascer. As ovelhas maduras são raras. As ovelhas que dão trabalho são muitas. As ovelhas precisam de cuidado constante para tudo: alimento, água, proteção contra lobos e outros adversários. As ovelhas também precisam de defesa contra sua própria fragilidade.
Há ainda o aspecto da diferença de desenvolvimento: cada ovelha cresce e se desenvolve de maneira diferente, há um tempo para cada uma. Não se pode dizer que uma ovelha de três anos terá o mesmo crescimento de outra da mesma idade. O tempo é individual, e por isso merece tratamento personalizado.
Admiro os pastores (de verdade). Admiro os pastores que sabem qual a essência de sua função, que amam as ovelhas que ainda mamam, e que sabem aguardar com paciência o nascimento de novas ovelhas.
O pastor, o pastor mesmo, cuida e ama cuidar. Aliás, se não for para amar, não serve para ser pastor, porque pode ser que a ovelha queira no momento mais atenção do que alimento; pode ser que seu problema seja mais emocional do que moral, intelectual ou espiritual; pode ser que o leite materno seja usado como forma de aproximação, e não apenas como forma de nutrição.
Conseqüentemente, o desafio é equilibrar o crescimento com a relação. Sem crescimento, a gente fica atrofiado e infantilizado. Sem relacionamento, a gente fica desumanizado.

Heróis e vilões

As pessoas, especiamente os jovens, têm seus heróis. O cantor Cazuza disse, com acerto, que seus "heróis morreram de overdose", pois morreram disso mesmo.
Os heróis dos adolescentes de hoje são aqueles personagens monstruosos de desenhos animados ou jogos eletrônicos, com grande violência e ocultismo.
Os heróis de muitos jovens das favelas - que, por eufemismo, se chamam "comunidades" - são os traficantes de drogas, o Primeiro Comando da Capital, o Comando Vermelho, as múltiplas facções dos morros.
Acontece que o herói não dispensa o vilão. Assim, cabe perguntar: quem são os vilões para os adolescentes que apreciam monstros de filmes japoneses e estadunidendes? Será que eles não vêm os pais como vilões, porque estes determinam regras, horários, expedientes, enquanto os "heróis" ganham na força bruta?
E quem serão os vilões dos morros? Ah, essa é fácil: eles acham que os vilões são o governo e a polícia. Em suas músicas de funk e rappy, alguns enaltecem o crime e desprezam as autoridades. Aliás, ontem a Rede Record apresentou, no Repórter Record, uma boa reportagem sobre a apologia ao crime em músicas produzidas nas periferias de São Paulo e Rio de Janeiro. Lá, os vilões são as autoridades, ao passo que as substâncias entorpecentes são as heróinas - desculpem, mas não pude perder o trocadilho - como a maconha, a cocaína e outras tantas.
Para onde vai uma sociedade que cultiva heróis como esses, e que repele vilões como esses? Estamos, pois, diante de uma crise de autoridade.

Glórias que se excluem

A glória de Jesus Cristo foi se humanizar. A glória que os pecadores buscam é se divinizar. É natural, portanto, que haja uma enorme distância entre o Deus-Homem e os homenzinhos autoglorificados.

A era dos títulos

Não se contentando com os nobres títulos de pastor e presbítero, passaram a usar o título de bispo, que, embora bíblico, tem uma conotação de superintendente (epískopos), que não destoa dos termos que já vinham sendo empregados no Brasil. De uns tempos pra cá, no entanto, passaram a outorgar títulos ainda mais ousados, como apóstolo. Soube que lá na Bahia já existe uma figura consagrada a rei! Como disse alguém, não se assuste se daqui a pouco houver líderes se autopromovendo a anjos.

Chefe, pai...

Cuidado com os sistemas em que o pastor-presidente é chamado de "chefe". Mais cuidado ainda com aqueles em que ele é chamado de "pai". De chefe e pai a cacique são dois pulos.

A lógica de um sistema

Todo sistema autoritário alimenta-se da bajulação, e não da crítica ou do mérito. Os críticos ficarão de fora. Os que tiverem mérito servirão em posições inferiores. E os bajuladores, ah, os bajuladores nutrirão sempre o sonho de chegar ao posto do chefe.

Mais sobre Freud, Nietzsche e Marx

Não sei se vai ajudar, mas cabe informar que Karl Marx, que chamou a religião de ópio do povo, era de família protestante. Friedrich Nietzsche era de uma família de pastores protestantes. E Sigmound Freud era judeu, embora nascido na Áustria. Talvez eles tenham se decepcionado com a forma como Jesus Cristo ou Javé lhes foi apresentado. Talvez Marx tenha se chateado com a religião de seu tempo, com a hipocrisia institucionalizada. Quanto a Freud e Nietzche, não sei o que se passou com eles. Mas de qualquer jeito é triste saber o destino intelectual que tiveram, ao desconhecer a Cristo.

Freud, Nietzsche e Marx

Os três pensadores mais exaltados da modernidade são Freud, Nietzsche e Marx. Freud cuidou de enaltecer os impulsos humanos, como se fossem instintos animalescos, sem controle. Nietzsche cuidou de enaltecer a conservação da vida em detrimento de qualquer moral, principalmente da moral cristã, que ele detestava. E Marx cuidou de enaltecer o materialismo, chegando a chamar a religião de ópio do povo. Todos eles são muito admirados, e seus seguidores acham que com isso não precisam de Deus. É como se a psicanálise, a filosofia secularista e o materialismo dialético dissessem a Deus novamente: "Olha, Deus, comemos da árvore do conhecimento do bem e do mal, não precisamos mais de sua ética. Estamos emancipados de ti"; e depois, morressem.

A (in)eficácia do argumento

Nós, históricos e pentecostais históricos, gostamos de combater erros como o fetichismo, o triunfalismo, a confissão positiva e o movimento judaizante com o argumento de que nada disso é bíblico. No entanto, é bom nós sabermos que, embora nosso argumento seja correto, ele não é eficaz, porque esse pessoal não está preocupado com o que é bíblico ou não. Por isso, há que se fazer uma escolha entre a Bíblia e a eficácia.

Mera coincidência?

A Rede Record ataca e imita a Rede Globo. A Igreja Universal do Reino de Deus ataca e imita a Igreja Católica Apostólica Romana. Aliás, a palavra "católica" significa "universal".

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Entre a comoção social e o sentimento de vingança

O caso Isabella Nardoni traz consigo uma série de temas que devem ser discutidos pela sociedade, como a violência doméstica e a brutalidade do ser humano, mas eu gostaria de refletir sobre o limite entre a comoção social e o sentimento de vingança.
É certo que esse tipo de crime costuma causar comoção social, pois uma criancinha de cinco anos de idade foi cruelmente assassinada dentro da casa do pai, com indiciamento do pai e da madrasta, pessoas que deveriam prestar proteção à menina. É natural que todos nós acompanhemos com tristeza os desdobramentos do caso, especialmente porque, se o pai e a madrasta forem culpados, teremos assistido a um filme de mentira e dissimulação, que é quase como matar a menina de novo.
Agora, nada justifica aquele pessoal sem ter o que fazer em frente à delegacia e às casas dos familiares do Alexandre Nardoni e da Anna Carolina Jatobá, alguns jogando pedras, outros pichando muros com palavras ofensivas, outros, ainda, gritando "assassinos" e querendo promover linchamento.
O sentimento de vingança é proporcional à falta de sensibilidade pelo próprio pecado. Ora, se o indivíduo tem consciência de seus pecados, ele não vai acusar sem provas, e não vai querer substituir a Justiça na aplicação da pena. Ele sabe, afinal, que ninguém é melhor que os assassinos da menina Isabella, justamente porque "todos pecaram, e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3.23).
O que muda é o tipo de pecado, a repercussão social, o grau de maldade. No entanto, qualquer um de nós, em determinadas circunstâncias, impelidos por certos sentimentos, podemos fazer coisas abomináveis. Ninguém é justo. Somos depravados, corruptos, precisamos intensamente da graça de Deus.
Linchamentos são um atestado do primitivismo de uma sociedade. Os antigos faziam a chamada "vingança privada", até que a "vingança pública" foi instituída para substituir a ação dos particulares, e, com o passar dos séculos, a pena teve o seu conceito modificado, não sendo mais vista como simples retribuição pelo mal, mas também como forma de reintegração do criminoso à sociedade.
Sei que o crime de homicídio triplamente qualificado - neste caso, segundo a imprensa, por ter sido praticado por motivo fútil, crueldade e contra pessoa indefesa - merece toda a nossa repulsa e indignação. No entanto, deixemos a Justiça resolver esse episódio. Não podemos cultivar instintos também cruéis de punição extra-oficial, pois não somos juízes.

domingo, 20 de abril de 2008

"Tem cuidado de ti mesmo"

Escrevendo ao jovem pastor Timóteo, o apóstolo Paulo diz: "Tem cuidado de ti mesmo" (I Tm 4.16). Essa recomendação tem que ver com a piedade pessoal, com os exercícios devocionais, com a integridade e com a sinceridade.
Se a pessoa não cuida de si mesma, como cuidará de outros?
Em termos práticos, uma atitude errada é ler os textos bíblicos sempre com um sermão em mente, ou por causa da obrigação de pregar. Chega o tempo em que o irmão já não medita mais na Bíblia buscando uma aplicação para sua vida - todo texto passa a ser motivo de possível pregação. Isso faz com que os pecados e limitações do próprio leitor fiquem sem atenção; e faz com que os pecados e limitações dos outros ressaltem aos olhos.
É preciso orar e ler a Bíblia como exercício devocional, e não apenas com o foco homilético.
É preciso ter em depósito, até para poder distribuir. Às vezes a gente dá muito de si, e não preenche os espaços vazios.
A piedade evita o pecado, o desgaste, a amargura, a tristeza, o desânimo, a inveja, o espírito de competição, a tentação da visibilidade.
O Cristianismo Bíblico nos convida a uma religião "de dentro para fora", e não "de fora para dentro". É o aspecto endógeno do Evangelho.
O pastor precisa cuidar de si, pois não é super-homem nem possui garantia de espiritualidade.
Antes de ser modelo para o rebanho, o pastor é um crente em Jesus. E não servirá de modelo se sua vida não corresponder aos ditames da Palavra de Deus.
Vemos também em I Tm 4.16 que Paulo diz: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina". O cuidado pessoal precede o cuidado doutrinário. Cuidar primeiro da doutrina, e não da pessoa, é nulo.
O texto prossegue: "...Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes".
Os deveres de Timóteo vêm sendo listados por Paulo antes da frase "tem cuidado de ti mesmo", porque desde o início da Carta o apóstolo usa de admoestações a seu discípulo, para que seja um ministro aprovado. A vida cristã contém deveres. E para que eu contribua com a salvação de outras pessoas, eu mesmo preciso ser salvo. Não se trata de auto-salvação, porque isso é contraditório - trata-se de cuidar da própria vida espiritual, atendendo ao que Cristo praticou na Cruz.
Em suas Cartas Pastorais (a Timóteo e a Tito), Paulo deixou algumas vezes a expressão "tu, porém", que implica na necessidade de o indivíduo ser diferente, em meio a um contexto de corrupção da teoria e da prática cristã. O mundo pode estar espiritual e moralmente arruinado. Tu, porém, deve estar de pé. Se você e eu não nos preocuparmos com nossas vidas, não haverá integridade em nossas palavras quanto aos demais.
As pessoas que têm juízo crítico aguçado precisam cuidar de si mesmas com ainda maior intensidade. Eu me incluo nisso. Como nós enxergamos as coisas com alto grau de consciência crítica, devemos ter o cuidado para não ficarmos em amargura, pessimismo e desesperança. Não devemos perder a alegria. Somente o cuidado de nós mesmos nos ajudará, em Cristo, a alcançar a verdadeira vitória.
Amém.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Dar um tempo

Penso em dar um tempo para mim mesmo, quero dizer, em favor de mim mesmo: gastar mais tempo em casa, com minha esposa e filha, sem me preocupar com os concursos da vida, sem me preocupar com o curso de teologia nem com as aulas que tenho que preparar para a Escola Dominical - um tempo, não para deixar de ser crente, mas para ser verdadeiramente um crente.
Dar aulas exige ter bastante coisa em depósito, e meu depósito está quase vazio. Na seara espiritual, isso é multiplicado muitas vezes, porque existe a responsabilidade pessoal, a questão da piedade, da disciplina cristã, do caráter.
Assistir aulas exige muita disposição, e minha disposição é bem pequena atualmente. Logo eu, que gosto tanto das discussões teológicas, dos bons professores, e de estar sempre presente na faculdade!
Tenho que orar mais, ler mais a Bíblia, ouvir mais, parar de querer dar opinião em tudo, o que inclui este blog. Tenho que gostar mais de ir aos cultos de minha igreja, sentar numa daquelas cadeiras e apreciar o (longo) andamento daquele roteiro de músicas, orações, testemunhos e pregação.
É difícil para mim dar esse intervalo. Há meses venho precisando disso, e relutando em fazê-lo. Minha esposa acha que eu preciso de férias de verdade. Em todas as minhas férias eu tenho estudado, eu não descanso efetivamente, embora tenha muitas horas de não fazer nada.
Dar um tempo não é recuar, não é fracassar. Uma vez em 2005 eu falei que iria dar um tempo para, naquela época, estudar para concursos, e um irmão me disse que eu deveria buscar em primeiro lugar o Reino de Deus. Ele achou que estudar para concursos seria deixar o Reino de Deus em segundo plano. Eu tive que ir à casa dele para dizer que ele estava errado em pensar assim.
Graças ao estudo, sou formado em Direito e tenho um bom emprego no funcionalismo federal. Minha esposa, minha filha e eu vivemos do que eu faço profissionalmente. Não é uma questão de priorizar o mundo, mas de ter que comer. Além de tudo, eu tenho sonhos também na área profissional e intelectual, um homem de trinta anos não pode se infurnar no templo da igreja o tempo todo. Talvez faça isso quem está sem emprego, mas eu não posso me dar ao luxo de ficar o dia inteiro no templo ou procurando alguma coisa para fazer na igreja.
Mas agora eu preciso dar um tempo por outro motivo, pois até mesmo o estudo para os concursos a minha esposa acha que devo interromper por uns dias. Não que eu esteja estudando muito ou estudando todos os dias, não é isso. O fato é que eu penso sempre nos concursos e na teologia, e emocionalmente vêm as culpas, a frustração, a sensação de não saber para onde estou indo.
Quem fala muito, como eu, precisa redobrar o exercício da escuta. E quem ensina vai receber maior juízo, não é isso que Tiago diz?
Quem sabe nesse percurso eu não descubra que minha suposta vontade de mudar o mundo não seja, isto sim, a tentação de visibilidade e de poder?

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Complexo de messias

"Palmatória do mundo", "salvador da pátria" e "complexo de messias" são expressões relacionadas: a pessoa que vê perseguidores em todos os lados e deseja resolver todos os problemas que existem - e os que não existem - sofre do que se pode chamar de "complexo de messias", aqui sem nenhuma conotação psicanalítica, porque não sou da área de saúde mental.
Refiro-me à expressão "complexo de messias" como designação genérica do espírito de messianismo que toma conta de muita gente, e que eu percebo agora em mim.
De fato, creio que de certa maneira sou portador do espírito de messianismo. Achar que posso resolver questões seculares e complexas com o uso de palavras orais ou escritas é um problema a ser enfrentado. Talvez algumas profecias dirigidas a mim ao longo da vida tenham contribuído para isso, ou a má compreensão delas pela minha cabeça limitada e confusa.
É certo que não vou resolver os dilemas universais, sejam eles espirituais, psicológicos, econômicos, sociais, ambientais, teológicos, científicos, enfim, nada poderei resolver sozinho.
Eu deveria aplicar a visão de alguns colegas abeuenses*, segundo os quais nosso trabalho cristão deve ser como o de uma formiguinha. Com efeito, a formiga trabalha incansavelmente, em grupo, com vistas ao interesse natural e coletivo de guardar para depois, e não busca visibilidade nem posição de mando. Não por acaso, a formiga foi empregada por Salomão como metáfora do trabalho (Livro de Provérbios).
O único Messias que apareceu na Terra foi Jesus, o Cristo. Ele, sim, veio "buscar e salvar o que se havia perdido" (Lc 19.10). Ele veio fazer uma série de outras coisas, que eu poderia citar se quisesse agora abrir a Bíblia para inserir as referências exatas. De toda sorte, lembro que Jesus veio para dar a Sua vida em resgate por muitos; não veio para ser servido, mas para servir; veio para desfazer as obras do diabo; veio para dar vida, e vida em abundância; veio para restaurar, libertar, curar, batizar no Espírito Santo; veio para mostrar o Caminho ao Pai. Jesus, sim, pode dizer que é o Messias.
Todo portador do espírito de messianismo acaba mal, e não ressuscita depois.
*Modo como se denominam os envolvidos nas atividades da Aliança Bíblica Universitária - A.B.U.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Esbórnia

Esbórnia é um país nada sério em que o certo é errado e o errado é certo. Fica nos altos e gélidos confins da insensatez e da iniqüidade. Possui um território vasto, mas um povo sem ética e uma soberania furada.
Na Esbórnia os corruptos andam de primeira classe, dirigem os melhores carros e usam as lacunas da lei para não ser condenados.
Na Esbórnia existe um sistema de defesa, mas as fronteiras são portas abertas para a entrada de drogas e armas. Certos policiais fazem vista grossa para traficantes, que adentram em motocicletas ou aviões.
Na Esbórnia há riquezas naturais e demências morais.
Na Esbórnia a falta de honestidade e a lei do mais forte são cultivadas como virtudes.
Na Esbórnia cada um se preocupa apenas com seus próprios interesses.
Na Esbórnia há muitas festas e folgas.
Na Esbórnia os estrangeiros são recebidos como reis, mas os esbórnios mesmo, quando viajam pra fora, são vistos como visitantes indesejados, e muitas vezes com razão.
A Esbórnia é o país das contradições. Ainda bem que ele está longe, muito longe de nós.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Analisando a frase: "As pessoas omissas geralmente são boas"

Essa frase foi dita por uma colega de segundo grau há cerca de 15 anos, quando a turma discutia um tema de interesse dos alunos, creio que sobre a necessidade ou não de pedir a saída de um professor.
Acho que no calor da discussão, não lembro bem, minha colega saiu-se com esta: "As pessoas omissas geralmente são boas", ou algo parecido. Ela referia-se aos que não esboçavam opinião nenhuma.
Minha colega tinha razão. Devido ao silêncio, as pessoas omissas não entram em polêmicas, não falam besteira, não agridem ninguém. Mas isso não quer dizer que elas sejam de fato gente boa. Significa tão-somente que elas não se expoem à avaliação dos outros, e não arranjam opositores, já que em suas vidas não há confrontos.
A Bíblia diz no Livro de Provérbios que até o tolo quando está calado parece sábio. E Tiago diz em sua Epístola que aquele que sabe o bem que deve fazer e não o faz comete pecado. Assim, a omissão não é necessariamente sábia nem necessariamente justa.
Em contrapartida, as pessoas que entram em polêmicas via de regra atraem dois tipos de pessoas, quais sejam, os admiradores e os opositores. Até mesmo alguns omissos gostam dos polêmicos, porque estes são seus porta-vozes. Outros omissos detestam os polêmicos, porque enxergam divergência como sinônimo de briga.
Agora, você já pensou se Paulo não entrasse em atrito com Pedro quando este demonstrou comportamento dissimulado perante judeus e gentios? Você já pensou se Lutero não entrasse em atrito com a Igreja Romana? E você acha que Jesus Cristo não era polêmico - quando de Seu ministério terreno?
Essa é apenas uma palavra em defesa dos polêmicos, tão injustiçados que são.

A objetividade da Escritura versus a subjetividade moderna*

A objetividade da Palavra ou a subjetividade moderna?
Parece que nestes dias pós ou hiper-modernos (como queiram), assistimos a duas propostas teológicas que tentam resolver o problema de eficácia da mensagem evangélica: de um lado, há os que defendem maior racionalização do discurso evangelístico e da prática eclesiástica; de outro lado, há os que entendem que a missão da Igreja é se adaptar aos novos tempos, dando margem ao subjetivismo, às experiências de cada um, à "nova espiritualidade", à maneira como cada indivíduo quer se chegar a Deus.
Não creio que devamos enaltecer a subjetividade sob o pretexto de com isso estar respeitando o pecador ou sendo sensível aos anseios do mundo.
As experiências só são válidas quando amparadas nas Escrituras Sagradas. Uma experiência carismática, por exemplo, como o falar em línguas, tem base bíblica. Assim, posso unir subjetividade e objetividade. No entanto, usar petrechos como sal, óleo, galho de arruda, rosa, "água sacrossanta e fluidificada", "éfode sacerdotal", e tantas outros objetos, nada disso ajuda a fé de ninguém, porque foge dos parâmetros bíblicos.
Como a fé é confiança na Palavra de Deus, eu preciso atentar para o que Deus diz, e não usar a fé como uma espécie de predisposição mental para conseguir o que eu quiser. Isso não é Evangelho, mas espiritualidade relativista, pluralista e hedonista.
Jesus é o Único Salvador, e é também Aquele que irá julgar os homens segundo as suas obras. Há critérios objetivos, sim.
Por outro lado, penso que a experiência tenha um papel muito importante, desde que bem entendida à luz da Bíblia. A experiência da conversão, a experiência da plenitude do Espírito, a experiência da santificação diária, a experiência de uma cura ou milagre, a experiência da profecia, das línguas ou de outros dons carismáticos, tudo isso possui fundamentação escriturística.
Além disso, Jesus, como o Verbo Encarnado, praticou a experiência do esvaziamento de Si mesmo (kenosis), do sofrimento, da morte, da ressurreição e da ascensão. Tudo isso ocorreu.
Antes, os Evangelhos narram fatos que ocorreram entre Jesus e pessoas que efetivamente existiram. Foram encontros, reuniões, diálogos, confrontos. Jesus falou, ouviu, tocou, amou, cuidou, exortou, ensinou, perguntou, apanhou. Ele teve experiências.
A Bíblia é um Livro que registra experiências, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Algumas delas são para nós hoje, como o exercício de dons espirituais e de ofícios eclesiásticos, mas não passaremos pelo Mar Vermelho nem pelo Rio Jordão divididos, não subiremos num carro de fogo como Elias, não seremos ressuscitados ao tocar nos ossos de Eliseu, não sairemos de Ur dos Caldeus para fundar uma nação.
É necessário dizer que toda essa questão de subjetividade, quando levada ao extremo, cria costumes como os chamados "atos proféticos", que nada têm que ver com a boa hermenêutica e exegese bíblica, porque não partem de uma análise adequada do profetismo israelita, que cumpriu uma função até Cristo. Todo esse movimento judaizante, de imitar festas e símbolos judaicos, é uma aberração porque eleva o subjetivismo acima da objetividade da Bíblia!
Creio que precisamos, sim, observar os cânones objetivos da Palavra do Senhor, para suas doutrinas, e conhecer Confissões de Fé e Credos. Precisamos reafirmar as bases de fé, sempre tendo o cuidado de não destruir o pecador junto com o pecado.
O que não pode acontecer é mudar a mensagem bíblica em benefício de uma suposta adequação da mensagem aos tempos hodiernos.
Podemos mudar o método ou a atitude, sendo mais inteligentes e mais amorosos. Mas não devemos mudar aquilo que é essencial: Cristo morreu pelos nossos pecados.
* Texto publicado também no "site" da Ultimato, na seção "Palavra do leitor". Aqui está com ligeira revisão.

Teólogo jornalista, teólogo jurista

Tenho receio de me tornar, no futuro, um teólogo jornalista, que é aquele tipo de teólogo que escreve sobre as tendências da teologia e da igreja, sobre os movimentos, sobre fatos sociais e históricos, mas sem uma fundamentação dogmática.
Tenho receio também de me tornar um teólogo jurista, que é aquele tipo de teólogo que acusa ou defende teses, mas que não se aprofunda para verificar se suas hipóteses são verdadeiras.
Talvez o meu juízo crítico e meu gosto por escrever me façam inclinar pelo jornalismo, enquanto a formação em Direito certamente me atrai ao jogo da argumentação e da apologética.
Sei que um pouco de jornalismo e de direito não fazem mal ao teólogo, e não posso, em sã consciência, desprezar esses ramos do conhecimento.
Não posso olvidar, por exemplo, que o médico Lucas empreendeu um nítido trabalho de reportagem ao escrever tanto o Evangelho que leva seu nome como o Livro de Atos dos Apóstolos. Ele mesmo diz ter feito "acurada investigação" (Lc 1.3), o que não ocorreu senão a partir de diálogos com pessoas que testemunharam os principais fatos ali narrados. Esse é o caso de um trabalho jornalístico em que se fez teologia, por meio da apresentação de fatos que, ordenados de determinada maneira, apontam para verdades espirituais.
Já um teólogo que fez sua teologia de modo um tanto jurídico foi o apóstolo Paulo, quando na Epístola aos Romanos estabelece a figura de um interlocutor imaginário com quem, ao dialogar, vai fixando a doutrina da justificação pela graça, mediante a fé. Ora, isso não é argumentação? Sim, embora não se trate de dialética, mas de diatribe, a Epístola aos Romanos lança mão de um recurso apologético muito claro.
Antes que alguém me acuse de pedantismo, é recomendável dizer que dialética é a oposição de tese e antítese para se chegar a uma síntese, enquanto diatribe é simplesmente a busca da verdade por meio do diálogo.
Paulo, ao usar a argumentação, não pode ser acusado de legalista, porque legalismo foi o que ele combateu. Uma coisa é o legalismo, que consiste em adotar um código moral como veículo de salvação; outra coisa, totalmente diferente, é o que poderíamos chamar de juridicismo, que seria a adoção da argumentação jurídica ou de palavras jurídicas para explicar um fenômeno qualquer.
O próprio Paulo usou figuras jurídicas para ilustrar verdades espirituais, como a adoção, a tutela, o vínculo matrimonial, o testamento, a herança, além de demonstrar farto conhecimento de direito.
Querem ver? Quando Paulo diz "Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm" (I Co 10.23), ele traça a distinção entre direito e moral, porque nem tudo o que é lícito (jurídico, legal) mostra-se ético. Quando diz que "a letra mata, mas o espírito vivifica" (II Co 3.6), ele afirma que o que importa é a essência da lei, e não meramente sua forma. Toda a proposição de Paulo sobre a lei em Romanos e Gálatas é recheada de conhecimento sobre o papel da lei em termos seculares, e demandariam um livro para sua análise, tamanha a riqueza teológico-jurídica!
Mas, fazendo essas considerações sobre Paulo e Lucas, devo reconhecer que eles foram sábios no uso de seus talentos. Acima de tudo estava a revelação divina, que se serviu do direito e da reportagem para apresentar ao mundo fatos e doutrinas fundamentais. Eles não ficaram disputando idéias pré-concebidas, nem usaram seus conhecimentos para benefício pessoal.
Espero, portanto, escapar de ser um teólogo jornalista ou um teólogo jurista. Quero ser simplesmente um teólogo que eventualmente usa ferramentas de outras áreas do saber.

Sobre pregadores mirins

Há um vídeo no youtube em que uma menina de sete anos de idade aparece como pregadora da Palavra. Seu nome é Ana Carolina Dias, hoje com treze anos, segundo o "site" da Folha de São Paulo.
Pelo inusitado de sua aparição, fizeram até um funk, chamado "Funk da Menina Pastora".
Gritando palavras como "meirmão" e usando um jargão evangélico, essa menininha da Assembléia de Deus aparece no vídeo de seis anos atrás empregando aquela velha alegoria de que as cinco pedras da funda de Davi simbolizavam os atributos do menino apresentado em Is 9.6: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade e Príncipe da Paz.
Alguns podem ficar felizes com isso, achando bonito e dizendo "Olha, Deus usa a quem quer, usa até uma criança". Mas eu acho isso ridículo. Uma criança ou pré-adolescente não tem maturidade para usar o púlpito, não tem experiência de vida.
A menos que se entenda a pregação como uma inspiração direta do Céu para o pregador - o que não é bíblico -, não se pode admitir que uma pessoa sem maturidade se apresente portando o Evangelho como ministra da Palavra. Como a iluminação - e não inspiração - pressupõe a capacidade de entendimento, é impossível que uma criança compreenda a profundidade do que está lendo nas páginas da Escritura a ponto de transmitir com o peso da pregação.
A irresponsabilidade, porém, não é da menina, mas dos adultos que promovem sua apresentação como pregadora mirim. Essa é apenas uma das manifestações da banalização do evangelicalismo brasileiro, em que infelizmente líderes fazem vista grossa para práticas estapafúrdias.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Adorador, cantor evangélico, levita e ministro de louvor

Agora inventaram o tal do "adorador", em lugar do simples "cantor evangélico". Parece até que só ele adora a Deus, e que a adoração se restringe ao louvor musical.
Alguns músicos de igreja se denominam "levitas". Não há nada mais estranho: eles por acaso são descendentes de Levi? Por acaso cuidam do serviço sagrado do Tabernáculo ou do Templo construído por Salomão? Certamente não.
Uma expressão apropriada é "ministro de louvor", que se refere ao ministério (serviço) de entoar louvores a Deus na congregação. Isso, sim, tem lógica, como tem lógica ser chamado de cantor evangélico aquele que se lança ao mercado fonográfico com letras de cunho bíblico.
Com essa moda gospel, o cantor evangélico foi substituído pelo cantor gospel, e ainda criaram a figura especial do adorador...
As pessoas gostam de criar nomes para designar suas idéias inovadoras. Não se contentam com o básico, têm que inventar, e nessas invenções acabam errando.
Não bastasse, as letras das músicas gospel às vezes nada têm que ver com a Bíblia, mas são antropocêntricas, destacando o Ser Humano e seus anseios de "vitória". Que adorador é esse que exalta o Ser Humano? Que gospel é esse? Será que o termo evangélico ou gospel contenta-se com a simples inclusão do nome Jesus no meio da letra, só para justificar a classificação do estilo?
Não estou indo contra os ritmos, até sou bem compreensivo quanto a isso, pois sei que há as preferências musicais e a cultura local. Eu, por exemplo, detesto o estilo que chamam de "Sertanejo", mas como assembleiano tenho que ouvir duplas e mais duplas rasgando a garganta em duas vozes. Isso eu entendo.
O que eu rejeito são as letras pseudo-evangélicas, que buscam endeusar o Ser Humano ou se distanciam da Bíblia por outros motivos.
E, quer saber de uma? Dependendo da música, é mais nobre ouvir 14 Bis e Boca Livre do que Cassiane e Diante do Trono.
Tenho dito.

Vou parar de me chatear

Vou parar de me chatear com o "inchamento" da igreja brasileira.
Vou parar de me chatear com o fetichismo.
Vou parar de me chatear com o triunfalismo.
Vou parar de me chatear com a teologia da prosperidade.
Vou parar de me chatear com os métodos superficiais de crescimento de igreja.
Vou parar de me chatear com o movimento judaizante.
Vou parar de me chatear com os desvios do pentecostalismo histórico.
Vou parar de me chatear com os pregadores teatrais.
Vou parar de me chatear com a confissão positiva.
Vou parar de me chatear com alguns televangelistas.
Vou parar de me chatear com mega-igrejas.
Vou parar de me chatear com a ênfase demasiada em emoções.
Vou parar de me chatear com os cultos em que a gente fica sentado assistindo a uma infindável apresentação de músicas.
Vou parar de me chatear com as ordenações pastorais precipitadas.
Vou parar de me chatear com os silogismos do evangelicalismo prático.
Vou parar de me chatear com a burrice, o egoísmo e a ambição.
Vou parar de me chatear com a tentação da visibilidade que abate pregadores e líderes.
Vou parar de me chatear com tudo isso.
Se eu não parar de me chatear, acho que eu mesmo vou parar.

Dossiê de governo não é crime?

Ontem assisti a uma parte do Canal Livre (Rede Bandeirantes), e só não assisti mais porque a emissora sul-matogrossense que transmite a programação da BAND teve a infeliz idéia de colocar um programinha muito ruim do Sr. Dep. Maurício Picarelli, com a apresentação de um grupo local de samba...Eu realmente não entendo algumas coisas.
Mas na parte que consegui ver, o Ministro da Justiça, Tarso Genro, disse com todas as letras que o governo produzir dossiê com objetivos políticos não é crime.
Isso mesmo: em suma, o Ministro responsável pela Polícia Federal, pela política de segurança pública e por tudo o que tem que ver com o Direito disse que não é crime o governo pegar informações sigilosas a que tem acesso por questão de ofício e formatar um "banco de dados" para fazer jogo político. Dossiê não é produzido senão para pressionar, ameaçar, chantagear ou intimidar.
Agora, gostaria de saber se o Sr. Genro não tem conhecimento ou não tem outra coisa, porque, como bacharel em Direito e advogado, ele deve entender que isso é crime, sim.
Ao menos em tese, houve o cometimento do crime de violação de sigilo funcional, previsto no Código Penal, precisamente no Art. 325, §1º, II. Vejamos:
Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.
§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
(...)
II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000).
Pode até ser que exista, na legislação esparsa, um crime ainda mais específico que o de violação de sigilo funcional, mas isso demandaria uma pesquisa.
De toda maneira, pense comigo: confeccionar um dossiê ou "banco de dados" com o propósito de pressionar e ameaçar adversários políticos, valendo-se do cargo público e do acesso a dados sigilosos, não é uma forma de utilização indevida do acesso restrito?
Alguém pode questionar: como saber qual foi a intenção da produção do tal "banco de dados"? Não pode ter sido para simples organização de informações?
Ora, o elemento subjetivo - nesse caso o dolo [leia-se dólo, e não dôlo] - revela-se por fatos e circunstâncias. Por exemplo, (1) há o fato de que o "banco de dados" foi baseado em gastos, em tese, supérfluos, ou que, expostos à opinião pública, poderiam dar essa impressão, ainda que por força de uma falta de conhecimento por parte dos leigos do que seja um gasto lícito ou ilícito; (2) a Ministra Dilma Rousseff disse que o "banco de dados" foi requerido pelo Tribunal de Contas da União, enquanto este logo tratou de desmentir a versão; (3) o governo ora diz que era um "banco de dados" (Dilma Rousseff), ora diz que era um dossiê mesmo (Múcio Monteiro e Tarso Genro), o que demonstra vacilação quanto à verdadeira história, mais parecendo uma tese de defesa; (4) a determinação do Ministro da Justiça para que a Polícia Federal examine só o vazamento dos dados, e não a produção do documento em si, demonstra, mesmo que sem eficácia - porque não há como dissociar as coias -, o temor que o governo tem de que venha à tona o interesse que motivou a prática do delito; (5) não era preciso fazer um "banco de dados", porque os dados já existiam. Bastava saber onde eles se encontravam e disponibilizá-los quando a CPI os requisitasse.
Se o Brasil fosse um país sério, a simples menção da feitura de um dossiê sob as barbas do presidente da República motivaria uma discussão sobre um impeachment, e creio que para isso nem a boa economia nem os programas sociais seriam suficientes para evitar pelo menos a discussão. O presidente poderia até não ser impedido, por falta de pressão das massas e dos partidos políticos, mas caberia um questionamento firme sobre sua conduta ética.
Mas, em se tratando de Brasil, quimera é falar de ética.

Os teólogos de renome também erram

Quero dar uma palavra rápida e elementar sobre o Teísmo Aberto. Essa linha teológica defende um conceito de Deus como não sendo Onipotente nem Onisciente, mas vulnerável, ignorante do futuro e mais amoroso do que justo. Alguns autores norte-americanos ensinam essa "nova" conceituação de Deus, que na verdade não é nova, porque, segundo o Rev. Augustus Nicomedus Lopes, vem do antigo Socinianismo.
Quando da tsunami que matou cerca de 300 mil pessoas de uma só vez na Ásia, África e Oceania, esses teólogos passaram a escrever sobre a possibilidade de Deus ter ficado tão surpreso e triste quanto nós, seremos humanos. Eles partem do pressuposto de que coisas extremamente ruins não podem fazer parte do plano de Deus, e fogem aos Seus desígnios soberanos.
Esse ensino não se coaduna com a Bíblia. Ainda que fiquemos angustiados ou sem entender os mistérios da vida, precisamos atentar para o que está escrito. As Escrituras Sagradas apresentam-nos um Deus Onipotente, Onisciente e Onipresente, não por meio de uma definição - porque não é possível definir Deus -, mas por meio da descrição de Seus atributos morais e naturais, além da narração de maneiras como Ele vem se relacionando com o Homem.
Criar um deus à nossa imagem e semelhança é um erro e uma tentação a que os melhores teólogos podem sucumbir. Se somos sensíveis demais, a ponto de descrer em dados objetivos da Bíblia, precisamos entender que é Deus Quem fundamenta a Sua Palavra, e que não custa observar o que esse mesmo Deus fala a respeito de Si.
Não devemos ter preconceito: se os subjetivistas estão em igrejas "neopentecostais" - como gostamos de pensar -, é bom pararmos para admitir que eles também podem estar nas academias teológicas, nos seminários, nas conferências bem freqüentadas, enfim, nos círculos da intelectualidade cristã.
De toda sorte, o supostamente racional Liberalismo Teológico não deixa de ser, de fato, um subjetivismo que parte de opiniões pessoais sobre Deus e as Escrituras, apesar de se autoproclamar um ícone da racionalidade.
Essa é, no entanto, apenas uma palavra sem maiores pretensões.
Que Deus nos abençoe.

sábado, 12 de abril de 2008

16 anos de batismo nas águas

Hoje, 12 de abril de 2008, completo 16 anos de batismo nas águas. De lá para cá, muitas coisas aconteceram em minha caminhada cristã, e estou vivo graças a Deus.
Lembro da minha profissão de fé no dia do batismo, porque durante a semana estava em Pojuca-BA, cidade onde estudava, e por isso não pude estar na terça-feira junto com a maioria dos que professaram fé. No dia do batismo, disse: "Quero ser batizado para confessar publicamente a minha fé em Cristo", ou algo assim.
Quem me batizou foi o então vice-presidente da Assembléia de Deus na Bahia, Pr. Davi Brito. Ele tinha chegado havia pouco das Filipinas, e contou o que viu por lá. No tanque cabiam dez candidatos e os dois batizadores. Isso foi em Alagoinhas-BA, na sede de minha igreja, dirigida à época pelo Pr. Joezer Cruz Santana, que está hoje em Feira de Santana.
Tenho colhido as alegrias de servir a Jesus, e não quero perdê-lO de vista. Não posso negar a salvação garantida a mim pelo sangue vertido no Calvário. Errei muitas vezes, acertei algumas vezes. Aprendi sempre. Deus sabe de todas as coisas...
De lá para cá, terminei o segundo grau, fiz faculdade de Direito, me tornei servidor público, casei, tivemos a Elisa, morei em Viçosa-MG, Sete Lagoas-MG e hoje estou em Campo Grande-MS com minha esposa, minha filha e meus sogros.
Nesses 16 anos eu conheci muitas e muitas pessoas, e me tornei amigo de muitas delas. Conheci crentes de diversas denominações evangélicas, desde a Caverna de Adulão à igreja local, passando por todos os ramos do evangelicalismo brasileiro. Tive a imensa honra de frequentar, na Universidade, reuniões do Ministério Campus (batista), Grupo Pentecostal de Evangelização Universitária (GPEU) e Aliança Bíblica Universitária (ABU), tudo isso em Viçosa, onde passei cerca de cinco anos como estudante de Direito.
A maior decisão que tomei em minha vida foi a de seguir a Cristo, como faz a minha mãe há décadas. O Deus de minha mãe e de minhas irmãs - e agora de alguns tios - é o meu Deus também. Não por herança nem por tradição - mas por opção consciente, fruto da minha profunda necessidade do Deus vivo.
Amém.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Devemos dar azo à "nova espiritualidade"?

Pergunto se devemos nos render à chamada "nova espiritualidade", em que, por exemplo, pessoas que se dizem evangélicas misturam o nome de Jesus com amuletos (galhos de arruda, sal grosso, rosas, cruzes...) e práticas não descritas para a Igreja neotestamentária (descarregos, festas judaicas, ritos os mais diversos...).
Em nome da liberdade individual, devemos sacrificar a objetividade das Escrituras? Será que não existe um parâmetro bíblico para os meios de falar com Deus e ouvir a Deus?
Creio que não defendo o legalismo quando penso na fixação de limites, pois é importante admitirmos que o fetichismo é pagão. A Fé Cristã não se coaduna com rituais porque Cristo é a nossa verdadeira religião. Se exagerarmos na questão da experiência que me dá prazer ou me faz achar que Deus está Se agradando de mim, corro o risco de acrescentar à Palavra do SENHOR símbolos que em nada traduzem o significado da Cruz de Cristo.
Não se trata de impor uma forma à religiosidade das pessoas, mas justamente tratar da essência do Cristianismo evangélico. Estamos buscando o quê? Queremos estabelecer uma espiritualidade alheia à Bíblia? Não deveríamos reconhecer que é Deus Quem conhece nossas necessidades mais profundas?
Deus estabeleceu a oração como veículo de conversação com Ele, em nome de Jesus; estabeleceu o batismo nas águas como ordenança de publicação da fé e integração do novo crente à comunidade eclesiástica; estabeleceu a Ceia como memória da morte de Cristo, exercício de comunhão e anúncio da mensagem cristã; disse que Cristo é a nossa Páscoa; propiciou o jejum como disciplina acessória da oração; fixou a reunião pública como ambiente adequado de culto cristão; propôs o ensino em casa, no âmbito da própria família; deu-nos o Seu Espírito para nos consolar, edificar, exortar, ajudar, ensinar. O que queremos mais?
O apóstolo Paulo jamais incentivou o uso de objetos com efeitos espirituais, nem deu margem à subjetividade em detrimento da objetividade escriturística.
Em Éfeso (cf. At 19.8-20), onde ele passou três meses freqüentando a sinagoga - "dissertando e persuadindo com respeito ao Reino de Deus" -houve depois a necessidade de ir ensinar na escola de Tirano, pois os judeus "empedernidos e descrentes" falavam mal do "Caminho" enquanto o apóstolo ensinava.
Assim, por espaço de dois anos, esteve Paulo falando a judeus e gregos, de modo a alcançar um público que habitava toda a Ásia Menor (atual Turquia). Pelas mãos de Paulo eram operados "milagres extraordinários", a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais de seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os espíritos malignos se retiravam".
Note-se que isso ocorreu, e, embora não tenha merecido nenhuma nota contrária da parte do escritor Lucas, não foi tomado como regra para as igrejas. Paulo nunca escreveu em Suas Epístolas que se deve pegar lenços e aventais do pregador e levar até os enfermos, para que sejam curados. Aquilo aconteceu, de fato, mas não é normativo.
Antes disso, em Jerusalém (cf. At 5.12-16), pessoas chegaram a levar enfermos "até pelas ruas e os colocarem sobre leitos e macas, para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra se projetasse nalguns deles". O clima era semelhante àquele de Éfeso, porque havia "muitos sinais e prodígios" operados pelas mãos dos apóstolos. Além disso, as pessoas se reuniam "de comum acordo" no templo (precisamente no Pórtico de Salomão); os crentes eram admirados por todos na cidade; a multidão de crentes crescia "mais e mais"; vinha "muita gente das cidades vizinhas...levando doentes e atormentados de espíritos imundos, e todos eram curados".
Para ambos os episódios, Lucas usa palavras e expressões que denotam um cenário grandioso: "todos os habitantes da Ásia"; "milagres extraordinários"; "muitos sinais e prodígios; "multidão"; "crescia mais e mais"; "muita gente" de outras cidades. O objetivo era mostrar que se tratava de um movimento importante, de bases populares, que não estabelecia metas nem métodos de atração de multidões nem crescimento. A Palavra de Deus era anunciada, o poder de Deus se manifestava, e o resultado era a aceitação em massa de Jesus como Salvador, tanto de judeus como de gregos.
Agora, o que ocorre em nossos dias? Estamos diante de um movimento espontâneo das massas? A Palavra de Deus está sendo pregada a essas multidões que lotam templos monumentais? Milagres extraordinários, muitos sinais e prodígios estão sendo experimentados entre essas pessoas? O uso de objetos com efeitos espirituais - para ajudar a fé - não é concebido e manipulado pelos líderes de grupos eclesiásticos como instrumento de atração das inúmeras pessoas que se acham em demandas variadas?
Dirão que muitos evangélicos de igrejas históricas e pentecostais buscam esses cultos fetichistas, e que por isso não se deve atribuir o fenômeno ao paganismo. Será? O paganismo é exclusivo de alguém? Teremos a coragem de disseminar a idéia de que o paganismo é uma religião estanque, ou não será mais válido dizermos que o paganismo é um traço da cultura brasileira, muito interessado, por sinal, em marcar também a Igreja?
É sério o nosso tempo. Estamos diante de um dilema: ou reafirmamos nossas bases de Fé ou eu não sei onde vamos parar.


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Gostaria de estabelecer contato com você. Talvez pensemos a respeito dos mesmos assuntos, e o diálogo é sempre bem-vindo e mais que necessário. Meu e-mail é alexesteves.rocha@gmail.com. Você poderá fazer sugestões de artigos, dar idéias para o formato do blog, tecer alguma crítica ou questionamento. Fique à vontade. Embora o blog seja uma coisa pessoal por natureza, gostaria de usar este espaço para conhecer um pouco de quem está do outro lado. Um abraço.

Para pensar:

Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

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Bases de Fé

Creio:
Em um só Deus e na Trindade.
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão.
Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
No batismo bíblico em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo.
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus, através do poder do Espírito Santo.
No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo.
Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade.
Na Segunda Vinda de Cristo.
Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo.
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis.
E na vida eterna para os fiéis e morte eterna para os infiéis.