quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Se não conhece, procure conhecer o trabalho do Rev. Augustus Nicodemus


Tenho ouvido frequentemente exposições do Rev. Augustus Nicodemus Gomes Lopes no site da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro ou no blog tempora-mores. Quero recomendar o trabalho desenvolvido por esse pastor reformado, que tem sido muito útil para mim.
Atualmente têm sido ministrados estudos sobre o Evangelho de Lucas, com a posterior disponibilização do vídeo. O mesmo pastor já pregou, durante cerca de dois anos, sobre a Epístola aos Hebreus, material a que espero assistir (as primeiras estão somente em áudio, mas depois começaram as gravações audiovisuais).
Tenho, do Rev. Augustus, os seguintes livros: O que estão fazendo com a Igreja? (Mundo Cristão); Ateísmo cristão e outras ameaças à Igreja (Mundo Cristão); A supremacia e a suficiência de Cristo - A mensagem de Colossenses para a Igreja de hoje (Vida Nova); O culto segundo Deus - A mensagem de Malaquias para a Igreja de Hoje (Vida Nova); e O que você precisa saber sobre Batalha Espiritual (Cultura Cristã). Ainda preciso continuar a leitura do livro sobre batalha espiritual - que é bastante técnico - e do livro sobre ateísmo cristão e outras ameaças à Igreja de Cristo.
Já assisti a diversas pregações do Rev. Augustus na internet, incluindo participações na Conferência Fiel. Por falar nisso, a Editora Fiel cumpre um papel importantíssimo, com a produção, divulgação e envio, por meio eletrônico, de excelente material teológico.
Aprecio muito a forma como o Rev. Augustus interpreta a Bíblia, reconhecendo o valor do texto. E há o estilo: não grita, não brinca, não "se mostra" (alguns colegas de minha infância em Alagoinhas diriam "não se amostra"). Há esmero, preparação, cuidado, zelo pela exposição da Palavra e respeito pelo público.
O Rev. Augustus Nicodemus tem dado uma contribuição relevante à Igreja brasileira, mesmo porque ele sabe que há muitos cristãos pelo Brasil afora que precisam de estudos sérios da Bíblia.
Eu gosto de ouvir. Como eu disse, ouço o Rev. Augustus com frequência, e suas pregações costumam superar os cinquenta minutos. Eu ouço com atenção, respeito e vontade de aprender. Não tenho nenhum problema em sentar e ouvir uma boa pregação ou um bom estudo da Bíblia.
O Rev. Augustus é presbiteriano, e, assim, reformado (leia-se: calvinista). Mesmo não sendo de formação reformada, mas pentecostal, tenho afinidade com várias coisas que caracterizam os irmãos reformados. Há muito preconceito quanto aos calvinistas, mas isso precisa ser derrubado.
De toda maneira, o que deve unir todos os cristãos é a devoção à Escritura como Palavra inspirada, inerrante, infalível e autoritativa de Deus em Cristo. E nisso os reformados podem caminhar junto com os pentecostais, pois os crentes de ambas as tradições defendem esses postulados.
Sei que há outros pastores e líderes cuja contribuição é valiosa, mas aqui eu registro minha experiência com os artigos e exposições do Rev. Augustus, e creio que o eventual leitor deveria aproveitar essa oportunidade também.
 

domingo, 26 de janeiro de 2014

Timóteo, traga os livros!

"Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos" (II Tm 4.13).

Escrevendo ao pastor Timóteo, o apóstolo Paulo lhe pediu que trouxesse os livros, o que guarda plena sintonia com aquele homem tão culto, como se constata a partir da leitura de suas 13 Epístolas.
Paulo era um homem de três mundos: judeu, grego e romano. Era judeu em sua etnia e formação religiosa, "hebreu de hebreus", da tribo de Benjamim, criado aos pés do mestre Gamaliel, versado na Lei, nos Profetas e nos Escritos, tendo passado pelo partido dos fariseus e certamente pelo Sinédrio (cf. At 8.1; 22.3; 26.4,5; Fp 3.5); era do mundo grego porque conhecia a cultura helênica, sua poesia, seus costumes, sua religiosidade, sua filosofia (cf. At 17.16-31; 26.24); e era politicamente romano, pois tinha a cidadania romana (cf. At 22.25).
Paulo detinha noções de direito, o que se depreende de suas alusões a institutos jurídicos como adoção, herança, tutela, promessa, vínculo matrimonial, processo formal, apelação (cf. At 16.37; 25.11; 26.24; Rm 7.2; I Co 7.15; Gl 3.23,24; 4.1,2). E chegou a citar os poetas gregos Epimênides e Arato (At 17.28; Tt 1.12). Nada disso advém de uma vida afastada dos estudos.
Deus não chamou Paulo "de última hora" ao perceber que João, Pedro e os demais apóstolos eram homens simples demais. Não! Deus, de um modo misterioso para nós, separou e destinou Paulo ao apostolado para os gentios, e enquanto estudava, antes de se converter a Cristo, Paulo estava sendo preparado pelo SENHOR. Ele não sabia, mas Deus, sim (cf. At 9.15).
Deus chamou os Doze de acordo com critérios por Ele conhecidos, e chamou Paulo também de acordo com a Sua soberania e conhecimento.
Quero, porém, destacar a humildade de Paulo ao buscar a leitura de livros: diferentemente do que muitos pensam, estudar não é prova de soberba, mas muitas vezes é, isto sim, prova de humildade, porque só o ignorantes convictos creem que não precisam de mais nenhum ensino, e que sua leitura da Bíblia é mais do que suficiente.
Há quem despreze séculos de debates, concílios, estudos!
Ao ler livros úteis à interpretação da Bíblia, seja de teólogos, seja de pastores ou dos Pais da Igreja, busca-se o auxílio de irmãos que vieram antes de nós ou que, em nosso tempo, podem oferecer subsídios a nosso próprio estudo da Palavra.
Elementos teológicos, doutrinários, históricos, geográficos, antropológicos, éticos e exegéticos podem auxiliar o crente (e muito!) na leitura da Palavra de Deus.
O mesmo se deve dizer da tradição e história eclesiástica, jamais como substitutos da Bíblia, mas como componentes que lançam luz à nossa própria interpretação, porque não seríamos inteligentes se olvidássemos a contribuição de outros irmãos!
É lamentável que em nossos dias já não se ouçam frases como "Timóteo, traga os livros". 




 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O milagre mais curioso da Bíblia

Em II Rs 13.20,21 lemos o seguinte:

"20 Morreu Eliseu, e o sepultaram. Ora, bandos dos moabitas costumavam invadir a terra, à entrada do ano.
21 Sucedeu que, enquanto alguns enterravam um homem, eis que viram um bando; então, lançaram o homem na sepultura de Eliseu; e, logo que o cadáver tocou os ossos de Eliseu, reviveu o homem e se levantou sobre os pés".

Eis uma das passagens bíblicas mais curiosas: um homem é ressuscitado depois de o seu cadáver tocar os ossos do profeta Eliseu. Não há nada igual na Bíblia.
Eliseu, o sucessor de Elias, morreu doente. O texto de II Rs 13.14 começa assim: "Estando Eliseu padecendo da enfermidade de que havia de morrer..." O autor do Livro em nenhum momento escreve uma nota de desaprovação a Deus pelo fato de o grande profeta Eliseu ter morrido por causa de uma doença. Tampouco há tentativa de justificar o ocorrido, como fizeram os amigos de Jó (Elifaz, Bildade e Zofar), que acusaram Jó de estar em pecado ou de não ter uma vida suficientemente reta.
O episódio ocorreu no Séc. IX a.C. Israel vivia sua longa agonia espiritual, liderado que estava por monarcas idólatras e maus. O cenário religioso e político não era bom.
Narra o texto que algumas pessoas foram enterrar um defunto, algo absolutamente normal e corriqueiro. Não consta do texto que eles tenham orado para que o morto ressuscitasse. As circunstâncias eram ordinárias. 
Ao ver os moabitas, porém, aqueles que intentavam sepultar o defunto simplesmente foram embora, o que é compreensível, e lançaram o corpo na sepultura do profeta. Entre cuidar do morto e cuidar dos vivos, preferiram a segunda opção. Creio que faríamos o mesmo.
Todavia, em meio a essas circunstâncias normais, ocorreu o inesperado e extraordinário: o homem ressuscitou quando seu cadáver tocou os ossos de Eliseu.
Qual o sentido dessa passagem?
É interessante como surgem explicações estranhas para certos textos bíblicos. Uma dessas explicações é de que esse milagre foi necessário para compor o total de 14 milagres, dobro do que Elias teria praticado. Assim, segundo essa teoria, estaria satisfeito o pedido de Eliseu quando da iminente ascensão de Elias, pois Eliseu pediu para ter "porção dobrada" do espírito de Elias (cf. II Rs 2.9).
A expressão "porção dobrada" sugere a condição de filho primogênito, que recebia em herança porção maior que a destinada aos outros filhos. O que Eliseu quis foi ser o sucessor de Elias em seu ministério profético, um ministério caracterizado pelas demonstrações de poder e pela autoridade espiritual.
Além disso, por que deveríamos dar como certo que Elias e Eliseu praticaram somente os milagres registrados na Bíblia? O SENHOR Jesus não praticou muitos mais milagres do que os registrados nos Evangelhos, como se depreende de Jo 20.30? Não poderia acontecer algo semelhante com Elias e Eliseu?
Há algumas lições que podemos extrair do texto em comento:
1) Deus pode operar milagres extraordinários em circunstâncias ordinárias - uso propositalmente a expressão "milagres extraordinários", recordando o texto de At 19.11. Milagre já é um fenômeno extraordinário, mas a expressão oferece destaque à grandiosidade da obra do SENHOR sobre a natureza.
2)  Deus opera quando quer, como quer, e em favor de quem Ele quer - não sei se alguém orou pela ressurreição daquele homem, mas o fato é que ele já seria sepultado quando Deus o fez ressurgir dos mortos. E isso aconteceu justamente quando os moabitas adentravam o território israelita, e de maneira espantosa. Não poderia Deus escolher momento melhor do que em meio a uma invasão estrangeira? Não poderia Deus usar um método mais "comum", como quando, séculos depois, o SENHOR Jesus orou ao Pai, mandou tirarem a pedra e disse "Lázaro, vem para fora"? (cf. Jo 11). No caso em tela, não! Deus quis fazer do jeito que fez.
3) o crente pode morrer doente - não acredito que tive de escrever isso! Eliseu morreu vítima de uma doença, mesmo sendo ele um homem que Deus usou para operar milagres.
4)  mesmo depois de mortos, os salvos pertencem ao SENHOR - nenhum crente deveria se preocupar com a maneira pela qual Deus irá ressuscitar os que morreram em Cristo, juntar todos os pedaços e transformar o corpo destruído em corpo glorificado. O SENHOR é poderoso. Se não conseguimos crer nisso, creremos em que?

 
 





domingo, 12 de janeiro de 2014

POR QUE DEVO ME PREOCUPAR COM AS PREGAÕES RUINS? (5) O "Outro Evangelho" é anátema

O apóstolo Paulo foi incisivo e contundente em sua crítica aos pregadores de evangelho diferente. Confira o texto de Gl 1.6-9:

"6 Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho,
7 o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.
8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.
9 Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema".

"Anátema" quer dizer "maldito". Assim, ir além do Evangelho de Cristo e pregar "outro evangelho" é algo radicalmente repreendido por Deus.
Não sou eu que estou dizendo, mas o próprio "apóstolo dos gentios"! Não posso ser mais veemente do que Paulo!
No caso dos Gálatas, o problema era o movimento judaizante, que ensinava ser necessário aos gentios observar a circuncisão e a Lei de Moisés para que fossem salvos. Havia, então, um problema fundamental nessa doutrina, que substituía a Cruz de Cristo por prescrições legais. Os Gálatas rapidamente passaram da Graça de Cristo para as obras da Lei. Para isso contribuíram os falsos mestres.
O desejo de Paulo de se fazer entendido exprime-se pela advertência de que o "outro evangelho" não devia ser recebido de jeito nenhum, ainda que, por hipótese, esse evangelho falso viesse a ser pregado por ele mesmo ou por "um anjo do céu".
A seita dos Mórmons começou com a suposta revelação dada por um anjo a Joseph Smith, um americano que viveu no Séc. XIX. O Islamismo teria sido revelado de maneira poderosa a Maomé, segundo ele e seus seguidores. Muitas outras seitas seguiram esse caminho.
Recentemente tornou-se conhecido o caso de um pastor assembleiano que se tornou católico porque teria visto Maria, a mãe de Jesus. Pronto, isso foi suficiente para ele abandonar a fé que recebera.
Em nosso meio pentecostal, há quem diga ver anjos à farta. Nos Estados Unidos, a Assembleia de Deus em Boston, dirigida por brasileiros, se atrapalhou com falsas revelações de anjos, e a confusão não foi pequena. Essa, porém, não é a nossa doutrina.
Pregadores devem se ater ao Evangelho de Cristo.  
 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O PT precisa ser derrotado nas urnas!!!

Urge derrotar o PT nas eleições presidenciais. Alguém precisa fazer isso. Imagino que muitos estejam pedindo a Deus, em suas orações, que a presidente Dilma Rousseff seja derrotada neste ano, e há muitas razões para isso.
A partir de 2003, quando Luiz Inácio da Silva, o Lula, assumiu a presidência - e prosseguindo com a ex-brizolista e hoje lulista Sra. Rousseff -  tem havido um solapamento lento e contínuo das instituições democráticas; um intenso combate ao valor da família tradicional (pai, mãe e filhos); um grande aparelhamento do Estado por petistas e simpatizantes; o financiamento oficial de "jornalistas" que em seus blogs fazem propaganda descarada do Governo; a disseminação da mentira de que tudo o que há de bom veio com o PT e de que tudo o que há de mau veio de FHC ou dos 500 anos anteriores; a promoção da "agenda gay", das injustas cotas baseadas na cor da pele, da descriminalização ou despenalização do uso de drogas, da total balbúrdia no campo e dos conflitos indígenas com índios fabricados e reivindicações estapafúrdias; a compra de votos institucionalizada por meio do Bolsa Família; o uso de movimentos sociais de acordo com interesses partidários e eleitorais; o custeio de grandes empresas com bilhões do BNDES (veja o caso Eixe Batista); a sustentação de uma política de alianças espúrias com tudo o que há de pior na política brasileira, como José Sarney, Fernando Collor, Renan Calheiros, Severino Cavalcanti; a banalização da violência e o exponencial crescimento do tráfico de drogas e do uso de crack, que se popularizou muito nos anos recentes graças à leniência dos petistas, que não controlam as fronteiras; a defesa de "caixa dois" de campanha eleitoral como coisa normal, quando não se passa a mão na cabeça dos mensaleiros condenados pela Suprema Corte; ausência completa de reformas estruturais para o Brasil, sem nenhuma contribuição para o real desenvolvimento do País no longo prazo. Dona Dilma ainda conseguiu a volta do fantasma da inflação acima da meta.
A lista é grande.
Não sou de esquerda, não gosto desse discurso do "nós contra eles", não quero mudar o mundo por meio do ativismo político - apenas viver nele da melhor maneira possível e contribuir positivamente com os que estão à minha volta.
Fico bem com o rótulo de conservador e aprecio a democracia liberal. Já o PT, meus caros, é socialista do tipo moderno, pragmático, que faz capitalismo de Estado e distribuição de benesses com o chapéu dos outros, e tem como símbolos "heróis da Humanidade" como Fidel Castro, Hugo Chávez, Che Guevara, Mao Tsé-Tung, Lênin, Stálin, Trotski. Está bom p'ra você?
Não digo que os cristãos sinceros estejam em pecado se gostam do Lula, da Dilma ou do PT, ou de todos esses, porque se trata de política, e nisso se leva em conta muita coisa: ideologia política, cosmovisão, formação intelectual e política, necessidades ou interesses pessoais, familiares ou de grupo, eventos que em governos passados tenham causado algum trauma... São muitos os fatores envolvidos...No entanto, ao deparar com os fatos, não consigo apreciar a conduta desse pessoal, DE JEITO NENHUM.
Embora respeite os crentes que votam no PT, quero deixar claro que minha consciência rejeita o petismo em razão de incompatibilidade entre o programa desse partido e os valores cristãos. 
Essa não é a opinião do senador baiano Walter Pinheiro, petista das antigas, incapaz de votar contra o PLC 122/06, aquele que buscava supostamente criminalizar a tal homofobia, mas que tinha por objetivo calar a voz de quem afirma que homossexualismo (não vou dizer "homossexualidade"...) é pecado. Só que o Sr. Walter Pinheiro foi pedir votos em minha igreja, a Assembleia de Deus, no ano de 2010, quando de uma reinião de pastores e líderes, na qual eu estava presente a convite de um pastor amigo. E lá o irmão Walter Pinheiro falava como crente, sentia como crente, discorria como crente. Todavia, logo que chegou a ser eleito senador, esqueceu de ser ao menos coerente e dizer o que efetivamente pensa sobre todas essas coisas.
Quero voltar ao ponto: o PT faz mal ao Brasil. Devemos travar a guerra de valores que o próprio PT propõe. Sim, senhores, não são os evangélicos que propõem essa discussão que os petistas chamam de "moralista". Eles é que querem discutir se a sociedade deve ser conservadora ou "progressista". Então, por que temos medo do combate?

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

POR QUE DEVO ME PREOCUPAR COM AS PREGAGÕES RUINS? (4) Pregadores que não conhecem a História bíblica

Um dos vícios do mau pregador é o desconhecimento da História bíblica, e com isso me refiro à História da Redenção. O bom pregador deve compreender que a Escritura Sagrada conta a História da Salvação da Humanidade por meio do sacrifício vicário e expiatório de Cristo, o que foi preparado na Lei, anunciado nos profetas, narrado nos Evangelhos, proclamado em Atos dos Apóstolos, explicado nas Epístolas e celebrado em Apocalipse.
Sem conhecer os eventos histórico-redentivos, e sem entender que a Bíblia expõe uma série de textos coordenados e unidos em Cristo, o pregador corre o risco de se pautar por opiniões pessoais e desvios doutrinários e teológicos, além de empregar textos fora de contexto e fazer interpretações equivocadas, usando a Bíblia como se ela fosse um repositório de promessas e declarações soltas, simples palavras de poder alheias a qualquer possibilidade de sistematização. Tem-se, assim, o caos na pregação.
Um excelente exemplo bíblico de pregador é Moisés, que no Livro de Deuteronômio faz uma série de sermões - por causa disso, alguém já disse que Deuteronômio é o Livro do pregador.
O Primeiro Discurso de Moisés em Deuteronômio encontra-se em 1.1-4.43, e consiste em memória da jornada pelo deserto e exortação à obediência; o Segundo Discurso está em 4.44-26.19, e se refere às leis prescritas ao povo; o Terceiro Discurso, encontrado em 27.1-28.68, contém as bênçãos e maldições; e o Quarto Discurso, registrado nos caps. 29 e 30, trata da aliança firmada em Moabe (os caps. 31 a 34 cuidam de temas como o sucessor de Moisés, palavras de despedida e a morte de Moisés, além do Cântico que ele proferiu).
É digno de nota que as divisões naturais do Livro de Deuteronômio observam uma estrutura similar ao que se recomenda para pregações: 
1) memória do que foi dito ou realizado por Deus quanto ao Seu povo (fatos históricos);
2) declaração do que Deus requer do Seu povo (exigências divinas);
3) exortação à obediência (agora e no futuro).
Ocorre que para rememorar a História bíblica é necessário conhecê-la, e para exortar ao cumprimento da vontade do SENHOR é preciso que o pregador compreenda qual o papel da pregação.
Por ora, deixo a sugestão para que leiamos o Livro de Deuteronômio com a perspectiva do pregador, a fim de que esse importante Livro nos auxilie quando da exposição da Palavra de Deus.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

"Por que tantas pregações tão ruins?", de Carl Trueman

Transcrevo na íntegra o excelente artigo "Por que tantas pregações tão ruins", de Carl Trueman e traduzido por Filipe Schulz, pois se trata de um texto muito pertinente para a discussão das "pregações ruins", objeto da Série deste blog intitulada "Por que devo me preocupar com as pregações ruins".
Leia o artigo, extraído com permissão* do site Reforma21.org:

"Por que tantas pregações tão ruins?"
Autor: Carl Trueman/Tradutor: Filipe Schulz | Reforma21.org.
A pregação é fundamental para o protestantismo. A proclamação da palavra de Deus é o meio primário pelo qual o cristão encontra Deus. Assim, a pergunta óbvia é: por que tantas pregações são tão ruins?
Esse não é um problema encontrado apenas em pequenas igrejas das quais ninguém jamais ouviu. Alguns anos atrás eu estava em uma conferência onde um grupo de pregadores estava sendo apontado como modelos para serem seguidos. Um desses pregadores, de uma das maiores e mais conhecidas igrejas evangélicas do universo dos novos calvinistas fez um sermão cheio de belas anedotas pessoais. Ao fim, ele havia enternecido meu coração em seu favor, como pessoa. Mas como pregação, aquilo foi simplesmente terrível, funcionalmente desconexo do texto bíblico que havia sido lido. Sinceramente, ele poderia muito bem ter substituído a leitura bíblica por um solilóquio de Rei Lear e não precisaria mudar uma sentença sequer do sermão. Pode ter sido eloquente e emocionante; mas, como pregação, foi uma completa catástrofe. E, infelizmente, foi uma catástrofe apresentada para uma multidão de milhares como o modelo do que se fazer no púlpito.
Afinal, por que tanto das pregações, mesmo as das celebridades das conferências, é tão ruim? É impossível responder essa questão em apenas uma frase. Sermões podem ser ruins por uma variedade de razões. Aqui estão oito que me parecer ser as mais significativas. Eu as dividi em categorias: teológica, culturais e técnicas.
Teológica
Primeiro, a razão teológica: para pregar bem, o pregador precisar entender o que ele está fazendo. Entender o que é uma tarefa é básico para fazer bem essa tarefa. Se você pensa que pregação é apenas comunicar informações, entreter ou fomentar uma discussão, isso vai moldar a forma com que você prega. O maior perigo para os estudantes nos seminários é que eles assumem que as aulas que eles ouvem são modelos para os sermões que eles vão fazer nos púlpitos. E não são. Pregação é um ato teológico. O pregador encontra seu correspondente não nos auditórios ou salas de aula nem, na pior das opções, no circuito de stand-up comedy. Ele o encontra nos profetas do Antigo Testamento, trazendo uma palavra de confrontação do Senhor que explica a realidade e demanda uma resposta.
Culturais
Em segundo lugar, há uma falha em prover um contexto apropriado para o treinamento dos pregadores. Os seminários tem um poder limitado; pregar três ou quatro vezes para seus colegas de classe e ser filmado enquanto isso não é uma preparação adequada para o púlpito. E a estranha prática de desencorajar pessoas que não foram licenciadas para tal não ajuda. Como alguém pode licenciar alguém para pregar a não ser que se saiba se ele consegue pregar? E como alguém vai saber fazê-lo se não tiver experiências reais em uma igreja real? A falta dos cultos noturnos em muitas igrejas não é apenas um triste testemunho sobre a perda do Dia do Senhor; também limita as oportunidades de pregação para aqueles em treinamento. Igrejas precisam fazer um trabalho melhor em encorajar aqueles que pensam que foram chamados para serem pregadores para testarem seus dons, talvez em cultos noturnos ou em outras situações. Basta pensar um pouco.
Em terceiro, há uma relativização da palavra pregada e o crescimento da ênfase no aconselhamento pessoal. Eu não estou negando a utilidade do aconselhamento pessoal, mas estou dizendo que a maioria dos problemas que muitos de nós temos deveriam ser lidados muito adequadamente por meio da proclamação pública da palavra de Deus. O mundo ao nosso redor nos diz que somos todos únicos e temos problemas igualmente únicos. Essa conversa sobre exclusividade é bastante exagerada. Precisamos criar uma cultura eclesiástica onde a exclusividade é relativizada e onde pessoas vêm à igreja esperando que a palavra pregada irá lidar com seus problemas particulares. Fico abismado com o fato de que, por mais que Paulo faça algumas aplicações individuais bastante pontuais, ele normalmente opera em um nível mais genérico. Seminários deveriam fazer da pregação a prioridade em todos os níveis; pregadores deveriam aprender a pregar com a confiança de que irão impactar indivíduos para o bem ao falarem com todos eles do púlpito.
Em quarto, , às vezes, um fracasso em estabelecer a própria voz. Tendo sido convertido na década de 80, eu me lembro que não havia nada mais vergonhoso do que ouvir mais um pregador britânico que havia decidido que deveria soar exatamente como o Dr. Lloyd-Jones e pregar por tanto tempo quanto o grande Galês pregava. Muitos sermões brilhantes de meia hora eram implodidos pela necessidade do pregador de esticá-los até a marca de cinquenta minutos.
Hoje, talvez, o problema seja pior. Há alguns anos, questionei um grupo de estudantes sobre quem eram seus modelos favoritos de pregação. Nenhum deles mencionou qualquer dos pastores sob quem eles haviam crescido. Os nomes todos pertenciam ao pequeno e limitado grupo do circuito de pregação das megaconferências.
Isso é desastroso por mais razões, mas não menos pelo fato de que essas conferências apresentam consistentemente como normativo um espectro muito limitado de vozes e estilos. Cada pregador precisa encontrar sua própria voz; a tragédia é que a dinâmica de preencher cinco ou dez mil assentos em um estádio significa que a única voz ouvida é aquela daquele capaz de atrair tanta gente. Mas muitas dessas vozes pastoreiam igrejas onde há pouco contato entre o pastor e o povo. Eles podem encher estádios, mas não são as únicas vozes que os aspirantes a pregadores deveriam ouvir. O tempo e o acaso podem transformar homens em pastores de mega-igrejas. Muitos pregadores muito melhores operam em igrejas menores e são eles que realmente podem testemunhar sobre a importância de se encontrar a própria voz.
Em quinto, nos círculos presbiterianos, pelo menos, é possível que se tenha uma imagem muito grande do ministério. Isso é contra-intuitivo, particularmente vindo de um presbiteriano que acredita que uma visão grande do ministério pastoral é um aspecto importante de uma igreja saudável. O que eu quero dizer aqui é: se a cultura da sua igreja projeta uma imagem tão alta do ministério a ponto da congregação pensar que o ministério ordenado é o único chamado digno para um homem cristão, a consequência infeliz é que homens que não tem as habilidades básicas para serem ministros irão, apesar disso, sentir a necessidade de serem ministros, para poderem servir da melhor forma. E homens, no ministério, que realmente não tem as habilidades pessoais necessárias para pregar não irão pregar bem. Precisamos de igrejas onde um entendimento saudável da vocação cristã é ensinada e cultivada, para que os homens não sintam esse tipo de pressão.
Técnicas
Há muitos aspectos técnicos na pregação, mas aqui estão três das mais comuns falhas técnicas que geram pregações ruins:
A falha da falta de estrutura clara. Minha impressão é que pregadores em treinamento muitas vezes assumem que a estrutura do sermão que prepararam é tão clara para a congregação quanto é para eles. E raramente é. Pregadores experientes conseguem tornar a estrutura clara simplesmente por meio de clareza de pensamento, progressão lógica e sentenças bem conectadas. Até que se atinja esse nível, eu aconselho os estudantes a esclarecerem logo no início qual é a estrutura. “Os três pontos que eu quero que vocês vejam nessa passagem são…” pode ser uma forma muito mecânica de começar a seção principal de um sermão, mas pelo menos deixa claro quais são os objetivos do pregador.
A falha de não conhecer ou não entender a congregação. Isso se manifesta de muitas formas. Normalmente, para estudantes e pregadores recém ordenados, se manifesta em entupir o sermão com o máximo possível de linguagem teológica especializada (conhecida na sala de aula como “terminologia técnica” e no púlpito como “conversa fiada”). O importante não é impressionar a congregação com o seu conhecimento. É apontar as pessoas para Cristo da forma mais clara e concisa possível.
A falha de não saber o que deixar de fora. Talvez, depois da falta de uma estrutura clara, essa é a falha mais comum entre os pregadores em treinamento. Você já leu tudo que poderia sobre a passagem; agora você quer dizer à congregação tudo o que você aprendeu. Você não pode fazer isso. Não faça a congregação beber de um hidrante. Pense com cuidado sobre quais são as coisas  mais importantes para essa congregação nesse momento (o que requer, é claro, conhecer alguma coisa sobre a congregação) e foque nisso. Todo aquele material fascinante restante? Bom, use em outro sermão sobre a mesma passagem um dia.

*A permissão para reprodução consta do rodapé do texto, no site Reforma21.org (endereço: http://reforma21.org/artigos/por-que-tantas-pregacoes-tao-ruins.html).



domingo, 5 de janeiro de 2014

POR QUE DEVO ME PREOCUPAR COM AS PREGAÇÕES RUINS? (3) Pregadores cujas "profecias" não se cumprem

Um dos sinais da pregação falsa é o não cumprimento do que o pregador disse que iria acontecer. Confira o texto de Dt 18.18-22:

"18 Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.
19 De todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, disso lhe pedirei contas.
20 Porém o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não mandei falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta será morto.
21 Se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o SENHOR não falou?
22 Sabe que, quando esse profeta falar em nome do SENHOR, e a palavra dele se não cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o SENHOR não disse; com soberba, a falou o tal profeta; não tenhas temor dele".

O texto transcrito registra o anúncio, da parte do SENHOR, da vinda de "um profeta" em meio ao povo de Israel. O Profeta anunciado por Deus é Jesus Cristo, maior que Moisés. Tudo o que o Profeta disser deve ser acatado, porque Ele fala as palavras de Deus.
Em contraste com o ofício profético de Jesus Cristo estão os profetas que se apresentam falsamente como porta-vozes de Deus ou que falam em nome de outros deuses.
O v. 21 é muito importante e revela a dificuldade que atormenta muitos crentes diante de tantas vozes no mundo supostamente proféticas. Diante da grande confusão, cristãos se perguntam: "se não posso recusar a Palavra de Deus, como saber quando o pregador fala a verdade"?
O critério estabelecido no v. 22 é simples: se o pregador falar em tom de profecia e o que ele disser não se cumprir, deve-se entender que falou "com soberba", e não se deve ter "temor dele".
Não se trata do único critério, mesmo porque nem toda pregação inclui predições. No entanto, cuida-se de um critério bíblico, relevante e útil, que pode revelar falsos profetas de maneira objetiva.

sábado, 4 de janeiro de 2014

POR QUE DEVO ME PREOCUPAR COM AS PREGAÇÕES RUINS? (2) - Pregadores que usam o nome de Deus em vão


Prosseguindo com a série sobre por que motivo devo me preocupar com pregações ruins, tratemos agora do uso do nome de Deus de modo frívolo ou mentiroso.
O Terceiro Mandamento, que proíbe o uso do nome do SENHOR em vão, consta de Ex 20.7 e Dt 5.11, com uma variante em Lv 19.12.
Diz o texto de Ex 20.7:

"7 Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão".

Já o texto correlato de Lv 19.12 traz o seguinte:

"12 nem jurareis falso pelo meu nome, pois profanaríeis o nome do vosso Deus. Eu sou o SENHOR".

Depois do exílio babilônico, os judeus adotaram uma interpretação literal do Terceiro Mandamento, e passaram a não pronunciar o nome de Deus, que, em razão de Ex 3.14, eles consideravam ser YAHVÉH (EU SOU). 
Com o passar do tempo, perdeu-se a pronúncia correta do nome de Deus, pois o texto hebraico não registrava vogais. Somente na Idade Média, muitos séculos depois de Cristo, os judeus massoretas vocalizaram o Texto Sagrado, mas, ao deparar com o tetragrama YHWH, adicionaram as vogais das palavras hebraicas Adonai e Elohim, que significam, respectivamente, "Senhor" e "Deus". Com isso surgiu o nome Yehová ou Jeová*.
Será que tomar o nome de Deus em vão é simplesmente pronunciá-lo, como pensaram os judeus? Conquanto o Judaísmo tenha demonstrado grande temor e reverência, sua interpretação literal não capta o melhor do Terceiro Mandamento. 
Tomar o nome do SENHOR em vão não é citar o nome de Deus em situações comuns da vida, embora cada um de nós deva ter cuidado para não usar de frivolidade em nossas palavras. Cada um deve fazer a sua reflexão sobre como usa o nome de Deus, sobre a maneira como se dirige a Deus, sobre a maneira como se refere a Deus.
O Terceiro Mandamento é, todavia, ainda mais profundo: quando um pregador baseia sua prédica em coisas que Deus não disse ou não vai fazer, está usando o nome do SENHOR em vão.
Os Dez Mandamentos têm, sim, aplicação para a Igreja, em seu sentido espiritual, moral e principiológico*.  Como se pode considerar normal que um pregador fale que Jesus disse o que Jesus não disse? Como se pode considerar aceitável que um pregador pronuncie irreverentemente o nome de Deus como se estivesse se referindo a qualquer pessoa?
O nome na cultura hebraica tinha grande valor e significado. O nome de Deus está relacionado a Seu caráter e Seus propósitos.
Foi por isso que Moisés perguntou o nome de Deus (Ex 3.13), e foi também por isso que o anjo disse a Maria que o nome do menino que iria nascer pelo Espírito seria JESUS, já que Ele salvaria o Seu povo dos seus pecados (Mt 1.21).
O múltiplo nome do Messias é apresentado em Is 9.6: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.
O nome do SENHOR é "santo e tremendo" (Sl 111.9; Lc 1.49); "glorioso e terrível" (Dt 28.58; Is 63.14).
Jesus manifestou e deu a conhecer a Seus discípulos o nome de Deus Pai (Jo 17.6,26). Vê-se, pois, que o nome de Deus se confunde com o Evangelho.
Longe de usar o nome do SENHOR em vão, deve-se orar "Santificado seja o teu nome" (Mt 6.9).
Orar em nome de Jesus é orar de acordo com a vontade do SENHOR, submetendo a própria vontade aos Seus desígnios, e pedindo aquilo que esteja em consonância com o caráter divino (cf. Jo 14.13,14).
Temos dito o suficiente para que fique clara a necessidade de pregarmos reverentemente em nome do SENHOR?
Que Deus use de sua infinita misericórdia em nosso favor.

*O próprio mandamento da guarda do sábado (Ex 20.8-11) tem em si o princípio da administração do tempo e da priorização das coisas de Deus, embora não deva ser tomado em sua acepção literal para a Igreja - porque, entre outras coisas, o sétimo dia tinha feições cerimoniais não aplicáveis ao Novo Testamento. Mas este é outro assunto.


 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

POR QUE DEVO ME PREOCUPAR COM AS PREGAÇÕES RUINS? (1) - Pregadores que põem em dúvida a Palavra de Deus


Quero apresentar uma série de reflexões sobre os motivos que devem nos conduzir a uma preocupação séria com a pregação da Palavra de Deus em nossos púlpitos.
Estou atento especialmente à situação da Assembleia de Deus, que conheço, mas sei que a Igreja brasileira tem passado por um período crítico no que toca ao próprio conceito de pregação.
Com a expressão "pregações ruins", propositalmente genérica, refiro-me a pregações sem fundamento bíblico, heréticas, emocionalistas, triunfalistas, subjetivistas, antropocêntricas ou sem observância de mínimos critérios de hermenêutica. Podem ser tudo isso ao mesmo tempo ou reunir algumas dessas características.
Comecemos pelo Livro de Gênesis, justamente o Livro dos começos.
Um dos perigos que rondam os nossos púlpitos é o dos pregadores que põem em dúvida a Palavra de Deus
A primeira personagem a por a Palavra do SENHOR em dúvida foi a serpente, que era o próprio Satanás corporificado.
Leiamos o texto de Gn 3.1-5:

"1 Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?
2 Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer,
3 mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais.
4 Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis.
5 Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal" (grifei).

Primeiramente, vê-se que a serpente inicia a tentação com uma pergunta: "É assim que Deus disse (...)?" A serpente não estava propondo um exercício de aprendizagem - ela queria estabelecer a dúvida, a desconfiança, para depois passar à flexibilização, à relativização da Palavra de Deus.
Observe o aspecto negativo ressaltado pela serpente, segundo a qual Deus teria simplesmente proibido o Primeiro Casal de comer de toda árvore do jardim, o que poderia significar a vedação não apenas da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, mas de outras árvores. Ocorre, porém, que Deus ensejou a Adão e Eva o aproveitamento de toda árvore do jardim, à exceção daquela Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal (Gn 2.16,17).
Ora, uma coisa é dizer: "Podem comer de tudo, menos daquilo ali". Outra coisa é dizer "Vocês não podem comer de tudo o que há neste lugar". Assim, a serpente enfatizou o aspecto negativo em detrimento do aspecto positivo da ordem divina.
Outro aspecto que se pode observar é que a serpente induziu o Primeiro Casal a suspeitar das motivações do próprio Deus. Deus havia dito que eles não podiam comer da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal para que não morressem (Gn 2.17). A seu turno, a serpente disse que a real motivação de Deus era impedir que Adão e Eva se tornassem como Deus, "sabendo o bem e o mal". Dentro disso está a mentira de que conhecer o bem e o mal transforma o ser humano em ser divino.
Deus conhece o bem e o mal, não por experiência, mas por Onisciência - Ele conhece todas as coisas. Já o Primeiro Casal veio a conhecer o bem e o mal por causa de sua experiência de transgressão. Vale dizer que comer do fruto proibido significou para eles uma proclamação de independência em relação a Deus, como se não mais precisassem se alimentar da ética do SENHOR, e como se pudessem estabelecer sua própria ética (alienação, emancipação, separação, arbítrio).
Além da heresia de que o Homem pode se tornar como Deus (divinização do ser humano), houve consequências práticas imediatas: vergonha, culpa, medo, contenda. Incontinenti vieram as maldições: o prejuízo ao meio ambiente, a injustiça social, o trabalho penoso, a opressão da mulher pelo homem, a multiplicação da dor do parto. O principal efeito foi a própria morte espiritual, que consiste na separação em relação a Deus, a perda da presença do SENHOR, bem representada na expulsão do jardim (cf. Gn 3.6-24).
Estou comentando essa passagem para mostrar que qualquer dúvida deliberada sobre a Palavra de Deus pode trazer consequências terríveis, e para afirmar que a serpente foi quem começou a pregação mentirosa.
Satanás é "a antiga serpente", "o grande dragão", o "diabo", "o sedutor de todo o mundo" (Ap 12.9), que Jesus disse ser "mentiroso e pai da mentira" (Jo 8.44). Então, toda inserção deliberada de dúvida quanto à Palavra de Deus provém, em última análise, do diabo.
O Liberalismo Teológico - em declínio na Europa e Estados Unidos, mas com algum avanço no Brasil - firmou-se na dúvida. 
Na palestra O dilema do método histórico-crítico, ministrada no Congresso Internacional de Religião, Teologia e Igreja - Uma abordagem contemporânea* -, o Rev. Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes afirmou que o Liberalismo, com origens nos Sécs. XVII e XVIII, se abeberou de quatro fontes: o Humanismo da Renascença; o Iluminismo Alemão; o Teísmo Inglês; e o Ceticismo Francês. O produto dessa mistura racionalista, antropocêntrica e pseudo-científica foi o pensamento teológico liberal, que se firma na dúvida em relação à Palavra de Deus.
Criar dúvidas na mente do ouvinte - seja para mostrar uma erudição que nem sempre se tem, seja para dar curso à incredulidade, seja para qualquer outro fim - é um expediente que deve ser plenamente rechaçado.
Alguém que conhece as igrejas pentecostais e especialmente a Assembleia de Deus pode estar se perguntando se o Liberalismo Teológico tem assaltado os nossos púlpitos. Embora eu não conheça pregadores pentecostais declaradamente liberais, tenho razões para supor que eles logo aparecerão, ou que já estão em algum lugar, pelo seguinte:
1 - Muitos pentecostais estão cursando Teologia em instituições liberais;
2 - A teologia da "neopentecostal" Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) inclui a encenação de fatos do Antigo Testamento como se o que valesse fosse a experiência espiritual que isso pode trazer, algo que os liberais ensinam (conquanto a IURD não seja pentecostal, mas provavelmente "pseudopentecostal, sua influência sobre os pentecostais não deve ser subestimada);
3 - Pregadores pentecostais têm dado sinais de que retiram suas pregações da internet, sem nenhum critério. Sabemos que a internet é um instrumento muito útil, mas também pode ser muito perigoso se o internauta não tiver discernimento suficiente para aferir a veracidade e confiabilidade das informações, bem como as credenciais dos que ali deixam suas pregações e ensinos.
Devemos, pois, ter bastante cuidado com as pregações que põem em dúvida a Palavra do SENHOR, pois nenhuma dúvida que infirma doutrinas fundamentais procede de Deus.

 

* Disponível no Youtube.



Por que nós assembleianos somos tão suscetíveis a maus pregadores?

Nós da Assembleia de Deus somos muito vulneráveis a maus pregadores. Ouvimos de tudo em nossos púlpitos. Deixamos que pregadores despreparados ou mal-intencionados digam as maiores bobagens em nossas igrejas, principalmente em festas e congressos. Por que isso acontece?
Tenho algumas hipóteses, que devem ser tomadas em conjunto:
1 -  Não cuidamos devidamente da preparação, ordenação e disciplina doutrinária. 
Igreja centenária, a Assembleia de Deus pensou por décadas que o estudo teológico não era importante, mas, ao contrário, imaginava que a teologia era nociva à fé. Isso se deve em parte a uma característica do próprio Movimento Pentecostal, que confundiu razão com racionalismo, e formação intelectual com desprezo à obra do Espírito Santo.
Deixamos de enviar nossos aspirantes ao episcopado a seminários. Sequer tínhamos seminários. 
Há alguns anos essa lacuna foi percebida em alguns Estados, mas o saldo negativo já era imenso. Hoje existem faculdades teológicas ligadas à Assembleia de Deus, além de instituições de ensino que buscam formar obreiros, incluindo o método de criação de núcleos em cada cidade, com material encaminhado pela sede do instituto. Há também convenções que exigem um mínimo de conhecimento teológico por parte dos candidatos ao ministério episcopal e ao diaconato, ao menos com a obrigação de presença em cursos teológicos de curtíssima duração.
De toda maneira, os mecanismos de qualificação teológica e doutrinária são tardios e insuficientes. 
Quando um pregador fala impropriedades no púlpito, dificilmente acontece o usual em igrejas históricas, nas quais o pregador é chamado a uma conversa com o pastor ou com alguma instância da denominação. Como pentecostais, pensamos erroneamente que isso seria ingerência indevida na ação do Espírito. Todavia, isso não procede, pois sabemos ser firmes quando convém: por exemplo, quando o pregador diz coisas contrárias à doutrina do batismo com o Espírito evidenciado necessariamente por línguas, ou quando fala alguma coisa diferente sobre dons espirituais. Não sei se somos criteriosos quanto a estes temas por amor à doutrina bíblica ou porque mexer com a tradição pentecostal é mexer com a nossa identidade, e, portanto, com os nossos brios.
2 -  Temos cedido à tentação do crescimento numérico a todo custo.
Mesmo que nem sempre dê certo, temos imaginado que chamar pregadores de prosperidade e triunfalismo vá encher os bancos de nossas igrejas, porque vemos isso acontecer nas igrejas classificadas como "neopentecostais" (pseudopentecostais). Assim, temos sido pragmáticos, e com isso relativizamos a doutrina.
Ainda que com algum pudor e sem fazer coisas como fogueira santa de Israel, uso de sal grosso e galho de arruda, bem como encenações reproduzindo fatos do Antigo Testamento, já estamos propagandeando a unção com óleo e marcando o dia e a hora em que Deus vai operar! É assim que as coisas começam.
Depois é o professor de escola dominical que tem de consertar tudo...
3 - Heresias ligadas à Batalha Espiritual têm sido absorvidas como se fossem irmãs do pentecostalismo.
 É curioso, mas bobagens e heresias relacionadas à Batalha Espiritual - não ao ensino correto, mas à teologia falsa de Batalha Espiritual - têm adentrado aos arraiais assembleianos como se fossem a mais pura verdade, e como se desacreditar nesses erros fosse o mesmo que desacreditar na Palavra de Deus e especialmente na doutrina pentecostal. 
À falta de conhecimento do que a Bíblia verdadeiramente ensina sobre anjos e demônios, possessão demoníaca, céu e inferno, armadura de Deus etc., os crentes acabam sendo arrastados por essa torrente que envolve maldição hereditária, arrebatamento até o inferno (!), quebra de maldições, objetos com poderes espirituais, classificação de demônios, suposto dom espiritual ou ministério de libertação, objetos e instituições amaldiçoadas, territórios de Cristo e territórios dos demônios, ensino de que salvos podem ser endemoninhados.
Precisamos estudar mais a Batalha Espiritual à luz da Bíblia e demonstrar que se pode exercitar o poder espiritual sobre os seres malignos sem pensar e fazer tanta besteira.
4 - Estamos preocupados com a arrecadação financeira.
Lamentavelmente - não sei se por desorganização administrativa, elaboração de projetos incompatíveis com a realidade ou outro motivo menos nobre - estamos sempre preocupados com a necessidade de arrecadar mais dinheiro do que aqueles que as reuniões ordinárias da Igreja oferecem com os dízimos e ofertas. 
Sabemos que os pregadores que pedem dinheiro não têm grande compromisso com a Palavra, mas, o que se há de fazer? Eles pedem dinheiro, apelando não raro ao apetito do povo por bênçãos, e se supõe que os erros doutrinários e teológicos serão consertados depois.
5 -  Cremos erroneamente que basta a cada um filtrar o que ouve.
Temos sido demasiadamente pacientes com esses maus pregadores. Apelamos àqueles textos bíblicos que dizem para termos paciência, para sermos críticos como os irmãos de Bereia  (cf. At 17.11), para examinarmos tudo, retendo o que é bom (I Ts 5.21), para julgar as profecias (I Co 2.15; 14.29) e provar os espíritos, se procedem de Deus (I Jo 4.1). 
No entanto, embora necessário, isso não é suficiente - é preciso não dar ouvidos aos falsos profetas (Jr 23.16). Há uma série de textos contra os falsos profetas, falsos líderes e falsos mestres, mas quero tratar disso em outra ocasião, se possível.
Se o leitor tiver outras hipóteses, reflita consigo e aprofunde essa questão.


quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A família nas Escrituras

Deixo aqui para eventuais interessados algumas reflexões que preparei para falar numa de nossas congregações aqui em Salvador/BA, no ano de 2013, sobre "família". Vejamos:
1. Deus criou a família antes da Igreja e antes da sociedade. Trata-se, pois, de uma instituição divina. Em Gn 1.26-28, Deus ordena a Adão e Eva que cresçam e se multipliquem. Em Gn 2.18, Deus afirma que "não é bom que o homem esteja só". Estabelecido o princípio gregário, a família foi criada, e nisso se constata forte vínculo entre a família e a sociedade. O texto de Gn 1.26-28 revela os aspectos da espiritualidade, moralidade, igualdade entre os cônjuges, sexualidade e responsabilidade, o que torna a família caracterizada por traços biológicos, relacionais, assistenciais, éticos e sociais. 
2. Deus revelou-Se a uma família. Abraão, Isaque e Jacó, chamados por Deus, deram início a uma família que veio a se tornar o povo de Israel (família-clã-tribo-povo-Reino). Muitas histórias patriarcais narradas em Gênesis mostram conflitos e sentimentos típicos de relações familiares. A família de Davi passou por sérios problemas por causa de pecados cometidos.
3. As genealogias são registros de famílias (Antigo e Novo Testamento).
4. A Igreja é a “família de Deus”. Ef 2.19.
5. As Escrituras valorizam a família. No Antigo Testamento há, por exemplo, ênfase nos valores transmitidos pelos pais (Pv 4.1-5; 6.20-23; 13.1; 14.1; 17.21; 19.18; 22.6; 23.22). Usa-se muito a expressão “filho meu” (1.8, 10, 15; 2.1; 3.1, 11, 21; 4.10, 20; 5.1 (7), 20; 6.1, 20; 7.1; 23.26; 24.13,14). A missão da mulher virtuosa é descrita em Pv 31.10-31.
6. O Novo Testamento também valoriza a família. O texto de Ef 5.21-6.4 trata de autoridade e submissão, liderança, espiritualidade, amor, educação cristã, honra, disciplina. O texto de Cl 3.18-21 cuida de submissão, amor, obediência, cuidado paternal. I Pe 3.1-7 trata de testemunho, simplicidade e modéstia cristã, dignidade, igualdade entre os cônjuges, espiritualidade,  vida em comum, discernimento. I Tm 3.2,12 ensina que os obreiros devem dar o exemplo na condução de suas famílias. I Tm 5.8 mostra que a família é ambiente de assistência e previdência.
7. O inimigo pretende desorganizar as famílias. 
Está em curso a agenda política da militância homossexual, apregoando a adoção de crianças por duplas homossexuais -  o que já ocorre -, e novas definições da sexualidade e da própria família, com a defesa de “novos modelos de família”. Tem-se apresentado como algo normal a família monoparental e a família de pais homossexuais.
É próprio das esquerdas a intervenção do Estado na vida privada e doméstica, o que adentra à esfera da educação e disciplina dos filhos. Eles querem reinventar a orientação sexual e influenciar a ideologia e a cosmovisão. 
A família deve ser uma proteção para o indivíduo, e por isso as esquerdas e o liberalismo teológico têm lutado contra os alicerces familiares firmados por Deus na Sua Palavra.
Não é de hoje que esse ataque existe, procedendo de variadas fontes. Em Esparta, cidade-estado altamente militarizada, as crianças pertenciam ao Estado e desde cedo eram arrebatadas dos lares familiares para o treinamento bélico. Na Alemanha Nazista, crianças eram tomadas para a doutrinação nacional-socialista. O Comunismo Soviético, cujo traço fundamental é o totaliarismo, era avesso aos valores individuais e familiares. Se os comunistas e socialistas punham o Partido acima do indivíduo, os regimes fascistas - entre os quais o Nazismo - enxergavam o Estado nesse patamar.
Há através dos séculos uma tendência “coletivista” de eliminação da família, entendendo-se erroneamente o indivíduo como filho do grupo social ou comunidade. O Socialismo Marxista entende que a família tradicional é uma invenção burguesa, capitalista.
Não se trata de moralismo, mas precisamos defender valores cristãos a respeito da família. Tenho receio de que não estejamos verdadeiramente atentos a isso.



Deus não era digno de abrir o livro? Cristo vivia dentro de Deus?

Fomos surpreendidos no domingo (29/12) por um pregador que, a pretexto de comentar alguns versículos de Apocalipse 4 e 5, baseou toda a sua exposição em dois erros fundamentais: 
1) que Deus Pai não seria digno ou não teria poder de abrir o livro "escrito por dentro e por fora"; 
2) que Jesus Cristo não era conhecido dos anjos antes de retornar glorificado aos Céus, após a ressurreição, pois desde a eternidade Ele teria vivido "dentro de Deus".
Sim, caro leitor, isso foi dito do púlpito da igreja em que congrego, para espanto de muita gente.
Como se estivesse ensinando coisas muito profundas, o pregador apelava à compreensão do público, com insistentes pedidos de que olhássemos para ele, e com perguntas sobre se estávamos entendendo sua (complexa) mensagem.
Trata-se de erros fundamentais porque agridem o Texto Sagrado com relação à Doutrina de Deus e à Doutrina da Trindade, áreas em que o bom pregador não deve falhar, e que devem ser de conhecimento mínimo de todo cristão, pois constituem as Bases de Fé.
Na verdade, grandes controvérsias teológicas da Era Patrística giraram em torno justamente da Doutrina de Deus, da Doutrina da Trindade e da Doutrina da Divindade de Cristo. Concílios de relevância histórica foram realizados, e o pensamento da Igreja se firmou a partir da interpretação das Escrituras.
Comecemos pela primeira afirmação, de que Deus não seria digno ou não teria poder para abrir o livro. Vejamos:
(1) É necessário esclarecer que o livro selado com sete selos representa todo o conteúdo de revelações sobre o fim de todas as coisas, algo que seria transmitido a João pelo próprio SENHOR Jesus Cristo, o "Leão da Tribo de Judá", o "Cordeiro", a "Raiz de Davi", o "Soberano dos reis da terra".
Ao perguntar quem seria digno de abrir o livro, o "anjo forte" mencionado no v. 2 do cap. 5 não se referia a Deus, mas às criaturas. Como se diz em matemática, Deus não pertence a esse conjunto. O SENHOR Jesus Cristo, embora seja Deus, é também humano, porque encarnou para salvar os pecadores pelo derramamento de Seu sangue. Então, Cristo pertence ao conjunto das criaturas nesse sentido. 
Na economia da Redenção, o Pai enviou o Filho; o Filho encarnou, viveu, morreu, ressuscitou e foi glorificado; o Espírito aplica a Salvação ao coração do pecador que aceita o Evangelho pela Graça, mediante a Fé. Cada uma das Pessoas da Trindade assumiu, por Sua própria vontade soberana, uma das tarefas da Redenção. 
Coube ao Filho, pois, anunciar a João as coisas que haveriam de vir - o que resultou no Livro de Apocalipse - porque Cristo foi o executor da Obra da Salvação. 
Cristo veio para "buscar e salvar o perdido" (Lc 19.10). No entanto, "o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento" (Jo 5.22). Esse pode ser o texto-chave para responder à heresia de que ora se cuida! Se ao Filho foi confiado todo julgamento, ao Filho foi confiado o direito de anunciar o julgamento.
Deus não conhece limites nem - preciso dizer isso mesmo? - indignidades. Deus é digno! Deus é o Todo-poderoso! Deus é Quem determina, planeja, cria, faz, liberta, transforma, faz nascer, faz morrer, edifica, derruba, planta, arranca. O Deus Pai confiou ao Deus Filho o poder de abrir o livro e desatar seus sete selos. Em outras palavras: o Deus Pai delegou ao Filho o poder de anunciar e controlar todo juízo.
Agora, vamos ao segundo erro ora examinado, que afirma ter Cristo saído de dentro de Deus.
(2) Essa declaração de que Jesus estava dentro de Deus parece extraída daqueles mitos das divindades pagãs. Na mitologia babilônica, o deus Marduque era filho da deusa Tiamate, mas veio a matar sua mãe e dividir o corpo em dois pedaços, com os quais teria criado os céus e a terra. Na mitologia grega, havia casamentos entre os deuses, e toda sorte de confusões. No Xintoísmo, religião nacional do Japão, o arquipélago japonês teria sido criado a partir do casamento de dois deuses. Dizer que Cristo estava eternamente dentro de Deus é qualquer coisa bizarra, na linha dos mitos antigos, e não tem nenhum fundamento bíblico.
Jesus Cristo é, era e há de vir (Ap 1.4; cf. Ex 3.14). Ele nunca foi criado, sempre existiu, sempre foi conhecido das regiões celestiais e dos exércitos celestiais. 
Deus é um Ser que subsiste eternamente em três Pessoas Divinas, iguais, que Se relacionam em total harmonia. Não se trata de três modos de vida, mas de três Pessoas. Não se trata de três manifestações em tempos distintos, mas de três Pessoas. Não se trata de três características, mas de três Pessoas. 
Não somos arianos, nem russelitas (Testemunhas de Jeová), nem membros da seita modalista Voz da Verdade. Para nós, de acordo com as Escrituras, Deus é um Ente e Deus são três Pessoas.
Não aprecio sequer metáforas e ilustrações que buscam representar a Trindade de modo tosco, como a empregada pelo pregador referido, ao dizer que a Trindade é como "o sol com suas propriedades de oferecer luz, calor e energia". Não se deve adotar essa ilustração porque Deus não é um Ser com três propriedades, mas um Ser que subsiste em três Pessoas. Não estou afirmando que Deus seja uma Pessoa e três Pessoas  - o que a Bíblia não diz, e que contrariaria a lógica -, mas que Deus é um Ente que subsiste eternamente em três Pessoas. Não há contradição nisso, mas tão somente uma doutrina incompreensível para a mente humana, e plenamente ensinada nas Escrituras.
Desde Gênesis o Criador diz "façamos o homem" (Gn 1.26). 
Ao deparar com a tentativa de edificar a Torre de Babel, Deus disse "Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem" (Gn 11.7). 
A palavra hebraica Elohim, que quer dizer "deuses", quando inserida em Gn 1.1 não pode indicar pluralidade de deuses porque o verbo traduzido por "criou" (bara') está no grau singular. Assim, temos que se trata de plural de majestade, que, ao lado de várias outras passagens, bem pode ser um vislumbre da natureza trina de Deus, que seria revelada mais tarde (cf. Revelação Progressiva).
É possível que o SENHOR Jesus Cristo tenha aparecido corporalmente no Antigo Testamento. Não tomo esse aspecto como motivo preponderante de minha convicção*, mas vale observar o seguinte:
Em Gn 18.1-15, três anjos se encontram com Abraão antes da destruição de Sodoma e Gomorra, e um deles é identificado como "SENHOR".
Em Gn 32.22-32, Jacó luta com um anjo, e o Texto Sagrado afirma que ele lutou "com Deus" e viu a Deus "face e face".
Em Jz 13.1-25, Manoá, depois de conversar com o Anjo do SENHOR, pergunta o seu nome, ao que este responde: "Por que perguntas assim pelo meu nome, visto que é maravilhoso?" (vv. 17,18). Bem, "Maravilhoso conselheiro" é um dos atributos do personagem predito por Isaías (Is 9.6), e sabemos que se trata do próprio Cristo.
Em Jo 5.58, Jesus afirma: "(...) antes que Abraão existisse EU SOU". Será que Jesus existia dentro de Deus, como quer o pregador referido?
O Salmo 24 poderia ser usado para uma tentativa frustrada de provar que Cristo não era conhecido das hostes celestiais, pois ali, depois da proclamação de que as portas deveriam ser levantadas para a entrada do Rei da Glória, alguém pergunta: "Quem é esse Rei da Glória?". Ora, isso não significa que algum anjo teria feito essa pergunta quando Cristo entrou glorificado nos Céus! 
O Sl 24 é, como todo salmo, um texto poético, que não se presta à função de estabelecer doutrina, muito menos se estiver sozinho. Ali o salmista toma de empréstimo a figura do rei que volta vitorioso de uma batalha, e que adentra aos portais de sua cidade, sob os aplausos do povo e com o anúncio de um atalaia. No Sl 24, a indagação "Quem é o Rei da Glória?" é uma pergunta retórica, ou seja, uma pergunta de quem já sabe a resposta.
A Cristologia pode ser encontrada em Filipenses, Colossenses, Efésios, Hebreus, Apocalipse.
No texto cristológico de Fp 2.5-11, está escrito que Cristo subsistia "em forma de Deus", mas que "não julgou por usurpação o ser igual a Deus" (v. 6). Cristo nunca esteve dentro de Deus, mas vive eternamente em forma de Deus e é igual a Deus.
O texto de Cl 1.13-23 é claríssimo: Cristo é "a imagem do Deus invisível" (v. 15); "nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele" (v. 16); "Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste" (v. 17).
Ef 1.3-14 é outro texto de leitura obrigatória sobre a excelência, divindade e supremacia de Cristo, assim como Hb 1.1-4 e Ap 1.9-20.
Não sei se fui suficientemente claro até agora. Poderia escrever um livro extenso com as muitas referências bíblicas à divindade de Cristo, à economia da Redenção, à Trindade. Penso, todavia, que o texto já vai longo, e que o que escrevi refuta os dois erros fundamentais que apontei.
Nada tenho contra a pessoa do referido pregador, que sequer conheço. No entanto, tenho percebido a infiltração, na Assembleia de Deus, de ensinos heterodoxos como se fossem ortodoxos, e grande confusão sobre temas essenciais. Quando se trata de Teologia da Prosperidade, Triunfalismo, Batalha Espiritual ou meninices do meio pentecostal, esse é um material que frequentemente nos assalta, mas que estamos mais acostumados a combater, e que não ataca os alicerces da Fé Cristã. Quando se cuida, porém, de dizer que Deus não era digno de alguma coisa, ou que Cristo vivera dentro de Deus, um sinal amarelo deve acender em nossas mentes, e devemos perguntar: "De onde vem esse ensino e como posso combatê-lo urgentemente"?
Tenho receio de que muitos pregadores sem conhecimento estejam disseminando pelas igrejas informações simplesmente extraídas de fontes não confiáveis, como páginas da internet, sem conferir a procedência e, o que é pior, sem ter discernimento para tanto. Não sei se esse é o caso do referido pregador.
A Assembleia de Deus deixou de preparar seus obreiros ao longo de muitas décadas, e estamos pagando um preço alto por isso. Mas esse é um outro capítulo.
 *Considero a possibilidade de que o Anjo do SENHOR falasse como sendo o próprio SENHOR por ser seu representante. Essa hipótese é mencionada pelo Rev. Augustus Nicodemus Lopes na exposição "O Ministério dos Anjos Hoje", disponível no blog www.tempora-mores.blogspot.com.br, que recomendo firmemente.






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Para pensar:

Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

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Creio:
Em um só Deus e na Trindade.
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão.
Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
No batismo bíblico em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo.
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus, através do poder do Espírito Santo.
No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo.
Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade.
Na Segunda Vinda de Cristo.
Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo.
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis.
E na vida eterna para os fiéis e morte eterna para os infiéis.