domingo, 23 de novembro de 2008

Por que não faço parte do "ministério da crítica"

Certa vez minha esposa proferiu uma frase que considerei muito interessante, sendo mais ou menos assim: "Parece que tem pessoas que exercem o ministério da crítica". Ela tem razão: existem pessoas que constroem carreira à base de criticar opiniões e posturas alheias, mas sem fornecer uma contribuição positiva ao mundo.
Ela não estava se referindo aos críticos de cinema, de música nem de literatura - embora haja quem defenda a tese de que um crítico é um artista frustrado...Mas, pelo que lembro, ela se referiu aos crentes que vivem de criticar, e só.
Considerando alguns comentários que recebi por causa deste "blog", e que menciono no texto "Minha vida de blogueiro", fiquei pensando se eu sou um membro do tal "ministério da crítica", se estou baseando meu trabalho cristão na crítica aos outros, sem fazer nada - porque essa é uma acusação que já me fizeram aqui.
Por causa de comentários dessa natureza, já fiz outros textos neste "blog", ou comentários a comentários de leitores. Tenho por objetivo neste "blog" mostrar que a fé cristã tem que ver com raciocínio; que devemos ser como os crentes de Beréia, analisando tudo o que se nos é apresentado(At 17.11); que não podemos aceitar tudo o que se diz "evangélico" só porque alguém disse que é bom; que minha cabeça foi feita para funcionar; que profetas e apóstolos enfrentaram duramente heresias e heréticos, como falsos profetas e falsos apóstolos; que é necessário conhecermos as doutrinas fundamentais da Fé Cristã; que devemos nos afastar de influências como o Gnosticismo, Esoterismo e Religiões Orientais, que andam se apossando até mesmo de mentes de cristãos históricos!
Entendo que a redação destes textos é importante, mas não exclusiva. Há muitas outras vozes ortodoxas, e bem mais fundamentadas do que a minha. Apenas creio que cada um deve cumprir o seu chamado. Se eu fui chamado para ensinar, escrevendo ou falando, e se estou vendo que heresias e modismos têm marcado o suposto "crescimento evangélico" no Brasil, por que irei me calar? Não, eu não me calo, e nem por isso devo ser considerado o último dos profetas, um pequeno messias, um herói incompreendido. Sou cristão histórico e pronto, com o adjetivo de pentecostal porque sou membro da Assembléia de Deus. Mas não exerço pura e simplesmente a pena contundente da crítica, já que escrevo sobre doutrinas e textos bíblicos também.
O que acontece é que hoje está-se criando um abismo entre os evangélicos históricos e os evangélicos das diversas ondas que o Bispo Robinson Cavalcanti tem chamado acertadamente de grupos "pseudopentecostais". Somos muito diferentes mesmo! E depois querem que eu não critique?
Veja só como não posso aderir a esse "oba-oba" de certas igrejas e comunidades tupiniquins ou importadas:
a) Não creio em direitos em face de Deus: tudo que tenho e sou decorre da Graça. Por isso não posso reivindicar nada diante de meu SENHOR, tampouco exigir restituição, determinar, decretar, tomar posse, visualizar a bênção;
b) Não creio que a igreja deva priorizar templos suntuosos, mas as pessoas;
c) Entendo que o novo nascimento é algo que deve ser ensinado com insistência, assim como todas as doutrinas fundamentais do Evangelho de Cristo;
d) Estou certo de que a Revelação cessou, estando plenamente contida no Antigo e Novo Testamento;
e) Estou certo de que o Novo Testamento é espelho e cumprimento do Antigo;
f) Não me emociono com pregações sensacionalistas, de auto-ajuda, teatrais e alegóricas;
g) Estudo a Bíblia usando a cabeça e a fé;
h) Valorizo a teologia porque estudar não é pecado, mas ferramenta dada pelo próprio Deus para o conhecimento e edificação;
g) Entendo que não posso ser medido pelo que faço ou deixo de fazer, mas pelo fruto, que é questão de caráter;
h) Tenho total desconfiança de projetos eclesiásticos erigidos sobre líderes centralizadores;
i) Corro de alianças entre igrejas e políticos, e tenho profunda tristeza quanto aos políticos que se aproveitam de serem evangélicos;
j) Não aceito de modo nenhum a confissão positiva porque ela é de origem pagã, hindu;
l) Não me satisfaço com argumentos do tipo: "Você pensa assim porque não crê". E respondo: "Você crê assim porque não pensa".
m) Tenho convicção de que a Bíblia não pode ser interpretada como uma colcha de retalhos, um baú de talismãs, uma caixinha de promessas - a Bíblia tem princípios, histórias concatenadas, normas de conduta, critérios intrínsecos de interpretação, não podendo ser lida ao bel-talante do individuo;
n) O fato de eu não ser pastor não me impede de escrever isso, pois sou sacerdote. Se não sabe por quê, leia I Pe 2.9;
o) Finalmente, tenho liberdade para escrever o que penso porque sou independente. Sou membro de igreja, que frequento regularmente, sou até professor de escola dominical, mas minha independência mora em minha consciência, e é por isso que sou um homem livre.
Agora, eventual leitor, se você ainda supõe que não contribuo para o Reino de Deus, devo entender que você precisa conhecer ainda os rudimentos da Fé, que aqui procuro defender, enquanto muitos desconhecem e distorcem.
E, por fim, devo dizer que existem muitos dons, mas não o de criar e ensinar heresias, assim como não existe na Bíblia o ministério da crítica. O que existe é a necessidade de obedecer à Palavra de Deus, porque Jesus Cristo, enfim, é a Palavra (Jo 1.1-3).

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Minha vida de blogueiro

Sou um blogueiro cristão evangélico desde janeiro deste ano. De lá para cá, inseri mais de 400 postagens, entre artigos teológicos, poemas, aforismos, desabafos e comentários gerais sobre cultura, política e comportamento. Dentre os poucos leitores, já que sou desconhecido, recebi elogios por meio de mensagens eletrônicas, comentários no próprio "blog" ou pessoalmente. Também recebi críticas ácidas, geralmente anônimas, a maioria delas relacionadas aos textos "Silas Malafaia e a Conferência Profética Passando o Manto" e "Silas Malafaia fala de sua relação com René Terra Nova".
Devo admitir que até me sinto importante quando leitores que não conheço fazem comentários contra mim. Isso quer dizer que eu de alguma forma lhes comuniquei o meu pensamento, embora eles nem sempre tenham realmente compreendido minha motivação ou a própria postagem.
De fato, já me disseram que não tenho discernimento, que preciso me aprofundar em Deus, que serei cobrado por não obedecer à Palavra, e indagaram acerca de minha contribuição para o Reino, se estou ganhando almas, discipulando...Os textos são tão parecidos que me levam a pensar em duas alternativas: ou esse anônimo é uma só e mesma pessoa ou existe um punhado de irmãos dispostos a defender com unhas e dentes as práticas heréticas de crescimento de igreja, sendo, portanto, pragmáticos.
A propósito, se o (a) leitor (a) vem acompanhando este "blog", deve ter notado que nossa enquete derradeira desapareceu. Explico: eu perguntava se crescimento numérico, dinheiro e espaço na mídia demonstram a aprovação divina à pregação de uma igreja. A votação já havia alcançado dezenas de pessoas, mas eu, por um lapso, na tentativa de aperfeiçoar o "blog", fiz a enquete desaparecer, assim como algumas fotos, o selo da União de Blogueiros Evangélicos e outras coisas... Mas fiquei feliz por saber que cerca de 86% dos leitores que votaram não pensam que aqueles itens demonstram a aprovação divina à pregação de uma igreja, justamente porque acreditar no contrário é ser pragmático, e o pragmatismo não é bom. Dito de outro modo: não são os resultados aparentemente positivos que a Bíblia exalta como critério de verdade absoluta. O único critério de verdade absoluta é a Palavra de Deus!
Mas eu estou aqui tratando de minha vida de blogueiro. Ora, o blogueiro, via de regra, é, a meu ver, uma pessoa desconhecida que gosta de expressar opiniões ou dados de seu cotidiano. E isso é engraçado, porque a gente acaba se expondo às ferramentas de busca, como as do Google, e vem a ser encontrado por pessoas distantes ou próximas, as quais concordam ou discordam de nossas idéias e/ou estilo. Isso faz com que anônimos se tornem, em maior ou menor grau, celebridades pardas, dependendo da gama de acessos ao seu blog.
Sendo eu um simples servo de Deus, trabalhador, professor de Escola Dominical, mas desejoso de aprender e de produzir conhecimento bíblico, fico me sentindo quase que vocacionado à tal “blogosfera”. Talvez descubram afinal que os blogueiros são pessoas com um ego enorme. Talvez descubram que a maioria de nós só se expressa em "blogs" porque não tem espaço em suas igrejas. Mas não penso ser isso o que me conduz a manter o meu "blog". Não quero sucumbir à tentação do egocentrismo nem me reunir aos isolacionistas. Estou blogueiro porque essa é uma das ferramentas mais ágeis de comunicação que pode existir em nossos dias – e, mais do que isso, é gratuita!
Houve um leitor (ou leitora) que fez uma crítica que, em parte, tem um caráter elogioso: disse, entre outras coisas, que eu não deveria (como é que foi mesmo?) me exaltar, não sei se foi essa a palavra, mas que eu não deveria ficar lastreado em minha “intelectualidade”. E eu nunca disse que sou intelectual, e sei que não sou. Só que essa pessoa foi longe demais: querendo usar base bíblica, fez comparação entre Pedro e Judas Iscariotes, perguntando qual deles, afinal, era o intelectual. Ora, para bom entendedor, essa pessoa quis dizer que sou um traidor de Jesus..., já que, antes disso, supôs que tanto eu como Judas éramos intelectuais, e não me consta que nem um nem outro o tenham sido alguma vez na vida.
Essa é a minha vida de blogueiro. Sem querer ser pouco modesto, observo que esses irmãos que ficam chateados comigo não utilizam o conteúdo bíblico que eventualmente possuam. Suas críticas são pragmáticas e vazias, sequer tangenciam o mérito das questões, mas se limitam a defender seus admirados. E com isso reforçam minhas idéias no sentido de que o propalado crescimento numérico da Igreja brasileira é verdadeiro inchaço, acompanhado de heresias e de uma cosmovisão tosca. Desafio-lhes a me retrucar! Digam em que se fundamenta a tese de que vale tudo para supostamente ganhar almas para Cristo! Essa tese não é maquiavélica?
Estou atualmente com dificuldade de atualizar todos os dias o meu "blog" - também descobrimos que a rua em que passamos a morar não é servida de Internet!!! Mas não quero ser vencido pelo tempo nem pelo cansaço. Quero continuar nesse propósito - porque o famoso Rick Warren não patenteou a palavra “propósito”...
Enfim, sou um blogueiro com propósito, mas meu propósito não é outro senão o de ajudar o povo de Deus a pensar a Fé. Esse é meu chamado, essa é a minha missão. Para isso fui vocacionado por Deus, não tenho nenhuma dúvida quanto a esse aspecto de minha vocação. Se me quiserem ouvir ou ler, que bom! Mas se não quiserem, e se me virarem as costas, ficarei triste, mas firme. Porque não quero arredar o pé daquilo para o que fui chamado. Não posso negar a mim mesmo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Salvador, tu precisas do Salvador!

No aeroporto que leva o nome do falecido filho do também falecido Antônio Carlos Magalhães, eu, minha esposa e minha filha, assim como todos os demais passageiros, fomos recepcionados por um grupo de "baianas" que saculejavam ao som ritmado que certamente embala sessões de candomblé e congêneres nos muitos terreiros da Cidade. Não gostei nada disso. Esperava chegar sem essa estranha recepção, e sei que, se isso for pago pelo dinheiro público, fico deveras indignado, porque o Estado brasileiro é laico.
É necessário distinguir baianidade, afrodescendência e religiões afro-brasileiras. Baianidade - arrisco-me a definir - seria um traço cultural que mistura alegria, simpatia e acolhimento. Afrodescendência, em minha opinião, não poderia ser designação apenas dos oriundos da África Subsaariana, porque há uma África que não é negra (algo que ouvi certa vez do meu professor Ivan Gonçalves, e que faz muito sentido).
Quanto às religiões afro-brasileiras, não posso aceitá-las como elemento cultural e folclórico porque contrariam a Palavra de Deus, adoram a vários deuses, praticam fetichismo, crêem no animismo, fazem despachos para prejudicar pessoas, tratam com o obscuro mundo da feitiçaria. Não posso chamar isso de simples cultura, pois é, de fato, religião, e, em se tratando de religião, devemos ter sempre em mente que o Estado é laico, e que Cristo é o exclusivo SENHOR.
Com efeito, não se pode confundir cultura e religião, sob pena de se alimentarem preconceitos e medidas políticas que favorecem a desigualdade. Aliás, nesse mundo que exalta o tal pluralismo, só não há espaço para idéias fundamentadas na Bíblia. Para nós cristãos evangélicos, eles negam o pluralismo, o direito de expressão. Isso demonstra que o pluralismo é uma falácia pós-moderna.
É por isso que digo que a Cidade de Salvador precisa do Salvador, do SENHOR Jesus Cristo. Vejo aqui em Salvador uma combinação não-saudável de religiosidade e política. Eu discordaria do mesmo jeito se dissessem que o Cristianismo evangélico seria a religião oficial, como discordo de dias consagrados a santos ou mesmo de dias dedicados aos evangélicos. Nada disso é constitucional, nem creio que seja compatível com a Escritura Sagrada.
Aqui em Salvador eu sou minoria porque minha pele é branca e meus cabelos, lisos. Mas não é assim que vejo o mundo: essa distinção baseada em raças é ridícula, pois todos somos humanos, não há raças entre nós. Somos a Humanidade, devemos defender valores humanos, e não valores negros, brancos, asiáticos ou indígenas. Devemos, sim, defender interesses de pessoas efetivamente prejudicadas, mas não podemos proteger nem prejudicar ninguém em razão da cor de sua pele. É por isso que discordo das cotas e de outras eventuais medidas que partam da premissa de que ser negro é ser necessariamente oprimido. Conheço brancos que são muito pobres e ignorantes, e negros que são ricos e cultos. Conheço, mais do que isso, pessoas mestiças, em cujas características é impossível, a olho nu, discernir que percentual de negritude terão.
Faço referência a isso porque me parece que a defesa da negritude enquanto raça é um aspecto muito forte em Salvador.
Isso não vai gerar no Brasil um "apartheid"? Não estamos vendo o que a não-integração dos indígenas está causando em Roraima? Queremos um País dividido, enquanto Obama, num País realmente dividido, fala em união e harmonia?
Há uma outra coisa em Salvador que me faz ter certeza do quanto ela precisa do Salvador: a Cidade está estabelecida sobre o fundamento de festas carnais, o Carnaval e seus similares. Exalta-se o corpo, o erotismo, o prazer descompromissado. Que sociedade pode se gloriar de um fundamento desses?
Existe ainda um aspecto digno de nota: a extrema desigualdade social. E, em plena área nobre, vejo os muito pobres deitados nas calçadas, pedindo esmola. As favelas também são um retrato dolorido aos nossos olhos, porque ali tem gente excluída mesmo.
Sou baiano, mas não me orgulho dessas contradições. Gosto de ser baiano, mas antes de tudo sou cristão.
O bom mesmo é ver que nem todas as praias foram dominados pelos ricos, e que o mar, o grande mar, é ainda visto por qualquer um de nós, numa equidade emocionante que só pode vir de Deus.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O rei que se foi sem deixar saudades

"Era da idade de trinta e dois anos quando começou a reinar, e reinou oito anos em Jerusalém; e foi sem deixar de si saudades; e sepultaram-no na cidade de Davi, porém não nos sepulcros dos reis" (II Cr 21.20, na versão Almeida Corrigida e Revisada Fiel).
Embora os reis de Judá tenham sido em sua maioria aprovados por Deus, tal não aconteceu quanto a Jeorão, que, como o texto acima deixa claro, governou durante 08 anos e saiu de cena sem deixar saudades...
Filho do bom rei Josafá, Jeorão herdou o trono por ser o mais velho, mas não herdou a piedade dos seus antepassados. Ao se fortalecer, matou à espada todos os seus irmãos e alguns líderes de Israel (leia-se "Judá"). Além de se casar com uma filha do rei israelita Acabe, andou nos caminhos deste e da maioria dos reis de Israel, cometendo idolatria. O SENHOR só não destruiu a dinastia de Jeorão por causa do juramento divino feito a Davi, de que não lhe faltaria sucessor no reino.
Em seu tumultuado governo, Jeorão contemplou o grito de independência dos edomitas e da cidade de Libna. E foi explicitamente reprovado por Deus, numa carta redigida pelo profeta Elias! Com uma anamnese do que Jeorão fazia como rei, Elias profetizou que seriam feridos o povo, os filhos, as mulheres e o próprio rei, este com uma enfermidade nos intestinos.
Não bastasse, levantaram-se contra Jeorão os filisteus, os árabes e os etíopes, todos impulsionados pelo juízo divino. Houve "hostilidade" por parte desses três povos contra Jeorão, o que conduziu uma invasão ao reino judeu, que resultou no saque de bens do palácio real, além do rapto de mulheres e seus filhos. Só ficou Acazias de sobra, seu filho mais novo.
Ao final de tudo, veio a enfermidade a respeito da qual Elias havia escrito, e o rei morreu sem deixar saudades, a tal ponto que sequer foi sepultado nos túmulos dos reis.
Com essa história, que está narrada em II Cr 21, não tem como eu não lembrar de certo George w. Bush, que, depois de arranjar a inimizade e a antipatia de quase todo o mundo, sai de cena no dia 20 de janeiro de 2009 sem deixar saudades. Será o fim melancólico de um "rei" bonachão, texano legítimo, de sorriso fácil, empurrado pela direita protestante, mas que não me pareceu um rei segundo o coração de Deus - essa é minha opinião pessoal, e para isso não me importa o fato de ele ser contra o aborto, o casamento gay ou as pesquisas com células-tronco embrionárias, pois a verdade também é um valor cristão, e nisso o presidente Bush vacilou muitas vezes, ao dizer que perseguia Saddam Hussein por causa de supostas armas de destruição em massa, que, descobriu-se, não existiam. Interesses outros, muito menores, guiaram a guerra da doutrina Bush.
E, neste dia 05 de novembro, eis que surge certo mulato com Hussein no sobrenome, e cujo pré-nome, Barack, me faz lembrar de um general descrito nas páginas bíblicas (Jz 4). Este Baraque, porém, diferentemente do Barack Obama, não quis seguir para a guerra sem a companhia de uma mulher forte. Mas essa é outra bela história...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Os seguidores atuais da "teologia" de Judas Iscariotes

Parece-me que hoje há muitos seguidores da "teologia" de Judas Iscariotes. Não estou me referindo a nenhum suposto livro escrito pelo apóstolo-traidor, nem afirmo que exista uma doutrina sistemática de seus inexistentes ensinos. Refiro-me a um tipo de atitude para com Jesus Cristo que muito se aproxima do que Judas de fato foi e fez.
Antes gostaria de lembrar que Judas era o único judeu dentre todos os apóstolos. Tinha, portanto, de que se orgulhar perante os rudes pescadores galileus, como Simão Pedro. Essa é mesmo uma grande ironia bíblica, pois os judeus desprezavam não-judeus, principalmente galileus e samaritanos, considerados como um povo misturado com os gentios.
Judas foi escolhido por Jesus, disso não há absolutamente nenhuma dúvida (Mt 10.1-5; Mc 3.13-19; 6.7-13; Lc 9.1-6). Ele foi separado para o ministério apostólico, um verdadeiro "episcopado", que, conforme anotação da Nova Versão Internacional, designa a "função pastoral"(At 1.15-20).
Judas assumiu a tesouraria do grupo que seguia a Jesus (Jo 12.6). Deve ter merecido essa confiança, pois ninguém entrega dinheiro a uma pessoa com reputação ruim.
Judas recebeu poder para expulsar demônios, curar enfermos, ressuscitar mortos, pregar o Evangelho (Mt 10.1,2; Mc 6.12; Lc 9.6). Ele não estava somente no time dos 70 que foram enviados de dois em dois para anunciar as Boas-Novas em cidades e aldeias de Israel (Lc 10.1-23) - ele estava num grupo mais seleto, de doze homens escolhidos sob oração (de Jesus ao Pai): o Colégio Apostólico.
Judas era na verdade ambicioso, mas seu discurso certa vez foi politicamente correto, social, em favor dos pobres, quando criticou Maria, irmã de Lázaro, que derramou perfume precioso sobre os pés de Jesus, em atitude de adoração (Mt 26.6-13; Mc 14.6-9; Jo 12.1-8). É certo que, se por um lado Marcos e Mateus dizem que essa recriminação foi feita por "alguns dos presentes" (Mc 14.4) ou "os discípulos" (Mt 26.8), o próprio Marcos deixa claro que "então, Judas Iscariotes, um dos Doze, dirigiu-se aos chefes dos sacerdotes a fim de lhes entregar Jesus. A proposta muito os alegrou, e lhe prometeram dinheiro. Assim, ele procurava uma oportunidade para entregá-lo" (Mc 14.10,11). Uma coisa tem que ver com a outra: o dissimulado era também ganancioso.
O apóstolo Judas, o judeu Judas, o tesoureiro Judas, o "altruísta" Judas revelou-se o traidor de Cristo. Ele escolheu seu próprio caminho, entendeu de vender seu amigo Jesus por um punhado de moedas. Ali estava um homem sem integridade, uma pessoa mesquinha. E, mesmo depois de entender que havia pecado, não se arrependeu, ficando tão-somente com o sentimento de remorso que toma conta de quem se sente culpado e não procura o perdão (Mt 27.1-10).
"Mas o que fez o personagem Judas"? "Que mal há nisso"? Essas perguntas seriam feitas pelos fariseus, saduceus, sacerdotes e anciãos que entregaram Jesus aos romanos motivados por inveja. Afinal, por mais que tenha recebido dinheiro em troca, seu ofício foi o de cumprir o que a religião oficial exigia - matar os que supostamente se levantavam contra Moisés e o Templo. E esse foi o argumento oficial contra o Mestre nazareno.
Se Judas fez o que fez, e ainda levou dinheiro, cumpriu o dever e saiu no lucro, diriam os cristãos materialistas de hoje, os pragmáticos, os egoístas, os alienados de Deus, os que seguem a boiada, os que traem princípios em favor de prestígio e poder.
A teologia de Judas Iscariotes - por favor, saiba que a Epístola Geral de Judas não foi escrita por ele, mas outro Judas! - eu dizia que a teologia de Judas Iscariotes é perfeitamente compatível com essa prática de ficar ao lado dos "vencedores" deste mundo, em vez de ficar com o crucificado, com o sofrido, com o cadáver que dizem que ressuscitou, com o homem que pregava arrependimento e era seguido por ex-prostitutas, ex-bêbados, ex-traidores da pátria (caso de Mateus e Zaqueu), ex-guerrilheiros (caso de Simão, o zelote), ex-tudo o que existe de ruim nessa vida. Que tipo de teologia era aquela de Jesus, diriam os hipócritas e materialistas...Que tipo de teologia era aquela que não deu em nada, ou melhor, deu em morte, "derrota", dispersão, divisão de famílias, perseguição pelo governo?
Tome cuidado, leitor, para que você não seja um dos seguidores do apóstolo Judas Iscariotes. Não adianta argumentar que ele operou milagres, isso não adiantará no Dia do Juízo (Mt 7.22,23). Não adianta evocar prerrogativas de nascimento, credibilidade humana ou apostolado. O que importa mesmo é não trair a Cristo, o que significa não vender princípios cristocêntricos por moedas de prata, dólares ou reais. E não vale sequer usar a tese de que os métodos da traição fazem a igreja crescer e aparecer para a sociedade. Quem não assume os princípios da Cruz deve ter estancado em algum momento, quem sabe no Getsêmane, quem sabe com um beijo aparentemente gentil (Mt 26.47-56; Mc 14.43,44; Lc 22.47; Jo 18.1-3).

Sobre o livro "O que estão fazendo com a Igreja", de Augustus Nicodemus Lopes

Na quarta-feira 29 de outubro minha turma de escola dominical e alguns irmãos mais próximos fizeram um churrasco de despedida (por conta de minha remoção de Campo Grande-MS para Salvador-BA). Dentre as boas e emocionantes palavras de consideração, deram-me o excelente livro "O que estão fazendo com a Igreja", do Rev. presbiteriano Augustus Nicodemus Lopes. A dedicatória foi assinada pelo prezado irmão Carlos Lima, nosso anfitrião naquela festa e dedicado colega de classe.
O presente foi dado numa ocasião muito oportuna: dois dias antes do 31 de outubro, em que se comemora a Reforma Protestante (1517). Digo isso porque o pastor Nicodemus é reformado, e porque a leitura do livro me fez pensar no excelente legado protestante para todas as igrejas que se pretendem evangélicas.
Começando a ler o livro em meio às preocupaçõs da mudança e da locação de uma casa na Bahia, li a maior parte no ônibus até São Paulo e o terminei aqui na casa da tia de minha esposa. E agora, mais sereno e confortavelmente instalado, me ponho a resenhar, ainda que de modo simples, essa considerável obra.
O livro nasceu do blog http://tempora-mores.blogspot.com, que eu já conhecia, e o Pr. Nicodemus divide com seus amigos Mauro Meister e Solano Portela. Trata-se de uma reunião de "posts" sobre a crise teológica e moral que se abate sobre o evangelicalismo brasileiro.
Quatro linhas teológicas são enfrentadas com maestria pelo pastor calvinista: a) os liberais; b) os neo-ortodoxos ou neoliberais; c) os libertinos; d) os neopentecostais.
De acordo com o autor, conquanto o liberalismo teológico tenha perdido a influência nos Estados Unidos e na Europa, é necessário tratar dele por causa de seminários e escolas de teologia com índole liberal, especialmente quando evangélicos buscam cursos com aprovação do Ministério da Educação, mas desprovidos da ortodoxia cristã, nos quais se ensinam mais dúvidas do que certezas sobre a Bíblia, a partir do método histórico-crítico, suplantando-se o método gramático-histórico de interpretação.
Os liberais gostam de dizer que a Bíblia está repleta de mitos, que não há milagres, que não há uma ação sobrenatural de Deus, e, seguindo o suíço Karl Barth (1886-1968) os neo-ortodoxos ou neoliberais pressupõem as mesmas coisas, com a diferença de que buscam ressaltar que isso não importa, que o que vale é o encontro existencial do indivíduo com a Bíblia, ainda que seja, segundo eles, um livro religioso que expressa simplesmente a reação de um povo a acontecimentos naturais, dando-lhes conotação espiritual.
O pastor Augustus Nicodemus ainda trata dos libertinos, que defendem o casamento gay, o aborto, a eutanásia, o sexo antes e fora do casamento, além de outras coisas moralmente indefensáveis à luz da Palavra de Deus.
Os neopentecostais - termo que o autor emprega para igrejas capitaneadas pela Universal do Reino de Deus e pela Renascer em Cristo - são caracterizados pela ênfase à teologia da prosperidade, batalha espiritual, relativismo, pluralismo religioso, e uma estrutura eclesiástica centrada em apóstolos e bispos.
O autor defende a idéia de que todos esses grupos poderiam ser chamados de "esquerda teológica", por sua tendência a advogar teses da esquerda política, mas tem o cuidado de dizer que isso não significa que todo esquerdista político será esquerdista teológico, embora o esquerdista teológico tenha a inclinação a ser esquerdista na política, como os democratas-liberais norte-americanos.
O pastor Nicodemus não deixou de tratar dos fundamentalistas, puritanos e pastores conservadores em geral. Fez um classificação dos fundamentalistas cristãos históricos, fundamentalistas americanos, fundamentalistas denominacionais e fundamentalistas teológicos. Expôs o lado bom dos puritanos (Séculos XVI a XVIII) e o quanto esse termo tem sido usado com um tom pejorativo (assim como o neologismo "puritânicos"). Mencionou os neopuritanos que hoje mantêm uma atitude de não-conformismo diante do consumismo, e até pedem maior intervenção estatal para corrigir distorções sociais.
Quanto aos pastores conservadores, o autor busca explicações para suas igrejas serem "minúsculas". Esse é um importante auto-exame, não no que diz respeito ao autor, mas às igrejas históricas, que, muitas vezes premidas pelo crescimento de igrejas chamadas neopentecostais, acabam sendo levadas a buscar crescimento numérico a todo custo.
Por fim, observe-se que o autor tratou de defender peremptoriamente a inerrância, a inspiração divina e o caráter autoritativo das Escrituras Sagradas, assim como a pureza sexual, o valor da piedade, da oração, e a necessidade de pensarmos sobre os motivos de as igrejas teologicamente sérias ficarem estagnadas a pequenos rebanhos.
Gostei muito do livro. Cheguei a dizer várias vezes à minha esposa: "Esse livro é bom!". Meus alunos realmente parecem ter compreendido que eu gostaria de ler uma obra dessas. Creio que isso deve ter a ver com o que lhes falei em nossas aulas, defendendo a sã doutrina, a importância do pensar a Fé, e a crítica saudável à situação do que se denomina "Igreja evangélica brasileira".
Então, querido leitor, se eu puder lhe recomender alguma coisa agora, recomendo a leitura do livro "O que estão fazendo com a Igreja - ascensão e queda do movimento evangélico brasileiro" (LOPES, Augustus Nicodemus. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, 201p).


Fale comigo!

Gostaria de estabelecer contato com você. Talvez pensemos a respeito dos mesmos assuntos, e o diálogo é sempre bem-vindo e mais que necessário. Meu e-mail é alexesteves.rocha@gmail.com. Você poderá fazer sugestões de artigos, dar idéias para o formato do blog, tecer alguma crítica ou questionamento. Fique à vontade. Embora o blog seja uma coisa pessoal por natureza, gostaria de usar este espaço para conhecer um pouco de quem está do outro lado. Um abraço.

Para pensar:

Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

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Bases de Fé

Creio:
Em um só Deus e na Trindade.
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão.
Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
No batismo bíblico em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo.
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus, através do poder do Espírito Santo.
No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo.
Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade.
Na Segunda Vinda de Cristo.
Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo.
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis.
E na vida eterna para os fiéis e morte eterna para os infiéis.