quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Carta de repúdio

Abomino a "lei da semeadura financeira".
Abomino os apelos financeiros de telepastores.
Abomino a "consagração" de apóstolos.
Abomino os ministérios centrados em personalidades.
Abomino a Teologia da Prosperidade.
Abomino o Triunfalismo.
Abomino o engano travestido de orações para curas e milagres, que na verdade são artifícios de homens e mulheres sem escrúpulos.
Abomino a invasão do pseudopentecostalismo em igrejas históricas.
Abomino o ufanismo evangélico e a bajulação de governantes.
Abomino a conflagração de líderes pseudo-evangélicos contra os que pensam diferente e os criticam.
Abomino a infiltração de heresias da falsa prosperidade em minha denominação.
Abomino o sensacionalismo e o emocionalismo que marca infelizmente, na prática das igrejas, a minha denominação.
Abomino o misticismo de um pentecostalismo atravessado e do pseudopentecostalismo.
Abomino o fetichismo.
Abomino as pregações vazias, baseadas em textos retirados de contexto.
Abomino a politicagem, o nepotismo e as monarquias hereditárias eclesiásticas.
Abomino as candidaturas de evangélicos com a missão de representarem os interesses de suas igrejas.
Abomino a importação irrefletida de lixo "teológico" ou de autoajuda dos Estados Unidos.
Abomino a insinuação do marxismo e da teologia gay dentro da Igreja como se fosse Missão Integral.
Abomino o ecumenismo que não passa de tolerância demasiada com o que não é Evangelho.
Abomino as campanhas para construção de templos e outros projetos quando acabam oprimindo o povo pobre.
Abomino as construções de catedrais como se o Espírito Santo habitasse em templos feitos por mãos humanas.
Abomino o cinismo, a falta de senso crítico e a cultura da ignorância.
Abomino a repressão e a retaliação a quem pensa de forma divergente daqueles que lideram igrejas de maneira centralizadora.
Abomino o apoio de igrejas a políticos, evangélicos ou não.
Abomino o movimento da mordaça gay.
Abomino o liberalismo moral e teológico.
Abomino o relativismo, o secularismo, o individualismo e o hedonismo.
Abomino a alienação política evangélica.
Abomino ideias como "unção financeira", "unção do leão", "unção diferente", "nova unção".
Abomino a distinção entre crentes conforme o falar ou o não falar em línguas estranhas.
Abomino a violência moral ou neurótica contra as pessoas que padecem de problemas de saúde física ou mental.
Abomino os shows mentirosos de cura e milagres quando os verdadeiros doentes não são procurados quando precisam e onde se encontram.
Abomino o comportamento pueril de confundir julgamento sóbrio com julgamento das intenções do coração.
Por fim, encerrando essa lista não taxativa de uma necessária Carta de Repúdio, afirmo que não vou calar minha boca nem secar minha pena enquanto Deus me der saúde e condições de dizer o que penso.
Muitos profetas foram calados, presos, açoitados, torturados, mortos, alguns cerrados ao meio. Outros, embora não assassinados nem fisicamente agredidos, foram alvo de preconceito e desconfiança, caindo no completo descrédito.
O grande profeta Jeremias não teve um público que o quisesse ouvir. Noé conseguiu levar para a Arca apenas sua família, de oito pessoas contando consigo. João Batista acabou com a cabeça numa bandeja. Todos os apóstolos, exceto João, foram assassinados, e João foi exilado e preso numa ilha. Enfim, Jesus Cristo, nosso SENHOR, morreu como Cordeiro imaculado, pelos pecados humanos.
A missão profética da Igreja requer sacrifício, ainda que não seja da própria vida - para alguns poderá ser. Se não pudermos sacrificar ao menos um pouco, nada poderemos fazer quando nos for exigido algo mais.
Agora, não sendo vindicada a própria vida, ao menos pode ser criticada a nossa postura, aviltada nossa condição de crentes em Cristo, amaldiçoada pela boca de "cristãos" a nossa profissão de fé. Se isso ocorrer, nada passará de nossa participação nas aflições de Cristo, nosso comungar do sofrimento do Mestre, nossa empatia com as dores dos santos.
Que será do Evangelho se não for seguido o Sermão do Monte como modelo ético?
Que o ano de 2010 seja um período de reflexão e arrependimento, mudança de vida e trabalho duro pela implantação do Reino de Deus!
Eu estou aqui porque tenho esperanças em meu coração.

Não revoguemos a Lei da Anistia

Instalou-se uma pequena crise entre os comandantes militares e o Ministro da Defesa, de um lado, e o Ministro Paulo Vannuchi (Direitos Humanos), o que também interessa diretamente aos ex-guerrilheiros Dilma Rousseff (Casa Civil), e Franklin Martins (Comunicação Social). Além de interessar ao Ministro Tarso Genro por razões ideológicas. Tudo porque o terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos, assinado por Lula, tem as seguintes propostas:
a) criar a Comissão Nacional da Verdade, para investigar crimes de tortura e assassinato praticados por militares e civis em nome da Ditadura Militar de 1964 a 1985;
b) revisar leis como a da Anistia, de 1979;
c) retirar de obras públicas os nomes de militares que contribuíram para a repressão.
Segundo os comandantes do Exército e da Aeronáutica - respectivamente, o General Enzo Martins Peri e o Brigadeiro Juniti Saito - isso não passa de revanchismo, pois: a) os crimes praticados por guerrilheiros não seriam investigados; b) importaria em revogação da Lei de Anistia; c) os militares não foram consultados; d) a modificação dos nomes de obras públicas poderia levar à depredação ou até à invasão de instalações militares.
Ressalta desse imbróglio o fato de que o presidente Lula disse expressamente que não sabia que o texto por ele assinado continha essas coisas, e que assinou em meio às discussões de Copenhague. Ou seja: assinou sem ler, como, aliás, deve acontecer com inúmeros decretos que ele assina todos os dias, e que mudarão nossas vidas de maneira muito prática. Mais: empurra o problema para abril, quando o texto deveria ser transformado em projeto de lei, e parece partir para uma posição intermediária (em cima do muro mesmo): deixa o texto como está e não implementa, como quem diz: não vamos retirar do texto para não chatear meus ministros guerrilheiros, mas não vamos por em prática para não chatear os militares.
Ocorre que medidas de Estado, como essa, não podem ficar ao bel-talante de um presidente, pois o próximo Chefe de Estado, ao ver o texto diante de si, pode, sim, mandar implementar o que ali estiver contido. Esse negócio do presidente Lula deixar para depois e fingir que o problema não é com ele é um desrespeito ao povo brasileiro e às partes envolvidas com o impasse: em letras precisas, as Forças Armadas e os que lutaram contra o Regime Militar.
Agora, é preciso verificar que os militares não foram os únicos criminosos anistiados: os companheiros esquerdistas que sequestraram e roubaram também foram anistiados, recebendo, assim, o benefício da figura penal chamada "anistia" - que ocorre quando uma lei perdoa crimes e faz de conta que nada aconteceu. A anistia é mesmo uma medida política de conciliação e pacificação.
Revogar a Lei da Anistia seria um passo atrás, depois de mais de 30 anos de sua edição, o que contribuiu para a transição "lenta, gradual e segura" para o Regime Democrático. Aliás, engana-se quem pensa que reconquistamos as liberdades democráticas à base da luta armada. O Dr. Tancredo Neves fez acordos com os militares, e desde Ernesto Geisel a abertura vinha sendo costurada, sendo depois consumada pelo João Baptista Figueiredo e entregue a José Sarney.
Os guerrilheiros Dilma Rousseff e Franklin Martins não conquistaram a democracia. Tampouco o exilado Leonel Brizola, beneficiado em 1979 com a Lei que hoje o Governo discute. Também não foram as músicas dos exilados Caetano Veloso e Gilberto Gil. A democracia brasileira foi reconquistada por meio de acordos demoradamente costurados entre o pessoal da Ditadura Militar e os sábios políticos Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, com uma eleição indireta para presidente operando a transição entre a linha-dura e a redemocratização.
Quanto a investigar crimes de torturadores, não há problema se o mesmo for feito sem parcialidade quanto aos crimes de terroristas políticos, e se a investigação for apenas de natureza histórica, jamais penal. Do contrário, estaríamos recuando ao período anterior à Lei de Anistia.
Entendo também como muito complicada a extinção de nomes de generais e marechais de praças, avenidas e pontes espalhadas pelo Brasil. Isso, se fosse levado a ferro e fogo, deveria mexer diametralmente com muita gente que hoje se instala no Planalto Central, gente que explodiu, sequestrou, se pôs à luta armada pondo em risco a vida de civis inocentes em nome de uma ideologia.
Não nos enganemos: ali não há anjos, nem entre os militares nem entre os guerrilheiros. E por isso mesmo o tratamento deve ser igualitário.
Como disse meu tio Altevir Esteves, que foi politicamente atuante na época do Regime Militar e era de esquerda (tem até um filho chamado Carlos Lamarca), alguém que luta por uma causa nobre não deveria pedir ou aceitar indenização. Interessante. Segundo ele, se a causa realmente era nobre, se valia mesmo a pena, não poderia ser jamais compensada com...dinheiro, pensões, porque era uma luta maior. Deixo isso para pensarmos (sei que o tema é polêmico).
Penso, apenas, que não se pode demonizar os comandantes militares como se a reação deles hoje fosse uma volta ao espírito ditatorial. Em favor da democracia e do Estado de Direito, consagrada a Lei da Anistia, deveríamos legar aos nossos herdeiros um conhecimento mais profundo dos "anos de chumbo", mostrando, porém, o que de fato aconteceu, pois, na realidade, poderemos ver que houve chumbo trocado, e não uma pura e simples repressão contra jornalistas e pessoas indefesas.
Veremos, sim, que, não fosse a Lei da Anistia, talvez nossos ressentimentos impedissem a eleição direta para presidente em 1989, e as sucessivas eleições com a participação de um metalúrgico chamado Lula, que hoje é constitucionalmente nosso Presidente da República, eleito pela maioria dos votos populares.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Marco Feliciano para deputado federal?

Li na internet uma entrevista coletiva* do Sr. Marco Feliciano, concedida em outubro de 2009, sobre sua filiação ao PSC (Partido Social Cristão) e sua possível candidatura a deputado federal em 2010. Com linguagem de político, o pastor pentecostal (?) fala principalmente de beneficiar sua pequena cidade (Orlândia/SP) e até usa o provérbio popular "uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto" para sustentar a promessa de que os que o apoiarem receberão benefícios.
Mas o que me chama a atenção é o trecho seguinte:
"eu sou um cara que nesses orkuts da vida tem 200 comunidades feitas para mim. Uma tem 90 mil pessoas, então, só em orkut deve ter umas 400 mil pessoas que passam falando de mim. Orlândia não tem noção do que é isso, porque só em orkut é 10 vezes a po-pulação da nossa cidade. Os meus dvd’s esparramados pelo país inteiro, um dos meus dvd’s agora chegou a 1 milhão de cópias, que é o Sonho de José, então esse poder de persuasão, sendo um homem de família, sendo uma pessoa que veio do nada e chegar onde cheguei, acredito que possa fazer muito mais pela cidade, que a cidade jamais sonhou em fazer por mim".
Leu com atenção?
O Sr. Marco Feliciano promete se aproveitar de sua popularidade no meio evangélico para ser guindado à categoria de deputado federal, com o sonho de um dia ser senador. Não sei o que a função de senador tem de tão romântico, pois também o pagodeiro e apresentador de TV Netinho de Paula quer ser senador, e já o queria antes mesmo de ser vereador...
O Sr. Marco Feliciano diz que dos 11 milhões e 200 mil evangélicos contados pelo censo de 2005, ao menos 9 milhões o conhecem. Desses 9 milhões, ele quer o voto de apenas 1%, ou seja, 90 mil eleitores. Isso mesmo. O pastor pentecostal (?) fez suas contas. Ele precisa de 1% dos votos dos evangélicos que o conhecem.
O conhecido e festejado pastor Marco Feliciano demonstra não saber quantos são os deputados, pois afirma serem 550, quando são 513. Mas isso não é o que mais importa. Ele cita o número de deputados federais para lembrar que antes do Escândalo das Sanguessugas havia, segundo ele, mais de 10% de deputados evangélicos, defendendo princípios morais e familiares... Com o escândalo, esse número teria caído à metade. Todavia, se aqueles crimes envolvendo o superfaturamento no preço de ambulâncias teve relação com a bancada evangélica, como teve, ela tinha mesmo que perder votos. Isso mostra que a bancada não era tão "evangélica" como parecia.
Quem analisa os fatos políticos e tem a mínima consciência social não pode se iludir com essa plataforma antiga do Sr. Marco Feliciano. Ser deputado federal para ajudar a cidadezinha natal? Essa é velha. Beneficiar eleitores e apoiadores? Essa também não é novidade. Aproveitar-se da fama de pregador e cantor gospel para ganhar votos? Pronto. Sua campanha está toda planejada, e seu caminho na política, bem delineado. Não haverá decepções. Não pode haver. Pelo menos o pastor-candidato é bem sincero nesse ponto.



*O trecho citado é da seguinte fonte: http://www.gospelprime.com.br/pastor-marco-feliciano-sera-candidato-a-deputado-federal-diz-jornal/

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O Natal que comemoro, o Ano-Novo que espero

Quando eu morava em Minas Gerais, descobri alguns cristãos que não comemoram o Natal. Para eles, a festa é de origem pagã, em celebração ao deus Sol, cultuado em 25 de dezembro. Com o Cristianismo, a festa teria migrado em algum momento para a ideia do Nascimento de Jesus Cristo, acompanhado de tradições como a árvore, os enfeites, o Papai Noel, os presentes. Tudo não passaria de uma cópia do Paganismo, uma cópia travestida de evangélica, celebrada pelas igrejas cristãs.
Confesso que essa refutação cristã ao Natal me assustou. Não consigo admitir que o Natal saia de minhas celebrações de final de ano, embora reconheça a possível origem pagã. É como uma outra função, agora bíblica, para uma tradição iniciada por causas diversas. A Sociologia da Religião deve explicar isso melhor.
Não me importa se a festa - que não está prescrita na Bíblia - seja uma transformação de qualquer coisa estranha. O fato é que nem a data é o mais importante, nem Papai Noel entra em minha casa - quem dá os presentes a nossos filhos somos eu e minha esposa mesmo. Temos o costume de enfeitar a árvore de Natal, nossa filha de quatro anos tem isso como uma coisa boa, da qual participa. Gostamos das luzes que enfeitam a cidade, as árvores, as casas. Gostamos de participar de cultos natalinos, gostamos das peças natalinas, apreciamos a reflexão sobre o Nascimento de Cristo. Para nós, essa deve ser uma excelente oportunidade de evangelização.
Minha esposa criou-se numa igreja dirigida por dois missionários estrangeiros, igreja em que o Natal era especialmente comemorado. Eu também tive o Natal como uma festa cristã. Com o juízo crítico apurado, aprendi desde cedo que Papai Noel não existe, que o consumismo nada tem que ver com o Nascimento de Cristo. É preciso, sim, separar as coisas.
E é necessário afirmar, com todas as letras, que Jesus nasceu (encarnou) para morrer pelos pecadores e ressuscitar ao Terceiro Dia. Ele veio para morrer. Sua morte não foi um acidente de percurso, uma fatalidade nem um insucesso dos perdedores. Jesus Cristo veio para morrer e ressuscitar. Sem essa doutrina de fé, o Natal fica mesmo pobre e vazio.
Quem não comemora o Natal sob o argumento de que se trata de mera imitação da festa ao deus Sol não deveria, a rigor, comemorar o Ano-Novo, pois, se refletirmos bem, pode ele ser interpretado com o mesmo princípio daquelas festas antigas devotadas à fertilidade, ao ciclo da vida. O ano, ao começar, traria, para essas pessoas, novas esperanças, ante a renovação das estações. Todavia, ainda que exista todo esse misticismo - hoje visto em costumes como "entrar de branco" - a verdade é que o ano que começa deve efetivamente nos inspirar a um recomeço, não no sentido místico, esotérico, mas na exata medida em que o ano novo inicia um calendário cheio de compromissos: para o estudante, mais um ano letivo. Para o trabalhador, mais um período de trabalho; para todos, enfim, mais uma sucessão de dias e meses. O que não foi realizado no ano velho poderá, quem sabe, ser feito neste que se abre. E daí se eu tenho esperanças? Será isso ruim? É certo que não.
É bom recordar que as únicas "festas" neotestamentárias são o Batismo nas Águas e a Ceia do SENHOR. Elas, sim, são ordenanças, e não devem ser esquecidas. Quanto às festas do Antigo Testamento, essas não são para nós, nem para ninguém mais, porque pertenceram a um período em que símbolos antecipavam, por figura, a vinda de Cristo. E sei que hoje existe um movimento judaizante em igrejas evangélicas, que repete o toque do shofar, que usa menorá, que gosta da Estrela de Davi - que, por sua vez, que eu saiba, é mais moderna que a Bíblia.
Mas, voltando ao Natal, digo que esse pessoal que diz não ser ele uma festa digna de cristãos está, na verdade, confundindo tudo. Não se trata mesmo de uma festa bíblica, porque não está prescrita nas Escrituras. Entretanto, não é antibíblica. Pode ser, isso sim, extrabíblica. Jamais antibíblica, se celebrada da maneira certa: lembrando de textos bíblicos lindos, que retratam o Nascimento, a Encarnação de Jesus, o Salvador, na cidadezinha de Belém, e que, ao nascer, foi colocado num cocho, que chamamos, quase que num eufemismo, de "manjedoura".
Sendo assim, que mais posso dizer?
Feliz Natal e próspero Ano Novo!

Será que os neopentecostais seguirão o mesmo curso dos pentecostais?

Num texto que publiquei no site www.ultimato.com.br, no espaço Palavra do leitor, questionei a existência do Pentecostalismo histórico no Brasil, em face da imitação que pregadores pentecostais têm feito de ensinos neopentecostais, dando a impressão de que a mensagem pentecostal se identifica com essas doutrinas.
Um leitor, chamado Daniel Clark, publicou um artigo no mesmo espaço, e, sob o título Neopentecostais: os conservadores de amanhã, pretendeu me alertar sobre o risco de incorrer no mesmo erro de batistas, presbiterianos e outros que, há cerca de cem anos, disseram que o Movimento Pentecostal era coisa do diabo. Disse que, assim como o Pentecostalismo mudou, o Neopentecostalismo mudará.
Trocamos e-mails. Gostei de receber essa contra-proposta da forma como foi suscitada. No entanto, mantenho minha posição, a qual preciso explicar a seguir:
1) Não considero acertado afirmar que neopentecostais e pentecostais sejam tão parecidos assim. Enquanto os pentecostais surgiram pregando que o batismo com o Espírito Santo é uma experiência de dotação de poder, evidenciada pelo falar em línguas, com vistas à evangelização, os neopentecostais pregam uma série de heresias que deixam a centralidade da Cruz e colocam o Ser Humano no centro das atenções. Mesmo sabendo que a doutrina pentecostal, em suas diferentes matizes, ainda provoca muita discussão e polêmica, não há como negar que se trata de uma corrente teológica comprovadamente séria e compromissada com Jesus Cristo.
2) Não é adequado comparar o erro dos batistas ou de quem quer que seja, no passado, com minha atitude ao me posicionar contra os erros doutrinários do Neopentecostalismo. Crentes históricos do início do Séc. XX chocaram-se com as experiências pentecostais e falaram de coisas que não conheciam. Alguns líderes de hoje dizem que as línguas faladas nas igrejas pentecostais não podem ser de Deus. Alguns deles têm verdadeiro pavor de que suas igrejas se "pentecostizem". Muitos falam do ser pentecostal sem saber o que isso quer dizer, reduzindo o movimento ao barulho, à desorganização dos cultos e à irracionalidade no manejo da Bíblia. Não buscam o diálogo, e assim nutrem o preconceito. Eu procuro, com honestidade, escrever sobre o que eles realmente ensinam. Se os históricos erraram no passado, o mea culpa é deles, não é meu.
3) Minha postura frente aos neopentecostais é diferente: afirmo coisas a respeito do que seus próprios líderes propalam, ensinos que estão em suas palestras e livros, em seus vídeos e programas de rádio e TV. Por isso, essas doutrinas e práticas que critico são oficiais, diferentemente de idéias simplórias que a massa pentecostal tinha ou ainda tem quando se trata do povo comum.
Essas poucas linhas talvez ajudem a esclarecer que não acredito que acontecerá com os neopentecostais o que aconteceu com os pentecostais. Na verdade, o caminho foi inverso: os históricos mudaram, e não nós. Com os neopentecostais, se eles mudarem, muda a própria mensagem, porque a base de sua proposta precisa ser revista.
Tudo isso eu escrevo com temor e tremor. Não quero o mal dos irmãos, e é por isso mesmo que procuro dizer aquilo que penso estar errado. Agora, quanto à sensibilidade para com o outro, para com as relações interpessoais, não precisamos mudar a doutrina para chegar a esse patamar. Precisamos apenas seguir o Evangelho.

E se não houvesse o Intercessor?

Dentre os conselheiros do patriarca Jó, surge Eliú com um discurso não censurado por Deus (Jó 42.7-9). E se Deus não o reprovou, quem sou eu para fazê-lo? Mesmo entendendo que Eliú se mostrou um tanto vaidoso, sabichão e severo demais com Jó, não posso me furtar às suas palavras, porque ele não foi repreendido por Deus. Parece-me que ele pelo menos acertou o ponto da questão, qual seja, a pecaminosidade de todos os homens e a perfeição exclusiva de Deus. Se ele "errou a mão", como penso, Deus não parece ter levado em conta.


Partindo dessas considerações, gostaria de observar algumas coisas no texto de Jó 33.13-33, onde há palavras proferidas por esse personagem mais moço que os três "amigos" de Jó, seus antecessores no diálogo.


No trecho referido, Eliú diz:


"13 Por que contendes com ele, afirmando que não te dá contas de nenhum dos seus atos? 14 Pelo contrário, Deus fala de um modo, sim, de dois modos, mas o homem não atenta para isso. 15 Em sonho ou em visão de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, quando adormecem na cama, 16 então, lhes abre os ouvidos e lhes sela a sua instrução, 17 para apartar o homem do seu desígnio e livrá-lo da soberba; 18 para guardar a sua alma da cova e a sua vida de passar pela espada. 19 ¶ Também no seu leito é castigado com dores, com incessante contenda nos seus ossos; 20 de modo que a sua vida abomina o pão, e a sua alma, a comida apetecível. 21 A sua carne, que se via, agora desaparece, e os seus ossos, que não se viam, agora se descobrem. 22
A sua alma se vai chegando à cova, e a sua vida, aos portadores da morte. 23 Se com ele houver um anjo intercessor, um dos milhares, para declarar ao homem o que lhe convém, 24 então, Deus terá misericórdia dele e dirá ao anjo: Redime-o, para que não desça à cova; achei resgate. 25 Sua carne se robustecerá com o vigor da sua infância, e ele tornará aos dias da sua juventude. 26 Deveras orará a Deus, que lhe será propício; ele, com júbilo, verá a face de Deus, e este lhe restituirá a sua justiça. 27 Cantará diante dos homens e dirá: Pequei, perverti o direito e não fui punido segundo merecia. 28 Deus redimiu a minha alma de ir para a cova; e a minha vida verá a luz. 29 Eis que tudo isto é obra de Deus, duas e três vezes para com o homem, 30 para reconduzir da cova a sua alma e o alumiar com a luz dos viventes. 31 Escuta, pois, ó Jó, ouve-me; cala-te, e eu falarei. 32 Se tens alguma coisa que dizer, responde-me; fala, porque desejo justificar-te. 33 Se não, escuta-me; cala-te, e ensinar-te-ei a sabedoria".



Na Antigüidade, em tempos patriarcais, Eliú percebeu quão pecador é o Ser Humano e cogitou a hipótese de um "intercessor" em seu favor. Note-se que nessa época não havia sequer o sistema sacrificial levítico, e, segundo os estudiosos, as pessoas faziam seus sacrifícios pelos seus familiares, como Jó. Não havia sacerdotes oficiais.


Repreendendo a Jó por considerar que este propaga uma auto-justiça, Eliú declara que a) Deus orienta o Ser Humano quanto ao caminho que deve tomar (vv.14-18); b) o Ser Humano passa por sofrimentos decorrentes de sua condição limitada (vv.19-22) - o texto não deixa claro que o sofrimento seja conseqüência do pecado pessoal, e parece apontar para a limitação a que todos estamos sujeitos, a saber, a sentença universal da morte.


O orador Eliú passa então a imaginar a existência de um "anjo intercessor" (ARA), um "mensageiro ou intérprete" (ARC), alguém que se postasse como espécie de advogado para falar ao homem como ele deve proceder.


Qual o resultado disso? Deus iria ter misericórdia do homem, e diria ao intercessor: "Redime-o, para que não desça à cova; achei resgate" (v.24).


Que texto interessante! O jovem Eliú pensa em redenção e resgate, dois conceitos que séculos mais tarde seriam aplicados a Jesus Cristo. Para ele, a morte era efeito do pecado, enquanto o fruto do resgate seria a doação de vida, o que se manifesta na declaração de que o homem redimido voltaria à sua juventude e ao vigor da infância (v.25). Além disso, o homem redimido falaria diretamente com Deus (v.26), veria a face de Deus (v.26), teria sua justiça restituída por Deus (v.26), cantaria publicamente o fato de não ter sido punido por seu pecado (v.27); cantaria o fato de Deus ter redimido a sua alma de ir à cova, e por isso sua alma veria a luz (v.28).


Nessas palavras antiqüíssimas eu vejo o anseio do homem por um intercessor, um mediador, um advogado. Já pensou se estivéssemos hoje na mesma situação que Eliú, ou seja, com a consciência do pecado e a idéia de que não existe um intercessor? O que seria de mim e de você? Nem quero pensar nisso...








Fracos, doentes e mortos

A cada Ceia do SENHOR, lemos o texto de I Co 11.23-32, em que o apóstolo Paulo ensina como deve ser essa celebração - um momento de comunhão fraternal em Cristo, memória do que Ele fez por nós, anunciação de Sua morte até que Ele venha. Mas, diferentemente disso, os crentes estavam fazendo da Ceia um banquete de glutonaria, bebedice e injustiça social, pois nem todos podiam se alimentar com suficiência.


Vale recordar que a Ceia era feita com muito mais comida e bebida do que o pequenino pedaço de pão e o cálice de suco de uva que costumamos consumir atualmente, simbolizando o Corpo e o Sangue de Cristo. As chamadas festas Ágape deveriam ser a Ceia do SENHOR, em vez de uma ceia para cada membro, como os coríntios estavam fazendo. Foi a esse tipo de reunião que Judas se referiu em sua pequenina mas gloriosa Epístola, no v. 12, quando disse que alguns falsos líderes se comportavam como "escolhos" ou "manchas" em suas "festas de caridade" ou "ágapes", apascentando a si mesmos.


Voltando a Paulo, tem-se que, depois de explicar, no Cap. 11, como deve ser a conduta de homens e mulheres nas reuniões cristãs, dentro daquele contexto especial (vv.2-16), o apóstolo passa a enfrentar o problema das "divisões" ou "cisões" havidas na igreja de Corinto, e que se expressavam na Ceia do SENHOR, pois alguns comiam e bebiam demais, enquanto outros ficavam sem nada. Não havia, pois, o sentimento de coletividade, compartilhamento, mas um individualismo que adoecia.


Agora chego ao ponto central deste texto. Na tradução da Bíblia de Jerusalém, o trecho do v. 30 está assim: "Eis porque há entre vós mutios débeis e enfermos e muitos morreram". A nota dessa mesma edição bíblica afirma que "Paulo interpreta uma epidemia como punição divina para a falta de amor que tornou impossível a eucaristia".


Não sei se podemos afirmar isso categoricamente. Será que Paulo estava dizendo que os irmãos estavam doentes, fracos, ou que tinham morrido, por causa de uma epidemia enviada por Deus? Bom, nesse caso o autor da nota da Bíblia de Jerusalém deve ter especulado, mas não vejo absolutamente nada que corrobore esse pensamento. Ao menos não vemos o apóstolo Paulo defendendo esse tipo de coisa em outro texto.


Veja bem, não digo que essa "epidemia como punição divina" seja impossível, mas não posso afirmar com absoluta certeza. No entanto, acredito ser bem possível que pessoas fiquem doentes e fragilizadas por problemas morais e espirituais, como se dá com as doenças famosas em nossos dias, como a Depressão, a Síndrome do Pânico, a Ansiedade, as Fobias e o Stress, além de outros transtornos originados na mente, mas com efeitos no corpo, tais como taquicardia, dificuldade de respiração, úlceras, enfim: um profissional da área de saúde mental poderia dizer muito melhor do que eu.

O fato é que há fracos, doentes e mortos nas igrejas. Pecados ocultos adoecem o rebanho, mas também pecados socialmente aceitos. Somente a humildade em Cristo pode nos socorrer, pois ninguém é perfeito. Sejamos, pois, humildes, tomando a Ceia com auto-exame e confissão de pecados. Adoecer nem sempre é inevitável.





domingo, 20 de dezembro de 2009

Eu compreendo os sem-igreja!

Você que está sem igreja e não consegue se adaptar a nenhuma delas, saiba que talvez sua situação seja perfeitamente compreensível. É claro que não estou aqui para advogar causas sem "conhecer os autos", pois deve haver um sem-número de motivos para uma pessoa não querer frequentar igrejas, e nem todos os motivos são legítimos. Todavia, eu me refiro neste texto à grande quantidade de irmãos que não querem ficar sem igreja, mas são "obrigados" à solidão.
Numa sociedade em que surgem igrejas ditas evangélicas a todo instante, para todos os gostos do consumidor religioso, pode parecer estranho alguém se sensibilizar com a situação de quem não se adapta. Poder-se-ia objetar: ou essa pessoa não achou ainda a igreja de seu gosto ou não deveria pensar em achar uma igreja de seu gosto...
Mas a questão não é tão simples. Eu discordo do crescimento numérico artificial e divisionista, que se baseia em igrejas personalistas, em "ministérios" criados antes do surgimento do rebanho, e no pernicioso mercado "gospel". O que não posso esquecer, porém, é que no meio de toda essa desordem existem crentes verdadeiros, sinceros, maduros, que se veem entristecidos por não se encaixarem em nenhum lugar.
É difícil conviver, por exemplo, com a intromissão da Teologia da Prosperidade em nossas igrejas históricas e pentecostais históricas. É difícil engolir aquelas canções pseudo-evangélicas, que são, na verdade, antropocêntricas, subjetivistas e emocionalistas. É difícil conviver com instituições eclesiásticas politiqueiras, o que envolve coisas como o nepotismo, a aliança espúria com políticos, os candidatos "naturais", as monarquias hereditárias. É difícil conviver com a imposição de doutrinas secundárias como se fossem primordiais. É difícil conviver com a centralização do poder em poucas pessoas. Tudo isso nós percebemos na Igreja que se diz evangélica no Brasil de hoje.
O politicamente correto é dizer a esses irmãos sem-igreja frases como "olhe somente para Jesus, não para o homem"; "toda igreja tem problemas"; "você não vai encontrar perfeição aqui neste mundo"; "isso são provas"; "sua hora vai chegar"; "ore mais, tenha mais fé, que vai dar tudo certo".
Não consigo me contentar com frases prontas e raciocínios simplistas como esses. É necessário enfrentarmos o problema em toda a sua feiúra, em vez de fingirmos que tudo está bem. Não! A enfermidade da Igreja brasileira é terrível!
Coloco-me como um dos que, se não têm a solução, ao menos se irmanam com o que se sentem agora desalojados e desiludidos com as igrejas. E, em lugar de não poder olhar para homem nenhum - porque essa é a desculpa que muitos dão - gostaria imensamente de poder olhar, sim, para boas referências humanas, que ousassem repetir o que Paulo disse: "Sejam meus imitadores, como eu sou de Cristo".

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Meu amigo inconveniente

Tenho um amigo muito inconveniente. O pior de tudo é que ele é o que mais me envia mensagens eletrônicas. Seu nome é estrangeiro: Spam. Todos os dias ele aparece com uma novidade, mas não me interesso por nenhuma delas.
Quando minha caixinha de correio era mais precária, as mensagens de Spam vinham misturadas com as mensagens que eu aguardava. Às vezes, ao ver que na caixa havia várias mensagens, eu ficava alegre, para imediatamente perceber que todas não passavam de pilhérias do velho amigo: anúncios comerciais acerca de produtos pelos quais eu nunca me interessei, de lojas em que eu jamais comprei.
Agora que minha caixa de correio é bem mais rigorosa, as coisas de Spam ficam separadas. Mas, talvez pelo hábito de receber mensagens de Spam, lá vou eu olhar o que ele me reservou - e inexoravelmente vejo que se trata das mesmas besteiras.
Ó incorrigível Spam. Deixe que meus amigos mais esperados escrevam para mim, e só. Deixe que eles entupam minha humilde caixa de correio. Deixe que as mensagens recebidas sejam exclusivamente de meu interesse e proveito!
Mas, que insensato eu sou! Quem mais escreveria para mim? Quem mais se importaria tanto comigo, senão a indústria, o comércio, o consumo, a sociedade capitalista, vil e burguesa, a era da informação, e todos os seus aparatos de última geração?
Talvez eu esteja sendo rude demais com o velho Spam. Talvez...Para muitas pessoas, os anúncios de publicidade, ainda que indesejados e impessoais, são a única recordação de que existem. Afinal, quando ninguém mais se lembrar de mim, seja o poeta, seja o doutor, ainda assim Spam me enviará os seus recados. O dinheiro sabe onde as pessoas estão.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Crentes de segunda categoria

Imagine uma igreja em que os crentes são divididos em categorias. Eles não se dividem por questões de cor, classe social ou conhecimento intelectual, o que já seria um apartheid. Mas eles se dividem por uma questão carismática: quem fala em línguas estranhas e quem não fala em línguas estranhas - o que também é um apartheid.
Nessa igreja imaginária, o dom de línguas tem especial importância, sendo elevado acima do dom de profecia, que edifica a todos. A seu turno, o dom de línguas praticado sem interpretação edifica somente o que fala. É uma edificação individual. Por isso, aí está a contradição: o menor de todos os dons é enaltecido como se fora o maior.
Imagine que nessa igreja os irmãos tenham todos os dons do Espírito, mas se ocupem principalmente em buscar o dom de línguas. Nos cultos, esses irmãos falam em línguas desconhecidas, todos a um só tempo, sem que ninguém entenda absolutamente nada. Mas, quem se importa? Desde que todos sejam usados pelo Espírito Santo, está tudo bem.
Nada de interpretação de línguas, nada de profecia, nada de curas, nada de palavra do conhecimento, nada de palavra da sabedoria, nada de fé, nada de maravilhas, nada de discernimento de espíritos. Ah, o discernimento de espíritos é tão importante, e tão raro! Seria ele o termômetro da igreja no exercício dos dons. Mas, à sua falta, a febre das línguas estranhas campeia e adoece a igreja, pois, ausente a profecia, "o povo se corrompe" (Pv 29.18).
Não, as línguas não são ruins em si mesmas, elas são um dom de Deus. Só que, concedidos a nós, os dons precisam ser exercitados com sabedoria. O que deveria ser fervor passa a ser febre. Crentes febris são crentes adoecidos.
Consegue imaginar essa igreja? Tamanho é o emocionalismo que se distorcem pontos doutrinários: em vez de dom, as línguas passam a ser sinal maior de plenitude do Espírito, em detrimento de outros dons e do fruto do Espírito. Falou em línguas, é porque ficou cheio do Espírito. Falou em 1982, e nunca mais, já se considera que foi cheio, e com isso tem o requisito principal para o episcopado e o diaconato, ainda que nunca mais fale em línguas e - pior do que isso - ainda que lhe faltem outros requisitos, como a aptidão mínima para o ensino. Tem outros dons, ensina com maestria, profetiza, cura enfermos, evangeliza, pastoreia, mas nunca falou em línguas - esse, então, é um crente espiritual, mas não tem a conditio sine qua non, e, por isso, não pode ser diácono, não pode ser presbítero, não pode ser pastor - é, em suma, membro de uma subcategoria de crentes.
Alguém dirá: "como falar em línguas?" Os doutos dessa igreja responderão: "Peça a Deus, busque com fé, ore, faça jejuns, nunca desanime". Esquecem que os dons são distribuídos pelo Espírito Santo como Ele quer. E que Paulo nos exorta a buscar os melhores dons, não os menores. A plenitude do Espírito não pode ser medida, e, se o fosse, não seria medida pelo menor de todos os dons.
Mais do que isso: a se estabelecer coisas que o crente deve fazer para falar em línguas, o que se estabelece é um critério de divisão antibíblico dentro da igreja, pois está comprovado pela experiência que nem todos os que buscam falam em línguas. Sendo assim, lhes faltaria alguma coisa: talvez fé, talvez oração, talvez perseverança, talvez emoção suficiente para ir além de uma razão doutrinária.
E agora, consegue imaginar uma igreja assim? Ela existiu, ou pelo menos existiu com a essência do que foi descrito acima: a Igreja de Corinto. Se quiser conhecer esse tema com um pouco de imparcialidade, leia I Co 12-14.

Série vocacionados (V) - Timóteo

Timóteo foi um pastor do primeiro século da Era Cristã. Teve o privilégio de ser criado nas "Sagradas Letras" (II Tm 3.15), sob a supervisão de sua mãe, Eunice, e de sua avó, Lóide. Era um judeu mestiço, filho de uma judia e de pai grego (At 16.1).
Ao chegar à região de Derbe e Listra, Paulo encontrou o irmão Timóteo, de quem davam testemunho os irmãos de Listra e Icônio. Na ocasião, o apóstolo o tomou como companheiro no trabalho missionário e optou por circuncidá-lo, já que os judeus das cidades visitadas sabiam que se tratava de um meio-judeu (At 16.1-5). A partir de então, Timóteo passou a ser um cooperador de Paulo, na época em que o líder Barnabé já não viajava com o apóstolo (At 15.36-41).
O pastor Timóteo foi discipulado pelo apóstolo Paulo e se tornou um de seus mais destacados colaboradores. Foi chamado por Paulo de "verdadeiro filho na fé", "filho",  "amado filho" e "filho meu" (I Tm 1.2, 18; II Tm 1.2; 2.1). Não é sem razão que Paulo o coloca como coautor da Segunda Epístola aos Coríntios, talvez para lhe dispensar maior honra diante da igreja (II Co 2.1). Timóteo era mesmo um rapaz abençoado.
Parece-me que Timóteo conheceu o medo em algum momento de seu ministério, a ponto de Paulo exortar os coríntios a providenciarem que Timóteo não tivesse receio no meio deles, e que não o desprezassem (em meio àqueles irmãos de Corinto, creio que eu mesmo me sentiria em apuros). Paulo também lhe disse que Deus não dá "espírito de covardia" (II Tm 1.7), e o exortou a não se envergonhar "do testemunho de nosso Senhor nem do seu encarcerado", que era o próprio apóstolo (II Tm 1.8).
Como penso que todo conselho traz em si um juízo de valor, é de se supor que Timóteo não fosse desembaraçado.
Mais um argumento em favor dessa tese: Paulo precisou exortar o jovem pastor Timóteo a se manter firme ante a sua mocidade. Disse Paulo: "[Que] Ninguém despreze a tua mocidade" (I Tm 4.12). Acho engraçado alguns irmãos interpretarem esse versículo como se Paulo exortasse a cada um de nós a não desprezarmos a nossa própria mocidade...e só. Não é só isso. De modo ainda mais interessante, Paulo, a um só tempo, exorta Timóteo a valorizar a sua mocidade, mas principalmente diz que os demais não podem desprezar a sua mocidade (a mocidade dele, Timóteo). Ora, se Paulo, com sua conhecida teologia responsiva, precisou escrever isso, foi porque encontrou algum problema no relacionamento do jovem pastor com suas ovelhas - um problema de autoridade fraca.
Todavia, a eventual fragilidade na liderança não retiraria a veracidade de sua vocação, que lhe foi reconhecida por imposição de mãos do presbitério e do próprio Paulo, tendo sido anunciada mediante profecia (II Tm 1.6; I Tm 1.18). E por isso Paulo o exortava a despertar o dom que Deus lhe concedera e cumprir o seu "ministério" (II Tm 4.5).
Dentre as três Cartas Pastorais de Paulo, duas foram escritas a Timóteo. Dessas Epístolas extraímos o pensamento paulino quanto aos requisitos para o episcopado e o diaconato, a relação do pastor com a igreja local, o combate às heresias, a disciplina de falsos mestres e irmãos complicados, a maneira de conduzir a vida ministerial, o procedimento no culto público, a prática da oração coletiva, o apego à sã doutrina, os fundamentos da Fé.
Foi a Timóteo que Paulo escreveu várias vezes a expressão "Tu, porém", por meio da qual introduzia as exortações pessoais ao jovem pastor, mostrando-lhe como deveria ser diferente dos falsos irmãos.
Dentre as palavras de Paulo a Timóteo, estão algumas qualidades que o vocacionado a pastor deve ter:
a) "bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da doutrina" (II Tm 4.6);
b) "padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza" (II Tm 4.12);
c) "aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade (II Tm 2.15);
d) "homem de Deus" (II Tm 6.11).
Timóteo tinha uma enfermidade estomacal e outras doenças que Paulo não menciona claramente (I Tm 5.23). Nisso, pelo menos, eu me pareço com ele, pois descobri uma gastrite há pouco tempo. E como chateia essa gastrite!
Minha esposa havia falado há um tempo sobre chamarmos um de nossos filhos de Timóteo. Por enquanto, o menino que nasceu eu dei a ideia de chamarmos de Inácio. Talvez, no futuro próximo, nasça um Timóteo em nosso meio...Mas o fato é que o nome desse eterno jovem pastor é mais belo pela força de seu testemunho do que por qualquer outro motivo. Nas igrejas, quando se fala de Timóteo, pensa-se em companheirismo, fidelidade, cooperação, amizade. É desse Timóteo que todos nós gostamos.
Mas, como todo vocacionado, Timóteo tinha seus problemas. A vocação com imposição de mãos e profecia não o dispensou do medo. A vocação preparada desde a infância, num lar cristão, não o dispensou de percalços na área da autoridade. Enfim, sua vida com Deus não o livrou da doença no estômago. E, para ser bem sincero, há que se ter estômago para cuidar de pessoas, notadamente quando elas se veem como senhoras da verdade! E quantos há dentre os cristãos que se acham senhores da verdade!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Que ironia: a Igreja brasileira parece com o Lula!

Na campanha presidencial de 1989, dizia-se que se Lula ganhasse fecharia as igrejas. Diziam também que ele era comunista, usando o termo no pior sentido possível. Muitos crentes acharam que essas coisas fossem verdade. Aquele "sapo barbudo", como alguns o chamavam, assustava os eleitores. Eu tinha 12 anos de idade e lembro bem de algumas passagens daquela campanha - creio que sempre gostei de acompanhar a política.
Todavia, o tempo passou, e aquele ex-sindicalista e ex-metalúrgico se tornou presidente da República, o mais popular da história do Brasil, talvez o mais carismático, alguém que se enxerga como o mais legítimo representante dos brasileiros em todos os tempos, que acha que fez muitas coisas inéditas, o que sintetiza com a frase "nunca antes na história deste País". Um homem emblemático, bonachão, de liderança fácil. Um homem de pensamento conservador que se lançou na vida pública por meio de lutas próprias da esquerda. Um homem simples que usa metáforas futebolísticas para assuntos sérios, que pega no cotovelo do Papa, que diz com a maior facilidade que vai telefonar para o Sarkozy ou para o Bush a fim de resolver, numa conversa, um problema internacional grave, ou que poderia ajudar no conflito entre palestinos e israelenses - o qual é mais complexo do que ele poderia imaginar.
Esse homem é hoje aclamado por gente de todo tipo, evangélicos entre eles. Sua candidata, Dilma Rousseff, participou do culto de aniversário de José Wellington Bezerra da Costa, presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB). Recorde-se o leitor de que em 1997 (ou perto disso) o mesmo José Wellington afirmou no Campo de Marte, em São Paulo (por ocasião de um importante Congresso Pentecostal), na presença de um "fervoroso" FHC, que um crente da Assembleia de Deus é um sem-terra a menos, e deu a entender que os assembleianos ajudariam o então presidente na eleição. Diga-se de passagem que FHC disse "aleluia" naquele dia. Agora, porém, todo mundo acha que o Lula não é tão feio. Como disse o "filósofo" Kléber Bamban, ele agrada a "gregos e coreanos".
E agrada mesmo. Outro dia o casal Hernandes, da Renascer, orou por Dilma Rousseff, por sua cura de um câncer linfático, logo depois de voltarem de uma prisão domiciliar nos Estados Unidos. Aquela oração teve ares de apoio político. Sim, teve. Pode ser uma coisa bem normal para o Lula, considerando como ele tem defendido explicitamente homens como Collor, Sarney, Renan Calheiros, mensaleiros do PT, e outros tantos corruptos, sob a bandeira fácil do "devido processo legal".
Muitos hoje na Igreja brasileira, e fora dela, gostam de Lula. Uso o termo "Igreja brasileira" em termos bem genéricos, pois, como disse um ex-professor meu de teologia, Pr. Fernando Glória Caminada Sabra, "a Igreja brasileira não é um monobloco". Sei disso, e por isso faço a ressalva. Refiro-me à "Onda Gospel", a tudo o que prepondera na Igreja brasileira, a essa profusão de besteiras e desvios comportamentais que há em nosso meio.
Afirmo, em suma, que há muitas semelhanças entre a Igreja brasileira e Lula: o populismo, o afã messiânico ("nunca antes na história deste País"), a escatologia triunfalista, as alianças espúrias, a distância entre discurso e prática, o simplismo, o desprezo ao estudo sistemático, o sensacionalismo, a ignorância como virtude, a santidade seletiva.
Ouvir Marco Feliciano e Cassiane, com todo o respeito, e deles retirar uma teologia para a vida, é como usar as falas soltas do Lula enquanto regra de fé e conduta: muita emoção e conteúdo superficial. E ai de quem for contra! Coitado do herege que não gostar de Lula, de Marco Feliciano ou de Cassiane! Deve ser frio ou conservador, atrasado ou elitista.
A ética da Igreja brasileira é seletiva mesmo: homossexualismo e adultério são os piores pecados do mundo, como os pecados mortais da Idade das Trevas. Mas improbidade administrativa, popularmente chamada de "corrupção", pode passar sem uma disciplina eclesiástica. Conheci - de longe, registre-se - um deputado federal envolvido no Escândalo das Sanguessugas em 2006, deputado federal de primeiro e único mandato e filho do presidente de uma importante igreja e convenção estadual do Brasil há décadas. Homem que hospedava Daniel Berg! O deputado de primeira viagem se viu grampeado com autorização da Justiça, dizendo ao Vedoim que estava "no sufoco". O que aquele senhor fez? Sequer voltou à nossa igreja para pedir desculpas. Meses antes, pedira votos, e depois do escândalo pediu de novo, mas felizmente perdeu. Pelo menos isso. Mas não houve disciplina...
Se for para a obra de Deus vale tudo? Esse pragmatismo é perigoso: o caixa dois do PT surgiu assim, culminando no mensalão que os petistas hoje dizem ter sido uma invenção do Roberto Jefferson. Foram apenas "recursos não-contabilizados" de campanha, como se isso não fosse crime eleitoral. Segundo o Lula, "isso é o que se faz sistematicamente no Brasil". Ora, em sua ética, se for um pecado sistemático, dá para passar.
Está mais do que na hora de crentes se insurgirem contra essa situação nefasta em que se encontra a Igreja brasileira. Não podemos ser a Igreja do Lula. Somos a Igreja de Cristo. Nossos oficiais eclesiásticos não podem ser ordenados simplesmente para formação da "base aliada" do pastor. Lembro de um pastorzinho que me disse: "Aqui na igreja nós temos uma oposição". E emendou: "Precisamos sair para tomar sorvete". Engraçado: será que ele pensou que eu comporia a "base aliada"?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Mais leveza, mais leveza...

Olhar os problemas da igreja com um coração mais sereno é um desafio para mim. Tenho por natureza uma percepção bastante racional, ou, talvez, racionalista das coisas - se eu tiver algum crítico, ele preferirá a palavra "racionalista". Analiso ou tenho a tendência de analisar os fatos com implacável senso de laboratório: é preto no branco, sim ou não, bom ou ruim, correto ou incorreto, valioso ou medíocre. Sou, de fato, um tanto cartesiano.
Todavia, o Ser Humano não é feito somente de razão. Há também a emoção e a espiritualidade. Alguém que prezo muito, e que tem opinião qualificada, me disse um dia desses que "a razão é depressiva, niilista". Se enxergarmos a vida apenas com a razão, as coisas ficarão muito, muito feias, porque "o mundo inteiro jaz no maligno" (I Jo 5.19). Mas há que se observar que, ao criar o mundo, Deus disse que todas as coisas criadas eram boas ou muito boas (Gn 1.1-31), no que vejo uma apreciação também estética, não simplesmente funcional. O próprio Deus ama o mundo-humanidade (Jo 3.16), é o SENHOR do mundo-cosmos (Sl 24.1), embora não aprove o amor das pessoas ao mundo-sistema de valores (I Jo 2.15-17).
É preciso entendermos que tudo o que existe deve ser analisado sob essa ótica de Deus: o mundo que jaz no maligno é o sistema de valores pecaminosos, mas há um traço do mundo que não é ruim em si mesmo: o mundo em seus aspectos humano e cosmológico.
É por isso que a razão deve estar acompanhada de sentimento e espiritualidade, pois, se deixarmos a razão por si só, não veremos nada de bom nas pessoas nem na Criação. Tudo será um grande sistema corrompido em que tudo deve ser apreciado friamente, sem emoção e sem sensibilidade à esfera espiritual.
Ao examinar a eclesiologia (notadamente a forma de governo) de determinada igreja, se centralizadora ou anarquista; a (de)formação moral e/ou intelectual de pastores e outros líderes; a liturgia muitas vezes tacanha ou formalista...é preciso verificar a existência das coisas boas: a vivência em comunidade, o abraço sincero, o telefonema de solidariedade em momentos difíceis (como recebi deles dois hoje), a palavra dita a seu tempo, a doação do Espírito Santo, o registro da Vontade de Deus em Sua Palavra, que nos enche de esperança.
Bem por isso, eis aqui este discípulo de Cristo disposto a avaliar a Igreja e as igrejas com a mente, mas também com o coração e com o espírito, que formam a habitação do Espírito de Deus em mim.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

"A propina de cada dia nos dai hoje"

O escândalo da quadrilha instalada no Governo do Distrito Federal, sacudido pela Operação "Caixa de Pandora", da Polícia Federal, traz a cada dia novas revelações e vídeos de pagamento de propina a políticos e empresários, uns mais estarrecedores que os outros: dinheiro no bolso, na bolsa, na meia, na cueca, e, novidade das novidades, oração de agradecimento a Deus pela propina recebida...!
Aparecem num dos vídeos o presidente da Câmara Legislativa do DF, LEONARDO PRUDENTE, o então Secretário de Relações Institucionais DURVAL BARBOSA - delator do esquema - e o Corregedor (!) da Câmara, RUBENS CÉSAR BRUNELLI, fazendo uma oração a Deus, nos seguintes termos:

“Pai, eu quero te agradecer por estarmos aqui. Sabemos que nós somos falhos, somos imperfeitos” (...) “Precisamos dessa tua cobertura, dessa tua graça, da tua sabedoria, de pessoas que tenham, senhor, armas para nos ajudar nessa guerra e, acima de tudo, todas as armas podem ser falhas, todos os planejamentos podem falhar, mas o senhor nunca falha”.

Os três oram depois de repartirem a propina. A oração foi conduzida pelo deputado BRUNELLI, que, como vimos acima, pede a "cobertura" de Deus...
Que negócio é esse? Cobertura? Para esse tipo de coisa Deus não oferece nenhum tipo de cobertura.
Por sua vez, a deputada distrital EURIDES BRITTO, que aparece em outro vídeo colocando dinheiro na bolsa, defende-se agora dizendo que o vídeo foi deturpado, e cita até um versículo, contido no Sl 37.5 ("Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia n'Ele e Ele tudo fará"). Não, minha senhora! Deus não fará nada em benefício do erro.
Como disse minha esposa, esses senhores esqueceram de que o bom é imitar Zaqueu depois de seu encontro com Jesus, e não antes (quando era um corrupto cobrador de impostos que defraudava seus compatrícios para enriquecer seu patrimônio pessoal - Lc 19.1-10).
Já foi um absurdo ver aquele ladrão, creio que nos EE.UU., agachando-se para orar com a funcionária que ficara nervosa com o assalto. Isso ocorreu há não muito tempo.
Havia também aquele personagem de DIAS GOMES, o ZECA DIABO, que, curiosamente, rezava ao "MEU PADIM PADE CIÇO" depois de cometer assassinatos - pois era matador de aluguel. Não é que "a vida imita a arte"?
Lembro, ainda, do britânico que foi condenado com a ajuda de uma prova definitiva: sua oração de confissão a Deus, desacompanhada de entrega espontânea à Justiça, foi gravada pelos policiais. Escrevi sobre isso aqui no blog.
Se a CNBB surge para se indignar, não o faz sem razão. É motivo para indignação de todos os que são religiosos e de todos os que não o são. Orar para agradecer pela propina nossa de cada dia é o fim do mundo.
Mas não posso, e não vou, ficar apenas na resenha jornalística. Meu ofício é outro: relacionar isso tudo com o triste posicionamento da Igreja que se diz evangélica hoje no Brasil (sim, aquela oração dos nobres políticos tinha jeito de "evangélica", o que se evidencia por coisas como o pedido de "cobertura", invenção mais moderna que se infiltrou nos meandros evangélicos, ainda que sem base bíblica).
É natural que pessoas se aproveitem de um evangelho descaracterizado, de um evangelho sem ética, de um evangelho distorcido, de um evangelho em que o conceito de Graça não é correto. Graça é a disposição divina de perdoar pecados confessados, não o passar a mão pela cabeça de corruptos inveterados. Deus é tão Justo quanto Amoroso. O amor e a justiça se encontraram em pé de igualdade na Cruz, e foi por isso que Jesus morreu. Toda vez que alguém peca deliberadamente, é porque está mais uma vez lançando Jesus na Cruz. E, como diz o autor da Epístola aos Hebreus, já não há sacrifício pelos pecados.
É uma vergonha que alguém tenha a coragem de orar a Deus agradecendo pelo pecado cometido. Mas, veja só eventual leitor (a), é chegado o fim de todas as coisas.













domingo, 29 de novembro de 2009

Liberdade religiosa e benefícios legais

Na edição de hoje da Folha de São Paulo, há uma reportagem de Hélio Schwartsman intitulada "Criar igreja e se livrar de impostos custa R$418". O autor, que é articulista do jornal, narra como conseguiu registrar a "Igreja Heliocêntrica do Sagrado EvangÉlio" (escrito assim mesmo) em dois dias, e, com mais três dias, fazer aplicações financeiras com isenção de Imposto de Renda e IOF. Informa que sua igreja tem um estatuto que prevê sucessão hereditária, sumo-sacerdote e a doação regular da terça parte da renda para o trabalho religioso. Mostra que outros países têm políticas diferentes que privilegiam as religiões, e que isso teria em vista a liberdade religiosa - aqui, vale observar que na maioria dos casos citados no texto a legislação brasileira se mostra superior, mais equilibrada.
Entre as críticas e ironias do autor, encontram-se menções à permissão para que grupos como o Santo Daime, A Barquinha e a União do Vegetal cultivem, transportem e consumam a planta alucinógena ayahuasca, que só podem consumir os membros de seitas dessa natureza; a permissão legal para que alguém, em nome da fé, se negue a doar sangue (referência clara às Testemunhas de Jeová); o privilégio da prisão especial para ministros religiosos, assim como a não-obrigação de prestarem o serviço militar; as imunidades fiscais (para IPTU, ITR, IPVA, ISS, e, em alguns Estados, ICMS, quanto a atividades essenciais à religião); a desnecessidade de requisitos teológicos ou doutrinários para a formação de uma igreja.
O jornalista não aponta uma solução, limitando-se a usar o último parágrafo de um dos textos da reportagem para afirmar que estamos diante de duas possibilidades: acabar com o tratamento diferenciado ou mantê-lo como efeito da democracia...soou, para mim, como espécie de mal necessário.
As informações da reportagem refletem, em geral, os fatos, mas há excessiva dose de ironia, o que ganha especial relevo em se tratando de um ateu confesso, como é o Sr. Hélio Schwartsman.
Já enviei uns dois e-mails para Hélio Schwartsman, creio que em 2008, quando ele escreveu textos na Folha On Line sobre religião e ciência. Ele me respondeu mui educadamente. É um pensador ateu, mas que gosta de tratar de religião. Talvez isso seja alguma questão subjetiva, não nos cabe perscrutar seara tão densa - o fato é que ele incorre em alguns erros importantes:
Primeiro, é muito perigoso abordar um tema inserto (inserido) nas liberdades fundamentais com mais ironias do que sugestões claras de solução. Do jeito que está, fica parecendo que a liberdade religiosa é um perigo, quando perigosa é a tentativa de restringir a liberdade alheia, ainda que ela não me importe em nada.
Segundo, não há que se falar em requisitos doutrinários ou teológicos para criar uma igreja, ao menos do ponto de vista legal. Esse aspecto é espiritual, de fé, e jamais um aspecto jurídico. Os crentes é que precisam ter maturidade e não enveredar por caminhos tortuosos, em igrejas de fachada, com pastores falsos. Não há que se falar em restrição jurídica à formação de igrejas só porque alguém pode ser mentiroso.
Terceiro, nada há de errado com o art. 44, §1º, do Código Civil: ele é perfeito ao estabelecer a não-ingerência do Estado na constituição, estruturação e funcionamento de organizações religiosas.
Quarto, se há a necessidade de desonerar outras entidades de impostos, para estender, por exemplo, a organizações assistenciais os benefícios dados a organizações religiosas, essa deveria ser a proposta do jornalista, e não o contrário: questionar uma garantia da liberdade religiosa para ser mais justo. Isso é um flagrante paradoxo!

sábado, 28 de novembro de 2009

Unanimidade, consenso e comunhão: uma reflexão política

Dizia o escritor Nelson Rodrigues que "toda unanimidade é burra". Devo admitir: entendo a frase dele, e concordo, porque toda vez que deparo com a unanimidade ela me assusta - como essa unanimidade em torno do presidente da República, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva. E isso me faz pensar na diferença entre unanimidade, consenso e comunhão...
Alguém me dirá: "mas o presidente não tem unanimidade, só 80% de aprovação..." E eu pergunto: para um governante, isso não é unanimidade? Quando amplos setores sociais aprovam um líder político, isso não é de preocupar? Quando expressiva parte da imprensa, movimentos sociais, sindicatos, intelectuais e funcionários públicos passam a defender o presidente apesar de tudo, não é para causar estranheza? Que o mundo se irmane em torno de Lula - não me importo - e ainda mais me espantarei!
Nenhum presidente teve paz com movimentos como o MST, mas Lula tem. Nenhum presidente teve paz com as centrais sindicais, mas Lula tem. Por quê? Porque Lula é o melhor de todos, o grande estadista, o maior político que o Brasil já teve? Não! É tão-somente porque ele fez um pacto com grupos de esquerda: "vocês me deixam tranquilo e eu dou dinheiro a vocês". Esse foi o "slogan" dele em 2006: "Deixa o homem trabalhar". E é essa a sua preocupação com o TCU: o Tribunal de Contas da União fiscaliza as obras do PAC, e Lula não gosta, assim como Marina Silva fiscalizava duramente as obras em nosso País, na área ambiental, e Lula não gosta muito de fiscalização. Marina Silva teve que sair, assim como o TCU pode sofrer restrições a partir de projeto de lei de iniciativa do Governo.
Ora, consenso é diferente: consenso é refletido, fruto de negociações, lutas, debates. A democracia se constrói com o consenso. As demandas sociais são dirigidas ao Governo, que as discute e decide, de acordo com o orçamento, as prioridades, o programa político, as alianças. Mas acordo direto com movimentos sociais, sindicatos e organizações não-governamentais menosprezando o Parlamento não me parece nada republicano. Parece-me muito mais uma cooptação.
Acredito no consenso. Gostaria que os políticos brasileiros buscassem o consenso, e não o "acordão", a maracutaia, o mensalão, o caixa-dois. Consenso é a alma da boa política, e só estadistas sabem o que é isso.
Agora, comunhão é diferente, é coisa espiritual. Somente a Igreja de Cristo pode conhecer a verdadeira comunhão. Ouvi certa vez um católico dizer algo muito interessante. Foi o Cardeal Cláudio Humes, à época do Conclave que elegeria o estranho Joseph Ratzinger. Guardadas as devidas reservas que tenho à Igreja Romana, essa frase dele tem muito sentido: "A Igreja não vive de consenso, mas de comunhão". Em se tratando de política, o bom é o consenso. Em se tratando de igreja, o bom é a comunhão.
O problema é que tanto os governos como muitas igrejas preferem buscar a tal unanimidade, a troco de "panis et circensis". Para onde iremos, pois?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Fetichismo e mercantilismo na "Terra Santa"

Vejo na primeira página da edição do New York Times para a Folha de São Paulo, de hoje, um batismo coletivo de evangélicos brasileiros no rio Jordão. Mostro para a minha esposa, e ela emenda de imediato: "Esses batismos no Jordão só servem para vender pacote turístico". É verdade!
Viagens a Israel promovidas por igrejas; batismos no rio Jordão; bibelôs da "Terra Santa": espere aí...qual o limite entre a simples visita turística e a prática do mercantilismo religioso associado ao fetichismo "evangélico"?
Ninguém precisa ser batizado no rio Jordão. Não precisamos desse aspecto místico em nossa Fé. Nossa espiritualidade não se faz de objetos sagrados (fetichismo).
Jesus foi batizado no rio Jordão porque esse era o território de João, o Batista. Essa era a sua área, o seu campo ministerial, usemos a palavra que acharmos mais adequada. Mas não havia um poder místico no rio em si. O poder estava (e está) N'Aquele a respeito de Quem João exclamou: "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo".
Nada há de especial no rio Jordão, e tanto isso é verdade que Naamã, general sírio, achou estranho ter que mergulhar (sete vezes) num rio tão sem expressão, havendo rios melhores em sua terra (Farfar, atual Awaj, e Abana, atual Barada). Enquanto esses dois rios de Damasco eram límpidos, o Jordão tinha água barrenta*.
De fato, Eliseu mandou o general mergulhar no Jordão para que fosse curado de sua lepra (II Rs 5.1-19), mas não há nada de normativo nisso, nada de cabalístico, e eu não tenho que viajar a Israel para mergulhar no Jordão, seja uma vez para o batismo, seja sete vezes para simbolizar qualquer coisa.
Agências de viagem ganham dinheiro com a fé incauta de muitos. Já vi um pastor dizendo que a viagem a Israel seria a mais importante de sua vida, e a igreja que promovia a viagem vendia o produto como "a viagem dos seus sonhos". Tudo bem, não sejamos radicais. Mas, por que somente Israel teria esse valor, se outras nações antigas, como Egito e Grécia, guardam semelhante valor histórico, e até fazem parte dessas excursões?
É claro, eu sei, trata-se de algo muito mais profundo: uma doutrina dispensacionalista e escatológica que enxerga Israel como equiparado à Igreja, e que, por isso, vê nos limites territoriais de Israel e na etnia dos judeus algo de sagrado, parte do Plano de Salvação. Não recuso totalmente a ideia de um plano especial para Israel, mas discordo dessa doutrina segundo a qual Deus coloca Israel e a Igreja como dois povos estanques, pois, de acordo com o apóstolo Paulo, foi derrubada a parede de separação, e quem não era de Israel passou a ser na medida em que se tornou "filho de Abraão" pela fé (Eféfios). E nem todos os que nascem em Israel são israelitas (Rm 9 a 11 é leitura necessária a esse tema). Ser filho de Abraão é ter a fé exercitada por Abraão no sentido de por ela ser justificado.
Ora, estou caminhando para outra seara, mas deixe-me dizer que essa doutrina (dispensacionalista e de natureza escatológica) não é tão ruim como o fetichismo e o mercantilismo, porque esses são pecaminosos, e a doutrina secundária equivocada é apenas uma doutrina secundária equivocada, principalmente em se tratando de coisas futuras. Mas há sempre o perigo de que Israel, lugar tangível, físico, existente, seja tomado como lugar sagrado, diferente, especial, soberano - quando não é.
A Nova Jerusalém não é dessa Terra, não está em Israel nem em Pernambuco. Na verdade, a Nova Jerusalém é a Igreja de Cristo.

*Quanto aos nomes atuais dos rios e suas características em relação ao Jordão, ver Bíblia Anotada, 1994, p. 492.

O Criador e Sua obra-prima

Viu Deus que era muito bom - essa afirmação, registrada em Gn 1.31, é precedida de várias declarações de que Deus considerou "bom" o que criou (a luz, os céus, a Terra, os mares, o sol e a lua, os vegetais, as aves, os répteis e os grandes animais aquáticos). Somente no sexto dia Ele considerou "muito bom" o que emanou de Seu Supremo Poder Criativo: nesse rol estava a Humanidade.
Já ouvi dizer que essa frase de Deus - quanto ao ser "bom" ou "muito bom" o que criara - tem um aspecto de apreciação estética. Seria como o artista que, ao ver sua obra acabada, exclama com prazer: "Que maravilha".
A estética pertence a Deus. Aliás, Cosmos e cosmético não têm a mesma origem etimológica? Tanto o Cosmos quanto o cosmético têm a ver com beleza, estética. O Universo é belo e a Humanidade, quando criada, era algo muito bom.
Há entre os ambientalistas uma falsa ideia que se denomina "biocentrismo": a defesa do meio ambiente por seu valor em si mesmo. A isso contrapõe-se o antropocentrismo: a elevação do Homem como senhor do Universo - do qual também discordo. Mas não estou aqui tratando de Gn 1.26-28, onde temos o mandato cultural (o Homem é senhor enquanto cuidador, e não enquanto dominador). Refiro-me ao aspecto da beleza, da estética, do prazeroso, do lúdico, enfim, da Humanidade como obra-prima da Criação.
Falar em homens e mulheres como a obra-prima de Deus é, para os biocentristas, uma heresia, pois eles acreditam que a Humanidade é somente mais um elemento no Universo, igual a todos os demais seres. A par disso existe uma tal espiritualidade em que as pessoas andam descalças, abraçam árvores e pensam que até nossos pensamentos são guiados por energias cósmicas. Onde estará a superioridade responsável do Homem nessa teoria?
De outro lado, estão os antropocentristas, os humanistas, para os quais "o homem é a medida de todas as coisas - das que são enquanto são, e das que não são enquanto não são". O que é isso? Quer dizer que a Humanidade é o critério de avaliação de tudo? Então estamos perdidos mesmo!
Mas há como equilibrarmos isso. Podemos ver a Humanidade como obra maior de Deus sem enaltecê-la demais. Como? Enxergando-a como Humanidade, e não como divindade. A Humanidade come de novo da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal quando se esquece disso e pensa que pode ser como Deus. Basta conhecer-se e reconhecer-se como criatura abençoada e próspera do SENHOR, criação criativa, objeto do amor incondicional e sacrificial de Deus, parceira de uma relação interpessoal e eterna.
É bonito ser humano. Apesar de tudo, é bonito o Ser Humano.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A sublimidade da ordenação episcopal

Percebo certo descaso para com a ordenação episcopal em determinadas igrejas, como que uma banalização. Isso se revela na ordenação "pelo conjunto da obra", como se fosse premiação por serviços prestados; ou na consagração em massa, sem critério; ou, ainda, na ordenação para formar um grupo de apoio, como fazem os políticos; e na tendência de querer ser pastor entre jovens sem perspectiva na vida.
Talvez a responsabilidade por essa distorção deva ser compartilhada por sistemas eclesiásticos em que o pastor é maioral, principal, chefe, e não um servo de todos, como recomendam as Escrituras. Como já devo ter escrito antes neste blog, alguns homens sem preparo, experiência nem vocação acorrem aos líderes porque desejam ser “lembrados”, numa corrida que se assemelha a de empregados nas empresas em busca de promoções. Isso favorece a bajulação, a centralização de decisões, a formação de cúpulas, a incapacidade de renovação de líderes e o desestímulo à criatividade. Assim, o sistema tem sua culpa.
Dá para imaginar o quanto uma igreja valoriza seus pastores (e presbíteros) pela forma dos cultos de ordenação. Nas igrejas reformadas e batistas, as ordenações são feitas particularmente: o pastor é ordenado na presença de familiares e amigos, além, é claro, da igreja, que publicamente o acolhe como um novo ministro da Palavra. Já em igrejas pentecostais, como a minha Assembleia de Deus, ordenam-se numerosos pastores, tudo de uma vez, e não é raro que isso ocorra quase de surpresa, com poucos dias de antecedência até mesmo para o pastor a ser ordenado. Não dá sequer para se dirigir ao aspirante a pastor uma palavra especial, que leve em consideração a biografia do sujeito, seu chamado, seus talentos...A ordenação por atacado não valoriza a vocação.
Vejo, ainda, que a atribuição da pregação a quem não é pastor precisa ser condicionada - não digo "limitada" nem "proibida", mas condicionada. Não estou dizendo que somente pastores podem pregar – eu mesmo não sou pastor (nem diácono), mas aceito a missão de pregar. Sei que todos os crentes em Cristo são sacerdotes, que a pregação deve ser realizada por todos. Entretanto, deve-se registrar que a pregação é uma das atribuições do pastor, e não pode ser conferida a qualquer pessoa que fale bem ou ache que pode assumir o púlpito por qualquer motivo – porque fala em línguas, porque grita, porque decora versículos bíblicos, porque imita pregadores famosos, porque conhece as doutrinas, porque tem conhecimento, porque se emociona.
Admiro as igrejas que veem o pastor como um homem vocacionado. Vejo uma distinção entre igrejas pentecostais e igrejas históricas nesse aspecto: enquanto os pastores pentecostais são "separados para o ministério" e "pelo ministério", os pastores de igrejas históricas são ordenados pela igreja por sua vocação. Nas igrejas históricas parece haver uma ênfase no chamado individual, não apenas na necessidade que a igreja tem de pastores.
Os bispos e pastores anglicanos usam aquelas roupas especiais. Alguns pastores metodistas e outros mais gostam de utilizar um tipo de roupa diferente com aquela gola de padre. Até mesmo os pastores assembleianos têm uma espécie de "uniforme", o terno, embora esse seja o uniforme de todo assembleiano tradicional...Conquanto eu não seja adepto do uso de vestes especiais pelos líderes de igreja, há um sentido no seu emprego: além da questão tradicional, há uma ideia de reconhecimento de que o pastor é um homem chamado por Deus. Veja: não estou defendendo o uso dessas roupas, mas elas têm um sentido que vai além do mero tradicionalismo.
Pastor é aquele que poderia ser muitas outras coisas, mas foi escolhido para apascentar o rebanho de Deus. Não pode ser de outra forma.

sábado, 14 de novembro de 2009

A Globo, mais uma vez a Globo...

Eu nunca assisto ao programa de Ana Maria Braga, graças a Deus. E também não assisto ao Ó Paí Ó, que tem meu conterrâneo Lázaro Ramos como protagonista. Mas ontem, por coincidência, no início e no final do dia, deparei com os dois programas, e fiquei triste.
Primeiro, ao mudar de canais pela manhã para ver o que poderia assistir, vejo que Ana Maria Braga estava começando mais uma parte de uma série chamada O Sagrado, e nesse dia o tema era justamente o Protestantismo. O entrevistado? Ninguém menos que o conhecido pastor batista Israel Belo de Azevedo. O problema, porém, aconteceu depois, já com o entrevistado diante de Ana Maria Braga, que iniciou sua fala demonstrando o quanto ela se preparou para a série de reportagens: "Eu sempre achei o Protestantismo muito igual ao Cristianismo". Preciso comentar? Vindo de Ana Maria Braga, com todo o respeito do mundo, não dá para ficar surpreso. Desliguei a TV, com a máxima aprovação de minha esposa.
À noite, depois de assistir ao excelente filme A Vida dos Outros (altamente recomendável), vi que na Globo o Ó Paí Ó mostrava o Lázaro Ramos tentando alertar uma pequena igreja de que o seu pastor era, na verdade, mentiroso e ladrão. O apelido da figura? Queixão. Aqui na Bahia queixão é o sujeito cheio de conversa mole, pelo que sei. E o tal pastor Queixão superfaturava a obra do templo (parecido com congregações pentecostais) para se apropriar indevidamente dos dízimos. O personagem de Lázaro Ramos tenta explicar isso a uma irmã, que, credulamente, o expulsa da igreja como quem escurraça um demônio.
Existem pastores corruptos? Sim. Existem pessoas simplórias que acreditam em tudo o que o pastor diz? Claro. Mas tenho aqui umas considerações a fazer:
a) os personagens evangélicos da Globo são geralmente hipócritas, mentirosos, corruptos, fanáticos ou promíscuos. Graças a Deus eu não assisto a novelas há um bom tempo, mas acompanho as notícias jornalísticas sobre esses personagens. A Globo cria um estereótipo, uma generalização, de modo que as pessoas, ao final da cena, dizem: "É assim mesmo, todo pastor é ladrão", quando, na realidade, o mundo evangélico é muito maior que isso.
b) personagens espíritas na Globo são sempre bons conselheiros, capazes de ajudar a todos com suas palavras boas. "Casais" homossexuais vivem melhor que os casais heterossexuais, que não duram a novela inteira sem brigas e/ou traições. Será isso casual?
c) A série de reportagens do Jornal Nacional sobre as obras sociais dos evangélicos foi apenas um extrato do que a Globo pensa em fazer para não perder esse grande filão que é o público evangélico - afinal, a Record está aí (embora a Rede Record seja igual ou pior que a Globo em exposição da imoralidade em amplos sentidos). Para uma série de reportagens sobre os benfazejos evangélicos existe um turbilhão de personagens mal-fabricados, enredos induzidos por preconceito e dezenas de eventos de grande porte pouco noticiados.
d) Essa singela análise nada tem que ver com as denúncias contra os líderes da Renascer em Cristo ou da Universal do Reino de Deus. Repercutir investigações da Polícia e do Ministério Público não é anti-jornalismo nem perseguição aos evangélicos. Pelo contrário, deve-se falar a verdade a todo custo. Não é a isso que me refiro. Refiro-me ao retrato demasiadamente generalizado e distorcido que a Globo, como nenhuma outra emissora brasileira de televisão, faz do povo evangélico.
A ignorância de Ana Maria Braga, que até hoje parece não saber que Protestantismo é Cristianismo, deve doer menos que a contumácia da Globo em dar à sociedade uma visão errada das igrejas evangélicas. Mas, pensando bem, não somos deste mundo, como Jesus mesmo não é deste mundo (Jo 17.16). Somos estrangeiros e peregrinos (I Pe 1.17), certo?
Não somos daqui. Se o mundo nos considerar como mais um grupo religioso nessa sociedade pluralista, precisaremos rever nosso comportamento e nossa pregação. E, mais do que isso, se o mundo começar a nos achar iguais, estaremos perdidos.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Conversando com adolescentes

A irmã que cuida de adolescentes em minha igreja me convidou para dar um estudo sobre o chamado (vocação). Dei o estudo, eles gostaram, e eu também. Depois, dei mais um estudo em que o tema deveria ser "evangelização", e optei por falar sobre a Queda, partindo do princípio de que para anunciar o Evangelho nós precisamos conhecê-lo de verdade. A Queda é um conceito fundamental para quem se aproxima da Bíblia. Talvez devesse começar pela Criação, mas comecei pela Queda. Na quarta-feira seguinte (04/11), fui lá de novo, e falei sobre o pecado. Tenho procurado falar sobre os fundamentos da Fé Cristã.
Os adolescentes são muito vivos, perspicazes. Eles têm o raciocínio rápido, memorizam muito do que a gente fala, e conseguem fazer interpretação de texto melhor do que a média dos irmãos de gerações precedentes - pelo menos essa é a impressão que fica, sem caráter científico...
Não é a primeira vez que me dirijo a adolescentes. Parece que eles gostam de mim, embora eu seja uma pessoa considerada formal. Bem, na Assembleia de Deus a gente usa a gravata até para falar a adolescentes, mas minha formalidade está mais nas palavras do que no figurino.
De toda sorte, tem sido muito bom esse aprendizado com meus amigos adolescentes. Quero continuar falando sobre o tema do pecado, mas abordando outros textos bíblicos, avançando na conscientização do conceito de pecado para que eles vão se distanciando daqueles conceitos limitados que muitos ainda mantém e dos conceitos preconceituosos que o senso comum espalha. Refletir sobre a Queda e o pecado é uma coisa necessária para quem vai evangelizar. Como iremos anunciar o remédio se não conhecemos direito os males da doença? Na verdade, conhecemos na prática os males do pecado - nós que somos pecadores - mas é necessário formular sistematicamente o nosso entendimento a respeito da necessidade moral e espiritual da Humanidade.
Ore por nós, prezado (a) leitor (a). Esse tem sido o meu primeiro trabalho aqui em Salvador, e o primeiro também depois de sete meses*.
*Corrigi o texto porque antes colocara um ano, mas havia esquecido de que quando chegamos à Bahia e moramos um período em Alagoinhas (de novembro de 2008 a abril de 2009), eu fui professor de adolescentes e segundo superintendente da Escola Dominical da igreja-sede naquela cidade.


Fale comigo!

Gostaria de estabelecer contato com você. Talvez pensemos a respeito dos mesmos assuntos, e o diálogo é sempre bem-vindo e mais que necessário. Meu e-mail é alexesteves.rocha@gmail.com. Você poderá fazer sugestões de artigos, dar idéias para o formato do blog, tecer alguma crítica ou questionamento. Fique à vontade. Embora o blog seja uma coisa pessoal por natureza, gostaria de usar este espaço para conhecer um pouco de quem está do outro lado. Um abraço.

Para pensar:

Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

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Bases de Fé

Creio:
Em um só Deus e na Trindade.
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão.
Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
No batismo bíblico em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo.
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus, através do poder do Espírito Santo.
No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo.
Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade.
Na Segunda Vinda de Cristo.
Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo.
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis.
E na vida eterna para os fiéis e morte eterna para os infiéis.