Espiritualistas e religiosos sem religião (!) gostam de valorizar o amor de um deus impessoal, um Ser Superior magnânimo que preenche a Natureza, que a todos perdoa, e que estimula a caridade e a paz mundial. Esses deus impessoal é atraente por não exigir compromissos institucionais nem sacrifícios radicais, mas atitudes de benevolência e cuidado, muitas vezes traduzidas em esmola. Esse mesmo pessoal baseia suas ideias em seus próprios sentimentos e desejos, mas com o pretexto de adotar o Evangelho e outras passagens bíblicas, como I Jo 4.8, em que está escrito "Deus é amor".
O versículo inteiro de I Jo 4.8 diz: "Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor". Em seu manifesto contra os hereges gnósticos, o apóstolo João estava a ensinar a integridade da vida cristã, que não sobreleva as necessidades de um espírito superior em detrimento das demandas do mundo físico, afetivo e relacional. Espírito e carne (corpo) foram criados por Deus e são bons, diferentemente do que ensinavam os gnósticos, para os quais o espírito era intrinsecamente bom, celestial, superior, e a carne, inerentemente má, terrena, inferior. Tudo provém de Deus, exceto o pecado. Ora, se Deus é amor, sendo o amor um de Seus atributos, aquele que O confessa não pode odiar o próximo.
Muito distante disso é endeusar os próprios sentimentos, criando, pois, um deus à sua imagem e semelhança. "Deus é amor" difere de "o amor é Deus". Deus, um Ser pessoal, tem como um de Seus atributos o amor, mas a esta virtude se associam a justiça, a santidade, a retidão, a paciência, a misericórdia, a graça, a benignidade, a bondade, a perfeição, a infinitude, o poder, a sabedoria, a ciência.
Corremos o risco - e estou a incluir, sem dúvida, os cristãos - de divinizar sentimentos e desejos, chamando-os de "o Deus da Bíblia", quando o Deus que Se relevou nas Sagradas Escrituras é infinitamente superior a essas idiossincrasias do pobre ser humano. Deus quer ser conhecido, sim, e pode ser conhecido, mas de acordo com aquilo que Ele mesmo nos concedeu - a Sua Palavra.
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