O
“ESPÍRITO DA ÉPOCA”.
Para
começar nosso estudo, leiamos o texto de Rm 13.11 em diferentes
traduções:
“E
digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos
despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais
perto do que quando no princípio cremos” (ARA).
“E
isto digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertarmos do
sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que
quando aceitamos a fé” (ARCF).
“Façam
isso, compreendendo o tempo em que vivemos. Chegou a hora de vocês
despertarem do sono, porque agora a nossa salvação está mais
próxima do que quando cremos” (NVI).
Nesta
passagem, o apóstolo Paulo trata da necessidade prática de
“despertarmos do sono”, diante da iminente consumação de todas
as coisas, pois “a nossa salvação”, a que Paulo se refere, é a
redenção do nosso corpo, a glorificação dos salvos.
Aqui
recordamos do conceito neotestamentário de “Últimos Dias”
(“Ultimo Tempo”, “Última Hora), etapa escatológica que
começou com o Bloco Histórico-Redentivo (encarnação, vida,
sofrimento, morte, ressurreição e ascensão de Cristo) e se
encerrará com o fim da História.
“Sono”
está relacionado a letargia, abandono à própria sorte, dormência,
entorpecimento, alienação. Despertar do sono é deixar essa
condição de alheamento e tomar a atitude correta perante a
realidade, de acordo com a vontade de Deus.
Mas,
para esse despertamento, é fundamental conhecer, compreender ou
discernir o tempo, ou seja, avaliar, diagnosticar e interpretar o
tempo em que vivemos, não o tempo no sentido cronológico (chronos),
mas a natureza do tempo histórico (kairós), o conjunto de
características que o definem. Com a expressão “espírito da
época” (zeitgeist, em alemão) se quer aludir às tendências,
ideologias, princípios, valores, crenças e filosofias de
determinado período.
Precisamos,
então, compreender o espírito da época.
UM
POUCO DE HISTÓRIA.
A
Pré-História foi o período anterior à Descoberta da Escrita,
dividido em Paleolítico (Idade da Pedra Lascada), Neolítico (Idade
da Pedra Polida) e Idade dos Metais. Na Bíblia, os onze primeiros
capítulos do Livro de Gênesis cobrem a Pré-História.
A
Idade Antiga ou Antiguidade estendeu-se da Descoberta da Escrita até
476 d.C, quando ocorreu a Queda de Roma ante os povos bárbaros. Foi
na Idade Antiga que se desenvolveram as civilizações (sumérios,
mesopotâmios, egípcios, babilônios, hebreus, medo-persas, gregos e
romanos, entre outros).
O
Homem Antigo era basicamente politeísta e imerso num ambiente
repleto de mitos, que empregava para explicar o mundo, a natureza e a
própria humanidade. Foi na Antiguidade que se formaram a astrologia,
o misticismo, o dualismo (matéria e espírito), o panteísmo.
A
Idade Média ou Idade Medieval durou de 476 até 1453 d.C, ocasião
em que a cidade de Constantinopla, antiga Bizâncio, foi tomada pelos
turcos otomanos (muçulmanos), tornando-se Istambul (Turquia). Esse
período seria caracterizado, por Petrarca, como a “Era das
Trevas”. Havia o predomínio da Igreja Católica Apostólica
Romana, e a centralidade do dogma religioso, da tradição. Não
houve grande avanço no conhecimento humano, que se reservava à
própria Igreja; as técnicas eram insipientes, a cultura era
embebida de religiosidade, e as artes eram sacras. Os teólogos mais
importantes do período foram Agostinho de Hipona (354-430 d.C.) e
Tomás de Aquino (1225-1274 d.C.).
A
Idade Moderna começou em 1453 e se estendeu até 1789 d.C., com a
Revolução Francesa. Nesse tempo houve grandes eventos históricos e
transformações profundas na Europa Ocidental, com repercussões em
outros continentes.
Foi
na Idade Moderna que teve lugar a Renascença (Renascimento), entre
os Sécs. XIV e XVI, quando a Europa Ocidental redescobriu o
pensamento, a literatura e as artes grego-romanas (Antiguidade
Clássica).
Despontou
o Humanismo, com o destaque a valores humanos. O Antropocentrismo
(centralidade do Homem) substituiu o Teocentrismo (centralidade de
Deus). A frase de Protágoras, homem da Antiguidade Clássica, define
bem o Antropocentrismo e Humanismo: “O homem é a medida de todas
as coisas: das que são enquanto são, e das que não são enquanto
não são”.
Aquele
foi o período de desenvolvimento da Ciência Moderna, que se
desprendeu da Filosofia e da Religião. Surgia ali o Empirismo, isto
é, a doutrina segundo a qual se devem extrair conclusões a partir
da experiência, e não da revelação.
Foi
também a Idade Moderna a Era dos Descobrimentos, com a Descoberta da
América (1492) e do Brasil (1500), por exemplo, no contexto das
Grandes Navegações, pelo que se operou a Colonização da Ásia, da
África e das Américas.
A
Reforma Protestante (1517) e a Contrarreforma (a partir de 1545)
foram eventos da Idade Moderna, assim como o Iluminismo, movimento
filosófico baseado no enaltecimento da Razão, e tendo como
expoentes figuras como Voltaire, John Locke e Jean-Jacques Rousseau.
O
Racionalismo e a Secularização foram marcas da Idade Moderna. Com o
Racionalismo se operou um realce da Razão em lugar da Religião e da
Tradição. Com a Secularização houve um distanciamento do Homem em
relação ao Sagrado e à autoridade da Igreja.
O
Liberalismo ou Modernismo Teológico teve suas raízes no
Racionalismo e Iluminismo, e por isso se inclinou, em suas diversas
correntes e autores, a uma descrença em doutrinas bíblicas, como a
operação de milagres, a concepção virginal de Maria, a
ressurreição e volta de Cristo.
Nasceu
a chamada “Alta Crítica”, método de análise bíblica pautado
por racionalismo, e, nessa esteira, surgiram teorias documentárias,
que buscavam explicar a formação dos Livros da Bíblia, não a
partir da inspiração pelo Espírito Santo, mas da interpretação
que Israel e a Igreja conferiam aos acontecimentos que testemunhavam.
Por
exemplo, Rudolf Bultmann, um diácono luterano, criou seu “programa
de demitologização” (ou demitização) da Bíblia, uma forma de
explicar naturalmente o que se deu subrenaturalmente.
A
Idade Contemporânea teve início em 1789, e perdura até os nossos
dias.
MODERNIDADE.
A
Modernidade, nascida na Idade Moderna, atravessou os séculos XVIII,
XIX e XX.
O
Homem Moderno viveu um otimismo baseado na supremacia da Razão em
relação à Fé, e na esperança de que a Ciência ensejaria o
progresso e a paz mundial. Seus valores fundamentais eram a
liberdade, a igualdade, a fraternidade, a autonomia e a emancipação.
Para
o Homem Moderno o critério da verdade era a Razão, na Ciência ou
na Filosofia.
O
Homem Moderno passou a ser um livre-pensador.
Alguns
homens são essenciais para se compreender a Modernidade. São eles
Charles Darwin, Karl Marx, Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud.
O
inglês Charles Darwin, por meio de seu livro “A Origem das
Espécies”, disseminou a Teoria da Evolução, o que veio a
enfraquecer paulatinamente a crença na doutrina da Criação.
O
judeu-alemão Karl Marx, ao lado de seu amigo Friedrich Engels,
postulou o Materialismo Histórico e Dialético, bem como o
Socialismo Científico, propondo que a História se desenvolve a
partir da luta de classes (Capital x Trabalho), que “a Religião é
o ópio do povo”, que os problemas fundamentais de uma sociedade
são gerados por questões como a propriedade dos meios de produção
e a mais-valia. Assim, em lugar do Pecado, passou-se a admitir outra
causa essencial para os problemas e conflitos humanos, minando-se,
desse modo, a responsabilidade individual. Vale observar que Marx era
de uma família protestante (luterana).
O
alemão Friedrich Nietzsche trouxe a ideia de que a religião cristã
enfraquece o Homem, pois as virtudes cristãs iriam contra a
necessária “vontade de poder”. É de Nietzche a célebre frase
“Deus está morto”, pelo que o Homem deveria viver de acordo com
os valores por ele mesmo estabelecidos.
O
judeu-austríaco Sigmund Freud, considerado “o Pai da Psicanálise”,
desenvolveu uma teoria em torno da compulsão sexual e de traumas da
infância, fatores que seriam determinantes no comportamento humano.
A
Era Moderna foi a era das grandes narrativas, ou seja, dos grandes
esquemas de interpretação e explicação da realidade, como o
Marxismo, as demais utopias socialistas, o Liberalismo, a Social
Democracia. O Comunismo, baseado nas ideias de Marx, ganhou
revigoramento por meio dos estudos do comunista italiano Antonio
Gramsci e da Escola de Frankfurt, agora não mais com teor
revolucionário, mas ideológico e cultural (Marxismo Cultural).
Houve
na Modernidade uma fuga da religiosidade, por causa do Materialismo e
do Cientificismo.
O
filósofo polonês Zigmunt Bauman chama a Modernidade de “Modernidade
sólida”.
PÓS-MODERNIDADE.
As
sementes da Pós-Modernidade foram lançadas no Séc. XX:
O
terror das duas Guerras Mundiais, a Primeira (1914-1918) e a Segunda
(1939-1945), fragilizou a ilusão da paz mundial. O homem viu o
quanto ele pode ser destrutivo e maligno em relação ao seu
semelhante.
O
Existencialismo (do francês Jean-Paul Sartre, entre outros)
substituiu a preocupação com a essência do Homem pela ênfase na
existência. O existencialista lida com os conceitos de caos,
absurdo, ansiedade, angústia, alienação. Para ele, o Homem deve
ser definido, não de acordo com suas intenções e potencialidades,
mas conforme aquilo que ele realiza para ser feliz e superar o mal
que a existência lhe oferece.
A
Revolução Sexual dos Anos 60, estimulada pela invenção da pílula
anticoncepcional; o Movimento Hippie; o Festival de Woodstock e o
Maio de 68 foram eventos emblemáticos de uma contracultura que se
levantava contra a autoridade, os pais, a tradição, a ordem
estabelecida.
O
Fim da Guerra Fria (capitalistas x comunistas), representada pela
Queda do Muro de Berlim (1989) e pelo Colapso da União Soviética
(1991), sepulparam a Modernidade, dando ensejo à Pós-Modernidade.
O
HOMEM PÓS-MODERNO.
Há
quem prefira denominar a Pós-Modernidade como “Hiper-Modernidade”
(Gilles Lipovetsky), pois, enquanto “pós” sugere a ideia de algo
que vem depois, substituindo o que é anterior, “hiper” dá a
noção de uma exacerbação, já que, segundo essa hipótese, os
valores hiper-modernos são os mesmos valores modernos, porém
aumentados.
Zigmunt
Bauman chama a Pós-Modernidade de “Modernidade líquida”, porque
se amolda facilmente às novas situações, sem possuir uma forma
definida.
O
Homem Pós-Moderno, diferente do Moderno, é tomado pelo pessimismo.
Ele se desencantou com as grandes narrativas, com a Razão e com o
progresso.
Em
lugar do Antropocentrismo – centralidade do Homem – tem-se o
Subjetivismo – a centralidade de “cada homem”.
O
Relativismo Filosófico consiste no entendimento de que não existe
verdade absoluta (“tudo é relativo”), o que produz o Relativismo
Moral, pelo que “tudo é permitido”. Um traço do Relativismo é
o Situacionismo: a verdade dependerá da situação.
De
acordo com o Pluralismo, coexistem muitas verdades, sem que haja
valores universais, e, quando essas verdades são expressas em
diferentes culturas, se fala em “Multiculturalismo”.
O
Hedonismo é o culto ao prazer, que se pode exprimir em prazer
sexual, poder político, status social, vaidade espiritual,
entretenimento, consumismo.
O
Utilitarismo é uma filosofia ética pautada pela vantagem auferida,
e seu critério de verdade é “o que dá certo”, e não “o que
é certo”. Uma premissa básica do Utilitarismo é o “princípio
do bem-estar máximo”.
O
Pragmatismo, intimamente relacionado ao Utilitarismo, constitui uma
doutrina filosófica segundo a qual uma teoria vem a ser comprovada
por seus resultados práticos.
O
Privatismo é a tendência de definir os próprios conceitos e o
comportamento individual independentemente de convenções, tradições
e instituições.
O
Homem Pós-Moderno vive uma crise de identidade e de pertencimento.
Na
Pós-Modernidade, aspira-se a uma “religiosidade sem religião”,
buscando-se uma espiritualidade desvinculada de compromissos e
instituições. Deseja-se o bônus, mas sem o ônus, numa aversão às
instituições, tradições, convenções sociais, formalidades e
enraizamento.
A
Era da Informação deixa o Homem Pós-Moderno sempre conectado, mas
sem sabedoria e sem conhecimento. É ele um omni-channel, ligado a
muitas plataformas, mas, ao mesmo tempo, fragmentado e superficial.
SINAIS
DA PÓS-MODERNIDADE NA IGREJA.
OS
“DESIGREJADOS”.
Um
dos fenômenos pós-modernos verificados no que diz respeito à
Igreja é o que se tem chamado de “desigrejados”, que consiste
numa grande quantidade de pessoas que se dizem cristãs, mas não
querem pertencer a nenhuma igreja formal.
Não
se trata daqueles que, por algum motivo (conflitos, abuso espiritual,
dificuldades de relacionamento, questões doutrinárias e
teológicas), deixam de congregar temporariamente, mas de uma
disposição no sentido de manter a fé cristã sem os compromissos
institucionais dela advindos.
São
pessoas que, por exemplo, se contentam em assistir cultos ou
pregações pela internet; não querem contribuir financeiramente;
não pretendem se submeter a uma liderança pastoral; não se
encaixam ou não se identificam com nenhuma tradição eclesiástica;
costumam lembrar da corrupção de uma parcela dos líderes de
igrejas como pretexto para não aderir a nenhuma denominação; se
definem como avessas à “religiosidade”, ao “formalismo
religioso”, ao “farisaísmo”, ao “fundamentalismo” e ao que
eles entendem por “evangélicos”.
Essas
pessoas poderiam recordar do texto de Hb 10.25 e Pv. 18.1
HERESIAS
DO “NEOPENTECOSTALISMO”.
O
chamado “Neopentecostalismo” pode ser definido, grosso modo, como
um movimento extremamente heterogêneo que, partindo de postulados
pentecostais, ganhou autonomia ao se afastar da autoridade e
suficiência das Escrituras, sendo caracterizado por sinais evidentes
de pós-modernidade, como o utilitarismo, o pragmatismo, o hedonismo,
o relativismo, o pluralismo, o consumismo religioso e o privatismo.
Algumas
das heresias ou movimentos ligados ao Neopentecostalismo são a
Teologia da Prosperidade (Confissão Positiva); a Cura Interior; a
Maldição Hereditária; a Cobertura Espiritual; o G12 e M12; o
Restauracionismo; a Igreja Emergente; a Adoração Extravagante; as
Igrejas-corporação; a Autoajuda evangélica; a Restauração do
Ministério Apostólico; o Movimento Judaizante; os Atos Proféticos;
conceito de “geração” (“geração de Daniel” etc.).
Há
no Neopentecostalismo ênfase em ações de propaganda e marketing,
descompromisso com a objetividade das Escrituras, sensacionalismo,
emocionalismo, falsos apóstolos (II Co 11.13; Ap 2.2), triunfalismo.
“IDEOLOGIA
É A NOVA HERESIA”.
Na
Pós-Modernidade, algumas ameaças importantes contra a Fé Cristã
se encontram na Teologia da Missão Integral, no Feminismo, nas
“Igrejas inclusivas” (Agenda Gay) e no Politicamente Correto.
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