sábado, 31 de janeiro de 2009

O desabamento do teto da Renascer em Cristo e a reflexão que ele exige*

O desabamento do teto da sede mundial da Igreja Renascer em Cristo, em São Paulo/SP, traz o casal Hernandes de volta ao noticiário nacional. Com nove mortos e centenas de feridos, a igreja assiste agora às investigações policiais e ao trabalho do Ministério Público Estadual, tendo ainda que apresentar documentos e explicações sobre sua eventual responsabilidade nessa tragédia.

Não creio ser correta qualquer tentativa de ligar o caso às ocorrências policiais do casal Hernandes (como o episódio que os levou à prisão e condenação nos Estados Unidos por quererem entrar naquele País com dólares não declarados). Também não sei se podemos fazer ilações legítimas quanto às acusações de estelionato, falsidade, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro que correm contra eles no Brasil. Embora essas condutas criminosas e/ou suspeitas de crime possam sugerir pecados do “apóstolo” e da “bispa”, as notícias relacionadas ao drama do dia 18 de janeiro devem ser aquelas que possam indicar algum desprezo às leis municipais de segurança de imóveis, porque é isso que interessa objetivamente. Hipóteses mais especulativas poderão redundar em julgamento indevido e desrespeito ao sentimento dos enlutados.

Entretanto, é altamente reprovável, se for mesmo verdade, a afirmação de Estevam Hernandes no sentido de que a culpa é de Satanás (conforme matéria da Época). Com efeito, segundo a revista, o “apóstolo” disse em culto transmitido da prisão domiciliar nos Estados Unidos que a Igreja Renascer deve pisar com os pés sangrando na cabeça do gigante Satanás. Ora, nem na hora da dor mais cruel esse homem deixa de lado sua teologia triunfalista, notadamente quando ela se mostra flagrantemente irreal? É diante de posturas como essa que as críticas à teologia e à ética da Renascer são apropriadas, confrontando-a com o teto que desabou.

Devo, com toda a seriedade que o tema requer, asseverar que, antes de culpar o diabo, é necessário fazer um auto-exame e pelo menos ficar calado diante de cenário tão triste. Adão pôs a culpa na mulher, que pôs a culpa na serpente, mas quem deu ouvidos à mulher foi Adão, e disso ele não poderia se furtar (Gn 3.6,12,13). Aliás, lembre-se de que ele também quis responsabilizar ao próprio Deus, quando afirmou “A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi”(Gn 3.12). Afinal, até onde vamos nós com as nossas racionalizações?

Não podemos espiritualizar onde os problemas podem ser explicados de maneira comum: alguma coisa estava errada com aquela estrutura que desabou, e isso ainda está sendo apurado. Caso as autoridades venham a concluir que tudo estava bem e mesmo assim o teto caiu, aí sim poderemos começar a buscar explicações diferentes.

Até aqui, não é o caso de culpar o diabo nem recorrer ao sobrenatural. O mínimo que se deve fazer é esperar com humildade o desenrolar dos fatos, e colaborar com a Justiça. Por outro lado, eu poderia escrever sobre a sensação estranha de ver o teto de um templo cair, quando a gente sempre se considera de algum modo refugiado e seguro na igreja. Não obstante, para não fugir ao assunto, limito-me ao que escrevi acima.
*Publicado também na Palavra do Leitor do "site" www.ultimato.com.br, no dia 27/01/09.

2 comentários:

João Armando disse...

O triunfalismo neopentecostal cai por terra ao lermos textos como Eclesiastes 9.2: "Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao perverso; ao bom, ao puro e ao impuro; tanto ao que sacrifica como ao que não sacrifica; ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento." Há uma diferença entre ímpios e justos, claro, diante das catástrofes - aliás, uma grande diferença - a presença de Jesus. Mas o fato bíblico, e que também vemos no dia-a-dia, é que os justos também adoecem e morrem, também perdem seus entes queridos, também sofrem violências, também passam por catástrofes. Se fosse o teto de uma igreja romana, seria investigado com o mesmo rigor? Se fosse uma repartição pública (do Poder Judiciário)? Bem, especulações à parte, se o mesmo sucede conosco tal como com os ímpios, cabe-nos - tanto quanto a eles - acatar as leis e diretrizes de segurança impostas pelas autoridades. A fazermos isso, as possibilidades de catástrofes como essas nos acometerem certamente são menores. Isso, claro, implica em responsabilidade. Mas pretender pôr a culta no diabo... francamente!

Wanderson disse...

Bela análise do tema. É muito fácil colocarmos a culpa em alguém pelos nossos próprios erros. Somos a Igreja de Cristo mais um motivo de fazermos o que é certo. A palavra declara: dai a Cezar o que è de Cezar e a Deus o que é de Deus.
Isso cabe uma reflexão: será que não estamos deixando as coisas simples que podemos resolver nas mãos de DEus e ficando a merce do acaso?
aconteceu isso na Renascer e pode acontecer em muitas outras igrejas se não formos prudente.



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