sábado, 24 de janeiro de 2009

Os evangelizadores que pedem fogo do céu e a evangelização em Salvador-BA

Pensemos sobre evangelização e alguns lampejos de missão urbana a partir de Lc 9.51-56.
Em certa ocasião, ao depararem com samaritanos que não quiseram lhes dar pousada, os irmãos Tiago e João pediram permissão a Jesus para fazerem cair fogo do céu, a fim de que as pessoas fossem consumidas. A negativa dos samaritanos partiu da impressão de que os apóstolos seguiam para Jerusalém, o que indica um preconceito cultural-religioso por parte dos aldeões.
Por causa desse temperamento explosivo, os filhos de Zebedeu foram chamados de Boanerges, que significa “filhos do Trovão” (Mc 3.17). Digno de nota é que eles conseguiram achar um precedente “histórico-teológico” no episódio em que Elias pediu fogo do céu!
Vale observar que, embora não tivessem pregado aos samaritanos, Tiago e João estavam com Jesus havia cerca de três anos e apesar disso não conseguiram entender que mensagem Ele viera anunciar. Sendo assim, acharam que sua proclamação do Reino de Deus nada tinha que ver com os samaritanos.
Mais do que isso, os filhos de Zebedeu se colocaram como vítimas, exatamente porque, aos olhos dos samaritanos, quem ia para Jerusalém não merecia sequer uma pousada. Aqui está um claro exemplo de hostilidade religiosa, que sufoca qualquer comunicação antes que ela comece.
Em vez de misericórdia, os dois apóstolos clamaram por destruição. Mesmo tendo recebido a palavra do Reino de Deus, quiseram detonar as vidas dos samaritanos. Mas Jesus, pleno de compaixão, não levou em conta essa ignorância, e aproveitou o momento para ensinar um pouco mais sobre Sua missão salvadora.
De fato, contrariando a intenção homicida dos incautos discípulos, Jesus disse que o Filho do Homem não veio destruir as almas dos homens, mas salvá-las.
Tempos depois, João se tornaria um amável pastor de almas, e que, pelos seus escritos, se tornaria conhecido, vejam só, como o “apóstolo do amor”. Nada parecido com aquele rapaz que pedia fogo do céu sobre os incrédulos!
Semelhantemente, Tiago mudou, a ponto de entregar sua vida à espada de Herodes, por amor do Evangelho.
Essa passagem deve nos ensinar que o Evangelho não pode ser vivenciado como uma denúncia sem compaixão. O querigma do Reino de Deus é amoroso, cheio de graça e misericórdia, para salvação dos pecadores. Embora devamos denunciar veementemente o pecado, não podemos nos voltar contra o pecador, porque Jesus não nos ensinou a agir dessa forma.
Pedimos fogo do céu sobre os samaritanos todas as vezes em que brigamos com as pessoas porque elas não nos aceitam. Nesse sentido nos posicionamos como “filhos do Trovão”, em lugar de nos apresentamos como “filhos da luz” ou “filhos de consolação”.
Sei que não é fácil ser cristão hoje, pois as resistências são muitas e graves. Eu mesmo estou sempre em contato com pessoas que rejeitam a pregação do Evangelho, ou simplesmente discordam da defesa de valores morais absolutos, tachando-nos, indiretamente, de hipócritas, julgadores e autoritários. Mas não me importo, desde que assuma uma postura de amor por essas pessoas.
Que farei? Agora trabalhando em Salvador, vejo que é muito mais complicado pregar o Evangelho aqui do que eu poderia imaginar. A capital do meu Estado respira os ares de festas comerciais-culturais-religiosas-políticas o ano inteiro. O calendário religioso é extenso, e as festas populares misturam crenças afro-brasileiras com costumes centenários. Dinheiro e poder político mesclam-se à multifacetada e colorida cultura baiana. Monumentos protegidos pelos Poderes Públicos são demonstrações históricas da religiosidade ou da antiga instituição oficial do Catolicismo, bem como benefícios governamentais apoiam o candomblé e segmentos similares.
Em meio a essa tessitura social, fala-se muito de tolerância racial e religiosa, num claro recado, a meu ver, de que o discurso evangélico de alguns grupos precisa encontrar um limite. À tolerância nada podemos opor, pois é bíblica e constitucional – mas continuaremos a pregar o Evangelho, com toda a tolerância do mundo e sem pedir fogo do céu, nem para samaritanos nem para soteropolitanos.
Acredito que Deus pode transformar vidas, e é o que Ele tem feito em muitas regiões do País. Não sei exatamente como tem sido o desenvolvimento das igrejas em terras baianas, e especialmente em Salvador, mas vejo que a presença evangélica parece maior do que há alguns anos. No entanto, mais do que em outras capitais, Salvador oferece grandes dificuldades ao cristão, porque a atmosfera da cidade é tomada de carnaval, erotismo, exploração econômica e culto a demônios – um caldeirão e tanto.
Um item a ser analisado em Salvador é a extrema desigualdade social. Vejo condomínios e mansões de alto luxo ao lado de favelas e inúmeros pedintes nas ruas. Parece que aqui não há classe média, só ricos e pobres. Isso porventura é coisa de que alguém possa se orgulhar? Certamente as políticas tradicionais não conduziram o Estado ao desenvolvimento, o que fez com que baianos migrassem para a capital, superlotando-a e esvaziando o grande interior.
Diante de tudo isso, repito que não vou pedir fogo do céu. Quem sou eu para querer que pecadores como eu sejam destruídos, se eu mesmo fui inexplicavelmente alcançado pelo amor de Deus em Cristo? Entendo, pois, que em Salvador é hora de pedir, não o fogo do céu para destruir, mas o fogo do céu para encher a Igreja de poder do Espírito Santo – só assim dá para evangelizar com eficácia, principalmente num lugar melindroso como este.

Um comentário:

claudio pimenta disse...

soldado belo texto realmente muito belo

voce usa orkut ?
caso use queria sua opiniao num album meu chamado EXEJEGUES e isso mesmo EXEJEGUES em homenagem a exejese dos pregadores atuais
http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=5065311599749758045



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Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

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Em um só Deus e na Trindade.
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Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
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