sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A Assembleia de Deus e a Missão Integral*

Participo nestes dias do Congresso Transformando a Missão, na Igreja Batista da Graça, aqui em Salvador/BA, cujo tema fundamental é a Missão Integral. Foram convidados nomes como RENÉ PADILLA, JOSÉ CONBLIM, RICARDO GONDIM, ARIOVALDO RAMOS, CARLOS QUEIROZ e RAIMUNDO CÉZAR BARRETO JÚNIOR. Logo na primeira noite consegui um abraço carinhoso e troca de duas palavras com RICARDO GONDIM, cujos textos na Ultimato conheço há uns treze anos. Hoje tirei fotos com ele e com JOSÉ CONBLIM, nome que conheci na Faculdade de Teologia, quando estudei Teologia da Cidade e fiz um trabalho a partir de um texto de sua autoria. Imagine a minha alegria ao ver esses homens de perto!
Tenho compartilhado com o meu cunhado, RENATO – que me acompanha nesse Congresso – tudo o que vimos ouvindo. Como assembleianos, procuramos refletir sobre as coisas e aplicá-las ao nosso contexto pentecostal. Conversando sobre isso, temos entendido que, de fato, teoria e prática devem andar juntas, que as pessoas pobres precisam ouvir uma Palavra libertadora, e que, de certo modo, já praticamos um pouco dessa Missão Integral, embora a imensa maioria de meus pastores nunca tenha ouvido falar do Pacto de Lausanne (1974), nem de JOHN STOTT, RENÉ PADILLA, ou de quaisquer desses homens que citei acima.
É certo: meus pastores, os líderes assembleianos, são de outra categoria de igreja, as igrejas pentecostais. Mas isso não nos impede de fazer Missão Integral, mesmo que não saibamos o que seja isso por nome, mesmo que tenhamos inúmeras limitações teológicas e práticas.
A Missão Integral – permitam-me dizer só até onde sei – entende o Homem como espírito, alma e corpo, e, portanto, como necessitado de uma Salvação total. Entende que evangelização deve estar associada a responsabilidade social; que a política é instrumento de transformação e implantação do Reino de Deus; que não existe essa dualidade (gnóstica, platônica, medieval) entre mundo secular e mundo espiritual; que a pregação do Evangelho deve respeitar a cultura. Nesses termos, eu creio em Missão Integral.
Quando das perguntas, o mediador citou um jargão, que eu confesso nunca ter ouvido: “A Teologia da Libertação optou pelos pobres, e os pobres optaram pelas igrejas pentecostais, ou neopentecostais, ou pela Teologia da Prosperidade”. Deixando o Neopentecostalismo e a Teologia da Prosperidade de lado – já esquentei muito a cabeça com essas besteiras –, quero pensar na parte que toca ao Pentecostalismo.
Com efeito, há muito de Missão Integral entre nós. Muitos dos assembleianos aprenderam a ler e a gostar de ler lendo a Bíblia. Nossos analfabetos são menos analfabetos que os do mundo. Fomos às favelas e plantamos igrejas em cada esquina deste País – a ponto de alguém dizer que “em todo buraco se encontra Banco do Brasil, Coca-Cola e Assembleia de Deus”. É verdade. Fomos aonde muitos históricos (liberais ou fundamentalistas) chegaram depois. Consagramos negros e mulatos a diáconos, presbíteros, evangelistas e pastores. Os círculos de oração passaram a ser núcleos femininos. Jovens sem nenhuma perspectiva saíram das drogas e da delinquência e encontraram um sentido para suas vidas. Construíram-se os famosos centros de recuperação para ajudar pessoas envolvidas com dependências química. Evangelizamos grotões, vielas, afogados, baixadas, descampados. Onde quer que se imagine um brasil, ali estaria uma luz amarelada acima de uma placa da Assembleia de Deus.
Será que sou ufanista, denominacionalista? Quem me conhece sabe que não. Tenho minhas críticas e questionamentos - Deus o sabe, mas devo respeitar e ressaltar o que é bom. E , observe bem, esse é um movimento do Espírito.
É verdade que falta a nós pentecostais aquela conscientização política, aquela teologia menos dogmática, aquela percepção de que nossa escatologia milenarista e pré-tribulacionista precisa, para dizer o mínimo, ser reestudada. Falta-nos renúncia ao dualismo entre sagrado e secular, o apego à Teologia da Criação, e a distinção segura entre Igreja e Reino de Deus. Falta-nos, ainda, entender que a Igreja é o Israel de agora; que os americanos não são a Assíria de nossos dias, para executar o juízo divino sobre o mundo e, ao mesmo tempo, abraçar uma política pró-Israel a todo custo.
Todavia, há Missão Integral, sim, entre nós assembleianos. Se o Homem é um todo indiviso, desde muito tempo entendemos que a emoção – essa parcela esquecida por muitos grupos protestantes – é de Deus também. Chamaram-nos de emocionalistas quando buscávamos o batismo com o Espírito Santo e os dons espirituais. Confundiram-nos com os pseudopentecostais (da Teologia da Prosperidade e do Triunfalismo) antes que muitos de nós passassem a adotar crenças e práticas heréticas desses movimentos. Fomos tachados de obtusos, místicos no mal sentido, montanistas, analfabetos de Bíblia, e tratados como evangélicos de segunda linha, fanáticos, folclóricos. Enquanto isso, também cometemos severo preconceito contra os batistas, em especial, e contra todos os que não criam em nossa cartilha de batismo com fogo e dons carismáticos. Mas, se eles eram esclarecidos e intelectualizados, por que não nos instruíram no caminho bom? Por que não o diálogo, a abertura, a misericórdia, ou mesmo o silêncio respeitoso?
Vejo Missão Integral quando olho as irmãzinhas cantando aqueles “hinos de fogo” em ritmos bem brasileiros – e se não for naqueles ritmos, parece que não serve.
Vejo Missão Integral quando prego ou ensino a Palavra e percebo que os irmãos apreciam, sim, estudar a Bíblia, e não apenas ouvir cassianes e marcos felicianos. Se isto é o que lhes dão, eles comem. Mas se o pasto é melhor, eles sabem o que preferir.
Vejo Missão Integral no Projeto Jesus nas Praças, conduzido em Alagoinhas-BA, minha cidade natal, por um jovem evangelista chamado EMÍDIO, tudo com recursos próprios e doações voluntárias. Entre sopas e cestas básicas, a Palavra de Deus é anunciada pelo Interior da Bahia. Foi assim que meu cunhado RENATO se fortaleceu na fé, e agora entende, junto comigo, que há muito de Missão Integral em nossas igrejinhas, como naquela congregação em que ele é Auxiliar e trabalha, junto com a minha irmã, num bairro pobre, distante e rural, que não passa de uma rua. Mas naquela rua existem pessoas, e a teologia sem pessoas já morreu.
Que mais posso dizer que saia desse coração pentecostal-histórico-tomado por Cristo? Que mais posso dizer, se meu coração treme por desenvolver missão total a um povo total? Talvez não reste nada a dizer, mas muito a fazer. Afinal, bem perto de minha casa, lá na Ribeira, há viciados em drogas andando pelas ruas, pobres de tudo que preciso cumprimentar e olhar nos olhos. Assim como aqueles ricos com seus barcos ancorados e os turistas que vêm da terra de Lutero tomar sorvete na célebre sorveteria do meu bairro...
* A menção a esses homens não significa que concorde com tudo o que eles dizem. Aliás, discordo de muitas coisas proferidas por Ricardo Gondim, José Conblim e René Padilla nesses dias de Congresso.

4 comentários:

João Armando disse...

Só um comentariozinho que não tem nada a ver com o cerne do post (missão integral) e sim com a menção ao Ricardo Gondim. Você está a par da posição dele quanto à chamada "teologia relacional"? Soube dos frutos (divisão da denominação que ele fundou)? Já ouviu falar sobre isso? A coisa é séria. Sugiro a leitura do livro "Eu não sei mais em quem tenho crido", da Editora Cultura Cristã, que expõe bem essa praga (a teologia relacional) e seus perigos.

PROF. THIAGO NOGUEIRA disse...

Que o Senhor Deus levante tantas mentes esclarecidas quanto aquela que o amado irmão alcançou pela graça. Entào a Igreja finalmente cumprirá o seu papel e, finalmente, Jesus voltará. Amém e Aleuia.

Jota disse...

Obrigado pelo texto sensato e equilibrado. Pertenci à Assembleia de Deus e saí por motivos de consciência, devido ao que percebi como incongruência na compreensão e praxe do evangelho; mas continuo cheio de respeito e afeto por gente como você, que, com o coração simples, ensinável e puro em seus motivos de contribuir para a manifestação do Reino de Deus, trabalham dentro tradição pentecostal. Muita força a você e aos seus, e que o Pai continue abençoando o seu ministério.

Alex Fajardo disse...

Escrevi sobre o livro do Gondim aqui

http://alexfajardo.wordpress.com/2010/01/06/missao-integral-lancamento-de-ricardo-gondim/

Abçs



Fale comigo!

Gostaria de estabelecer contato com você. Talvez pensemos a respeito dos mesmos assuntos, e o diálogo é sempre bem-vindo e mais que necessário. Meu e-mail é alexesteves.rocha@gmail.com. Você poderá fazer sugestões de artigos, dar idéias para o formato do blog, tecer alguma crítica ou questionamento. Fique à vontade. Embora o blog seja uma coisa pessoal por natureza, gostaria de usar este espaço para conhecer um pouco de quem está do outro lado. Um abraço.

Para pensar:

Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

Arquivo do blog

Bases de Fé

Creio:
Em um só Deus e na Trindade.
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão.
Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
No batismo bíblico em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo.
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus, através do poder do Espírito Santo.
No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo.
Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade.
Na Segunda Vinda de Cristo.
Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo.
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis.
E na vida eterna para os fiéis e morte eterna para os infiéis.