Sonhei que acordava de repente num país estranho, em que tudo parecia estar ao contrário. Por estar sem os documentos pessoais e não saber direito o que fazia ali, acabei sendo preso, mas sem direito a advogado ou telefonema.
Vi que aquele país era governado por uma mulher de cabeça gigante, que falava numa língua que ninguém entendia e tinha sido criada por um velho barbudo e sabichão. Quem mandava mesmo era o velho barbudo, chefe de uma gangue vestida de vermelho e que habitava o subterrâneo.
Soube que no início pessoas inteligentes aceitaram bem aquela dupla, porque acreditavam numa coisa chamada "democracia", e em outra chamada "república". Mas o velho barbudo e a mulher cabeçuda deram um golpe e passaram a governar à base de leis imperiais, exército vermelho e linguagem mágica. Os que viviam de maneira nababesca sustentavam tudo, com o apoio maciço dos miseráveis esfaimados.
Quando menos se percebeu, o velho barbudo e a cabeçuda já dominavam todas as coisas.
Até que um dia, enquanto eu estava lá, o velho matou a cabeçuda e comeu sua carne. As leis imperiais ainda persistiam, mas o exército vermelho se dividiu, e a linguagem mágica perdeu efeito. Foi um caso curioso em que o criador matou a criatura.
A comida, então, desapareceu do prato dos miseráveis esfaimados, e os que viviam de maneira nababesca se voltaram contra o velho sabichão. Este foi encurralado num castelo e lá apodreceu até ser esquecido para sempre. O povo escolheu um novo governante, que aboliu as leis imperiais e instituiu novamente a república e a democracia, convocando o parlamento.
Os de vida opulenta dividiram-se, com saudade das benesses patrocinadas pelo velho barbudo e sua cabeçuda criatura, mas tinham vontade de explorar agora o novo governante. Os miseráveis continuavam a esperar um messias. Mas a classe que trabalhava e estudava voltou a ter confiança em seu próprio destino.
Foi assim que acordei, um pouco tenso depois de tanta emoção, mas com esperança de que pesadelos podem ser esquecidos para sempre.
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