RÁPIDOS EM REFUTAR OS TRADICIONAIS, CONVENIENTEMENTE TÍMIDOS QUANTO AOS NEOPENTECOSTAIS
Alex Esteves da Rocha Sousa
Descontrole do púlpito e dos elementos do culto são tristes marcas de um pentecostalismo que se afasta do Pentecostalismo Histórico. Temos demonstrado imensa dificuldade em retirar de nosso meio pregações triunfalistas, sensacionalistas, de Confissão Positiva, maldição hereditária, cobertura espiritual, e tantas bobagens que insistem em ser caracterizadas como próprias do ser pentecostal. Por que temos essa dificuldade? Será a falta de instrução bíblico-teológica? Será a falta de liderança? Será a total confusão instalada no meio evangélico brasileiro? Um pouco de cada coisa, certamente, mas nada disso explica definitivamente a situação, pois nós sabemos muito bem refutar ensinos de igrejas tradicionais, como o cessacionismo e a identificação entre batismo no Espírito Santo e conversão.
Note-se que nem todas as igrejas tradicionais são cessacionistas, havendo igrejas históricas que aceitam a atualidade dos dons espirituais e até mesmo o revestimento de poder, ainda que não o chamem de “batismo no Espírito Santo”, tampouco reconheçam a glossolália como evidência física inicial desse revestimento. Há ainda o aspecto de que, enquanto a Teologia Pentecostal distingue línguas como sinal e línguas como dom (variedade de línguas), os não cessacionistas de igrejas históricas não enxergam essa distinção. Diante disso, nosso julgamento é radical: consideramos que esses irmãos são “frios”, que não conhecem a ação do Espírito, que defendem um evangelho mutilado, incompleto. Nosso entendimento é tido por completo porque supostamente valorizamos o poder de Deus, como se nossos irmãos de igrejas tradicionais dependessem de seu intelecto e esforço.
Seria muito interessante se nossa aguda percepção quanto aos tradicionais também se aplicasse aos pregadores e líderes neopentecostais. Deveríamos, sim, fazer “cara feia” ao ouvir besteiras ditas no púlpito, deixar de convidar pregadores que agem assim, filtrar muito bem nossa lista de convidados, cuidar do que se canta na igreja, dar oportunidade para pessoas que não têm chance evidente de lançar heresias e distorções ao vento, decidir quem deve ser consagrado aos ofícios eclesiásticos de acordo com suas posições doutrinárias e teológicas.
Infelizmente, há uma conexão histórica entre Pentecostalismo Clássico e Neopentecostalismo, e isso se deu nos Estados Unidos, com seu evangelho da prosperidade - o chamado “Movimento da Fé” - e uma cultura evangélica utilitarista e pragmática. Kenneth Hagin, considerado o pai desse movimento, era da Assembleia de Deus. Muitos outros, também. Sua influência sobre a Assembleia de Deus, na prática, ainda é acentuada, o que lamento profundamente. Mas eu pergunto: nossa referência são os pregadores da prosperidade ou Cristo?
Se eu tivesse de escolher entre a sólida teologia de igrejas históricas, especialmente as de fé reformada, e os ensinos de neopentecostais, não teria nenhuma dúvida: ficaria ao lado das igrejas históricas. Em termos de conexão teológica, estamos mais próximos dos reformados e metodistas, em razão da suficiência e autoridade das Escrituras, bem como do cristocentrismo, do que dos neopentecostais, que não estão muito preocupados com o que a Bíblia diz.
Na sucessão histórica dos movimentos cristãos, seria até plausível supor que o Movimento Pentecostal, uma ocorrência do Séc. XX, seja caracterizado como um evento próprio das igrejas de doutrina ortodoxa, com uma ênfase especial na ação carismática do Espírito Santo. Entretanto, como as igrejas neopentecostais entrariam nessa cadeia?
Estamos realmente preocupados com a Sã Doutrina ou nossa preocupação é com a “identidade assembleiana”, numa perspectiva bairrista?
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