segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Sobre o livro "O que estão fazendo com a Igreja", de Augustus Nicodemus Lopes

Na quarta-feira 29 de outubro minha turma de escola dominical e alguns irmãos mais próximos fizeram um churrasco de despedida (por conta de minha remoção de Campo Grande-MS para Salvador-BA). Dentre as boas e emocionantes palavras de consideração, deram-me o excelente livro "O que estão fazendo com a Igreja", do Rev. presbiteriano Augustus Nicodemus Lopes. A dedicatória foi assinada pelo prezado irmão Carlos Lima, nosso anfitrião naquela festa e dedicado colega de classe.
O presente foi dado numa ocasião muito oportuna: dois dias antes do 31 de outubro, em que se comemora a Reforma Protestante (1517). Digo isso porque o pastor Nicodemus é reformado, e porque a leitura do livro me fez pensar no excelente legado protestante para todas as igrejas que se pretendem evangélicas.
Começando a ler o livro em meio às preocupaçõs da mudança e da locação de uma casa na Bahia, li a maior parte no ônibus até São Paulo e o terminei aqui na casa da tia de minha esposa. E agora, mais sereno e confortavelmente instalado, me ponho a resenhar, ainda que de modo simples, essa considerável obra.
O livro nasceu do blog http://tempora-mores.blogspot.com, que eu já conhecia, e o Pr. Nicodemus divide com seus amigos Mauro Meister e Solano Portela. Trata-se de uma reunião de "posts" sobre a crise teológica e moral que se abate sobre o evangelicalismo brasileiro.
Quatro linhas teológicas são enfrentadas com maestria pelo pastor calvinista: a) os liberais; b) os neo-ortodoxos ou neoliberais; c) os libertinos; d) os neopentecostais.
De acordo com o autor, conquanto o liberalismo teológico tenha perdido a influência nos Estados Unidos e na Europa, é necessário tratar dele por causa de seminários e escolas de teologia com índole liberal, especialmente quando evangélicos buscam cursos com aprovação do Ministério da Educação, mas desprovidos da ortodoxia cristã, nos quais se ensinam mais dúvidas do que certezas sobre a Bíblia, a partir do método histórico-crítico, suplantando-se o método gramático-histórico de interpretação.
Os liberais gostam de dizer que a Bíblia está repleta de mitos, que não há milagres, que não há uma ação sobrenatural de Deus, e, seguindo o suíço Karl Barth (1886-1968) os neo-ortodoxos ou neoliberais pressupõem as mesmas coisas, com a diferença de que buscam ressaltar que isso não importa, que o que vale é o encontro existencial do indivíduo com a Bíblia, ainda que seja, segundo eles, um livro religioso que expressa simplesmente a reação de um povo a acontecimentos naturais, dando-lhes conotação espiritual.
O pastor Augustus Nicodemus ainda trata dos libertinos, que defendem o casamento gay, o aborto, a eutanásia, o sexo antes e fora do casamento, além de outras coisas moralmente indefensáveis à luz da Palavra de Deus.
Os neopentecostais - termo que o autor emprega para igrejas capitaneadas pela Universal do Reino de Deus e pela Renascer em Cristo - são caracterizados pela ênfase à teologia da prosperidade, batalha espiritual, relativismo, pluralismo religioso, e uma estrutura eclesiástica centrada em apóstolos e bispos.
O autor defende a idéia de que todos esses grupos poderiam ser chamados de "esquerda teológica", por sua tendência a advogar teses da esquerda política, mas tem o cuidado de dizer que isso não significa que todo esquerdista político será esquerdista teológico, embora o esquerdista teológico tenha a inclinação a ser esquerdista na política, como os democratas-liberais norte-americanos.
O pastor Nicodemus não deixou de tratar dos fundamentalistas, puritanos e pastores conservadores em geral. Fez um classificação dos fundamentalistas cristãos históricos, fundamentalistas americanos, fundamentalistas denominacionais e fundamentalistas teológicos. Expôs o lado bom dos puritanos (Séculos XVI a XVIII) e o quanto esse termo tem sido usado com um tom pejorativo (assim como o neologismo "puritânicos"). Mencionou os neopuritanos que hoje mantêm uma atitude de não-conformismo diante do consumismo, e até pedem maior intervenção estatal para corrigir distorções sociais.
Quanto aos pastores conservadores, o autor busca explicações para suas igrejas serem "minúsculas". Esse é um importante auto-exame, não no que diz respeito ao autor, mas às igrejas históricas, que, muitas vezes premidas pelo crescimento de igrejas chamadas neopentecostais, acabam sendo levadas a buscar crescimento numérico a todo custo.
Por fim, observe-se que o autor tratou de defender peremptoriamente a inerrância, a inspiração divina e o caráter autoritativo das Escrituras Sagradas, assim como a pureza sexual, o valor da piedade, da oração, e a necessidade de pensarmos sobre os motivos de as igrejas teologicamente sérias ficarem estagnadas a pequenos rebanhos.
Gostei muito do livro. Cheguei a dizer várias vezes à minha esposa: "Esse livro é bom!". Meus alunos realmente parecem ter compreendido que eu gostaria de ler uma obra dessas. Creio que isso deve ter a ver com o que lhes falei em nossas aulas, defendendo a sã doutrina, a importância do pensar a Fé, e a crítica saudável à situação do que se denomina "Igreja evangélica brasileira".
Então, querido leitor, se eu puder lhe recomender alguma coisa agora, recomendo a leitura do livro "O que estão fazendo com a Igreja - ascensão e queda do movimento evangélico brasileiro" (LOPES, Augustus Nicodemus. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, 201p).

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Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

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Em um só Deus e na Trindade.
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão.
Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
No batismo bíblico em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo.
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus, através do poder do Espírito Santo.
No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo.
Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade.
Na Segunda Vinda de Cristo.
Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo.
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis.
E na vida eterna para os fiéis e morte eterna para os infiéis.