"Tornei-me", porventura, vosso inimigo, por vos dizer a verdade"? (Gl 4.16).
Quem escreveu estas palavras foi o apóstolo Paulo, dirigindo-se às igrejas da Galácia. A ameaça, àquela altura, como se pode constatar da própria Epístola, era o movimento judaizante, segundo o qual os crentes gentios precisariam praticar ritos judaicos a fim de receber a salvação em Cristo. Paulo considerou tal atitude como uma tolice e um retrocesso.
A pergunta retórica de Paulo vale para qualquer situação em que a mensagem do Evangelho depara com heresias e recalcitrâncias: os ministros de Deus tornam-se inimigos dos leitores/ouvintes pela exposição da verdade?
Em todos os tempos, a verdade doeu. Em todos os lugares, a verdade dói. Em algum lugar, neste momento, alguém está a ouvir o que não gostaria. Mas a verdade precisa ser dita, e a luta em sua defesa é tão renhida contra a luta em seu desfavor.
Na Modernidade, com sua pretensão científica, racional e filosófica, os homens imaginaram descobrir a verdade a partir da experiência, do método e do rigor cartesiano. A Razão seria a luz das luzes. Tudo o que não pudesse ser provado, medido ou repetido careceria do status de verdade. Assim, temas da religião e outros objetos não verificáveis eram vistos com suspeita.
Nestes dias pós-modernos, porém, tem havido um tipo especial de rejeição à verdade: fala-se em relativismo e pluralismo. A verdade relativa dependeria da situação, do lugar, do tempo, das pessoas envolvidas. E, na ótica do pluralismo, haveria muitas verdades, todas igualmente aceitáveis. Nesse contexto é que se fala em pluralismo religioso e multiculturalismo, aceitando-se como válidas diferentes manifestações culturais, ainda que contrárias aos direitos humanos, à dignidade da pessoa humana!
Fala-se muito hoje em "tolerância", "intolerância religiosa", "ecumenismo", "diversidade", mas o que está por trás dessa agenda inclusiva e pluralista é, sim, a intolerância para com a verdade.
Os proponentes dessa ideologia confundem divergência e dissenso com intolerância, e querem, ao fim e ao cabo, um pacto de não discussão e de não persuasão. O que eles querem é estabelecer "suas verdades".
É loucura defender o pluralismo, pois, apesar de supostamente existirem muitas verdades, haveria pelo menos a verdade absoluta de que existem muitas verdades..., o que é tautológico. Logo, tem-se uma contradição intransponível.
As pessoas relativistas e pluralistas têm horror à verdade. Elas querem muitas verdades para que não tenham de se comprometer com nenhuma delas. Essa é, aliás, uma das características deste tempo: a religiosidade (espiritualidade) sem religião (instituição). Essas pessoas, que são inúmeras, influentes e representantes do zeitgeist (espírito da época) almejam viver ao seu bel talante, e para isso não querem ser importunadas com a lembrança de que pode existir uma verdade absoluta.
Para todas essas pessoas, a verdade se torna uma inimiga, e seus expositores, uns chatos, radicais e bitolados.
Dentro das igrejas evangélicas brasileiras isso já está a ocorrer. Tanto o Liberalismo Teológico como o Pseudopentecostalismo ("Neopentecostalismo") relativizam as Escrituras Sagradas, crendo no que lhes convêm. Aqui também recordo das "igrejas inclusivas" e "igrejas contemporâneas", que casam e ordenam homossexuais em nome de um suposto amor, quando estão, na realidade, menosprezando frontalmente a Palavra de Deus, que têm por inimiga.
A verdade pode ser dura, mas é vital. Não a tomemos por inimiga, mas como aquela que poderá nos libertar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário