Tem crescido a propaganda em prol da ordenação feminina ao ministério episcopal. Até a Assembleia de Deus, igreja pentecostal e teoricamente conservadora, já se vê assediada por esse risco, ao chamar mulheres de "pastoras", especialmente as esposas de pastores. A Assembleia de Deus do Distrito Federal, vinculada à Convenção Geral das Assembleias de Deus (CGADB), decidiu ordenar pastoras em sua Convenção de 2011. A Assembleia de Deus do Ministério de Madureira já ordena pastoras há mais tempo.
A Igreja Presbiteriana do Brasil rejeita fortemente a possibilidade de ordenação feminina (vide a firme disposição do Rev. Augustus Nicodemus Lopes para esclarecer o debate), enquanto entre os batistas históricos (da Convenção Batista Brasileira - CBB) ainda não vi nenhum caso de "pastora". Mas os metodistas brasileiros consagram pastoras há bastante tempo. De toda maneira, parece que no Brasil essa tendência é mais acentuada em igrejas "neopentecostais", conhecidas por sua pequena adesão à Bíblia.
Baseando-me na Bíblia, quero demonstrar que essa é uma medida plenamente equivocada.
Primeiro, devo dizer que, na condição de cristão evangélico, creio na Bíblia como a Palavra de Deus inspirada, inerrante, autoritativa e suficiente (cf. II Tm 3.16,17; II Pe 1.19-21). É nas Sagradas Escrituras que fundamento minhas opiniões sobre fé e conduta.
Entendo, pois, que a Palavra de Deus não é nem pode ser machista, sexista, discriminatória ou preconceituosa, assim como suas proposições (declarações) e doutrinas não devem ser interpretadas como mero produto da cultura patriarcal da sociedade judaica.
Homem e mulher são diferentes e complementares, o que está claro desde Gênesis (cf. Gn 1.27; 2.23) e pode ser comprovado pela experiência e pela Biologia.
Homens e mulheres têm características distintas e que não devem ser desprezadas. Os homens são predominantemente inclinados à sistematização, ao pensar global, à liderança, à administração, ao passo que as mulheres se dedicam majoritariamente ao cuidado, às relações interpessoais, ao pensar local. Isso não significa que se devam tomar essas características para conduzir as profissões na sociedade, mas, diante dos postulados bíblicos, não posso olvidar que tais características lançam luz sobre a exclusividade masculina no ministério episcopal, a partir do Novo Testamento.
Num contexto social adverso para as mulheres em todo o mundo, a Lei de Moisés caminhou em sentido oposto e as valorizou. Esse é o espírito do texto do Pentateuco, no qual se reconhece o valor da humanidade em si, sem distinção de gênero (para utilizar expressão da moda). Mas cito o exemplo de Nm 27.1-11.
Um dos argumentos dos defensores da ordenação feminina é o papel de Débora como juíza e profetisa (cf. Jz 4 e 5), e aqui se está diante de uma contradição: se a sociedade israelita era tão machista e patriarcal - e estamos nos referindo ao período dos Juízes, mais de mil anos antes de Cristo -, o surpreendente é que uma mulher alcançasse tão elevado patamar, não? E, não obstante, o precedente de Débora jamais foi revisitado na Bíblia como fundamento para a ordenação feminina.
Nos casos de Rute e Ester, o que se tem é a valorização máxima da figura feminina: além de terem Livros Bíblicos com seus respectivos nomes, acharam posições de destaque, pois a primeira, mesmo sendo moabita, adentrou solene e brilhantemene à genealogia de Jesus (cf. especialmente Rt 4.13-22), e a segunda simplesmente cooperou para a salvação dos judeus (cf. especialmente Et 4.13-17).
Há outras mulheres destacadas no Antigo Testamento: Sara, Rebeca, Raquel, Ana, Jael, todas de carne e osso, com suas virtudes e defeitos, que entravam em conflitos familiares, ajudavam seus maridos na tomada de decisões certas e erradas, faziam preferência entre filhos, sentiam tristeza, oravam a Deus e, se necessário, metiam uma estaca na têmpora de um general... Mas, se por um lado tudo isso mostra o valor que Deus reconhece (ou confere) à mulher, nada disso foi suficiente para a ordenação feminina ao ministério episcopal ("pastoras", "bispas" e "presbíteras").
O Novo Testamento informa que Jesus chamou doze homens para serem Seus apóstolos (cf. Mt 10.1-4; Mc 3.13-19; Lc 6.12-16). Havia mulheres entre os inúmeros discípulos, e algumas serviam ao SENHOR com os seus bens (cf. Lc 8.1-3), mas nenhuma delas foi ordenada "apóstola".
Ninguém pode afirmar que Jesus teria sido preconceituoso ao não ordenar mulheres, pois Ele tratou a todos com igualdade e respeito, e chegou a escandalizar Seus contemporâneos ao comer e beber com publicanos e pecadores (cf. Mt 9.10-13; Mc 2.15-17; Lc 5.29-32), e ao dialogar com uma mulher samaritana, discriminada por ser mulher e samaritana (cf. Jo 4.1-42). Ora, se Jesus não foi preconceituoso, deve ter havido um bom motivo para não ordenar mulheres ao apostolado. Jesus tornaria bem cristalina a questão da ordenação de "apóstolas" se isso fosse correto.
O apóstolo Paulo escreveu que entre os requisitos para o episcopado estaria o ser marido de uma só mulher (cf. I Tm 3.1-7; Tt 1.5-9). Em nenhum momento Paulo afirma que entre um dos requisitos estaria o ser casada com um só marido.
Espanta-me ouvir crentes dizerem que Paulo seria machista! Se dissermos que Paulo foi machista ao escrever páginas das Escrituras, estaremos dizendo que Deus é machista - porque as Escrituras foram divinamente inspiradas - ou que algumas passagens bíblicas não foram inspiradas por Deus - mas é isso que os teólogos liberais ensinam há muitas décadas, e é isso que fundamenta, entre outras coisas, aberrações como a Teologia Gay.
Observem o perigo dessa propaganda em torno da ordenação feminina: adotar o mesmo substrato teórico do Movimento Gay, que hoje ordena ministros gays, celebra casamentos gays, planta igrejas para o público gay e quer nos fazer crer que Deus concorda com tudo isso.
Se pudermos selecionar das declarações éticas, espirituais e ministeriais das Escrituras o que pode ser considerado cultural e o que pode ser considerado doutrinário, não haverá limites para a imaginação. Caminharemos ad infinitum.
Há motivos político-ideológicos (todos errados) para a ordenação feminina, o que é claro nos discursos dos seus defensores. Fala-se em igualdade, não discriminação, justiça, mas a Bíblia é deixada de lado, justamente porque a igualdade bíblica e a justiça bíblica nem sempre - ou quase nunca - estão em sintonia com o pensamento pós-moderno, que é relativista, pluralista, secularista e subjetivista.
Não estou a afirmar que todas as pessoas que concordam com a ordenação episcopal feminina partiriam desses pressupostos, mas que a) não há fundamento bíblico para a ordenação pastoral feminina; e que b) a propaganda em prol da ordenação pastoral feminina é marcada por ideias próprias do pós-modernismo e especialmente da Teologia Liberal, que têm produzido heresias como a Teologia Gay e as tais "igrejas contemporâneas" e "inclusivas".
Sei que este texto não será palatável a muitos cristãos, o que de certo modo comprova o que estou a pensar sobre a nossa época.
Um comentário:
Concordo inteiramente. Tenho visto que essa é uma das primeiras porteiras a serem abertas. A Bíblia é muito clara sobre esse assunto. Para contornar versículos muito óbvios, é necessário dizer que é preciso "contextualizar" ou que Paulo "tinha um problema com as mulheres" - e nessa altura, sem perceber, já estamos agredindo a Palavra, criticando-a e colocando-nos acima dela, e não sob ela, como juízes, não como súditos. E abrimos a porteira para, com os mesmíssimos argumentos, aceitar o casamento gay, o aborto, o universalismo e por aí vai.
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