sexta-feira, 2 de julho de 2010

O racismo que ninguém vê

Só nesta semana testemunhei duas falas impróprias quanto ao biotipo dos japoneses: a primeira foi num restaurante, onde, na hora do almoço, assisti à cobrança de pênaltis de japoneses e paraguaios; a outra foi hoje, quando do jogo do Brasil, num comentário do narrador. Em ambas as situações, pedia-se que um japonês abrisse o olho (no último caso, era o juiz; no outro, era o batedor).
Nesses episódios, ninguém se lembra de que a brincadeira é politicamente incorreta. Por que será? É simplesmente porque racismo autêntico é racismo contra negros?
Antes do jogo da seleção, ouviu-se um texto contra a discriminação racial no futebol, lido pelos capitães de Holanda e Brasil. Mas, infelizmente, discriminar japonês não dá em nada.
Ora, se alguém fizesse qualquer piada do tipo "o jogador fulano está queimado", dependendo da circunstância, isso poderia gerar até processo-crime se o jogador fosse negro. É o mesmo que se dá quando se falam coisas como "a situação tá preta" e outras frases de que os ativistas negros não gostam.
Em minha casa, meus sogros e esposa são geneticamente nipônicos, embora brasileiros. Há um constrangimento diante de piadas desse naipe, e até eu, um brasileiro "macunaímico" de pele clara, fico constrangido diante da TV. Será que os nipo-brasileiros não podem se chatear? Será que eles mesmos não se sentem discriminados quando chamados de "japa"? Será que não acham ruim ser considerados como estrangeiros em sua própria terra?
Não é difícil alguém aqui em Salvador perguntar à minha sogra de onde ela é e, ao saber que é do Brasil, emendar com a sábia indagação: "E por que nasceu assim?". Tudo bem, aí está a ignorância, a falta de educação básica, mas até os supostos bem-informados fazem piadas discriminatórias sem pensar na besteira que fizeram.

13 comentários:

João Armando disse...

tudo bem, mas acredito que o racismo contra negros foi muito maior do que contra japoneses. Todo racismo é ruim, mas quando mais intenso, gera uma reação maio - o que é compreensível. Talvez eu diga isso porque cresci em S. Paulo, onde os olhinhos puxados eram tão comuns que faziam parte da paisagem. E olhe que não nutro simpatias pelo movimento negro - em absloluto!

Miriam Utida Sousa disse...

Sou descendente de japoneses. Cresci na capital de São Paulo entre pessoas de várias diferentes origens.
Quando a pimenta é nos olhos dos outros dói menos.
Meus avós e meus pais foram muito humilhados após a Segunda Guerra Mundial. Apesar de não terem envolvimento algum com a guerra, muitos imigrantes japoneses perderam as suas propriedades sumariamente, e estas nunca foram devolvidas ou indenizadas. Meus pais eram chamados de "quinta coluna" que na época era uma forma de rebaixar, dizer que eles eram inferiores. Não receberam nenhuma ajuda do governo ou qualquer organização brasileira para defender-los das injustiças. Pelo contrário, no governo de Jânio Quadros, foi proibido falar japonês e foi tirada do ar a única rádio japonesa, que só tocava músicas inofensivas e que era uma das poucas fontes de diversão das famílias imigrantes, inclusíve da minha mãe. Minha mãe que morava em casa de "pau-a-pique" e que gotejava muito quando chovia. A única maneira de sobreviver foi reunir-se em colônias ou grupos de mesma origem. Um ajudava o outro e assim os descendentes de japoneses foram trabalhando, estudando e conquistando respeito dos demais.
Mesmo assim ainda escuto ao sair nas ruas um monte de palavras sem sentido (dizendo eles que é japonês) em tom de chacota, para chatear mesmo. Dizem que tenho o olho "rasgado" e minha prima já ouviu imoralidades no meio da rua por ser descendente de japoneses. Também já ouvi de uma adolescente que a mãe dela a advertiu para que não confiasse em orientais porque, segundo ela, "esse povo não presta".
Isso não é racismo?

ღღ Valéria Miranda!.. ღღ disse...

Infelizmente nossa sociedade está cada dia mais racista... são preconseitos de todas as formas, sexo, cor, raça, idade, etc
Está na hora de dar um basta nisso tudo.
Deus abençoe;

Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ Bezo no ♥ ! *.*

psulo disse...

Eu era de uma comunidade masi negra , sedo naquela época louro de veiço e baca grande (primeiro ruim depois até sucesso) e eu er o branco azedo.
Há claro uma discriminação para muitos e muitas coisas, mas acho que hoje até a comunidade negra pega pesado com o seu estatuto, pois o Brasil esta mais para a musica de Arnaldo Atunes que se chama " Os Inclassificaveis)
Abraços (focadesarmada.blogspot.com

claudiopimenta disse...

Pnesei que fosse só eu que havia visto e reprovado tal atitude do narrador esportivo e seus coleguinhas com tom ironico completamente anti-etico e deselegante, assim como os nordestinos os asiaticos e africanos praticamente contruiram esse pais, pense num povo pra trabalhar os asiaticos

Anônimo disse...

Para quem acha que a discriminação contra os negros foi muito maior do que contra japoneses. Estudem um pouco antes de falar besteira e Saibam:

 Um dos ideólogos do antiniponismo era Francisco José de Oliveira Vianna, autor de "Populações Meridionais do Brasil" (1918), considerado um clássico do pensamento nacional.

 Quando, no raiar do século 20, começaram as especulações em torno de uma possível imigração japonesa, o diplomata, primeiro biógrafo de d. João 6º e encarregado de negócios da inaugural missão diplomática brasileira no Japão, Manuel de Oliveira Lima, deu parecer contra o projeto.

 Em 1901, ele escreveu ao Ministério das Relações Exteriores alertando sobre o perigo de o brasileiro se misturar com "raças inferiores".

 Mais de 200 escolas de japonês foram fechadas. A língua japonesa foi proibida de ser falada em público; para a maioria dos nipônicos no país, essa era a única forma de se comunicar.

 Os bens das empresas nipônicas foram confiscados. Japoneses não podiam viajar sem salvo-conduto. Aparelhos de rádios pertencentes às famílias eram apreendidos -para que não se ouvissem transmissões em ondas curtas do Japão.

 Os "súditos do imperador" estavam proibidos de dirigir veículos de sua propriedade, mesmo os comerciais -os choferes tinham que ser designados por uma autoridade policial brasileira.

 Sem que houvesse indícios de que organizações político-militares ligadas às armas imperiais do Japão estivessem atuando no país (como foi o caso de núcleos do Partido Nazista entre os imigrantes alemães), civis japoneses e muitos de seus descendentes nascidos no Brasil foram tratados como prisioneiros de guerra.

 Em 1942, a colônia japonesa que serviu para o cultivo da pimenta em Tomé-Açu, no Pará, foi transformada em campo de concentração (expressão da época), embora nenhuma atividade contra a "segurança nacional" por parte de seus membros tivesse sido detectada.
De Washington, o embaixador brasileiro Carlos Martins Pereira e Sousa incentivava o Brasil a adotar, a exemplo dos EUA, os "campos de internamento": áreas de confinamento para as quais foram levados, sem respaldo jurídico, mais de 120 mil nisseis (muitos já cidadãos americanos). Eles viveram nesses "campos-prisão" até o final da guerra, em condições humanas precárias.

 A delação -como diz Tzvetan Todorov, a delação no Estado totalitário é um modo de colocar "o terror à disposição de todos"- contra os japoneses tornava-se popular.

Anônimo disse...

Estava pesquisando o tema porque recentemente minha enteada cantarolou na minha casa "japonês tem quatro filhos..." eu fiquei chocada qdo soube que foi a mãe dela quem ensinou a musiquinha preconceituosa. Meu pai é japonês e eu sempre tive orgulho da história da minha família e como a Miriam tbm cresci em SP ouvindo diversas chacotas. Aprendi a não me importar com este tipo de provocação, mas o fato de ouvir uma criança cantar um música destas me preocupou demais. Ela não sabia o significado, tem apenas 6 anos. Expliquei que é ofensivo. Mas o que dizer de um adulto que ensina isso pra uma criança? O que dizer de pessoas que consideram normal ensinar preconceito em casa?

Anônimo disse...

Interessante o autor do texto ter notado essa discriminação que acontece com os japoneses. Geralmente somente quem é descendente de japoneses percebe isso. Eu, por exemplo, sou brasileiro e descendente de japoneses e já sofri discriminação aqui no Brasil. Infelizmente discriminar os japoneses é algo culturalmente aceitável. É aquela: os japoneses representam apenas 1% da população, ou seja, são minoria mesmo, logo, são alvo fáceis de serem discriminados, porque é mais difícil de se defenderem perante a massa. Soma-se a isso o fato da mídia brasileira covardemente induzir ainda mais a discriminação contra os japoneses.

Anônimo disse...

Semana passada durante uma aula de "direito Civil", pasmem, o professor durante uma explicação simplesmente olhou para minha direção e disse: Hoje em dia em bancos de espermas, já é possível escolher até a cor da pele,dos olhos, da criança, e falou para mim: "no caso de japonês é mais fácil neh" piada totalmente sem graça, em que somente os colegas da sala e ele se divertiram, e mesmo vendo a minha indignação, ele emendou outra piadinha de mal gosto, " um caminhão cheio de japonês é dificil saber quem é quem" todos riram muito, professor e a sala toda, saí arrasada, pensei que no curso de direito, encontraria pessoas esclarecidas, e vindo de um professor, foi a gota d´agua. como se não bastasse uma coleguinha de trabalho disse que piadinha de japonês podia sim, de negro não, tinha lei prá isso...

Anônimo disse...

Só quem é descendente de asiático ou quem já foi um dia discriminado sem alguma razão sabe como é ser discriminado na escola, no serviço ou nos lugares. Aqui no Brasil este tipo de discriminação é comum e as pessoas acham tudo isso normal, temos que lutar também pelos nossos direitos. Não só pelos nossos "descendentes asiáticos", mas por todas indiferenças que fazem de nós, "nordestinos, bolivianos, negros, entre outros". No final das contas somos iguais e não tem um porquê dessa indiferença.

Biblioteca do IFG - Campus Itumbiara disse...

quanto ao caso relatado pelo anonimo, do que ocorreu em sala de aula, creio q seja uma situação a ser denunciada. Sou nipo-brasileiro com muitissimo orgulho e juro que se isso acontecer comigo tomo providencias ao menos na esfera administrativa da universidade. Chega!!!! Os nipo-brasileiros trabalham muito pra desenvolver esse país, merecemos respeito!!!!

Anônimo disse...

o pior é que japones sempre é minoria não tem como se defender em uma sala de 40 alunos ouvir o professor zuando e 39 dando risadas ,capaz de voce querer responder e os outros alunos ainda defenderem o professor.....e outra japones no Brasil nao tem nome são todos "Japas" isso é ridiculo racismo ao extremo! ....agora tem essa de falar flango! se fosse contra negros ja estavam em Cana!

Anônimo disse...

É incrível como apenas quando a pessoa é descendende de japoneses ou realmente é japonês ou, em último caso, quando tem algum tipo de relacionamento com japoneses é que se dá conta desse tipo de racismo velado.

O próprio autor imagino, nunca deu bola pra isso, mas agora com relacionamento com japoneses é que se dá conta. A falta de alteridade, de se colocar no lugar do outro, enfim, é bem notória da contemporaneidade. Esse individualismo, com pessoas cada vez mais centradas em si mesmas, faz nascer todo tipo de crueldade. O rescrudescimento das direitas fascistas pela Europa é um bom exemplo disso, fora as medidas governamentais xenófobas.

Ainda que tenha toda sorte de movimentos sociais (feminismo, movimento negro, movimentos pela aceitação do corpo, etc), não vejo tanto futuro nisso. O preconceito que gera a discriminação e depois a tentativa de exclusão é caminho conhecido, mas infelizmente parece ser esse o trajeto que as pessoas escolhem (tentativa que não se resume necessariamente a genocídio, mas a xenofobia e a exclusão social).



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Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

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Em um só Deus e na Trindade.
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão.
Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
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