Circula na internet um vídeo em que o Pr. Paschoal Piragine, da Primeira Igreja Batista de Curitiba, fala sobre sua adesão ao movimento cristão contra a iniquidade, cuja preocupação central é o combate a projetos de lei que poderão sair vitoriosos nestas eleições gerais de 2010.
Trata-se, por exemplo, do PLC 122/06 - chamado de "lei da mordaça" -, que busca criminalizar a conduta de crítica ao homossexualismo, e de outros projetos e tendências, como a legalização do aborto, a união civil entre pessoas do mesmo sexo, o infanticídio em tribos indígenas, o apoio ao divórcio. Um vídeo apresentado na palestra do pastor Piragine mostra, além disso, comportamentos como a pornografia, a pedofilia e a violência familiar na condição de fatos frequentes em nossa sociedade.
O pastor cita especificamente o Partido dos Trabalhadores (PT) como aquele que "fechou questão sobre essas questões" e que expulsa filiados que votam contra "qualquer uma dessas leis". Cita ainda o Programa Nacional de Direitos Humanos III, já aprovado pelo governo petista, o qual menciona assuntos insertos no vídeo acima referido.
Tenho uma série de coisas a dizer sobre isso: primeiro, é legítimo o posicionamento de cristãos sobre temas políticos os mais diversos, e não apenas os de cunho sexual, familiar ou que toquem em valores como a vida, a fé e a liberdade.
Segundo, iniquidade não é só aborto, homossexualismo, divórcio por qualquer motivo, pornografia, pedofilia e violência doméstica, mas também injustiça social, corrupção, manipulação de mentes e confusão entre o público e o privado.
Embora pense assim, não vou atacar os irmãos que, como o pastor Piragine, levantam a sua voz política somente quanto a temas ligados à pauta evangélica, pois, para todos os demais assuntos, existem partidos políticos. Quanto a assuntos remanescentes da moral e da ética cristã, quem falará senão a Igreja?
Discordo de algumas nuances desse movimento, e penso na laicidade do Estado como um aspecto que não se pode olvidar. Por exemplo, no que concerne ao casamento gay, sou totalmente contrário - assim como, espero eu, a totalidade dos evangélicos -, pois casamento é uma palavra e um conceito empregado para pessoas de sexos opostos. Entretanto, tenho me inclinado a pensar que, se o Estado é laico, e se duas pessoas, do mesmo sexo ou não, com interesse sexual ou não, constroem uma vida em comum, com investimento de dinheiro e planejamento de vida, é necessário que se lhes assegurem direitos pelo Estado (sucessórios, previdenciários, obrigacionais). Mas isso não significa que eu aceite a agenda homossexual nem que eu concorde com eles em seu estilo de vida. É apenas o reconhecimento de sociedades que de fato existem.
Todos os temas de interesse da Igreja devem ser tratados com argumentos metarreligiosos, pois só assim a sociedade nos ouvirá. Não adianta dizermos que isso ou aquilo não é bíblico. Precisamos mostrar, por exemplo, que o PLC 122/06 fere as liberdades de crença, consciência, expressão e religião; que o aborto é verdadeiro assassinato, porque, in dubio quanto ao começo da vida, deve-se pender para o menor risco à vida do indivíduo; que o infanticídio em tribos indígenas fere direitos fundamentais da pessoa humana, aqueles que nenhuma cultura deve desprezar. Não podemos usar argumentos exclusivamente religiosos, pois ao mundo isso não importa, e é na sociedade que esses temas são debatidos.
De toda maneira, aprecio enormemente que um pastor com trinta anos de ministério use a internet para falar umas verdades de que o Brasil precisa saber. O PT constitui, sim, um problema sério, não somente nessa seara da "moralidade cristã", mas em variados setores, como a liberdade de imprensa, a legalidade, a normalidade das instituições, os bons costumes políticos e a compra de consciências.
No próximo post, vou tratar de um pronunciamento da Aliança de Batistas do Brasil sobre esse movimento que surge contra a iniquidade.
2 comentários:
Obrigada pela a oportunidade de conhecimento,que possamos ter consciência no momento de votar.
Eu fui um dos que divulgou o máximo possível o pronunciamento do pastor (que foi o pastor da minha falecida irmã, e a quem conheci pessoalmente). Sempre me preocupa quando um líder eclesiástico se posiciona tão abertamente, pois, sabe-se lá, pode haver outros interesses. Também me preocupa o conceito de iniquidade, que ele restringiu às questões de moral. Sabemos que o DEM e o PSDB não foram lá mui santos, quando no poder. Iniquidade inclui falcatruas em licitações, em privatizações etc. Mas, como o pastor bem falou, nenhum partido político fechou questão sobre a corrupção, por motivos óbvios - mas o PT fechou, sim, questão com respeito ao homossexualismo, ao aborto etc. No geral, gostei do texto e, como disse, repassei bastante.
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