sábado, 3 de setembro de 2011

Algumas considerações dirigidas ao leitor César Francisco Raymundo

César Francisco Raymundo é um leitor que fez recentemente alguns comentários aos seguintes posts deste blog: Crescimento de evangélicos sem vínculo denominacional como manchete principal da Folha; Nada justifica o comportamento homossexual; e A censura gay já começou. Tive alguns contatos com ele por e-mail ou por telefone no ano de 2010, a partir de coisas de sua autoria que li na internet. Edita a Revista Cristã Última Chamada e mantém dois blogs (revistacrista.blogspot.com e revistacrista.org). Vou tecer alguns comentários ao que ele escreveu porque acredito que suas palavras merecem uma contradita.
Sobre o texto Crescimento de evangélicos sem vínculo denominacional como manchete principal da Folha, César Raymundo escreveu as considerações que seguem em vermelho, e que vou comentando em seguida:

"Na verdade, eu penso que o pertencer a uma igreja é parte do credo cristão!"
Ora meu amigo! Deixemos de lado o tradicionalismo do templo de pedra! 
Com a minha frase, citada entre aspas, estou dizendo que o pertencimento a uma igreja é parte do credo cristão, apenas isso. Não estou tecendo uma defesa do tradicionalismo, muito menos um tradicionalismo do "tempo da pedra"... Pertencer a uma igreja também não implica necessariamente em pertencer a uma denominação, com personalidade jurídica, dízimo, pastores formalmente consagrados e remunerados, organização hierárquica assumida (sempre há organização hierárquica, ainda que não assumida). Tampouco afirmo que a igreja salva, nem que pertencer a uma igreja seja condição para ser salvo. O que entendo é que o crente necessariamente irá congregar-se a um grupo que professa a mesma fé, não como causa, mas como consequência da Salvação. Efésios e Colossenses tratam da importância da Igreja como o Corpo de Cristo, que, por Sua vez, foi dado a ela. 
Vocês do denominacionalismo não estão enxergando um fenômeno global (inclusive nos EUA) chamado igreja simples. Não setrata de uma versão miniaturizada da igreja denominacional, mas trata-se de um cristianismo simples praticado nas casas, com comida, bebida, culto simples, com paticipação de todos os membros, um trazendo doutrina, outro uma palavra, e ainda outro um cântico. 
Não sou tradicionalista nem denominacionalista. Adjetivações buscam encurtar o caminho, mas não oferecem fundamento suficiente. O fenômeno das igrejas simples e suas correlações (emergentes, orgânicas, "em casa") tem seu valor, mas há alguns problemas que exigem reflexão. Essa crítica tão acerba à instituição, à organização e à hierarquia esquece que todo agrupamento humano, por menor que seja, e por mais informal que seja, deverá criar suas normas e procedimentos, mesmo que singelos. E o pecado jamais deixará de ser uma realidade da natureza humana, exceto naquele Grande Dia em que seremos transformados. Curiosamente, muitos criticam as denominações, mas acabam criando outras, com a diferença de que não aceitam um nome, um CNPJ, uma organização de líderes. Além disso, deve-se admitir que essas igrejas são uma reação à pós-modernidade, e, ao mesmo tempo, uma manifestação dela, já que a pós-modernidade se caracteriza pelo individualismo, pluralismo, subjetivismo e relativismo. Há motivações inúmeras para se frequentar uma igreja sem-nome, e algumas dessas motivações são genuínas e santas, mas isso não pode significar uma repulsa ao modelo denominacional.
Chega desse modelo herdado do catolicismo romano em que as pessoas são meramente expectadoras, que o clero comanda o culto etc. 
Quem disse que congregar numa denominação induz à mera condição de espectador (é com "s" mesmo)? Quem disse que pastores, presbíteros e diáconos formam um clero? Não são todos sacerdotes, líderes e liderados?
As pessoas estão cansadas da igreja evangélica com esse modelo católico romano. Elas se sentem melhor nas casas.
Não sei se as pessoas estão cansadas da igreja evangélica, muito menos se elas se sentem melhor nas casas. Talvez a pesquisa do IBGE recentemente divulgada diga alguma coisa sobre estatísticas e tendências, mas não sei se congregar em casa seja o fator decisivo para a produção desses números. Não pode haver algum componente de falta de compromisso? Não pode haver algum componente de evangelicalismo nominal? Não pode haver algum componente de pluralismo?
E chega de vocês evangélicos perseguirem os 'sem-igreja' porque não existem 'sem-igreja'. Eles apenas estão praticando um cristianismo simples, sem palavras pomposas, sem teses, sem doutrinações. 
César Raymundo declara indiretamente que não é evangélico. Por que os "sem-igreja" estariam livres de teses e doutrinações? Não são humanos? Não seguem algum tipo de corrente teológica? Não pode haver cristianismo simples fora desse modelo de igrejas em casa? Combater o denominacionalismo é mais cristão?
Creio que a denominação será a grande perseguidora dessa gente assim como foi no passado.
Historicamente, há diferenças entre a perseguição romana e medieval aos cristãos, de um lado, e, de outro lado, a perseguição que se possa aplicar contra membros de uma igreja. Acredito que existem diferentes maneiras de se perseguir alguém, e isso inclui as igrejas simples, em casa, emergentes, orgânicas...
Percebo que existe um sentimento de irritação contra o sistema denominacional brasileiro, e há, sem nenhuma dúvida, muitos problemas que precisam de enfrentamento. Eu mesmo não sou nenhum herdeiro desse sistema, pois não tenho nenhum privilégio por pertencer a uma denominação, e dentro dela já precisei refletir, frear e recuar muito. "Engoliar sapos", entende querido leitor? Mas é justamente aí que reside a doutrina da Igreja: somos pecadores mesmo, atrapalhados, limitados, cheios de defeitos, e ainda assim Jesus Cristo nos resgatou para formar um "povo de propriedade exclusiva de Deus" (II Pe 2.9). Esse é o mistério da Igreja.
Penso que o que devemos combater com maior firmeza é o cinismo, a jactância diante do pecado. Entretanto, se formos produzir um juízo sério, profundo e radical, não vai escapar absolutamente ninguém. Ninguém mesmo.

3 comentários:

César F. R. disse...

Só uma correção: o meu blog e site revistacrista.blogspot.com e
revistacrista.org

O blog "meuquintalvirtual.blogspot.com" é de outra pessoa que segue o meu blog.

Parabéns pelas críticas. É isso aí democracia sempre! Que nunca sejamos tem sido no Oriente Médio.

Alex Esteves da Rocha Sousa disse...

César F. R.,

Está bem. Vou corrigir agora.
Alex.

César F. R. disse...

Muito obrigado pela correção do nome dos sites, você se revelou como alguém especial. Que Deus te abençoe muito, pois você não é sinônimo de rancor.
Espero que eu desfrute sempre de amizade inteligente como a sua que sabe viver em DEMOCRACIA com as divergencias. O Brasil precisa de gente como você. Amanhã é sete de setembro, eu amo o Brasil e os símbolos da pátria, isto me emocina muito, que comemoremos muito essa liberdade religiosa que temos.



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Gostaria de estabelecer contato com você. Talvez pensemos a respeito dos mesmos assuntos, e o diálogo é sempre bem-vindo e mais que necessário. Meu e-mail é alexesteves.rocha@gmail.com. Você poderá fazer sugestões de artigos, dar idéias para o formato do blog, tecer alguma crítica ou questionamento. Fique à vontade. Embora o blog seja uma coisa pessoal por natureza, gostaria de usar este espaço para conhecer um pouco de quem está do outro lado. Um abraço.

Para pensar:

Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

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Bases de Fé

Creio:
Em um só Deus e na Trindade.
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão.
Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
No batismo bíblico em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo.
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus, através do poder do Espírito Santo.
No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo.
Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade.
Na Segunda Vinda de Cristo.
Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo.
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis.
E na vida eterna para os fiéis e morte eterna para os infiéis.