No futuro, num regime politicamente correto, todas as pessoas serão iguais na boniteza, no carisma, na capacidade de comunicação, nas artes manuais, nos jogos de azar, nas artes marciais, na compleição física, na leitura dos Clássicos...
Desde a infância as pessoas serão religiosamente ensinadas que o mérito é apenas uma invenção burguesa. Não haverá competições nas escolas, porque será proibido ganhar do coleguinha. E serão extirpados dos colégios os dias comemorativos dos pais e das mães, para não haver constrangimento à criança cujos pais estão separados e não conseguem conversar nem sobre a guarda de filhos.
Todos terão direito à felicidade, a elogios, a promoções, a participações empresariais, a um carro do ano, a uma casa com piscina, a uma viagem bacana. O supérfluo será um direito fundamental constitucionalmente reconhecido.
As mulheres, todas elas, terão direito a ouvir aquelas frases generosas do pessoal da construção civil, e a pelo menos uma vitória em concurso de beleza. Será proibido o poema "Receita de Mulher", de Vinicius de Moraes - aquele em que o poetinha pede desculpas às feias, porque "beleza é fundamental".
Piadas deverão passar previamente pelo Controle Social e Democrático de Anedotas, a fim de não se ofenderem os acima do peso, os abaixo do peso, os homoafetivos, as pessoas com o crânio levemente avantajado e achatado, os portadores de nariz de comprimento superior ao nariz mediano...
As redes sociais serão monitoradas para que governos defensores do Bem, do Belo e do Justo não venham a ser achincalhados por coxinhas reacionários e fundamentalistas da elite branca paulista.
A Bíblia deverá ser lida e mencionada em lugares fechados, sem tentativa de evangelização, e sem discriminar as pessoas com palavras torpes como "pecador", "ímpio", "iníquo", "incrédulo", exceto se, nesses espaços reservados, a própria pessoa aceitar, no gozo de sua liberdade, esses adjetivos dantescos.
Aquelas histórias bíblicas que registram guerras, assassinato, incesto, julgamento divino, regime patriarcal e opressão social deverão vir acompanhadas de notas explicativas sobre tudo o que o leitor precisa saber sobre temas universais, como sexismo, luta de classes, acumulação de riquezas, imperialismo, identidade de gênero e valor inerente ao Ser Humano, independentemente do credo em um deus. E ficará claro que o deus monoteísta é somente mais um entre tantos possíveis.
Os pastores não poderão dizer em público que homossexualismo (ops! "homossexualidade") é pecado, senão apenas em recinto fechado. O mesmo para aborto, eutanásia, divórcio, relações sexuais antes ou fora do casamento e outras práticas que ninguém será compelido a condenar se a lei não o fizer primeiro.
Nesse futuro totalitário em favor da Bondade e da Harmonia entre todas as pessoas, serão punidos aqueles que não se conformarem à Verdade Suprema do Plural, do Relativo e do Subjetivo. A morte será uma opção àqueles que, recusando-se a tudo o que é bom, preferirem a desumanização.
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