Eu nunca assisto ao programa de Ana Maria Braga, graças a Deus. E também não assisto ao Ó Paí Ó, que tem meu conterrâneo Lázaro Ramos como protagonista. Mas ontem, por coincidência, no início e no final do dia, deparei com os dois programas, e fiquei triste.
Primeiro, ao mudar de canais pela manhã para ver o que poderia assistir, vejo que Ana Maria Braga estava começando mais uma parte de uma série chamada O Sagrado, e nesse dia o tema era justamente o Protestantismo. O entrevistado? Ninguém menos que o conhecido pastor batista Israel Belo de Azevedo. O problema, porém, aconteceu depois, já com o entrevistado diante de Ana Maria Braga, que iniciou sua fala demonstrando o quanto ela se preparou para a série de reportagens: "Eu sempre achei o Protestantismo muito igual ao Cristianismo". Preciso comentar? Vindo de Ana Maria Braga, com todo o respeito do mundo, não dá para ficar surpreso. Desliguei a TV, com a máxima aprovação de minha esposa.
À noite, depois de assistir ao excelente filme A Vida dos Outros (altamente recomendável), vi que na Globo o Ó Paí Ó mostrava o Lázaro Ramos tentando alertar uma pequena igreja de que o seu pastor era, na verdade, mentiroso e ladrão. O apelido da figura? Queixão. Aqui na Bahia queixão é o sujeito cheio de conversa mole, pelo que sei. E o tal pastor Queixão superfaturava a obra do templo (parecido com congregações pentecostais) para se apropriar indevidamente dos dízimos. O personagem de Lázaro Ramos tenta explicar isso a uma irmã, que, credulamente, o expulsa da igreja como quem escurraça um demônio.
Existem pastores corruptos? Sim. Existem pessoas simplórias que acreditam em tudo o que o pastor diz? Claro. Mas tenho aqui umas considerações a fazer:
a) os personagens evangélicos da Globo são geralmente hipócritas, mentirosos, corruptos, fanáticos ou promíscuos. Graças a Deus eu não assisto a novelas há um bom tempo, mas acompanho as notícias jornalísticas sobre esses personagens. A Globo cria um estereótipo, uma generalização, de modo que as pessoas, ao final da cena, dizem: "É assim mesmo, todo pastor é ladrão", quando, na realidade, o mundo evangélico é muito maior que isso.
b) personagens espíritas na Globo são sempre bons conselheiros, capazes de ajudar a todos com suas palavras boas. "Casais" homossexuais vivem melhor que os casais heterossexuais, que não duram a novela inteira sem brigas e/ou traições. Será isso casual?
c) A série de reportagens do Jornal Nacional sobre as obras sociais dos evangélicos foi apenas um extrato do que a Globo pensa em fazer para não perder esse grande filão que é o público evangélico - afinal, a Record está aí (embora a Rede Record seja igual ou pior que a Globo em exposição da imoralidade em amplos sentidos). Para uma série de reportagens sobre os benfazejos evangélicos existe um turbilhão de personagens mal-fabricados, enredos induzidos por preconceito e dezenas de eventos de grande porte pouco noticiados.
d) Essa singela análise nada tem que ver com as denúncias contra os líderes da Renascer em Cristo ou da Universal do Reino de Deus. Repercutir investigações da Polícia e do Ministério Público não é anti-jornalismo nem perseguição aos evangélicos. Pelo contrário, deve-se falar a verdade a todo custo. Não é a isso que me refiro. Refiro-me ao retrato demasiadamente generalizado e distorcido que a Globo, como nenhuma outra emissora brasileira de televisão, faz do povo evangélico.
A ignorância de Ana Maria Braga, que até hoje parece não saber que Protestantismo é Cristianismo, deve doer menos que a contumácia da Globo em dar à sociedade uma visão errada das igrejas evangélicas. Mas, pensando bem, não somos deste mundo, como Jesus mesmo não é deste mundo (Jo 17.16). Somos estrangeiros e peregrinos (I Pe 1.17), certo?
Não somos daqui. Se o mundo nos considerar como mais um grupo religioso nessa sociedade pluralista, precisaremos rever nosso comportamento e nossa pregação. E, mais do que isso, se o mundo começar a nos achar iguais, estaremos perdidos.
Um comentário:
Eu também, há muito, desisti da Globo. Ainda me sirvo da empresa nos serviços de jornalismo (ex. o site G1 e o canal Globonews) - com a devida precaução. Mas esperar que nos aprovem - Deus nos livre! Se nos aprovarem, certamente NÓS estaremos errados. "Ai de vós quando todos vos louvarem, pois assim fizeram vossos pais com os falsos profetas".
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