sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A perfeição da democracia é saber-se imperfeita

A democracia é um regime político processual: ela vai se construindo dia após dia, sem verdades absolutas, sem o desfecho escatológico da história e sem respostas rápidas. Bem por isso, sempre surgem autoritários, de esquerda ou de direita, que não se contentam com os lentos processos de captação da vontade popular e de fortalecimento de instituições sociais. Mas, de toda maneira, por qualquer perspectiva que se queira enxergar, a democracia é imperfeita.
Imperfeita é a democracia porque imperfeito é o homem. Mas é bom que seja assim: melhor um regime consciente da imperfeição geral do que regimes messiânicos, que pensam ter a verdade histórica em seu poder.
A tentação socialista é justamente a de achar que existe um homem perfeito e ideal, a ser construído pelo partido do povo; que todos os problemas do mundo se explicam pela desigualdade de renda; que tudo o que for contrário ao pensamento do partido do povo é coisa das elites, da imprensa golpista e dos colonizadores; que religião, cultura e ideias devem estar monitorados pelo poder central; e que a única democracia que deve existir é a democracia dos meios de produção, que seria incompatível com as liberdades individuais.
Quem não ouviu dizer que Cuba não tem liberdade individual mas tem igualdade social? Esse é o ponto fundamental: em vez de se tratar com um regime político de processo, que se vai construindo aos poucos, em bases racionais e políticas, pensa-se num regime utópico de uma tal dialética materialista, em que a uma tese e uma antítese se juntaria uma síntese histórica, uma resposta definitiva. Ora, isso jamais existirá! Não por parte da Humanidade.
Dito isso, chego ao debate de ontem, passado na Band. Ali estava um Plínio de Arruda Sampaio defendendo ideias antiquíssimas e superadas pela história, um socialismo sem fundamento, para o qual tudo se explica e se resolve com a distribuição radical da renda. Por isso, defende absurdos como a limitação de terras a 1000ha, legitimidade total ao MST e não-pagamento da dívida contraída pelo Brasil. Em suma, defende que o ser humano não é ruim e imperfeito: basta resolver o problema social e tudo o mais se resolverá. Isso é messianismo. E ainda aparece jornalista dizendo que Plínio venceu o debate...
Curiosamente, os quatro principais candidatos à presidência em 2010 são ligados à esquerda, e três vieram ou estão no PT:
Dilma Rousseff, petista ainda, foi militante de movimentos armados e participa de um governo pragmaticamente conservador na economia mas alinhado com a agenda esquerdista no que toca a "direitos humanos" (aborto, controle social da mídia, apoio maciço a movimentos sociais de pressão, ativismo homossexual), além de amizade com ditadores africanos, árabes e asiáticos.
Marina Silva, que foi petista e aguentou o quanto pôde num governo de mensaleiros e aloprados, agora é verde, e defende um esquerdismo ecológico.
Plínio de Arruda Sampaio, fundador do PT e dissidente fundador do PSOL, representa uma esquerda extremada, que prega aquele marxismo obsoleto (ou o obsoleto marxismo).
E José Serra, embora chamado pelos petistas de neoliberal e direitista, começou na política como presidente da UNE, aliado do esquerdista João Goulart, e acabou sendo exilado por 14 anos na ditadura civil-militar iniciada em 1964. Diferentemente do que os petistas querem fazer crer, ele sempre divergiu de FHC em questões econômicas, e não pode jamais se enxergado como seguidor e legítimo representante do governo do sociólogo tucano.
Então, se dos nove candidatos, os quatro principais são de esquerda, como dizer que a democracia não lhes tem dado oportunidade? Vejam o presidente Lula, que chegou ao poder tendo sido retirante nordestino, metalúrgico e sindicalista. Essa é a democracia, com seus avanços e retrocessos, seus acertos e erros.
É claro que as coisas demoram. E vão demorar mesmo. Vou repetir: tudo em política deve ser um processo contínuo de amadurecimento. Viram o Collor, caçador de marajás? Foi impedido, lembram? Pois é. Os messias não podem ter vez. Para ajustar os ponteiros, temos o princípio republicano, que, por meio de regras e procedimentos, faz com que se tenha alternância de poder e mecanismos institucionais de retirada do poder.
Como cristão evangélico, seria contraditório eu acreditar num regime político escatológico, total, apoiado na excelência humana. Como diriam os calvinistas, eu creio na depravação total.


Um comentário:

João Armando disse...

Pois é... cada dia mais calvinista!

Winston Churchill disse, mui apropriadamente, que "Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos." Como não concordar?
O que me preocupa no Serra é exatamente o esquerdismo dele numa das áreas mais sensíveis - a economia. A Dilma é detestável, e não penso em votar nela, mas pelo menos não critica o BC a toda reunião do COPOM. Estou seriamente pensando em votar na Marina. Ironicamente, penso que o que ela tem de pior é precisamente o pensamento ecológico... KKK!



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Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
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