Na disciplina Teologia Bíblica dos Escritos Paulinos, que sigo estudando no Curso de Especialização em Estudos Teológicos (CPAJ/Mackenzie), temos uma perspectiva reformada, conservadora. Gosto disso. O professor, Dr. Augustus Nicodemus Lopes, faz questão de enfatizar seu combate ao Liberalismo ou Modernismo Teológico. Seja nos textos indicados, seja em suas participações nos fóruns de discussão, o reverendo presbiteriano costuma defender princípios reformados de maneira firme e balizada.
Começamos estudando sobre a biografia de Paulo, sua cultura, viagens, experiências, influências. Lemos um texto de J.I.Packer, para quem Paulo era um homem de três mundos: judaico, romano e grego. Vimos que, apesar disso, o que mais influenciou o apóstolo foi o Judaísmo da Dispersão, sem contaminações helenísticas ou gnósticas. Ele também estudou com o mestre Gamaliel, neto do célebre Hilel, um dos mais importantes rabinos de toda a história. Hilel foi o líder de uma corrente rabínica mais liberal - que, pelo que lembro de leitura anterior, "rivalizava" com a corrente do rabino Shammai, incluindo a questão do divórcio.
O apóstolo Paulo foi um homem admirável: teólogo, missionário, pastor, fazedor de tendas, coletor de ajuda para cristãos mais pobres. Não tinha um temperamento muito fácil, eu acredito, mas foi controlado por Deus. De perseguidor passou a perseguido. De fariseu zeloso passou a cristão amoroso.
Paulo é o exemplo clássico de que a erudição pode e deve ser empregada no serviço do Mestre. Conhecia de direito, filosofia, poesia, grego, hebraico, Septuaginta, e submeteu todo o seu conhecimento a Cristo. Septuaginta era a tradução das Escrituras Hebraicas, nosso Antigo Testamento, para o grego, feita por 72 judeus cultos em Alexandria. Foi essa versão que Paulo conheceu e usou em sua formação e elaboração das Epístolas.
Os escritos paulinos não seguem uma linha sistemática, e é por isso que não tratam de todos os assuntos éticos e teológicos. Ele não era autor de teologia sistemática. Ora, sistemáticos somos nós, os ocidentais, e naquela época não existia esse tipo de teologia! Paulo escrevia de maneira responsiva, a partir de problemas morais e dúvidas doutrinárias das igrejas. Bem por isso, não se deve dizer que determinado tema não é importante só porque Paulo não mencionou. E talvez devamos nos socorrer de Lucas-Atos, porque o "médico amado" o acompanhou, e certamente se abeberou muito de sua teologia.
De acordo com Augustus Nicodemus, o mitte (centro, em alemão) da teologia paulina seria a inauguração de uma nova etapa escatológica com a morte e ressurreição de Cristo. O Filho de Deus iniciou uma nova era na história universal. E J. Christian Beker sugeriu o binômio coerência-contingência para explicar os escritos de Paulo: alguns temas são mantidos no centro, enquanto outros ocorrem devido às circunstâncias.
Essa tese de que Paulo não era sistemático ajuda muito, pois, primeiro, evitamos empurrar nosso próprio sistema para o apóstolo; segundo, podemos aceitar que outros temas sejam igualmente importantes, ainda que não tratados por ele. Existe, afinal, uma teologia fora de Paulo, com Pedro, Tiago, João, Judas e Hebreus.
Com suas sentenças longas e mudanças rápidas de pensamento, Paulo oferece-nos alguma dificuldade, como o próprio Pedro reconheceu (II Pe 3.15,16). Mas essa deve ser um dos estímulos teológicos e intelectuais para nós, que nos ressentimos de viver na era da mediocridade.
Um comentário:
Legal! Continue, como Lucas, abeberando-se no apóstolo! Gostei do verbo! Eu me abebero, tu te ... sei lá, vá que seja um verbo defectivo... ou seria abundante?
Postar um comentário