Percebo certo descaso para com a ordenação episcopal em determinadas igrejas, como que uma banalização. Isso se revela na ordenação "pelo conjunto da obra", como se fosse premiação por serviços prestados; ou na consagração em massa, sem critério; ou, ainda, na ordenação para formar um grupo de apoio, como fazem os políticos; e na tendência de querer ser pastor entre jovens sem perspectiva na vida.
Talvez a responsabilidade por essa distorção deva ser compartilhada por sistemas eclesiásticos em que o pastor é maioral, principal, chefe, e não um servo de todos, como recomendam as Escrituras. Como já devo ter escrito antes neste blog, alguns homens sem preparo, experiência nem vocação acorrem aos líderes porque desejam ser “lembrados”, numa corrida que se assemelha a de empregados nas empresas em busca de promoções. Isso favorece a bajulação, a centralização de decisões, a formação de cúpulas, a incapacidade de renovação de líderes e o desestímulo à criatividade. Assim, o sistema tem sua culpa.
Dá para imaginar o quanto uma igreja valoriza seus pastores (e presbíteros) pela forma dos cultos de ordenação. Nas igrejas reformadas e batistas, as ordenações são feitas particularmente: o pastor é ordenado na presença de familiares e amigos, além, é claro, da igreja, que publicamente o acolhe como um novo ministro da Palavra. Já em igrejas pentecostais, como a minha Assembleia de Deus, ordenam-se numerosos pastores, tudo de uma vez, e não é raro que isso ocorra quase de surpresa, com poucos dias de antecedência até mesmo para o pastor a ser ordenado. Não dá sequer para se dirigir ao aspirante a pastor uma palavra especial, que leve em consideração a biografia do sujeito, seu chamado, seus talentos...A ordenação por atacado não valoriza a vocação.
Vejo, ainda, que a atribuição da pregação a quem não é pastor precisa ser condicionada - não digo "limitada" nem "proibida", mas condicionada. Não estou dizendo que somente pastores podem pregar – eu mesmo não sou pastor (nem diácono), mas aceito a missão de pregar. Sei que todos os crentes em Cristo são sacerdotes, que a pregação deve ser realizada por todos. Entretanto, deve-se registrar que a pregação é uma das atribuições do pastor, e não pode ser conferida a qualquer pessoa que fale bem ou ache que pode assumir o púlpito por qualquer motivo – porque fala em línguas, porque grita, porque decora versículos bíblicos, porque imita pregadores famosos, porque conhece as doutrinas, porque tem conhecimento, porque se emociona.
Admiro as igrejas que veem o pastor como um homem vocacionado. Vejo uma distinção entre igrejas pentecostais e igrejas históricas nesse aspecto: enquanto os pastores pentecostais são "separados para o ministério" e "pelo ministério", os pastores de igrejas históricas são ordenados pela igreja por sua vocação. Nas igrejas históricas parece haver uma ênfase no chamado individual, não apenas na necessidade que a igreja tem de pastores.
Os bispos e pastores anglicanos usam aquelas roupas especiais. Alguns pastores metodistas e outros mais gostam de utilizar um tipo de roupa diferente com aquela gola de padre. Até mesmo os pastores assembleianos têm uma espécie de "uniforme", o terno, embora esse seja o uniforme de todo assembleiano tradicional...Conquanto eu não seja adepto do uso de vestes especiais pelos líderes de igreja, há um sentido no seu emprego: além da questão tradicional, há uma ideia de reconhecimento de que o pastor é um homem chamado por Deus. Veja: não estou defendendo o uso dessas roupas, mas elas têm um sentido que vai além do mero tradicionalismo.
Pastor é aquele que poderia ser muitas outras coisas, mas foi escolhido para apascentar o rebanho de Deus. Não pode ser de outra forma.
Um comentário:
Os critérios para a ordenação estão formulados com clareza nas epístolas a Tito e Timóteo. O que vale mesmo é o que vem - ao menos, devia vir - antes da ordenação, isto é, a vocação de Deus. Não pense que não há problemas nas chamadas "igrejas históricas". Amiúde essas qualificações bíblicas (marido de uma só mulher, inimigo de contendas, apto para ensinar, que governa sua própria casa etc.) são substituídas por um árido "conhecimento teológico". É mais importante defender pontos de vista doutrinários periféricos do que pastorear, propriamente. Até porque é relativamente fácil aplicar uma "prova" teológica e ver se o sujeito conhece ou não a matéria. Difícil é saber se ele pastoreia - se visita, se ora, se tem vida com Deus, sem se importa com as ovelhas... Essas coisas seriam vistas e notadas pela congregação a quem o candidato já serviu. Os concílios - compostos por gente de outras cidades, que muitas vezes sequer já tinham visto o candidato antes, não têm condições de verificar isso. O que consola é saber que Deus é soberano e está por cima de tudo. "Edificarei a minha igreja" - é fato. Há muitos pastores extra-oficiais - eu diria que até mulheres, apesar de não concordar com ordenação feminina para o presbiterato - que exercem a função pastoral apesar de não terem sido "ordenados". O Dia do Juízo revelará muitas surpresas.
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