Ontem assisti a um vídeo em que o deputado federal petista Domingos Dutra, do Maranhão, discursava na tribuna da Câmara contra a decisão do Diretório Nacional do PT de anular decisão anterior do PT maranhense e, com isso, determinar que o mesmo apoie a candidatura de Roseana Sarney à eleição para o governo do Estado (eleição, e não reeleição, pois ela perdeu para o pedetista Jackson Lago e só chegou ao poder por determinação do TSE).
Emocionado e em greve de fome, o petista clamou contra o seu próprio partido por ter passado por cima da vontade dos petistas daquele Estado, um dos mais pobres do Brasil. Confesso que, embora discorde da greve de fome em quaisquer circunstâncias, e acredite que o deputado já teve outros motivos para se desencantar com o PT nacional (muitos mesmo!), fiquei comovido. Ele, a ex-deputada Tereza Fernandes e o fundador do PT do Maranhão Manuel da Conceição estão juntos no jejum. Os dois homens chegaram a tomar banho no banheiro dos vigilantes da Casa Legislativa. Dormem no plenário. O petista histórico Manuel da Conceição já apresentou problemas de saúde nesse período.
Em seu discurso, o deputado chorou, clamou, usou palavras duras, mas, acima de tudo, demonstrou uma coisa: ali estava o resumo dramático da contradição que reside no processo político do PT, aliado a movimentos sociais e ao mesmo tempo aliado a Sarney, Collor, Renan, Jader Barbalho e o PP de Paulo Maluf, fazendo de tudo para eleger Dilma Rousseff presidente do Brasil.
Até entendo por que em Minas Gerais Lula aceitou fulminar o palanque petista, com Fernando Pimentel, e obrigar os petistas a apoiar Hélio Costa. Afinal, Minas é o segundo maior colégio eleitoral do país, e o apoio a Hélio Costa parece ter sido uma das exigências do PMDB para acertar de vez com Dilma. Seja o que for, dá para entender a ação lulista quando se trata do caso mineiro. Agora, e quanto ao Maranhão, com pequena densidade eleitoral? Está claro que não se trata apenas de querer absorver os votos maranhenses, mas, isto sim, de pagar uma eterna dívida com José Sarney, aliado máximo de Lula desde a eleição de 2002. Como presidente do Senado, Sarney deve ajudar Lula em muitas coisas... Mas, pensando bem, isso seria suficiente para ter receio de Sarney? O que Lula teme da família Sarney?
Como disse Domingos Dutra, os Sarney estão há 46 anos no poder, e desde a redemocratização é o único Estado em que não houve transição para outro grupo. Na verdade, houve com a eleição de Jackson Lago em 2006, mas, como lembrado acima, ele teve seu mandato cassado pela Justiça Eleitoral por abuso de poder político. Roseana Sarney, a segunda colocada, se tornou governadora. Pronto. O clã Sarney retornava ao poder.
O PT nacional desprezou a fúria de petistas maranhenses contra o poder do déspota esclarecido José Sarney. É uma pena, uma coisa lamentável. A esperança daqueles esquerdistas que gritavam "Lula-lá" não merecia ser tão francamente desolada.
Mas há outro aspecto a considerar: onde está a cobertura da imprensa sobre esse episódio? Alguém já disse que o poder da mídia começa na seleção do que vai ser exibido. Ah! São os petistas que gostam de dizer isso! E não deixa de ser verdade. Só que deveria ser noticiada, sim, na televisão, a greve de fome de três petistas - um deles deputado federal - que há dias vivem em parcas condições dentro da Câmara dos Deputados. Se isso não for digno de ser noticiado, não sei mais o que pode ser.
Será que a Copa do Mundo cegou a imprensa? Há olhos suficientes para todos os lances na África do Sul e nenhum para esses fatos preocupantes? Não é isso. Se o eventual leitor viu alguma reportagem televisiva sobre isso, por favor me diga.
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