Prezado Senador eleito Walter Pinheiro,
Há muitos anos ouvi falar do nome do senhor como candidato a deputado pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Depois de um tempo fiquei sabendo que o senhor é evangélico, e um dia desses vi que pertence à Igreja Batista da Pituba, aqui em Salvador.
Comecei a votar em 1996, e até 2005 acreditei no PT e em Lula. Votei em Lula para presidente em 2002, assim como procurava votar em candidatos petistas para outros mandatos eletivos, crendo serem eles defensores da ética, dos bons costumes políticos e da justiça social. Na Bahia, era o PT uma força a combater o carlismo, e ser contra o carlismo já consistia num argumento e tanto.
Com o mensalão, passei a ter uma postura mais crítica em relação ao PT. Antes surgira o Waldomiro Diniz, além da tentativa de expulsão de Larry Rohter, correspondente do New York Times, por ter falado que Lula bebia demais. Os escândalos sucederam-se: aloprados, sanguessugas, quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, quebra do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB, provável tráfico de influência na Casa Civil (caso Erenice Guerra) e o dossiê com dados sigilosos de FHC e sua esposa - citando apenas os episódios de que me recordo agora.
Houve, ainda, a terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) propondo a descriminação do aborto, controle social da mídia, mitigação da propriedade rural, taxação de grandes fortunas, coisas do velho PT, mas que o presidente Lula deixara latentes até o final do seu governo.
Por falar em direitos humanos, houve a declaração de Lula no sentido de que não poderia interferir na situação da mulher iraniana condenada ao apedrejamento porque seria "avacalhação", tendo já comparado presos políticos de Cuba a presidiários comuns de São Paulo, exatamente no dia seguinte ao dia da morte do preso político que, segundo Lula, "se deixou morrer" (!).
E o que dizer da participação do PT no Foro de São Paulo junto com as FARC? Ou isso é mentira da "imprensa golpista"?
Não bastassem essas coisas todas, o presidente Lula feriu gravemente a legislação eleitoral, e de diversas formas, associando a isso alianças espúrias com Sarney, Collor, Renan Calheiros e Jader Barbalho, homens tão criticados pelo petismo num passado recente.
Em minha humilde concepção, creio que amadureci politicamente ao longo dos anos, e entendo que o maior mérito de Lula foi não ter aplicado em seu governo o programa econômico do PT - nem sei se existia, com substância, um programa econômico petista.
Excelência, tudo isso serve para que lhe faça uma simples indagação: como o senhor consegue ser cristão e ao mesmo tempo apoiar esse pessoal do PT? Não fiquemos limitados à questão em torno do aborto. Eu me refiro a tudo o que mencionei acima, e ao plus que o senhor conhece mais do que eu.
Onde o senhor estava? Diga-me, por favor, se dentro do partido o senhor se manifesta contrariamente a tudo isso. Quero ouvir que sim. Em seu lugar, afirmo que não suportaria, pois tenho uma tendência enorme de deixar bem claras as minhas convicções dentro de um grupo. Talvez criasse uma úlcera se me mantivesse calado, lançando-me ao Senado com o apoio de um líder populista que infringe as leis que jurou seguir.
O senhor, com sua imagem, me passa uma boa impressão. Sempre o considerei uma pessoa honesta, idealista. Todavia, grande é a minha decepção ao perceber que o senhor continua aí com o pessoal do PT. Se o senhor me der uma boa razão para continuar num partido que é o lado ruim da esquerda, eu prometo que publico aqui e elogio.
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