Ontem à tarde o deputado federal e senador eleito Walter Pinheiro, do PT, esteve na sede da Assembleia de Deus aqui em Salvador. Era uma reunião administrativa dos pastores, e eu lá estava a convite do pastor do setor que frequento. O deputado Pinheiro apareceu, segundo ele, para agradecer a Deus pelo resultado das eleições, coisa que faz, ainda segundo ele, em todo pleito, seja qual foi o resultado - ele é batista, de uma igreja localizada na Pituba.
Confesso que me sinto em situação um pouco difícil diante de políticos que surgem em igrejas em época eleitoral. Como não há abertura para perguntas, e como eles, geralmente evangélicos, usam linguajar "evangeliquês" e um discurso comum a nós, fica parecendo que pensamos como eles, ou que abonamos o que eles dizem. E eu jamais gosto de deixar uma impressão assim...
Entre as muitas declarações do deputado Pinheiro a respeito de Deus, Bíblia, Evangelho, testemunho, ele disse que, agora que nenhum dos candidatos é próximo à nossa fé, seria a vez de votar em Dilma Rousseff. Ele mesmo declarou, obviamente, ter votado em Dilma Rousseff no primeiro turno. Ora, se ele não votou na evangélica Marina Silva naquela ocasião, por que usar agora o argumento de que nenhum dos candidatos é evangélico?
Dentro disso, vejo que o deputado Pinheiro usou, mui sutilmente, aquele raciocínio de que evangélico vota preferencialmente em evangélico. Mas o deputado pode fazer melhor que isso. Estamos mais avançados do que esse tipo de discurso... Ou poderíamos estar.
Realmente não sei como Walter Pinheiro consegue viver dentro de um partido autoritário, marxista, ligado a Cuba, admirador das FARC e apoiador de uma agenda eticamente liberal (descriminação do aborto, direitos abusivos de homossexuais) e excessivamente controlador (controle "social" da imprensa, intervenção na educação doméstica).
Gostaria de ter a oportunidade de ouvir do deputado Pinheiro como ele consegue viver dentro do PT. Estou sendo sincero. Seria muito difícil para mim estar num ambiente com o qual tenho profundas divergências. E, considerando que ele segue a Bíblia, imagino ser amplamente complicado ver o seu partido fazendo as mesmas coisas que tanto criticou num passado recente - e que ainda critica, dependendo do lado em que está.
4 comentários:
Permita-se-me responder às suas inquietações. Como o Walter Pinheiro consegue conviver bem no PT? A resposta me parece óbvia. Ele não comunga das mesmas preocupações que nós outros. A ele não importa se o PT quer o controle social da imprensa (leia-se - amordaçá-la). Pouco importa, também, que apoie governos corruptos e ditatoriais. O PT quer implantar o aborto e a "lei da homofobia"? Tudo mentiras, tudo intriga da oposição. Detalhes. Importa mesmo é o meu cargo, a minha carreira, o meu tutu. Todos sabem que os fins justificam os meios. Afinal, não são todos corruptos? Não são todos iguais? O povo evangélico não é besta mesmo? (E pior que é...)
Há sempre uma saída para os políticos,(entre eles, são da mesma estipe) ainda que nem sempre a queiramos ver...
Vou tentar responder tb sua inquietação... caso vc não saiba o PT é um partido construído nas bases, junto aos sindicatos, movimentos sociais e entre estes movimentos religiosos... No nascedouro do PT estavam as CEBs, Grupos de leitura bíblica popular e outros... Tivemos Frei Betto, Leonardo Boff, como importantes personalidades religiosas do nosso país ligados a esse movimento de Trabalhadores... Existiu também um grupo de líderes e teólogos evangélicos que apoiaram politicamente o projeto das esquerdas do Brasil que na época foi chamado Lula lá... Chamaram esse Movimento de MEP (Movimento Evangélico Progressista).
Eu sou cristão, não votei em Dilma tampouco em Marina no 1º Turno... Por acreditar que o Brasil precisa de uma politica mais socialista... Conheço Walter Pinheiro de longas datas, um homem integro, sempre focado em seus ideais sempre comprometido com os valores cristãos (solidariedade, liberdade e justiça)... O q eu não entendo é como cristãos podem coadunar com esta política do PSDB, excludente e elitista.
Caro Marcos Fellipe,
Olha, eu penso um pouco diferente: o PT não foi formado apenas nas bases eclesiais e sociais, mas a partir de grupos sindicais, comunistas e católicos. Hoje impera o sindicalismo. Frei Betto e Leonardo Boff não são para mim bons referenciais teológicos, científicos nem políticos. Na verdade, estando eles desse lado, é inevitável que eu me distancie mesmo. Boff é mais um sociólogo da religião (católica) do que um teólogo eclesiástico. Frei Betto chegou ao cúmulo de dizer na Folha que Dilma é cristã - seja ela o que for, não me parece cristã, e ninguém pode se dizer cristão só porque defende (?) justiça social. O Evangelho é transformação em Cristo. Não vejo o PSDB como elitista nem excludente. Se ele é tudo isso, o PT não anda longe: que mudanças estruturais foram feitas no Brasil pelo governo Lula? Ricos estão mais ricos, não houve reformas, os bancos ganham como nunca, há mudanças pontuais, que em nada refletem essa grita socialista. Como defendo valores fundamentais, e como a república sindical é feita de violações de sigilos e roubo de dinheiro público, tudo sem punição, não gosto do petismo. Não votar em Rousseff é uma escolha que considero republicana, entende?
Forte abraço!
Alex Esteves.
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