"(1) O presbítero à senhora eleita e aos seus filhos, a quem eu amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que conhecem a verdade,
(2) por causa da verdade que permanece em nós e conosco estará para sempre,
(3) a graça, a misericórdia e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor".
A Segunda Epístola de João (II Jo) é uma breve exposição em favor da verdade e do amor. A palavra "verdade" aparece cinco vezes nos primeiros quatro versículos, e referências ao amor surgem, na mesma quantidade, nos seis primeiros versos.
Poderíamos dividir a Epístola, de modo didático, em quatro seções:
1-3: O Amor e a verdade;
4-6: Amor;
7-11: Verdade;
12-13: Saudações finais.
O AMOR E A VERDADE.
O "presbítero" é João, apóstolo, antigo pescador, amigo de Jesus, agora um homem idoso ("presbítero" vem do Grego e significa "ancião").
A "senhora eleita" e "seus filhos" poderiam ser uma família cristã, mas também uma igreja. Eleição é a escolha divina pela graça, mediante a fé.
O velho apóstolo João e todos os que conhecem a verdade amam a "senhora eleita", e isto "na verdade". O amor verdadeiro, associado ao conhecimento verdadeiro, é dirigido à igreja.
O amor verdadeiro e o conhecimento verdadeiro decorrem da verdade que permanece "em nós" e que "estará conosco para sempre".
Em sua saudação, o apóstolo professa a fé de que "a graça, a misericórdia e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai", serão "conosco em verdade e amor".
O amor e a verdade não são virtudes inerentes ao homem.
Em regra, a Humanidade não é amorosa, e seu amor consiste em preferências naturais, desprovidas da generosidade altruísta que só pertence a Deus em Cristo.
Em regra, a Humanidade não é verdadeira, honesta ou íntegra, mas se inclina à mentira, à ignorância, à heresia, à idolatria.
O amor cristão não é um sentimento, um traço do temperamento, uma virtude filosófica, uma paixão. O amor cristão é fruto do Espírito.
A verdade cristã é única, absoluta, indivisível, fundamental. Não se trata de conhecimento científico, filosófico, empírico, tampouco daquele suposto conhecimento propalado pelos Gnósticos, mas, sim, do conhecimento que é fruto da revelação divina.
A verdade é Cristo, e liberta (Jo 8.32,36).
O amor e a verdade, deve estar claro, partem de Deus Pai, e de Jesus Cristo, o Filho desse mesmo Pai. Cristo não é Filho por ter sido produzido ou criado! Cristo é Filho por Sua identidade e semelhança com o Pai. Afirmar que Cristo é Filho do Deus Pai conduz à afirmação de Sua divindade. Jesus é Deus,
João concilia o que para muitos é inconciliável, a saber, o amor e a verdade.
Vivemos um tempo em que amor e verdade parecem estranhos um ao outro: tempos pós-modernos, de relativismo moral e filosófico, em que se diz não existir uma verdade absoluta; e de pluralismo religioso e cultural, no qual se afirma coexistirem muitas verdades possíveis e igualmente aceitáveis.
A única verdade não aceita pelos pluralistas é a verdade de que existe somente uma verdade. Então, cai por terra, por tautologia, o pluralismo.
Há cristãos protestantes incorrendo em relativismo e pluralismo? Sim. Alguns com maior convicção e clareza, como os liberais; outros, devagar e sem repertório bibliográfico, mas sob infiltrações políticas, filosóficas, educacionais e teológicas que podem parecer inofensivas a ouvidos e olhos menos treinados.
Os relativistas e pluralistas dirão que em nome do amor é necessário relativizar a verdade, porque ela "afasta as pessoas". Falam de "tolerância", "diversidade", "direito à diferença", "ecumenismo", mas o fruto de seu intenso trabalho é destruir a fé das pessoas ou impedir que a fé nasça em outros corações.
O amor sem a verdade é um conceito não cristão e anticristão. O amor sem a verdade é (ou pode se tornar) tolerância com o pecado, ambiente propício a heresias, libertinagem, ativismo social com linguagem evangélica.
Por outro lado, a verdade sem o amor também não poderia combinar com o Cristianismo. Seria como fé sem obras. Da mesma forma que a fé é nula sem as obras, a verdade é nula sem o amor. Amor e verdade são uma só e mesma coisa, porque "Deus é amor" (I Jo 4.8) e Jesus Cristo é a própria verdade (cf. Jo 8.32,36).
A Bíblia não diz que "o amor é Deus", como se o Homem devesse simplesmente cultivar o sentimento do amor para se encontrar com o Divino... A Bíblia diz que "Deus é amor" para afirmar algo essencial ao caráter do Criador e Senhor de todas as coisas. Semelhantemente, não é algum tipo de verdade natural, racional, filosófica, científica ou empírica que poderia conduzir a Deus. O próprio Deus é Quem conduz à verdade, e o faz por meio de Seu Filho, Jesus Cristo.
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