Assim como ocorre nos Estados Unidos, o aborto passou a ser tema de campanha presidencial nas eleições brasileiras deste ano. E isso é bom! Alguns não gostam nada disso, é claro, a começar pelos petistas, já que são favoráveis à descriminação (ou descriminalização) do aborto. Mas há também jornalistas, como Gilberto Dimenstein e seus colegas da Folha, que acham essa discussão uma coisa obscurantista, medieval, fundamentalista e atrasada. Só que não é bem assim.
É bom esclarecer que todos têm direito de colocar na internet a informação que quiserem, desde que sem cometer crimes - a exemplo dos tipos penais de injúria, calúnia e difamação. Não é terrorismo exibir opiniões sobre os candidatos se o que se diz é verdade. Em 2006, o PT veiculou em seu programa eleitoral do segundo turno a informação de que Geraldo Alckmin faria privatizações, mas ele não prometera isso em sua campanha. Tudo não passou de um golpe de marketing político. Ora, se os petistas podem fazer terrorismo com as privatizações, por que os religiosos não podem informar o eleitor sobre as opiniões de Dilma e do PT sobre aborto? Não é tema político? Mesmo considerando que a preocupação em torno do aborto resulte de convicções religiosas, ele deixa de ser tema político por causa disso? Não é tema de direitos humanos, como consta do PNDH-3*? Quer dizer que aborto é assunto de direitos humanos quando se trata de descriminalizar, e deixa de ser assunto de direitos humanos quando um católico ou evangélico grita contra ele na internet? Tenha dó!
Evidentemente, a defesa da legalização ou descriminalização do aborto não é o único ponto de vulnerabilidade de Dilma Rousseff, sendo apenas um dos flagelos de sua pouco conhecida biografia de ex-guerrilheira, que, diga-se, o Superior Tribunal Militar decidiu esconder num cofre.
Dizem que a discussão sobre o aborto foi um dos principais motivos da ida para o segundo turno. Embora eu considere que o voto evangélico, em especial, tenha sido muito importante, penso que ele não se bitolou pelo tema do aborto, havendo muitos outros mais. É que temos em Dilma a possibilidade real de defesa de uma agenda liberal.
Quem suscita a "queda" de Dilma Rousseff por causa do aborto é porque acreditava piamente nas pesquisas, que, todas elas, se mostraram erradas. Na realidade, se acreditássemos firmemente nas pesquisas, diríamos que até a boca de urna Dilma ganharia, mas na hora do voto o eleitor se lembrou, por exemplo, de que ela é a favor da descriminalização ou da legalização do aborto, e aí, só aí, mudou de ideia e votou na Marina ou no Serra.
É certo que cerca de 20 milhões de brasileiros escolheram Marina Silva, entre evangélicos, católicos, ambientalistas, jovens, artistas, intelectuais, trabalhadores... E mais de 30 milhões escolheram Serra, não se podendo apequenar a força dos que não quiseram um terceiro mandato de Lula por interposta pessoa, ou que simplesmente não gostam do próprio governo Lula, como eu.
Voltando às pesquisas, agora chego a duvidar até mesmo de que Lula tenha os 80% de cada pesquisa. Se os mais importantes institutos erraram quanto ao resultado das eleições, por que eu acreditaria que Lula goza de 80% de "bom e ótimo"?
Reduzir o descontentamento com Dilma ao problema do aborto é como acreditar no discurso governista de que vai tudo bem, que nada há a criticar, e que apenas a candidata precida reforçar suas ideias pró-vida e usar o nome de Deus mais vezes...Tenha paciência!
Não voto em Dilma porque não aprovo o governo Lula, não aprecio a esquerda petista, não gosto de sua política externa, não avalizo o programa do PT, não concordo com a estrutura do Bolsa Família, não aceito o tratamento dado aos escândalos, não admito uma república sindical, não tolero tentativas de controle social da imprensa, não acato ex-guerrilheiros não-arrependidos, não simpatizo com amigos das FARC, de Fidel e de Chávez, e, acima de tudo, não gosto de um governo que amaldiçoa tudo o que recebeu dos governos anteriores e diz que tudo de bom foi ele que fez.
É certo que não desprezo o tema do aborto, mas ele é um dos muitos motivos pelos quais considero Dilma Rousseff a representante de uma esquerda perigosa para o Brasil - que, por sinal, não chamarei de "este país".
*Programa Nacional de Direitos Humanos III
*Programa Nacional de Direitos Humanos III
3 comentários:
Como você, não deixei de notar como a "questão do aborto" repercutiu entre os jornalistas "de mente aberta" (leia-se - esquerdistas, liberais nos costumes). Lembro-me de uma, da revista Época, que se mostrou bastante incomodada sobre como a religião estaria "se imiscuindo inapropriadamente nos assuntos de Estado" - as palavras não eram essas, mas o sentido era esse. Ou seja, "trocando em miúdos" - eles podem defender o aborto, o homossexualismo etc. mas nós, se formos contra tudo isso, ou melhor, se NOS EXPRESSARMOS (podemos até ser contra, mas temos de ficar caladinhos da silva) - aí é a religião se misturando perigosamente com o Estado!!!!! É só lembrar que são eles que querem prender, 2 a 5 anos, quem se manifestar contra o homossexualismo - não nós! Pois é.
Como você, não deixei de notar como a "questão do aborto" repercutiu entre os jornalistas "de mente aberta" (leia-se - esquerdistas, liberais nos costumes). Lembro-me de uma, da revista Época, que se mostrou bastante incomodada sobre como a religião estaria "se imiscuindo inapropriadamente nos assuntos de Estado" - as palavras não eram essas, mas o sentido era esse. Ou seja, "trocando em miúdos" - eles podem defender o aborto, o homossexualismo etc. mas nós, se formos contra tudo isso, ou melhor, se NOS EXPRESSARMOS (podemos até ser contra, mas temos de ficar caladinhos da silva) - aí é a religião se misturando perigosamente com o Estado!!!!! É só lembrar que são eles que querem prender, 2 a 5 anos, quem se manifestar contra o homossexualismo - não nós! Pois é.
João Armando,
É isso mesmo. Janio de Freitas, que compõe o Conselho Editorial da Folha, escreveu hoje (10/10) coisas absurdas, chamando-nos de fundamentalistas e insinuando até uma proximidade dos cristãos brasileiros com o costume de oprimir as mulheres praticados pelos fundamentalistas islâmicos! Apela porque recorrer à emoção é mais fácil do que argumentar.
Um abraço.
Alex.
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