Analistas "iluminados" gostam de usar o argumento de que o Estado é laico toda vez que os cristãos expõem sua posição sobre temas como aborto, união civil de pessoas do mesmo sexo e células-tronco embrionárias. Sim, a laicidade é um princípio republicano defendido primeiro pelos próprios cristãos, porque a separação entre Igreja e Estado é, na realidade, uma defesa para a liberdade da fé.
Agora, laicidade do Estado não se confunde com Estado secularista. Mesmo um Estado sem religião oficial e que permite a liberdade religiosa pode (e deve) estar atento a valores morais e filosóficos, sem necessidade de fundamentar suas políticas em livros sagrados nem quaisquer tradições religiosas.
A secularização estatal é problemática porque desconsidera totalmente o misterioso, o desconhecido, aquelas coisas que não se pode medir, como o início exato da existência humana e o que ocorre com a pessoa em estado vegetativo. Os secularistas desprezam o conceito metafísico de vida, pois só se interessam pelos elementos biológicos, materiais, palpáveis. Não se preocupam com a possibilidade de se imiscuirem em esferas que não lhes pertencem, como o poder de dar e tirar a vida. Com isso, revelam-se excessivamente pragmáticos, utilitaristas. Por exemplo, se o aborto é para os cristãos o assassinato de uma pessoa humana, os secularistas não se importam, crendo que se trata de mera crença religiosa. Todavia, independentemente de constar essa doutrina de algum credo, é de se indagar sobre o conceito mesmo de vida, existência, origem, destino, interferência humana nos acontecimentos.
Não somos fundamentalistas cristãos nem obscurantistas, como dizem Carlos Heitor Cony, Janio de Freitas, Elio Gaspari, Gilberto Dimenstein e tantos outros. Não somos medievais. Se só os secularistas puderem discutir aborto e outros temas sociais, onde iremos parar? É mesmo a democracia que eles defendem ou a democracia tem sido apenas um regime que lhes convém até hoje? Por que um crente não pode falar de aborto, casamento gay, divórcio, células-tronco? Somos menos cidadãos que os outros?
Acredito no sagrado, creio em Deus na Pessoa de Cristo, conheço as Escrituras, sou salvo pelo sangue de Jesus - e não peço aos legisladores que coloquem minha fé como regra legal. Longe disso! O que buscamos é a possibilidade real de discutir assuntos políticos a partir de nossas perspectivas.
Laicidade e secularização, volto a dizer, são coisas distintas. Podemos ser cidadãos livres num Estado laico, mas não será nada bom assumirmos uma postura de deificação do Homem. Se o Humanismo errou ao estabelecer que o Homem é a medida de todas as coisas, por que voltarmos a esse parâmetro equivocado?
2 comentários:
Fico sempre encantada com os seus escritos, além de serem atuais, eu amo a forma com que finalizas cada um deles. Parabéns!
Irmã,
Muito obrigado mesmo pelas boas palavras de incentivo!
Alex.
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