Num texto que publiquei no site www.ultimato.com.br, no espaço Palavra do leitor, questionei a existência do Pentecostalismo histórico no Brasil, em face da imitação que pregadores pentecostais têm feito de ensinos neopentecostais, dando a impressão de que a mensagem pentecostal se identifica com essas doutrinas.
Um leitor, chamado Daniel Clark, publicou um artigo no mesmo espaço, e, sob o título Neopentecostais: os conservadores de amanhã, pretendeu me alertar sobre o risco de incorrer no mesmo erro de batistas, presbiterianos e outros que, há cerca de cem anos, disseram que o Movimento Pentecostal era coisa do diabo. Disse que, assim como o Pentecostalismo mudou, o Neopentecostalismo mudará.
Trocamos e-mails. Gostei de receber essa contra-proposta da forma como foi suscitada. No entanto, mantenho minha posição, a qual preciso explicar a seguir:
1) Não considero acertado afirmar que neopentecostais e pentecostais sejam tão parecidos assim. Enquanto os pentecostais surgiram pregando que o batismo com o Espírito Santo é uma experiência de dotação de poder, evidenciada pelo falar em línguas, com vistas à evangelização, os neopentecostais pregam uma série de heresias que deixam a centralidade da Cruz e colocam o Ser Humano no centro das atenções. Mesmo sabendo que a doutrina pentecostal, em suas diferentes matizes, ainda provoca muita discussão e polêmica, não há como negar que se trata de uma corrente teológica comprovadamente séria e compromissada com Jesus Cristo.
2) Não é adequado comparar o erro dos batistas ou de quem quer que seja, no passado, com minha atitude ao me posicionar contra os erros doutrinários do Neopentecostalismo. Crentes históricos do início do Séc. XX chocaram-se com as experiências pentecostais e falaram de coisas que não conheciam. Alguns líderes de hoje dizem que as línguas faladas nas igrejas pentecostais não podem ser de Deus. Alguns deles têm verdadeiro pavor de que suas igrejas se "pentecostizem". Muitos falam do ser pentecostal sem saber o que isso quer dizer, reduzindo o movimento ao barulho, à desorganização dos cultos e à irracionalidade no manejo da Bíblia. Não buscam o diálogo, e assim nutrem o preconceito. Eu procuro, com honestidade, escrever sobre o que eles realmente ensinam. Se os históricos erraram no passado, o mea culpa é deles, não é meu.
3) Minha postura frente aos neopentecostais é diferente: afirmo coisas a respeito do que seus próprios líderes propalam, ensinos que estão em suas palestras e livros, em seus vídeos e programas de rádio e TV. Por isso, essas doutrinas e práticas que critico são oficiais, diferentemente de idéias simplórias que a massa pentecostal tinha ou ainda tem quando se trata do povo comum.
Essas poucas linhas talvez ajudem a esclarecer que não acredito que acontecerá com os neopentecostais o que aconteceu com os pentecostais. Na verdade, o caminho foi inverso: os históricos mudaram, e não nós. Com os neopentecostais, se eles mudarem, muda a própria mensagem, porque a base de sua proposta precisa ser revista.
Tudo isso eu escrevo com temor e tremor. Não quero o mal dos irmãos, e é por isso mesmo que procuro dizer aquilo que penso estar errado. Agora, quanto à sensibilidade para com o outro, para com as relações interpessoais, não precisamos mudar a doutrina para chegar a esse patamar. Precisamos apenas seguir o Evangelho.
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