quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Que ironia: a Igreja brasileira parece com o Lula!

Na campanha presidencial de 1989, dizia-se que se Lula ganhasse fecharia as igrejas. Diziam também que ele era comunista, usando o termo no pior sentido possível. Muitos crentes acharam que essas coisas fossem verdade. Aquele "sapo barbudo", como alguns o chamavam, assustava os eleitores. Eu tinha 12 anos de idade e lembro bem de algumas passagens daquela campanha - creio que sempre gostei de acompanhar a política.
Todavia, o tempo passou, e aquele ex-sindicalista e ex-metalúrgico se tornou presidente da República, o mais popular da história do Brasil, talvez o mais carismático, alguém que se enxerga como o mais legítimo representante dos brasileiros em todos os tempos, que acha que fez muitas coisas inéditas, o que sintetiza com a frase "nunca antes na história deste País". Um homem emblemático, bonachão, de liderança fácil. Um homem de pensamento conservador que se lançou na vida pública por meio de lutas próprias da esquerda. Um homem simples que usa metáforas futebolísticas para assuntos sérios, que pega no cotovelo do Papa, que diz com a maior facilidade que vai telefonar para o Sarkozy ou para o Bush a fim de resolver, numa conversa, um problema internacional grave, ou que poderia ajudar no conflito entre palestinos e israelenses - o qual é mais complexo do que ele poderia imaginar.
Esse homem é hoje aclamado por gente de todo tipo, evangélicos entre eles. Sua candidata, Dilma Rousseff, participou do culto de aniversário de José Wellington Bezerra da Costa, presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB). Recorde-se o leitor de que em 1997 (ou perto disso) o mesmo José Wellington afirmou no Campo de Marte, em São Paulo (por ocasião de um importante Congresso Pentecostal), na presença de um "fervoroso" FHC, que um crente da Assembleia de Deus é um sem-terra a menos, e deu a entender que os assembleianos ajudariam o então presidente na eleição. Diga-se de passagem que FHC disse "aleluia" naquele dia. Agora, porém, todo mundo acha que o Lula não é tão feio. Como disse o "filósofo" Kléber Bamban, ele agrada a "gregos e coreanos".
E agrada mesmo. Outro dia o casal Hernandes, da Renascer, orou por Dilma Rousseff, por sua cura de um câncer linfático, logo depois de voltarem de uma prisão domiciliar nos Estados Unidos. Aquela oração teve ares de apoio político. Sim, teve. Pode ser uma coisa bem normal para o Lula, considerando como ele tem defendido explicitamente homens como Collor, Sarney, Renan Calheiros, mensaleiros do PT, e outros tantos corruptos, sob a bandeira fácil do "devido processo legal".
Muitos hoje na Igreja brasileira, e fora dela, gostam de Lula. Uso o termo "Igreja brasileira" em termos bem genéricos, pois, como disse um ex-professor meu de teologia, Pr. Fernando Glória Caminada Sabra, "a Igreja brasileira não é um monobloco". Sei disso, e por isso faço a ressalva. Refiro-me à "Onda Gospel", a tudo o que prepondera na Igreja brasileira, a essa profusão de besteiras e desvios comportamentais que há em nosso meio.
Afirmo, em suma, que há muitas semelhanças entre a Igreja brasileira e Lula: o populismo, o afã messiânico ("nunca antes na história deste País"), a escatologia triunfalista, as alianças espúrias, a distância entre discurso e prática, o simplismo, o desprezo ao estudo sistemático, o sensacionalismo, a ignorância como virtude, a santidade seletiva.
Ouvir Marco Feliciano e Cassiane, com todo o respeito, e deles retirar uma teologia para a vida, é como usar as falas soltas do Lula enquanto regra de fé e conduta: muita emoção e conteúdo superficial. E ai de quem for contra! Coitado do herege que não gostar de Lula, de Marco Feliciano ou de Cassiane! Deve ser frio ou conservador, atrasado ou elitista.
A ética da Igreja brasileira é seletiva mesmo: homossexualismo e adultério são os piores pecados do mundo, como os pecados mortais da Idade das Trevas. Mas improbidade administrativa, popularmente chamada de "corrupção", pode passar sem uma disciplina eclesiástica. Conheci - de longe, registre-se - um deputado federal envolvido no Escândalo das Sanguessugas em 2006, deputado federal de primeiro e único mandato e filho do presidente de uma importante igreja e convenção estadual do Brasil há décadas. Homem que hospedava Daniel Berg! O deputado de primeira viagem se viu grampeado com autorização da Justiça, dizendo ao Vedoim que estava "no sufoco". O que aquele senhor fez? Sequer voltou à nossa igreja para pedir desculpas. Meses antes, pedira votos, e depois do escândalo pediu de novo, mas felizmente perdeu. Pelo menos isso. Mas não houve disciplina...
Se for para a obra de Deus vale tudo? Esse pragmatismo é perigoso: o caixa dois do PT surgiu assim, culminando no mensalão que os petistas hoje dizem ter sido uma invenção do Roberto Jefferson. Foram apenas "recursos não-contabilizados" de campanha, como se isso não fosse crime eleitoral. Segundo o Lula, "isso é o que se faz sistematicamente no Brasil". Ora, em sua ética, se for um pecado sistemático, dá para passar.
Está mais do que na hora de crentes se insurgirem contra essa situação nefasta em que se encontra a Igreja brasileira. Não podemos ser a Igreja do Lula. Somos a Igreja de Cristo. Nossos oficiais eclesiásticos não podem ser ordenados simplesmente para formação da "base aliada" do pastor. Lembro de um pastorzinho que me disse: "Aqui na igreja nós temos uma oposição". E emendou: "Precisamos sair para tomar sorvete". Engraçado: será que ele pensou que eu comporia a "base aliada"?

Um comentário:

João Armando disse...

A Igreja deve honrar o "rei" (no caso, o presidente) - leia-se 1 Pe 2.17, e deve orar por ele (1 Tm 2.2). Já convidar candidatos para falar nos cultos (ou seja, fazer campanha), ou pedir votos, jamais. Há espaço na Igreja para esquerdistas, direitistas, centristas e tudo o mais. Que bom seria se os pastores aproveitassem e começassem AGORA a ensinar, dos púlpitos, ao povo de Deus sobre a responsabilidade de orar pelas autoridades, de pedir sabedoria para votar bem, e, por que não, de respeitar / honrar esses homens. Mesmo quando fazem suas falcatruas, a ordem de os honrar permanece. O pior presidente da república que já tivemos (Collor?) nem chegou aos artelhos do Nero, emperador do primeiro século - mesmo assim, as Escrituras ordenaram o povo de Deus a honrar o rei. Há um chavão que aprendi no exterior que, creio, explica bem como isso é possível. "If you can't salute the man, salute the uniform" - uma tradução livre seria "se não consegues bater continência para o homem, bata para a patente dele". Ou seja, o cargo (presidência = autoridade) deve ser honrado. Que Deus lhe dê graça para tomar boas decisões, e que ele nos dê, também, um governo melhor no próximo ano, nos três poderes - principalmente no legislativo.



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