Você que está sem igreja e não consegue se adaptar a nenhuma delas, saiba que talvez sua situação seja perfeitamente compreensível. É claro que não estou aqui para advogar causas sem "conhecer os autos", pois deve haver um sem-número de motivos para uma pessoa não querer frequentar igrejas, e nem todos os motivos são legítimos. Todavia, eu me refiro neste texto à grande quantidade de irmãos que não querem ficar sem igreja, mas são "obrigados" à solidão.
Numa sociedade em que surgem igrejas ditas evangélicas a todo instante, para todos os gostos do consumidor religioso, pode parecer estranho alguém se sensibilizar com a situação de quem não se adapta. Poder-se-ia objetar: ou essa pessoa não achou ainda a igreja de seu gosto ou não deveria pensar em achar uma igreja de seu gosto...
Mas a questão não é tão simples. Eu discordo do crescimento numérico artificial e divisionista, que se baseia em igrejas personalistas, em "ministérios" criados antes do surgimento do rebanho, e no pernicioso mercado "gospel". O que não posso esquecer, porém, é que no meio de toda essa desordem existem crentes verdadeiros, sinceros, maduros, que se veem entristecidos por não se encaixarem em nenhum lugar.
É difícil conviver, por exemplo, com a intromissão da Teologia da Prosperidade em nossas igrejas históricas e pentecostais históricas. É difícil engolir aquelas canções pseudo-evangélicas, que são, na verdade, antropocêntricas, subjetivistas e emocionalistas. É difícil conviver com instituições eclesiásticas politiqueiras, o que envolve coisas como o nepotismo, a aliança espúria com políticos, os candidatos "naturais", as monarquias hereditárias. É difícil conviver com a imposição de doutrinas secundárias como se fossem primordiais. É difícil conviver com a centralização do poder em poucas pessoas. Tudo isso nós percebemos na Igreja que se diz evangélica no Brasil de hoje.
O politicamente correto é dizer a esses irmãos sem-igreja frases como "olhe somente para Jesus, não para o homem"; "toda igreja tem problemas"; "você não vai encontrar perfeição aqui neste mundo"; "isso são provas"; "sua hora vai chegar"; "ore mais, tenha mais fé, que vai dar tudo certo".
Não consigo me contentar com frases prontas e raciocínios simplistas como esses. É necessário enfrentarmos o problema em toda a sua feiúra, em vez de fingirmos que tudo está bem. Não! A enfermidade da Igreja brasileira é terrível!
Coloco-me como um dos que, se não têm a solução, ao menos se irmanam com o que se sentem agora desalojados e desiludidos com as igrejas. E, em lugar de não poder olhar para homem nenhum - porque essa é a desculpa que muitos dão - gostaria imensamente de poder olhar, sim, para boas referências humanas, que ousassem repetir o que Paulo disse: "Sejam meus imitadores, como eu sou de Cristo".
3 comentários:
Até que fim alguém me entendeu!
Adaptar totalmente é fora de cogitação. Um ex-pastor me segredou "Sabe, irmão, quando a gente se dá o direito de pensar um pouquinho, não consegue se enquadrar totalmente em lugar nenhum" - isso eu entendo. Se as divergências são mesmo muito acentuadas, é o caso de orar e procurar outro lugar mesmo - sair, visitar outras igrejas etc. Não é possível que não se encontre umazinha onde se sinta melhor. Mas se as divergências são digeríveis, se é que me entende, dá para ficar. Eu diria mais - faz parte da maturidade cristã saber conviver com divergências. Pode até ser enriquecedor. Cada um sabe o seu limite.
É por isso que digo: sou cristão apesar da Igreja!
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