sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

E se não houvesse o Intercessor?

Dentre os conselheiros do patriarca Jó, surge Eliú com um discurso não censurado por Deus (Jó 42.7-9). E se Deus não o reprovou, quem sou eu para fazê-lo? Mesmo entendendo que Eliú se mostrou um tanto vaidoso, sabichão e severo demais com Jó, não posso me furtar às suas palavras, porque ele não foi repreendido por Deus. Parece-me que ele pelo menos acertou o ponto da questão, qual seja, a pecaminosidade de todos os homens e a perfeição exclusiva de Deus. Se ele "errou a mão", como penso, Deus não parece ter levado em conta.


Partindo dessas considerações, gostaria de observar algumas coisas no texto de Jó 33.13-33, onde há palavras proferidas por esse personagem mais moço que os três "amigos" de Jó, seus antecessores no diálogo.


No trecho referido, Eliú diz:


"13 Por que contendes com ele, afirmando que não te dá contas de nenhum dos seus atos? 14 Pelo contrário, Deus fala de um modo, sim, de dois modos, mas o homem não atenta para isso. 15 Em sonho ou em visão de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, quando adormecem na cama, 16 então, lhes abre os ouvidos e lhes sela a sua instrução, 17 para apartar o homem do seu desígnio e livrá-lo da soberba; 18 para guardar a sua alma da cova e a sua vida de passar pela espada. 19 ¶ Também no seu leito é castigado com dores, com incessante contenda nos seus ossos; 20 de modo que a sua vida abomina o pão, e a sua alma, a comida apetecível. 21 A sua carne, que se via, agora desaparece, e os seus ossos, que não se viam, agora se descobrem. 22
A sua alma se vai chegando à cova, e a sua vida, aos portadores da morte. 23 Se com ele houver um anjo intercessor, um dos milhares, para declarar ao homem o que lhe convém, 24 então, Deus terá misericórdia dele e dirá ao anjo: Redime-o, para que não desça à cova; achei resgate. 25 Sua carne se robustecerá com o vigor da sua infância, e ele tornará aos dias da sua juventude. 26 Deveras orará a Deus, que lhe será propício; ele, com júbilo, verá a face de Deus, e este lhe restituirá a sua justiça. 27 Cantará diante dos homens e dirá: Pequei, perverti o direito e não fui punido segundo merecia. 28 Deus redimiu a minha alma de ir para a cova; e a minha vida verá a luz. 29 Eis que tudo isto é obra de Deus, duas e três vezes para com o homem, 30 para reconduzir da cova a sua alma e o alumiar com a luz dos viventes. 31 Escuta, pois, ó Jó, ouve-me; cala-te, e eu falarei. 32 Se tens alguma coisa que dizer, responde-me; fala, porque desejo justificar-te. 33 Se não, escuta-me; cala-te, e ensinar-te-ei a sabedoria".



Na Antigüidade, em tempos patriarcais, Eliú percebeu quão pecador é o Ser Humano e cogitou a hipótese de um "intercessor" em seu favor. Note-se que nessa época não havia sequer o sistema sacrificial levítico, e, segundo os estudiosos, as pessoas faziam seus sacrifícios pelos seus familiares, como Jó. Não havia sacerdotes oficiais.


Repreendendo a Jó por considerar que este propaga uma auto-justiça, Eliú declara que a) Deus orienta o Ser Humano quanto ao caminho que deve tomar (vv.14-18); b) o Ser Humano passa por sofrimentos decorrentes de sua condição limitada (vv.19-22) - o texto não deixa claro que o sofrimento seja conseqüência do pecado pessoal, e parece apontar para a limitação a que todos estamos sujeitos, a saber, a sentença universal da morte.


O orador Eliú passa então a imaginar a existência de um "anjo intercessor" (ARA), um "mensageiro ou intérprete" (ARC), alguém que se postasse como espécie de advogado para falar ao homem como ele deve proceder.


Qual o resultado disso? Deus iria ter misericórdia do homem, e diria ao intercessor: "Redime-o, para que não desça à cova; achei resgate" (v.24).


Que texto interessante! O jovem Eliú pensa em redenção e resgate, dois conceitos que séculos mais tarde seriam aplicados a Jesus Cristo. Para ele, a morte era efeito do pecado, enquanto o fruto do resgate seria a doação de vida, o que se manifesta na declaração de que o homem redimido voltaria à sua juventude e ao vigor da infância (v.25). Além disso, o homem redimido falaria diretamente com Deus (v.26), veria a face de Deus (v.26), teria sua justiça restituída por Deus (v.26), cantaria publicamente o fato de não ter sido punido por seu pecado (v.27); cantaria o fato de Deus ter redimido a sua alma de ir à cova, e por isso sua alma veria a luz (v.28).


Nessas palavras antiqüíssimas eu vejo o anseio do homem por um intercessor, um mediador, um advogado. Já pensou se estivéssemos hoje na mesma situação que Eliú, ou seja, com a consciência do pecado e a idéia de que não existe um intercessor? O que seria de mim e de você? Nem quero pensar nisso...








Um comentário:

João Armando disse...

Ao exercer seu ofício sacerdotal, Cristo intercede por nós. Não se concebe que sua oração por nós seja ineficaz, pois ele é um com o Pai e sem pecado - portanto sempre ora conforme a vontade do Pai. Essa é a segurança dos verdadeiros crentes. A questão não é se eu, algum dia, me desviarei - não há dúvida que me desvio diariamente, várias vezes ao dia. A questão é - tenho um intercessor infalível junto ao Pai. Meus pecados já foram perdoados no Calvário, e ele vive por interceder por mim. Daí decorre minha certeza de salvação e de perseverança - não minha, propriamente, mas dele.



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Um dos terríveis problemas da Igreja evangélica brasileira é a falta de conhecimento da Bíblia como um sistema coerente de princípios, promessas e relatos que apontam para Cristo como Criador, Sustentador e Salvador. Em vez disso, prega-se um "jesus" diminuído, porque criado à imagem de seus idealizadores, e que faz uso de textos bíblicos isolados, como se fossem amuletos, peças mágicas a serem usadas ao bel-talante do indivíduo.

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Em um só Deus e na Trindade.
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão.
Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal e sua ascensão aos céus.
Na pecaminosidade do homem, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode salvá-lo.
Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus.
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor.
No batismo bíblico em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo.
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus, através do poder do Espírito Santo.
No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo.
Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade.
Na Segunda Vinda de Cristo.
Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo.
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis.
E na vida eterna para os fiéis e morte eterna para os infiéis.