Quando eu morava em Minas Gerais, descobri alguns cristãos que não comemoram o Natal. Para eles, a festa é de origem pagã, em celebração ao deus Sol, cultuado em 25 de dezembro. Com o Cristianismo, a festa teria migrado em algum momento para a ideia do Nascimento de Jesus Cristo, acompanhado de tradições como a árvore, os enfeites, o Papai Noel, os presentes. Tudo não passaria de uma cópia do Paganismo, uma cópia travestida de evangélica, celebrada pelas igrejas cristãs.
Confesso que essa refutação cristã ao Natal me assustou. Não consigo admitir que o Natal saia de minhas celebrações de final de ano, embora reconheça a possível origem pagã. É como uma outra função, agora bíblica, para uma tradição iniciada por causas diversas. A Sociologia da Religião deve explicar isso melhor.
Não me importa se a festa - que não está prescrita na Bíblia - seja uma transformação de qualquer coisa estranha. O fato é que nem a data é o mais importante, nem Papai Noel entra em minha casa - quem dá os presentes a nossos filhos somos eu e minha esposa mesmo. Temos o costume de enfeitar a árvore de Natal, nossa filha de quatro anos tem isso como uma coisa boa, da qual participa. Gostamos das luzes que enfeitam a cidade, as árvores, as casas. Gostamos de participar de cultos natalinos, gostamos das peças natalinas, apreciamos a reflexão sobre o Nascimento de Cristo. Para nós, essa deve ser uma excelente oportunidade de evangelização.
Minha esposa criou-se numa igreja dirigida por dois missionários estrangeiros, igreja em que o Natal era especialmente comemorado. Eu também tive o Natal como uma festa cristã. Com o juízo crítico apurado, aprendi desde cedo que Papai Noel não existe, que o consumismo nada tem que ver com o Nascimento de Cristo. É preciso, sim, separar as coisas.
E é necessário afirmar, com todas as letras, que Jesus nasceu (encarnou) para morrer pelos pecadores e ressuscitar ao Terceiro Dia. Ele veio para morrer. Sua morte não foi um acidente de percurso, uma fatalidade nem um insucesso dos perdedores. Jesus Cristo veio para morrer e ressuscitar. Sem essa doutrina de fé, o Natal fica mesmo pobre e vazio.
Quem não comemora o Natal sob o argumento de que se trata de mera imitação da festa ao deus Sol não deveria, a rigor, comemorar o Ano-Novo, pois, se refletirmos bem, pode ele ser interpretado com o mesmo princípio daquelas festas antigas devotadas à fertilidade, ao ciclo da vida. O ano, ao começar, traria, para essas pessoas, novas esperanças, ante a renovação das estações. Todavia, ainda que exista todo esse misticismo - hoje visto em costumes como "entrar de branco" - a verdade é que o ano que começa deve efetivamente nos inspirar a um recomeço, não no sentido místico, esotérico, mas na exata medida em que o ano novo inicia um calendário cheio de compromissos: para o estudante, mais um ano letivo. Para o trabalhador, mais um período de trabalho; para todos, enfim, mais uma sucessão de dias e meses. O que não foi realizado no ano velho poderá, quem sabe, ser feito neste que se abre. E daí se eu tenho esperanças? Será isso ruim? É certo que não.
É bom recordar que as únicas "festas" neotestamentárias são o Batismo nas Águas e a Ceia do SENHOR. Elas, sim, são ordenanças, e não devem ser esquecidas. Quanto às festas do Antigo Testamento, essas não são para nós, nem para ninguém mais, porque pertenceram a um período em que símbolos antecipavam, por figura, a vinda de Cristo. E sei que hoje existe um movimento judaizante em igrejas evangélicas, que repete o toque do shofar, que usa menorá, que gosta da Estrela de Davi - que, por sua vez, que eu saiba, é mais moderna que a Bíblia.
Mas, voltando ao Natal, digo que esse pessoal que diz não ser ele uma festa digna de cristãos está, na verdade, confundindo tudo. Não se trata mesmo de uma festa bíblica, porque não está prescrita nas Escrituras. Entretanto, não é antibíblica. Pode ser, isso sim, extrabíblica. Jamais antibíblica, se celebrada da maneira certa: lembrando de textos bíblicos lindos, que retratam o Nascimento, a Encarnação de Jesus, o Salvador, na cidadezinha de Belém, e que, ao nascer, foi colocado num cocho, que chamamos, quase que num eufemismo, de "manjedoura".
Sendo assim, que mais posso dizer?
Feliz Natal e próspero Ano Novo!
2 comentários:
Infelizmente Alex, assim como o Natal, onde se comemora o nascimento de Cristo, em epócas pré crista na mesma data se comemorava o Solticio de verão, e no inverno Soltício de inverno. Sabe-se hoje que muita data tida como cristã já existia antes de Cristo, onde se comemorava alguns Deuses de crenças passadas, tendo o cristianismo apenas mudado os nomes e colocado os seus na mesma epóca e data do passado pagão. Basta pesquisar.
É óbvio que não há ordem bíblica para se comemorar o Natal - nem para se jogar futebol, nem para se celebrar aniversários, nem para várias outras coisas que fazemos por costume, por determinação cultural. Já dizer que essas coisas são, por isso, erradas, é ir longe demais. Por outro lado, eu me lembro de determinado Natal, em determinada "primeira igreja" igreja em capital de Estado, cujo nome não vem ao caso, onde o pastor insistia que todos TINHAM que ir ao culto de Natal, em pleno dia 24, e só DEPOIS - repetiu várias vezes - só DEPOIS - podiam ir para casa para a ceia, pois "Jesus é mais importante". Que argumento ridículo! Claro que é, mas será preciso agir assim para o provar ou demonstrar? No fundo, parece-me que ele (pastor) se achava mais importante, ao se dar o direito de determinar como e quando as pessoas podiam passar o Natal. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra - nem oito nem oitenta. Como sempre, a virtude está no equilíbrio. Em minha casa temos árvore de Natal - que os meus meninos apreciam muito - fizemos ceia, com meus sogros e minha mãe (meu pai tem Alzheimer e já não conhece ninguém), trocamos presentes, depois lemos a história do Natal, cantamos hinos e oramos. Acredito que essas "tradições" ficarão na memória dos meus filhos, como bons momentos em família. Dou graças a Deus, foi muito bom. Se Deus no-lo permitir, pretendo ter nova celebração semelhante em 2010 - porque foi bom, não porque "está escrito". Aliás, poderia dizer que, tampouco, está "proibido" na Bíblia. Ou será que não?
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