Para que duas pessoas andem juntas, é necessário que os princípios de vida sejam compartilhados. É preciso ter valores em comum, a mesma visão de mundo, as mesmas preferências quanto ao que é mais importante nesta vida. Um versículo bíblico que parece atestar essa afirmação é o de Am 3.3, quando diz: "Caminham duas pessoas juntas sem que antes tenham combinado"? (Bíblia de Jerusalém).
Ninguém pode conviver discordando o tempo todo. Essa é uma realidade insofismável. Do contrário, a gente fica aborrecido, amargurado, irritado, triste. Não dá para viver assim. Como dizia o poeta Vinícius de Moraes, É mellhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe.
Não me refiro a coisas acidentais, menos importantes, que podem ser alvo de renúncia. Refiro-me a coisas principais, fundamentais, a que não se pode renunciar sem perder a dignidade. Refiro-me aos ideais, aos valores, aos princípios mais caros, àquilo que dá sentido à vida e faz com que a pessoa acorde pela manhã achando que viver é um bom negócio.
Se o eventual leitor está pensando em casamento ou amizade, eu estou pensando na igreja, mas essas idéias valem para toda e qualquer comunidade ou sociedade - os princípios de vida precisam ser os mesmos.
É por isso que eu não considero que a pessoa seja obrigada a permanecer na mesma igreja ad aeternum, só para atender à falsa noção de que seu lugar é inevitavelmente aquele lugar que achou primeiro. Onde isso está escrito na Bíblia? Há algum versículo dizendo algo como "Permaneças na mesma congregação aconteça o que acontecer"?
Na verdade, o que há é o seguinte: "Não deixemos nossas assembléias, como alguns costumam fazer. Procuremos, antes, animar-nos sempre mais, à medida que vedes o Dia se aproximar" (Hb 10.25). Não sejamos simplistas! O autor sagrado não está dizendo para alguém sofrer os erros doutrinários de outros, mas se trata de uma exortação para que o crente desanimado persevere, o que, aliás, é tema central na Epístola aos Hebreus - a perseverança.
A Bíblia não recomenda ao crente a submissão a erros doutrinários ou de caráter, nem àquilo que atropela seus princípios fundamentais. Há limite em todas as coisas. Enquanto o autor aos Hebreus se dirige aos desanimados, eu me dirigo aos que são animados pela Causa de Cristo, mas que se vêem chateados com problemas de ordem doutrinária e comportamental.
Mas o problema é algo mais profundo. Creio que não se trata apenas de doutrina e comportamento, mas também de visão. Olha, uso essa palavra com receio, porque atualmente alguns usam a palavra "visão" para significar alguma revelação especial e extrabíblica, algum modismo, heresia ou nova estratégia de crescimento de igreja - estou falando de coisa distinta, estou me referindo à cosmovisão, à maneira de enxergar a vida, que, por sua vez, depende da maneira como a pessoa enxerga a Palavra de Deus e suas exigências.
Para ser mais claro, estou aprendendo a analisar a Bíblia por uma perspectiva cristocêntrica, não-alegórica e com entendimento; em que os dons espirituais são ferramentas para a evangelização e edificação, e não para a criação de categorias de crentes na igreja; uma perspectiva de culto em que se adora a Deus com simplicidade e espontaneidade, em que se ora com verdade e se proclama a Palavra de Deus genuinamente; uma visão segundo a qual as coisas precisam fazer sentido, sem apenas atender a tradições humanas; uma visão integral do Reino de Deus e da missão da Igreja; uma valorização do estudo, do preparo de sermões, da Razão aliada à Fé, do treinamento de líderes, da não- imposição de mãos sobre pessoas sem o mínimo conhecimento bíblico, do afastamento de qualquer politicagem dentro da igreja...
Esses são alguns princípios que eu tento seguir. Dá para entender agora por que se me entristece o coração?
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