Não há só o domingo - depois dele vem a segunda. É no dia-a-dia que a gente é crente. Toda aquela emoção de ser crente na igreja passa bem rápido na luta de segunda a sexta.
Promessas exclusivas de paz e prosperidade são para os incautos. Vivo com a promessa da Vida Eterna. Sim, também quero paz e prosperidade, mas não vivo em função disso.
Há tantas heresias e modismos que a gente tem dificuldade de se atualizar. Parece que estamos fora de moda. Os ortodoxos são tidos como chatos, atrasados. Os que freqüentam a escola dominical não conseguem entender os cultos de domingo à noite, nem as festas da igreja.
O errado toma o lugar do certo, e o certo fica sendo errado. Quem se insurge contra a bandalheira é chamado de rebelde, frio, arrogante, impaciente. Eles sabem usar os versículos na hora certa.
Para a maioria, a coisa vai bem, obrigado. Falam de chuva de bênçãos, eu vivo o deserto. Falam de vitória, eu passo pela prova. Falam de Deus a lhes dizer coisas inefáveis. Eu estou curtindo o silêncio.
No calor causticante sem nenhuma brisa e refrigério, é duro saber e não poder falar. É duro não ter nenhum poder. É duro ser crente hoje.
Há tempos vivo na desorientação de pertencer a um movimento que não me pertence por princípio. Há tempos me alimento do ar flamejante das contradições. É duro esse deserto, é muito difícil respirar num clima seco.
Entre glórias e aleluias, sigo como um crente comum. Minha cabeça manda, o corpo não pode obedecer, pois está amarrado pela burocracia dos santos. Estabeleceram os feudos, dominaram o terreno, tudo tem dono, tudo tem nome, todos têm credenciais.
Vivo um tempo muito, muito, muito complicado. Ser crente comum nos dias de hoje, ser crente com base na Bíblia é tarefa das mais dolorosas quando se pretende manter a integridade.
Dizem para eu não me amargurar, e estão certos. Mas não me peçam para ficar calado nem contente - se for preciso, morrerei descontente e tagarelando contra as impropriedades de um evangelhozinho carnal e medíocre.
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