sábado, 22 de maio de 2010

"Pessimismo" profético

Amanhã na escola dominical estudaremos mais uma lição sobre o Livro de Jeremias (Lições Bíblicas da CPAD, 2º Trimestre de 2010). Faremos uma comparação entre a verdadeira e a falsa profecia. O falso profeta da vez é Hananias.
Hoje parece fácil dizermos que Jeremias era o verdadeiro profeta e Hananias, o falso. O Livro de Jeremias faz parte da Bíblia, suas profecias se cumpriram (enquanto ele ainda estava vivo!) e Hananias acabou morrendo no mesmo ano em que se opôs ao homem de Deus, em cumprimento a mais uma palavra dada por Deus ao "profeta das lágrimas". O próprio texto de Jeremias demonstra que Hananias era o falso, o impostor, o arrogante, o mentiroso.
Todavia, temos nós a capacidade de discernir o verdadeiro do falso? Seríamos melhores que os judeus da época de Jeremias? Saberíamos usar os critérios de discernimento? Ou acharíamos, com a corrente majoritária, que Jeremias era um recalcado, um desertor, um traidor da pátria?
Hananias apresentava-se como um profeta, era reconhecido como tal e tinha subsídio do governo. Era pago para mentir. Chegou a dizer, perante sacerdotes e o povo que estava na Casa do SENHOR, que em dois anos Deus quebraria o jugo da Babilônia, devolveria a Jerusalém os utensílios do Templo e traria de volta seu rei, Joaquim, filho de Jeoaquim. Palavras de paz e prosperidade, tudo o que o povo queria ouvir!
Mas Jeremias apareceu como um "estraga-prazer", afirmando que não era nada daquilo. E, com muita propriedade, fez uma declaração propedêutica acerca do profetismo bíblico: os profetas que tinham vindo antes dele e de Hananias haviam anunciado guerra, mal e peste contra terras e reinos, e o profeta que profetizasse coisas boas deveria esperar o cumprimento de suas palavras para ser reconhecido como profeta de verdade.
Hananias, porém, não se deu por vencido: dramaticamente, quebrou o jugo de madeira que estava no pescoço de Jeremias e que simbolizava o cativeiro babilônico. Com isso, o suposto profeta queria anunciar a libertação iminente, repetindo sua profecia.
Em quem acreditar? Certa vez, numa aula do curso de Teologia (que não completei), na matéria Profetas, um colega fez uma inteligente pergunta ao professor Pr. Fernando Sabra: "Hoje sabemos quem eram os verdadeiros profetas. E naquela época, como saber"?
Naquele momento, depois da resposta do professor, comentei que o empenho pelo retorno à Lei de Moisés deveria ser o teste da verdadeira profecia. Enquanto os falsos profetas não se preocupavam com as exigências morais e espirituais do Código Mosaico, os verdadeiros profetas conclamavam o povo ao arrependimento. Em minha concepção, esse era o critério fundamental. Quanto a Moisés, o profeta-legislador, Deus ofereceu uma série de demonstrações de poder para confirmar a vocação e a missão de seu escolhido.
Sim, senhores, a Fé Bíblica não se baseia somente em palavras, mas em eventos, nas maravilhas que o SENHOR fez historicamente (não confundir com experiências individuais, pois me refiro a fatos histórico-redentivos, como as Dez Pragas no Egito, a passagem pelo Mar Vermelho, os relâmpagos, trovões, a espessa nuvem e o "clangor de trombeta" no monte Sinai (Ex 19.16), as vitórias sobre os povos inimigos, a passagem pelo rio Jordão, a derrubada dos muros de Jericó etc.). Nos tempos de Jeremias, o profeta deveria ser reconhecido pelo sentimento que demonstrasse quanto ao registro de Moisés e suas consequências morais e espirituais.
Além desse critério objetivo de discernimento das profecias, Jeremias nos oferece outro, acima referido, e que se encontra nos versículos 8 e 9 do cap. 28 de seu Livro: todo profeta verdadeiro profetiza o mal quando depara com o pecado. Por isso, é tachado de pessimista, mal-amado, amargurado, invejoso. A regra é o juízo quando o povo está em pecado.
Por sua vez, os falsos profetas pregam sempre a paz e a prosperidade e não têm compromisso com a Bíblia. Antes, eles a subvertem, criam interpretações estapafúrdias, inventam doutrinas, abusam da criatividade em suas especulações "pelos olhos da fé".
Temo que grande parte dos crentes não saberia discernir entre o verdadeiro e o falso. E penso o que faríamos de Jeremias e de Hananias se ocupássemos algum lugar no Templo quando eles se enfrentaram.

Um comentário:

João Armando disse...

O que faríamos se vivêssemos naquela época... Pergunta perscrutadora! É difícil responder, pois temos mais luz hoje, e não sei que luz teríamos então. Teríamos, como você bem disse, a luz da Lei, que dizia que se o suposto profeta falhasse em suas profecias, era falso. Não sei se teríamos com tanta clareza as palavras de Cristo "pelos seus frutos os conhecereis" - esse princípio está no Antigo Testamento, mas não de forma tão clara como Jesus o pronunciou. Seja como for, o critério que persiste até hoje. Que tipo de vida Hananias tinha? Era um homem santo? Temia e tremia diante de Deus e sua Palavra? Dificilmente. Quem convivesse com ele saberia. Mesmo quem não convivesse poderia notar algum "ato falho", para emprestar uma terminologia freudiana, que o denunciasse. Esse critério vale até hoje. Sem santificação ninguém verá o Senhor - mesmo que seja um ímpio profetizando, como Saul ou o sumo sacerdote à época da crucificação de Cristo ou Balaão.



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