Você aprendeu a me admirar, mas esqueceu os meus defeitos. Achou que eu estava numa vitrine, intocável, insuspeito. Tendo visto meu nome na Galeria da Fé, logo imaginou que eu era santo demais, justo demais, forte demais. Mas não sou, não.
Você sabe que me chamam de Pai da Fé. Mas não se esqueça de que o importante mesmo é que essa fé apareça em você, como dom de Deus. Eu não acreditei em Deus porque fosse uma pessoa boa, mas porque conheci Aquele que me fazia as promessas. Eu cri nas promessas do SENHOR, não cultivei nada de pensamento positivo. Apenas cri nAquele que falava comigo, e saí de minha terra. A iniciativa foi toda d'Ele. Agora, por que Ele escolheu a mim, não me pergunte...
Eu era rico, sabe? Tinha de tudo que se possa imaginar em termos materiais. Mas o SENHOR me chamou para fora do meu mundo. Saí para uma terra desconhecida, e no percurso cometi muitos erros...
Deus me prometera um filho, mas, como eu era velho e minha esposa, velha e estéril, entendemos que Deus estaria se referindo a um filho por adoção legal. Então, arranjamos um jeito - como me custa lembrar! - de termos um filho por meios jurídicos, a fim de garantir o cumprimento da promessa. E estávamos enganados. Até um acordo de casal pode estar redondamente errado. Nosso filho nasceria depois por um milagre de Deus. Como fui incrédulo.
Por duas vezes seguidas, e de modo semelhante, cometi uma meia-verdade, que é outro nome para mentira completa: disse a dois homens poderosos que minha esposa era só minha irmã, e isso porque tinha medo de que me matassem por causa dela. Sim, fiz isso duas vezes! E me arrependi. Estava equivocado, e Deus só me ajudou por Sua misericórdia.
Deus confirmou Suas promessas, e não falou uma vez só, não. Ele conversava comigo, sempre tomando a iniciativa. O que eu fazia era cultuar ao Seu Nome, agradecer por Sua bondade. A graça divina me alcançou lá no paganismo. Eu mesmo nada tinha a oferecer ao SENHOR.
Certo dia, Deus me pediu aquele que eu mais amava, o meu único filho amado, o filho da promessa. E eu, naquele momento, por graça de Deus, tive fé. Entendi que Deus poderia ressuscitar meu filhinho. Entendi que meu relacionamento com Deus podia me dar essa esperança. Eu sabia que meu SENHOR provê todas as coisas necessárias. Mas isso, lembre bem, não veio de mim - não sou daqueles que se gabam de suas conquistas. Tudo o que tive, em todos os sentidos, proveio das promessas generosas do SENHOR.
Eu não inventei a fé. Eu não disse jamais que a fé é pensar positivamente e barganhar com Deus. Quando eu dei o dízimo ao Sacerdote do Deus Altíssimo, eu não estava esperando uma recompensa, uma coisa em troca. Eu entreguei o dízimo assim como entreguei minha vida. Nada posso dar a Deus em retribuição pelas vitórias obtidas em Sua presença. Não é com dinheiro e bens que alguém poderá agradar ao meu SENHOR. Não consigo pensar assim.
Sei que tem gente boba citando meu nome como se fosse um super-homem, que teve uma fé mágica, com super-poderes, com objetivos mesquinhos de ganhar dinheiro e bens. Dizem por aí que fiquei rico porque usei uma atitude mental "positiva". Se me conhecessem de fato, se passassem por mim, nem me cumprimentariam, porque achariam estranha a minha figura. Sou um homem trabalhador, simples e crente em Deus.
Desculpe se te decepcionei. Não tenho nada de explosivo para dizer no final deste texto.
Assinado: Abraão.
* Crônica baseada na História de Abraão, contada no Livro de Gênesis (11.26-25) e referida no Novo Testamento tanto por Jesus, nos Evangelhos (Mt 3.9; Lc 16.22; Jo 8.58), como pelo apóstolo Paulo nas Cartas aos Romanos (cap. 4) e aos Gálatas (3.6-1), bem como pelo autor anônimo de Hebreus (11.8-12) e por Tiago (2.21-24).
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