O amigo João Armando inseriu um comentário ao texto A religião de Jesus que me levou a estudar sobre as abluções no Antigo Testamento.
Antes de entrar no Tabernáculo ou de oferecer a oferta queimada, os sacerdotes faziam uma lavagem cerimonial de mãos e pés numa bacia de bronze situada entre o altar e a porta do Tabernáculo (Ex 30.17-21; 38.8; 40.30-32). Eram as chamadas "abluções".
Salomão fez um tanque ("mar") com cerca de cinco metros de diâmetro, dois metros e meio de altura e quase 15 metros de circunferência, para que os sacerdotes se lavassem nele (II Cr 4.2-6) ou pelo menos tirassem água para suas abluções (O NOVO COMENTÁRIO DA BÍBLIA, p. 358). Continha 3.000 batos, o que equivale a 66.000 litros de água. De acordo com I Rs 7.23-26, eram 2.000 batos (ou 44.000 litros), e pode ser que os 1.000 batos restantes ficassem no sistema de pias menores (conforme a BÍBLIA ANOTADA, p. 567). Pode ser que a diferença seja fruto de um erro de copista (O NOVO COMENTÁRIO DA BÍBLIA, p. 358).
A consagração dos sacerdotes incluía uma lavagem cerimonial (Ex 29.4), que promovia purificação. A BÍBLIA DE JERUSALÉM diz tratar-se de "banho completo, diferente das abluções de 30,19-21 e destinado a conferir a pureza ritual exigida" (p. 144).
Existia uma lavagem do corpo para purificação das coisas imundas, especialmente para os sacerdotes, que deveriam estar purificados antes de tocar nas coisas sagradas (Lv 22.1-6).
Havia ainda as purificações de objetos (Lv 11.32), algo que os fariseus e doutores da época de Jesus levaram ao nível do paroxismo (Mt 15.1-20 e Mc 7.1-23), em razão da Tradição que acreditavam ter decorrido de Moisés, oralmente (BÍBLIA DE JERUSALÉM, p. 1769).
Segundo a BÍBLIA DE JERUSALÉM, "o rito da imersão era conhecido das religiões antigas e do judaísmo (batismo dos prosélitos e dos essênios)" [p. 1707], mas o batismo de João tinha três características especiais: a) um objetivo moral, e não ritual; b) a não-repetição, e, por isso, um aspecto de iniciação; c) e um caráter escatológico, introduzindo o batizando no grupo daqueles que aguardavam o Messias.
Com efeito, há relatos de que babilônios, egípcios e hindus faziam batismos, respectivamente, no Eufrates, no Nilo e no Ganges*. Os gregos teriam ritos de batismo envolvendo Baco e Ísis**.
Quando o autor aos Hebreus escreve que devemos ter o "corpo lavado com água pura" (Hb 10.22), ele deve estar lembrando da lavagem cerimonial registrada em Êxodo. E Paulo refere-se ao "lavar regenerador e renovador do Espírito Santo" (Tt 3.5).
Existia uma lavagem do corpo para purificação das coisas imundas, especialmente para os sacerdotes, que deveriam estar purificados antes de tocar nas coisas sagradas (Lv 22.1-6).
Havia ainda as purificações de objetos (Lv 11.32), algo que os fariseus e doutores da época de Jesus levaram ao nível do paroxismo (Mt 15.1-20 e Mc 7.1-23), em razão da Tradição que acreditavam ter decorrido de Moisés, oralmente (BÍBLIA DE JERUSALÉM, p. 1769).
Segundo a BÍBLIA DE JERUSALÉM, "o rito da imersão era conhecido das religiões antigas e do judaísmo (batismo dos prosélitos e dos essênios)" [p. 1707], mas o batismo de João tinha três características especiais: a) um objetivo moral, e não ritual; b) a não-repetição, e, por isso, um aspecto de iniciação; c) e um caráter escatológico, introduzindo o batizando no grupo daqueles que aguardavam o Messias.
Com efeito, há relatos de que babilônios, egípcios e hindus faziam batismos, respectivamente, no Eufrates, no Nilo e no Ganges*. Os gregos teriam ritos de batismo envolvendo Baco e Ísis**.
Quando o autor aos Hebreus escreve que devemos ter o "corpo lavado com água pura" (Hb 10.22), ele deve estar lembrando da lavagem cerimonial registrada em Êxodo. E Paulo refere-se ao "lavar regenerador e renovador do Espírito Santo" (Tt 3.5).
João, primo de Jesus, apareceu batizando no rio Jordão (Mt 3.1-17; Mc 1.3-8; Lc 3.16; Jo 1.6-8, 19-28).
Dessa forma, quando João Batista apareceu no deserto batizando, parecia estar realizando um batismo de prosélitos ou um batismo dos essênios. Não podia consagrar sacerdotes por não ser, ele mesmo, um sacerdote. Era descendente de Levi, pois seu pai, Zacarias, era sacerdote, mas ele mesmo não exercia o ofício sacerdotal. E não batizava no Templo, mas num rio. Assim, a comparação necessária é com o batismo de prosélitos e dos essênios. O batismo de prosélitos só pode ter sido uma invenção judaica em virtude da ideia que eles tinham de que, se todo mundo é impuro, para se achegar ao Judaísmo é preciso um ritual de purificação.
Embora o batismo de João pudesse ser visto pelos seus coetâneos como batismo de prosélitos ou batismo essênico, Jesus, ao dizer que cumpria toda a justiça, deve ter se referido ao batismo veterotestamentário de iniciação dos sacerdotes. Sim, o batismo de João era para arrependimento (em vista de arrependimento), e por isso Jesus não precisava dele. Mas, como Sacerdote Eterno, da Ordem de Melquisedeque, devia ser consagrado para o início de Seu ministério, não por um sacerdote da linhagem aarônica, mas pelo homem designado como precursor do Cristo. A Epístola aos Hebreus trata dessa tema.
Portanto, o batismo de João não era uma coisa inteiramente nova, ao menos exteriormente. A novidade era o seu significado. Jesus nunca pecou para ter que ser batizado. Ele cumpriu toda a justiça ao Se deixar batizar por João, e não por capricho judaizante: o fundamento não era a Tradição judaica, mas a Lei de Moisés.
Dessa forma, quando João Batista apareceu no deserto batizando, parecia estar realizando um batismo de prosélitos ou um batismo dos essênios. Não podia consagrar sacerdotes por não ser, ele mesmo, um sacerdote. Era descendente de Levi, pois seu pai, Zacarias, era sacerdote, mas ele mesmo não exercia o ofício sacerdotal. E não batizava no Templo, mas num rio. Assim, a comparação necessária é com o batismo de prosélitos e dos essênios. O batismo de prosélitos só pode ter sido uma invenção judaica em virtude da ideia que eles tinham de que, se todo mundo é impuro, para se achegar ao Judaísmo é preciso um ritual de purificação.
Embora o batismo de João pudesse ser visto pelos seus coetâneos como batismo de prosélitos ou batismo essênico, Jesus, ao dizer que cumpria toda a justiça, deve ter se referido ao batismo veterotestamentário de iniciação dos sacerdotes. Sim, o batismo de João era para arrependimento (em vista de arrependimento), e por isso Jesus não precisava dele. Mas, como Sacerdote Eterno, da Ordem de Melquisedeque, devia ser consagrado para o início de Seu ministério, não por um sacerdote da linhagem aarônica, mas pelo homem designado como precursor do Cristo. A Epístola aos Hebreus trata dessa tema.
Portanto, o batismo de João não era uma coisa inteiramente nova, ao menos exteriormente. A novidade era o seu significado. Jesus nunca pecou para ter que ser batizado. Ele cumpriu toda a justiça ao Se deixar batizar por João, e não por capricho judaizante: o fundamento não era a Tradição judaica, mas a Lei de Moisés.
*http://arquidiocesedecampogrande.org.br/arq/formacao/formacao-igreja/259-o-batismo-para-o-povo.html?start=4
**http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&ID=162.
Referências bibliográficas:
BÍBLIA ANOTADA, A. The Ryrie Study Bible/ Texto Bíblico: Versão Almeida, Revista e Atualizada, com introdução, esboço, referências laterais e notas por Charles Caldwell Ryrie. Sã o Paulo: Ed. Mundo Cristão, 1994, 1835p.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. Tradução das introduções e notas de La Bible de Jérusalem, edição de 1998, publicada sob a direção da "École biblique de Jérusalem". Edição em língua francesa. São Paulo: Paulus, 2002, 2206p.
NOVO COMENTÁRIO DA BÍBLIA, O. SHEDD, Russell P. (editor em português). São Paulo: Edições Vida Nova, V. I, 1963, 740p.
2 comentários:
De fato, parece que havia esses dois elementos principais no batismo de João. Acredito que João Batista poderia ser, sim, descendente de Arão, pois era filho de Zacarias - que oficiava como Sumo Sacerdote, no Santo dos Santos, quando o anjo lhe apareceu. A tribo de Levi foi "divida em Israel" conforme a bênção (ou maldição?) de Jacó em Gênesis 49.7 - "dividi-los-ei em Jacó e os espalharei em Israel". Ele era primo de Jesus (portanto tinha também ascendência da tribo de Judá) mas como filho de Zacarias, deveria ter também ascendência levítica. Havia casamentos entre as tribos, provavelmente o pai (Zacarias)era da tribo de Levi e a mãe, de Judá. Devo dizer ainda que precisamos ter cuidado com os comentários da Bíblia de Jerusalém - e sei que você tem discernimento para tal, mas talvez algum leitor desavisado não tenha. Eu a uso como um auxílio no estudo bíblico, como mais uma tradução para elucidar o original - especialmente o hebraico, que é bem mais difícil de se traduzir do que o grego, língua muito mais próxima do português do que o hebraico - mas fico horrorizado com alguns comentários que leio nos rodapés...
João,
Rapaz, não é que está certo de novo? Estou "dormindo na botina", como se diz em Minas. Preciso estudar mais.Obrigado pela vigilância!
Um abraço,
Alex.
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