Ó leitores, perdoai minha ousadia: eu sempre desconfio de quem está no poder.
Explico: não sou daqueles que defendem governos nem me vejo inflamado numa discussão em apoio a nenhum grupo político. Não gosto de ficar acreditando piamente em governantes. Na verdade, eu desconfio de todos eles.
Minha postura parece radical ou alienada? Que bom, continuo sendo radical e alienado. Talvez essa seja a minha "ideologia" política: a eterna suspeita quanto aos mandatários políticos.
Entendo que deve haver sempre e em toda parte uma desconfiança dirigida a quem exerce o poder governamental ou parlamentar, pois, do contrário, eles farão de nós o que quiserem.
É ridículo o comportamento de certos indivíduos que parecem estancar na condição de cabos eleitorais: eles têm tanto ardor na defesa de seus padrinhos políticos que não conseguem perceber mais nenhum vício, por mais visível que seja. Qualquer falha é explicada, há sempre uma resposta pronta, e o princípio de dois pesos e duas medidas (Pv 20.10) se torna um importante componente do discurso: o mesmo fato, quando praticado por governistas ou oposicionistas, pode receber comentários diametralmente distintos. Isso é ambigüidade de caráter, nome mais bonito para hipocrisia.
Essa minha opinião tem fundamento bíblico:
No Sl 146.3, vemos a seguinte admoestação: "Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem não há salvação". É fato que o verso imediatamente posterior se refere à mortalidade dos homens - razão de não servirem de arrimo seguro - , mas o Sl 146 como um todo compara o governo de Deus com o governo humano, demonstrando que é Deus Quem verdadeiramente cuida dos oprimidos, dos que têm fome, dos encarcerados, dos cegos, dos abatidos, dos justos, dos desamparados pela sociedade, como órfãos e viúvas, dos peregrinos, e é Deus Quem estabelece toda a justiça.
Não estou dizendo que devemos ser distantes da política, porque, em verdade, a boa política é essencial, e envolve desde o chão em que pisamos - pavimentado ou não - até o preço do açúcar e o futuro de nossos filhos. Reconheço, porém, que em Rm 13.1-7, I Tm 2.1-3, Tt 3.1,2 e I Pe 2.11-17, relacionados à submissão às autoridades civis, o que se tem em vista é o princípio de autoridade, e não a pessoa investida de autoridade. Esta é digna de respeito, mas não de subserviência.
Confiemos nas instituições, lutemos por seu aperfeiçoamento, mas não entreguemos nossas vidas à mercê de homens. Precisamos ser mais atentos ao que eles fazem com o dinheiro público e, enfim, garantir a cidadania.
A democracia e toda forma de participação política nascem da certeza de que todo homem é limitado e vulnerável a se aboletar no poder. E, mesmo em tempos de monarquia, Salomão, inspirado pelo Espírito Santo, entendeu que o governo segue determinados critérios, os quais passam pelo caráter plural da concepção de decisões políticas.
Por exemplo, em Pv 11.14 está escrito: "Não havendo sábia direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros há segurança". Será que isso não tem nada a ver com política? É certo que tem. Se nós pudéssemos confiar cegamente num líder político, não haveria esse preceito acerca da pluralidade de conselheiros. De certo modo, temos aqui um princípio democrático ou, no mínimo, de governo consensual.
É o que ocorre também em Pv 15.22: "Onde não há conselho fracassam os projetos, mas com os muitos conselheiros há bom êxito". Assim, para quem gosta de ter um versículo bíblico para tudo, já estamos bem providos de ferramentas para a interpretação literal. Contudo, há mais...
Em Pv 14.15, lemos que "o simples dá crédito a toda palavra, mas o prudente atenta para os seus passos". Ora, não podemos acreditar em tudo o que ouvimos, certo?
Salomão sabia do que estava tratando. Ele, que foi rei em Israel, ainda escreveu: "Quando te assentares a comer com um governador, atenta bem para aquele que está diante de ti; mete uma faca à tua garganta, se és homem glutão. Não cobices os seus delicados manjares, porque são comidas enganadoras" (Pv 23.1-3). Isso é o que eu chamo de cautela diante de governantes!
Portanto, sejamos lúcidos. Nenhum detentor do poder é isento de males, e é justamente por isso que devem todos eles estar sob nosso olhar crítico e vigilante. Se não for desse jeito, sofreremos muito, porque são eles que gastam as verbas públicas e decidem em grande medida o rumo de nossas vidas.
Ah! Isso vale também para os políticos evangélicos...
Um comentário:
Na sua cidade, Paulo Cézar foi eleito prefeito e Budog o vereador mais votado.
Já em SSA, foram para o segundo turno dois evangélicos. Um faz campanha chamando o outro de mau caráter e traidor, enquanto o difamado apenas expõe suas propostas. Um bate, o outro dá o outro lado da face. Dois irmãos!?
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