Construir templos, criar estruturas de poder, arrecadar dinheiro - isso as igrejas têm feito, principalmente aquelas que são geridas para crescer. Os pastores estabelecem projetos de crescimento, transmitem sua "visão" aos membros e ao "ministério", fixam metas, objetivos e estratégias. A diferença para uma empresa é que as igrejas não visam ao lucro. Bem, a maioria delas não visa ao lucro.
Sei que um grupo social organizado precisa de certas instituições, sendo ele mesmo uma instituição. A própria legislação exige que o uso do dinheiro seja controlado, que os trabalhadores e prestadores de serviço sejam remunerados, e isso demanda alguma organização financeira e administrativa. Todavia, a igreja não deve ser administrada tendo em vista objetivos corporativos ou meramente institucionais, pois o nosso SENHOR investiu em pessoas, não em estruturas.
De fato, lendo os Evangelhos, veremos que Jesus Cristo preferiu separar doze homens para o apostolado, estar com eles, discipulá-los, treinando-os para o prosseguimento de Sua Obra. Esses homens simples, e, em sua maioria, iletrados, foram treinados e enviados a pregar, ensinar, expulsar demônios, curar enfermos, estabelecer a doutrina cristã.
Jesus investiu em grupos de pessoas, e em pessoas em particular. Conversou com o corrupto Zaquel, com o intelectual Nicodemus, com a mulher samaritana, com a mulher siro-fenícia. Preparou e enviou 70 missionários a pregar o Evangelho do Reino em Israel. Operou milagres entre pessoas, não diante de auditórios suntuosos. Procurou as sinagogas e o Templo, mas para ensinar, não para "se mostrar". Jesus teve em torno de Si homens e mulheres que O auxiliavam até mesmo com seus bens, mas não há absolutamente nenhuma passagem que indique uma campanha apelativa de arrecadação de fundos para a aquisição ou construção de estruturas físicas. A prioridade de Jesus são as pessoas.
Não é errado construir templos! Mas há que se ter prioridades. Qual a nossa missão: "vestir a camisa" da instituição ou fazer discípulos? Construir carreiras ministeriais ou apascentar ovelhas? Seguir piamente o roteiro denominacional ou cumprir a Grande Comissão?
Lamento muito a pobreza alojada no pensamento de encher templos com chamarizes fantásticos, enquanto o número de pessoas serve apenas para denotar o sucesso da igreja e fazer uma boa fotografia. Vale mais o que se está ensinando no púlpito, o teor da pregação, o compromisso com a Palavra de Deus, a qualidade do culto ao SENHOR. Discipulado, infelizmente, tem sido mais um departamento burocrático de muitas igrejas, em que o pessoal recém-convertido vai aprender alguma coisa da Bíblia e da denominação, para depois seguir a classes outras da escola bíblica, não raro esperando o dia especial da ordenação ministerial, a partir do qual farão parte do clero.
Não nos esqueçamos: Jesus investiu em pessoas. A Salvação não se dirige a estruturas sociais, políticas, físicas ou econômicas, mas à estrutura humana, espírito, alma, corpo, o Ser Humano total. Jesus pretende estabelecer um diálogo aberto com a pessoa humana, sem a intermediação das construções físicas ou institucionais de que tanto gostamos.
Um comentário:
Muito bom texto - conteúdo e português (como bom descendente de lusos, não podia deixar de comentar isso!)
Já percebeu como Jesus descreveu a principal necessidade da Obra? Ele não disse (como dizem muitos líderes hodiernos) "Rogai ao Senhor da seara que envie RECURSOS à sua seara" mas "que envie TRABALHADORES". Pessoas. Oração e pessoas, obreiros. Dinheiro? Alguém já ouviu de Paulo pedindo dinheiro? Sim, fê-lo em 1 Co 8, mas não para ele e sim para os crentes pobres da Judeia. É como se a igreja, a ter prioridades corretas, o dinheiro e tudo mais viria por acréscimo.
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