Anteontem, deparei com um vídeo no "site" do uol em que o senador piauiense Mão Santa (PSC), entrevistado por uma TV do seu Estado, falava de sua mais nova pretensão: candidatar-se a Vice-Presidente na chapa de José Serra (PSDB-SP).
Mão Santa dizia que a ideia fora cogitada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso num jantar informal. Falando das possibilidades para vice de Serra, FHC teria comentado sobre um candidato a vice nordestino, região em que os tucanos têm pouca penetração. Esse candidato não deveria ser baiano para não incomodar os pernambucanos, nem pernambucano para não incomodar os baianos. Assim, teria citado o Mão Santa, por sua popularidade e capacidade de falar com o povo.
Mão Santa - cujo nome é Francisco de Assis Moraes Souza - foi prefeito, deputado e governador do Piauí de 1995 a 2001, tendo sido cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral por abuso do poder econômico. Em 2002, foi eleito senador da República, e desde 2003 já fez mais de 1000 discursos da tribuna do Senado, muitos deles na segunda e na sexta, quando não há uma alma viva naquele lugar, senão ele, para ser gravado pela TV Senado e pela Rádio Senado.
Com suas múltiplas aparições, Mão Santa ficou conhecido de muitos espectadores pelo Brasil afora. Não tem peso político como um José Sarney ou um Renan Calheiros, nem oratória elegante como um Arthur Virgílio; tampouco desfruta do conhecimento de um Aloizio Mercadante ou de uma Marina Silva. Mas, com seus apartes e discursos extensos e engraçados, com sua verborragia pretensamente erudita, chama a atenção do populacho.
Não gosto do estilo de oratória do senador Mão Santa. Suas frequentes citações de Sêneca e Rui Barbosa não tornam o seu discurso bonito nem eficiente. Parecem palavras ao vento, que nem se dão ao trabalho de uma dicção adequada. Gosto apenas de sua coragem de falar contra o petismo, e de sua firmeza em criticar o "Luiz Inácio", como ele chama o presidente. Mas isso é pouco, muito pouco para um estadista.
O senador Mão Santa gaba-se de ser inteligente, cirurgião bem-sucedido por cujo serviço ganhou o apelido que hoje ostenta como político. Acha-se muito bom, o melhor, um grande político. Não vê concorrente para seu desejo de ser candidato a vice. Já se enxerga no Palácio do Jaburu.
Não vejo assim. Tudo bem que ele seja inteligente, mas esse negócio de ser inteligente não diz nada. Muitas pessoas fariam mais que ele se tivessem condições de estudar.
Nascido baiano, toda a minha família é piauiense de Alto Longá, meus pais são primos, têm o Esteves em comum. Desde pequeno, ouço coisas como "Fulano é inteligente", "Fulano não é inteligente, mas é esforçado". Ficou em minha mente a ideia de que os piauienses dão muito valor à inteligência. Não sei, mas me veio essa lembrança quando vi o Mão Santa se gabando dessa qualidade. Todavia, com inteligência ou sem ela, não dá para sustentar uma candidatura tamanha sem outros adjetivos.
Tenho receio de políticos que se arvoram qualificados como "o mais inteligente", "o mais culto", "o mais preparado". Seria como cultuar a personalidade do déspota esclarecido. Num debate eleitoral em 2002, Lula dissera ser a única solução para o país em determinado assunto. Serra, esperto, corrigiu o adversário: não se enxergava como a única solução, mas como "a melhor".
Vejam bem: não tenho nada contra o conterrâneo de meus pais, avós, bisavós etc. Mão Santa parece boa gente, mas para uma conversa à beira do rio Poti. Para ser candidato a Vice-Presidente da República, bem que com sua inteligência e cultura poderia antever os ataques que sofreria. E quanto prejudicaria o candidato Serra...
Ei! Espere aí...Talvez eu tenha subestimado a capacidade do Mão Santa! Quem sabe o que ele quer não é prejudicar o tucano? Eita homem sabido...
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