Ia eu com a minha esposa para uma livraria no bairro da Liberdade, aqui em Salvador/BA, quando erramos o caminho - coisa que costumo fazer - e deparamos com a complexidade do bairro de Massaranduba. Mas o que nos chamou a atenção foram o que chamaria de "barricadas de Judas".
Primeiro, vimos umas crianças tentando impedir nossa passagem com alguns paus. Um deles batia na janela do carro e dizia: "Só passa com dinheiro". Não entendemos. Foram, ao todo, seis barricadas erguidas por crianças pobres, algumas com paus, outras com colchões. Numa delas, entendemos o motivo das barreiras: "Tio, arruma um dinheiro para o Judas". Assim, o pretexto para a obtenção de dinheiro era a malhação de Judas, no chamado "Sábado de Aleluia".
Ficamos preocupados. Confesso que buzinei, chateado, quando vi que o motorista da frente parou para conversar com um dos meninos. Depois, para minha tristeza, tive que mostrar que queria passar, andando devagar com o carro, até que uma menininha saísse e nos deixasse seguir. Eu sei, eram apenas crianças...
Logo pensamos nos pais: por que deixam que seus filhos fiquem nas ruas, impedindo a passagem dos carros em troca de dinheiro? O cenário era o de um Iraque ou Haiti. Alguém já disse que a pobreza é igual em todo lugar.
Aquela situação não manifestava nenhum traço cultural ou folclórico, mas a expressão da condição aviltante a que nossa sociedade arroja as nossas crianças, a nossa gente.
Salvador, como toda metrópole brasileira, é farta em contradições sociais. Aqui, temos, na verdade, duas cidades, a dos ricos e a dos pobres. Isso é muito claro. A cidade que os turistas conhecem (Barra, Campo Grande etc.) é mais complexa do que isso, e não demonstra quão desigual é a nossa querida Salvador.
Ver aquelas pequenas barricadas não foi bom. Crianças não foram feitas para impedir passagem de carros pedindo dinheiro. Crianças foram feitas para conhecer Jesus.
É por essas e outras que não concordo com a teologia da prosperidade nem com as pregações sensacionalistas e autocentradas. Precisamos ver e ouvir o povo, entrar nas favelas, nas veias da cidade, nas casas alquebradas. O Evangelho só se recebe quando é exposto num nível pessoal. Jesus não teorizava ao longe, mas atravessava as cidades.
Uma teologia da cidade tem que pensar grande. Missões urbanas não se fazem dentro dos templos. Missões urbanas - que coisa óbvia! - se fazem nas ruas.
Um comentário:
Aquelas crianças estão aprendendo desde cedo a EXTORQUIR. Há poucos dias assisti reportagem mostrando como os "flanelinhas" extorquem motoristas nos pontos turísticos do Rio de Janeiro, "cobrando" até R$20,00 para "permitir" que estacionem na via pública, dá qual não são donos, do contrário podem riscar os carros ou fazer coisas piores. E a esquerda, ao ver essas coisas, parte para cima da população que paga seus impostos e que trabalha - gritando que "É um problema social, não de polícia", que passam fome etc. E depois se queixam que os turistas evitam o Rio (eu mesmo nem pensar em passar alguns dias lá). As crianças de Massaranduba em Salvador vão aprendendo, na escola da rua,e, ao serem promovidas, com o passar dos anos, passam para as "séries" seguintes, quais sejam, agir como flanelinhas e depois como bandidos mesmo. Lembro aqui o primeiro mandamento do decálogo da esquerda: "não punirás o malfeitor".
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